Animago

Capítulo XI
Animago

-Por mil diabos! - a exclamação ecoou pelo quarto se sobrepondo às passadas contínuas e nervosas de um loiro que constantemente passava a mão pelos cabelos e ora bufava de raiva, ora suspirava. – Esse Sirius Black deve ser muito insano, afinal, para permitir que suas filhas partam sem rumo a uma hora dessas da noite nessa maldita floresta!
Eric apenas cruzou os braços e, calmamente, desviou o olhar da janela cujo parapeito encontrava-se sentado, passando então a encarar Noah a rodar pelo recinto repetidamente.
-Sim, um louco, ele só pode ser isso... – ele murmurou, baixinho. Eric suspirou. Aquele rodar sem parar do amigo o estava deixando tonto e os resmungos dele já estavam um tanto quanto cansativos.
-Ele sabe o que faz, Noah. – comentou seriamente. – Ficar tão alterado dessa maneira não vai ser de muita utilidade.
-Ficar aqui também não é de muita utilidade, Eric. – ele soltou num resmungo.
-Também não seria de muita utilidade eles terem três ao invés de uma pessoa para procurar. – retorquiu o príncipe, dando ares de uma impaciência que raramente possuía. – O patriarca dos Black está certo, Noah, não fazemos a mínima idéia de como nos deslocarmos naquela floresta e...
-Jack também não sabia. – ele o interrompeu serenamente, tendo certo quê de respeito em sua voz pela autoridade que o amigo representava. – Porém, Jack está lá.
-Acompanhado por Cygnus. – completou Eric seriamente.
-Que seja! – resmungou, aborrecido. – O Senhor Black podia nos acompanhar; é uma opção.
Eric meneou a cabeça e sorriu de modo um tanto quanto irônico.
-Você acha que ele iria se arriscar por uma filha que se comportara de forma mimada e rebelde?
Noah apenas deu de ombros, meio incerto.
-É o que um pai faria, não? – ele suspirou. – E, que eu me lembre, nada aconteceu à primogênita dos Black por ela ter-se portado com certa rebeldia. Outro, em lugar do pai dela, a teria renegado, em compensação, tenta-lhe arranjar outro casamento. – ele mencionou o último fato num tom ligeiramente carregado e rouco. Eric sorriu.
-Entendo. – ele riu um pouco e suspirou. – Também estou preocupado... – murmurou, lembrando-se de Sté. – Mas não podemos fazer nada, podemos? – desconversou, ao notar o olhar curioso do amigo sobre si. Aquilo não era hora para explicações.
O que Noah responderia, Eric nunca saberia dizer, pois o amigo rapidamente fechara a boca ao ouvir um uivo que lhe arrepiou a espinha, seguido de um grito ecoando longinquamente.
A porta do aposento onde Noah e Eric estavam se abriu vagarosamente, revelando as longas vestes de um homem que o príncipe não conhecia.
-Sr. Potter? – perguntou Noah curioso – O que faz aqui?
-Fiquei sabendo que Sirius não os deixou seguir as meninas... – o loiro bufou em resposta.
-Não conhecemos nada daquela floresta, senhor... – disse Eric, levantando-se do parapeito onde estava.
-Potter. Alexandrer Potter. Eu sou... Eu sou tio das meninas...
-Pai da pequena Lyra? – o mais velho fez que sim – Ah, sim, sua filha é um encanto de menina.
O outro sorriu.
-Eu sei, obrigado. Mas não foi isso que me trouxe aqui, Vossa Alteza. Vim fazer-lhes uma proposta.
-E qual seria?
-Eu os levo a floresta, se me ajudarem a resgatá-los...
-E a única coisa que queremos, senhor. – disse Noah.
-Pois bem. – Potter tirou um broxe relativamente grande de dentro de suas vestes – Toquem aqui.
-O que é isso?
-Uma chave de portal. Vai nos levar a floresta rapidamente.
Noah e Eric trocaram olhares desconfiados. Mas não havia outro jeito. Tocaram o objeto e, no segundo seguinte, sumiram.

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-Maldição! – Lynx bradou mais por aflição do que qualquer outra coisa ao ouvir o grito da irmã chegar-lhe aos ecos no meio da floresta.
-Lynx, precisamos voltar; elas estão em perigo. – Perse murmurou, mas não fora necessário o aviso, pois antes mesmo que a tia concluísse a frase, a morena volvia o cavalo para a direção contrária a qual estavam a galopar. O cavalo relinchou antes de empinar-se um pouco e partir a galope na direção do grito.
-É Lua Cheia... –Lynx murmurou seriamente. – Boa coisa não deve ser. – ela lançou um olhar rápido para Persephone e ela assentiu.
Segundos depois flechas de prata reluziam em meio à penumbra do local. Ao longe, o Lobisomem soltara um demorado uivo.

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O som do uivo do lobisomem não passou de um leve ruído na localidade em que Cygnus e Jack se encontravam, mas, ainda assim, fora suficiente para que os dois rapazes trocassem um olhar desde que o silêncio estabelecera-se entre eles. Cygnus, de certa forma, queria entender os motivos que levaram a Jack esconder que era um bruxo de seus amigos de longa data e ao mesmo tempo se sentia mais próximo do rapaz por descobrir um segredo desse, porém não íntimo o bastante para ter um motivo para perdurar aquela conversa.
-Não podemos voltar. - Cygnus murmurou quando um novo uivo chegou até eles e ele notou que Jack ainda o encarava. - Estamos longe demais e voltar seria uma perda de tempo e, também, perderíamos o rastro daquele maldito Malfoy.
-Foi isso o que eu pensei. - Jack murmurou, aumentando o galope. - Mas, bom, são suas irmãs. - ele sorriu meio de lado. - E ainda tem a sua tia... A Persephone.
-Elas saberão se cuidar. - Cygnus murmurou num tom rouco, fazendo Jack soltar um breve riso.
-Você gosta dela, não? - Jack questionou e, ao notar que Cygnus nada diria, prosseguiu. - Esse fato é bem notável...
Cygnus apenas respirou fundo e Jack não precisou de mais nada para saber que suas suspeitas estavam corretas.
-Você é igual ao príncipe, Lancaster? - Cygnus perguntou depois de um tempo. - Seu sobrenome não me é conhecido...
Jack não disse nada a um primeiro momento, mas, depois resolveu prosseguir.
-Não sei ao certo. - suspirou. - Minha mãe morreu quando eu era jovem. Ela era uma camponesa... - ele sorriu de modo saudoso - Quanto a meu pai, não faço a mínima idéia de quem seja. - completou num tom ligeiramente amargo.
-E como você aprendeu magia? - Cygnus perguntou, ocultando sua curiosidade devido ao tom de voz do outro rapaz.
-Com um ancião. Ele foi um bom mestre.
-Foi o que eu imaginei, afinal, nunca o vi em Hogwarts. - Cygnus avaliou num murmúrio. - O rei sabe que você é um bruxo?
-A princípio, não. - ele suspirou. - Mas, para que o meu senhor se sentisse mais seguro em trazer o filho aqui, senti a necessidade de contar isso a ele, mas pedi sigilo no que diz respeito a contar isso ao Eric.
-E quando você vai contar ao príncipe e ao outro cavaleiro?
Jack tornou a encarar Cygnus e viu que o mesmo estava com um semblante meio soturno.
-Não sei... É difícil contar algo para alguém que confia tanto em você e que pensa que você não esconde segredos dele, não acha?
-Acho, mas quanto mais cedo você contar, maiores as chances de não destruir essa amizade, não acha?
Jack desviou o olhar de Cygnus voltou a observar tudo ao redor. Aparentemente, os dois deram aquela conversa como encerrada.
-Malfoy. - Cygnus murmurou num tom arrastado, fazendo Jack se voltar novamente para ele.
-Onde? - ele questionou, voltando-se na direção em que o rapaz olhava.
Cygnus não precisou responder, pois, no segundo seguinte, Jack já tomava rumo à direção em que o vulto de Malfoy se encontrava e forçou o cavalo a acelerar o galope.
Ao notar o barulho que o mesmo proporcionara, Malfoy olhou para trás e aumentou o passo do seu cavalo. Jack soltou um xingamento alto relacionado a feitiços silenciadores e Cygnus bufou de raiva, como quem concordasse com ele. Os dois agora tinham suas varinhas em punho, mas ambos sabiam que seria arriscado demais tentar azarar Malfoy, afinal, Vega ainda estava com eles.
Mas, aparentemente, isso não era empecilho para Malfoy, pois o mesmo se virara e lançara um feitiço em direção aos dois. Jack desviou do mesmo com agilidade e estreitou os olhos, enfurecido.
-Volte aqui e lute como um homem, seu desgraçado de uma figa! - bradou, ao que Malfoy apenas riu.
-Não adianta mexer com a honra dele, Jack, ele não possui nenhuma. - Cygnus murmurou. - Você está conseguindo ver a Vega? - questionou, enquanto se desviavam de mais um feitiço. O cavalo relinchou, um tanto quanto assustado.
-Não muito bem, mas ela ainda está com ele. - ele suspirou. - Para tentarmos contra-atacar, precisamos nos aproximar mais; mas o cavalo não está agüentando ir mais rápido do que isso. - Jack sorriu de forma meio malandra. - Um de nós vai ter que saltar, se quisermos ir mais rápido.
Cygnus o encarou com certa incredulidade.
-Ficou maluco, Lancaster? - ele questionou, incrédulo, mas, aparentemente, o rapaz estava mais preocupado em murmurar algo ao cavalo.
-Cuide bem do Shadow, Cygnus. - Jack sorriu um pouco. - Se acontecer qualquer coisa com ele, vai se arrepender de ter nascido.
-Mas...
O rapaz não terminou a frase, pois, no segundo seguinte, o outro já havia pulado da montaria.
Cygnus piscou, meio atordoado, antes de ouvir um relinchar que sabia não ser de nenhum dos cavalos presentes e arregalou os olhos, ligeiramente surpreso, ao notar um cavalo branco de crina acastanhada galopando ao seu lado.
-Animago...? - murmurou, ainda atônito. - Além de tudo, o maldito é um animago? - ele riu um pouco da surpresa, atiçando o cavalo a acelerar o passo.
Malfoy não perdia por esperar agora.

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