A fuga



Capítulo X
A fuga

Stella via as pessoas que estavam no baile. Rostos conhecidos que ela não enxergava. Embora estivesse no baile sua mente estava recordando cada detalhe do beijo, e que beijo, que ela trocara com Eric. Revivendo cada detalhe, ela se lembrou de uma coisa.
"Sté? Ele me chamou de Sté?"
O seu último pretendente quando lhe chamara assim recebera um tapa na cara. Apenas a família lhe chamava desse modo.
-Devo estar ficando louca... - ela murmurou baixinho para si mesma.
Deixara o príncipe lhe beijar e lhe chamar de Sté sem que levasse pelo menos um empurrão?
Algo estava errado. Algo estava muito errado. Ela não podia estar se apa... NÃO! Definitivamente não.
Sté era uma garota racional. Vivia com a cabeça enfiada em livros, mas eram os livros com as recentes descobertas da medicina bruxa e até mesmo livros falando sobre as invenções trouxas. Romancezinhos em que o príncipe se casava com a princesa? Ela os detestava.
Era bastante independente e não gostaria que ninguém decidisse as coisas para ela ou as fizesse para ela, como fazem os maridos com esposas. Por isso a idéia do casamento lhe era abominável.
Quando pequena sonhava em encontrar um bom rapaz que a deixaria livre e não presa a ele. Estaria presa a ele, de uma maneira diferente. E assim poderia fazer muitas coisas que as mulheres não podiam fazer quando se casavam.
Suspirou pesadamente. Não podia se apaixonar. Não podia.
- Sté? Onde esteve? Eu e mamãe estivemos lhe procurando. - a voz de Lyra lhe chegou aos ouvidos e ela deixou as divagações de lado se concentrando na pequena a sua frente.
-A madrinha já chegou?
-Já sim, irei lhe levar até ela... - a ruivinha estendeu a mão para a mais velha segurar, ato que ela fez instantaneamente.
Mas tão rápido quanto segurara a mão de Lyra a largara. O lugar onde as duas se encontravam era próximo aos jardins e Sté ouvia gritos. Não entendia os gritos mais não precisou entender. Sabia o que estava acontecendo por mais que parecesse estranho.
-Vega... - sussurrou e, dando as costas para Lyra, correu na direção dos jardins.
A última coisa que a pequena ouviu antes de seguir a Black foram essas palavras:
-Eu vou matar o Malfoy.
Quando elas se aproximaram, Cygnus e Malfoy estavam, literalmente, engalfinhados. Não demorou nada para que estivesse um grupo considerável de pessoas ao redor deles, observando a briga. Alguns preocupados, outros ansiosos. E uns terceiros, como se aquela fosse a maior diversão do baile.
-Parem com isso!!! - gritava Persephone, nervosa.
-Cygnus, daqui a pouco nosso pai vai estar aqui!
-Não antes de eu matar esse maldito, Sté!
Vega assistia tudo, tentando se desvencilhar dos braços fortes de Jack, que a mantinham imobilizada.
-Me larga!!!!! Me larga, seu bruto!!!!
-Sinto muito, mas é melhor para sua segurança não se colocar no meio de uma briga dessas.
Vega teve a impressão de sentir um certo divertimento na voz de Jack, como se ele estivesse gostando de ver seu amado apanhar.
Sim, apanhar, pois Cygnus era bem mais hábil na luta física do que Joseph um dia poderia ser.
Cygnus podia estar machucado, mas não se importava que a briga com Malfoy lhe deixasse ainda mais ferido. Aquele desgraçado estava iludindo sua irmãzinha, e acabaria por machucá-la. A menos que alguém impedisse.
A luta estava praticamente ganha, quando veio um golpe por qual Cygnus não esperava. Joseph de alguma forma sacara a varinha e usara um feitiço contra o primogênito dos Black, fazendo-o voar para longe.
E no instante seguinte conjurara seu cavalo, entendendo a mão para Vega.
A menina olhou para ele, maravilhada, e sem pensar duas vezes, conseguiu dar um pisão nos pés de Jack, e uma mordida forte em um dos braços, o fazendo soltá-la.
E antes que alguém pudesse impedir, ela já subira no cavalo de Malfoy.
-Vega! – gritou sua tia inutilmente, enquanto via o cavalo do loiro empurrar o sobrinho para trás.
-Vega desça daí imediatamente! – falou Stella, mas o máximo que conseguiu foi uma careta feita pela mais nova.
Num golpe os dois se puseram a galopar em direção aos portões da propriedade.
-Ah!!!! Isso não vai ser tão fácil assim, pequena... – murmurou Jack.
Ele esticou o braço, ajudando Cygnus a se levantar. Assoviou alto em seguida. Um barulho longo e agudo que, para a surpresa dos demais, fez com que seu cavalo aparecesse no meio do jardim.
-Vamos, Black! – disse subindo na montaria – Vamos pegar a sua irmã.
-E arrebentar a cara daquele Malfoy! – rosnou Cygnus aceitando o braço estendido e montando na garupa do cavaleiro.
Antes que o príncipe Eric (que acabava de parecer em uma das portas juntamente com Noah e o sr. Black) pudesse gritar algo para Jack, ele e Cygnus já seguiam atrás dos fugitivos.
Mal os dois primeiros cavalos sumiram pelo portão, Betel apareceu montada no seu próprio cavalo, puxando outro pelas rédeas.
-Vamos! – gritou para Sté, lhe esticando a mão, após lançar a rédea do segundo cavalo para Lynx, que acabara de aparecer.
-Eles não vão poder desaparatar antes do fim da floresta. – disse Stella, subindo na garupa da irmã.
Persephone fez o mesmo com Lynx e as quatro seguiram na direção por onde Cygnus e Lancaster desapareceram.
-Noah!
-Vou buscar a montaria, senhor! – respondeu o loro antes que o príncipe terminasse a frase.
-Não! – gritou o senhor Black – É perigoso. Vocês não conhecem nada daquela floresta.
-Mas as garotas... Sua filha.
-Meus filhos foram criados brincando naquele lugar, Vossa Alteza. Eles conhecem a floresta muito bem. Se não conseguirem achar Vega, ninguém conseguirá.

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À frente do castelo Black se multiplicava uma densa floresta que, àquela hora da noite, poderia ser considerada extremamente perigosa.
O nevoeiro atrapalhava a visão e os animais mais hostis saiam para caçar aquelas horas. Para piorar, era noite de lua cheia.
As garotas alcançaram Cygnus e Lancaster facilmente.
O grupo adentrou na mata. E logo decidiram se separar para cobrir uma parte maior o mais rápido possível. E, mesmo que o irmão achasse a divisão das montarias perigosa, não havia tempo para mudá-las naquele momento.
-Tomem cuidado! – disse Cygnus, mais preocupado com Persephone do que com qualquer uma de suas irmãs.
Lynx riu.
-Ora maninho, quem sempre se perdia por aqui era você.
Jack virou o cavalo suprindo um riso debochado, enquanto se afastavam.
-Praga viu! É uma praga ter tantas irmãs!
-Achei que gostasse... – disse o homem – parece ser divertido.
-Não, não é... Às vezes eu daria a minha vida para ter só irmãos homens, seria tudo bem mais simples.... Por exemplo, não precisaria estar no meio de uma floresta atrás de um deles agora.
-Estaria ajudando um deles a fazer o mesmo que o Malfoy, com certeza.
Cygnus bufou.
-Ele não gosta dela. – disse por fim – Vega é apenas a Black mais fácil dele conquistar, por que é a mais nova e a mais romântica delas.
-A pequena gosta é de irritar vocês. É a forma que ela tem de chamar atenção.
O silencio se seguiu por mais alguns metros. Até que Cygnus resolveu fazer a pergunta que lhe incomodava.
-Por que está fazendo isso, Lancaster?
-Digamos que depois de algumas coisas que a sua irmãzinha fez, virou questão de honra para mim, Black.
-Como tentar azarar o seu príncipe? – Jack permaneceu calado – Como parou o feitiço dela, heim?
-Como qualquer um de nós faria.
-Então, você é um bruxo mesmo? Como imaginávamos.
-É, sou.
-E por que os seus amigos de infância não sabem disso?
-Por que não é algo que eu goste de lembrar.

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-Noite de Lua Cheia na floresta, isso não está me cheirando bem, Sté... Está quieto demais.
Stella olhou para a irmã, séria.
Depois que haviam decidido por se separarem de Perse e Lynx, Cygnus e Jack, já haviam cavalgado um bom pedaço, mas ainda nada de Vega e Malfoy.
Betelguese era quem melhor conhecia a floresta, e Stella sabia que a garota saia para ir lá durante a madrugada - embora não fizesse idéia do motivo. Já tentara inquirir a garota a respeito, mas ela desconversara e lhe fizera jurar que não contaria sobre aquilo para ninguém.
Uma vez, Stella tentara segui-la, mas acabara por se perder em meio às árvores. Conhecia bem o local durante o dia, com o sol brilhando forte. À noite, a situação mudava um pouco de figura, e ela não achava tão fácil se localizar lá.
E o olhar preocupado de Betel sugeria problemas.
-Está com medo de lobisomens, minha irmã? – perguntou.
-Não, não é isso. - a morena balançou a cabeça - Você sabe tão bem quanto eu que não há lobisomens nessa flores...
Mas a moça não terminou de falar, apenas arregalou os olhos ao ver pupilas vermelhas brilhando logo em sua frente, na escuridão.
-Você ainda tem certeza disso, mana? - perguntou Stella, num fio de voz.
O casal de fugitivos estava nas proximidades, mantendo-se calados a observar duas das irmãs Black que os procuravam.
Vega ficara particularmente feliz quando percebeu que mobilizara toda a família atrás de si. Sentia-se feliz por tê-los enganado. Mostrar-lhes que podia tomar decisões sozinha e que não precisava dos conselhos idiotas dos mais velhos.
Ela e Joseth se casariam e seriam felizes juntos, e todos os seus irmãos teriam que engolir isso.
Mas, quando ouviu o berro típico de Betel, e percebeu que as irmãs estavam em perigo, tudo aquilo lhe pareceu sem importância. Entrou em estado de alerta, puxando a própria varinha. Mas Joseth não movia o cavalo.
-Vamos! – gritou ela – Anda Joseth, vamos ajudá-las.
-Não. – respondeu ele friamente – Fique quieta Vega.
-Como assim, aquilo é um lobisomem, Joseth!
-Que vai dar cabo delas sem que precisemos nos preocupar. – ele a encarou por um segundo, o olhar tão diferente do afetuoso que ela estava acostumada a ver – Agora facilite as coisas e fique quietinha... Meu anjo...
E antes que a jovem pudesse entender o que acontecia, Malfoy a estuporava, deixando-o seu corpo cair paralisado sob a garupa do cavalo.
-Assim está melhor. – resmungou ele com um sorriso nos lábios – Depois que sumir com você daqui seu pai terá que aceitar nosso casamento... – olhou na direção onde às irmãs dela ainda encaravam o lobisomem que se aproximava – E, com sorte, terei que dividir sua herança com menos irmãos seus...

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