Ciúmes



Capítulo IX
Ciúmes

A alguns metros dali Cygnus estava tendo dificuldade para não bocejar devido à conversa chatíssima que a pretendente que sua mãe lhe impusera tinha. Ele passava a mão pelos cabelos e acenava sorridente volta e meia, quando ela lhe exigia alguma participação naquele monólogo (céus, e ele que pensava que suas irmãs falavam muito).
Mas não pode deixar de se exaltar ao perceber que não era o único a quem sua mãe estava colocando naquela situação constrangedora. Naquele exato momento Hera Black puxava a irmã Persephone pelo braço e a apresentava a um rapaz bem mais alto que Cygnus.
Ele fechou a cara no ato.
-Algum problema? – perguntou a loira na sua frente.
-Não... Quer dizer, sim, sim... Eu preciso resolver uma coisa, se me permite. É rapidinho. – disse se afastando.
Em poucos segundos estava parado atrás do homenzarrão que se aproximara mais do que deveria de Perse.
-Com licença. – falou, ao mesmo tempo em que puxava a mulher pela mão sob o olhar surpreso do homem – É a valsa dos Black agora, preciso de um par. – disse, sem se importar daquela ser a desculpa mais esfarrapada do mundo – Vamos, tia.
Persephone olhou espantada para o sobrinho, que a tirara da conversa sem o mínimo de delicadeza.
-Cygnus, o que você pensa que está fazendo?
-Vem, vamos dançar. – ele falou no seu ouvido, não dando nem tempo para a moça responder.
Ele admitia agora que sua reação fora um pouco precipitada, mas a imagem daquele homem perto dela o fizera perder a cabeça. Ele não queria ver nunca de novo o corpo de outro homem perto do dela, e foi quando admitiu isso para si mesmo que percebeu que estava morrendo de ciúmes.
-Você não estava dançando com Elizabeth? A senhorita Malfoy não vai gostar de ter sido deixada esperando.
-Bem, ela que fique com raiva e vá reclamar para mamãe. Você precisava ver, aquela garota era chatíssima, impossível de conviver. Não vamos falar dela, ok? Fico irritado só de pensar nela. – Persephone sorriu, não queria admitir, mas havia ficado com ciúme quando vira Cygnus dançando com a loira, tal como ele sentira-se quando a vira com aquele homem. – Agora chegue mais perto, temos que dançar a maneira dos Black.
Persephone não protestou e colou seu corpo ao do sobrinho.
-Estava com saudades de ter você assim, junto de mim. – Ele sussurrou, e ela corou. Não exatamente pelas palavras de Cygnus, mas porque Hera estava olhando exatamente para os dois. Será que ela sabia?
-O que foi, Perse? Você parece ter ficado com preocupada de repente.
-Não é nada não, Cygnus. Só sua irmã dançando com o Malfoy. Será que ela não percebe como ele é um total idiota?
-Nem me fale. Vega está apaixonada, não vê nada, acha que Joseth é seu príncipe encantado. Não percebe que ele só está interessado em se casar com uma Black e não se importa com ela. Espero que ela não faça nenhuma besteira.
Vega estava alheia aos comentários de seu irmão e aos de qualquer outra pessoa. Ela só tinha olhos para Joseth e as palavras que ele dizia:
-Vega, nós vamos fugir hoje à noite, está tudo planejado.
-Hoje? – ela mal podia esconder a felicidade - Isso vai ser perfeito, Joseth! Eu não agüentava mais conviver com esses trouxas que estão infestando a minha casa. - ela olhou de rabo de olho para um ponto logo adianta onde Lancaster ria divertido de algo que ela não sabia estar acontecendo.
-Também não gosto de imaginá-la com esses anormais por perto, meu anjo.
Vega sorriu.
- Não podia imaginar momento melhor para fugirmos. Depois papai vai ter que aceitar nosso casamento e poderemos voltar.
-Exatamente, meu anjo.
-Quais os detalhes do plano, Joseth?
Malfoy abriu um sorriso terno que ficava extremamente falso em seus lábios. Mas Vega não percebeu. Acariciou-lhe o cabelo docemente.
-Não se preocupe com isso, meu anjo... Deixe os detalhes por minha conta.
Do outro lado do salão, Jack resolveu se afastar do grupo de Potter, antes que o homem a sua frente lhe dirigisse a palavra e ele tivesse que ser realmente grosseiro. Rodou um pouco, parando sozinho em um canto do salão, encostando-se em uma das pilastras.
Pôs-se a observar a todos.
Seus olhos se prenderam divertidos, mais uma vez, no amigo, que tinha dificuldades para dançar tão próximo à charmosa Black mais velha.
Em seguida, se direcionaram para um casal bem mais à frente. A pequena da família dançava com o mesmo rapaz loiro da primeira festa.
Provavelmente aquele deveria ser o motivo das brigas constantes dela com as irmãs, pensou.
Péssimo motivo pensou novamente, ao se dar conta que os cabelos platinados só poderiam pertencer a um Malfoy.
Mas foi a forma como os dois riram de repente que lhe chamou realmente a atenção. O casalzinho trocava olhares cúmplices e ele sabia que nunca poderia esperar nada de bom de olhares cúmplices trocados com algum Malfoy.
Jack observou o casal saindo sorrateiro e apressou-se em segui-los, seu instinto lhe dizia que nada de bom poderia sair dali. Ele parou no jardim a uma distância segura do casal, mas de onde podia observar todos os movimentos de Malfoy. Mas não teve muito tempo para tentar descobrir qualquer coisa.
-Podemos conversar?
Lancaster suspirou e revirou os olhos, parecia que estava pegando alguns dos gestos característicos dos Black. Mas o que podia fazer? Ali estava Alexander Potter, a última pessoa que ele gostaria de encontrar naquele momento. Virou lentamente para encarar o homem.
-Na verdade, senhor Potter. Não, não podemos. Eu estou ocupado. – e virou-se novamente para olhar o nada, na opinião do mais velho.
-O que pode ser mais importante do que conversar com o seu pai?
-Eu não tenho pai, senhor Potter.
-Pare de criancices, Jack. Nós dois sabemos que eu sou seu pai.
Ele voltou a encarar o outro, com um sorriso debochado.
-Ah, nós dois sabemos... É verdade... Mas a sua querida esposa não sabe, não é? Ou mesmo a sua filha... Minha irmã...
-Jack... – Alexander tentava arrancar um pouco de compreensão do filho – Eu tive meus motivos e...
-Motivos, senhor Potter? Motivos para abandonar a minha mãe sozinha com um filho de oito anos para criar, simplesmente por que ela era uma camponesa trouxa, totalmente desqualificada para ser a esposa de um figurão bruxo como o senhor? Que se danem seus motivos, senhor Potter, eles não mudam o que você fez.
-Jack, eu estava apaixonado pela Andrômeda!
-Há! Apaixonado? Quer mesmo que eu acredite nisso? Que você estava apaixonado... E por uma Black... Como se fosse possível se apaixonar por garotas como elas... Bonitas sim, mas mandonas e de gênios insuportáveis. E ainda sim, teria que existir a possibilidade de elas terem um coração, o que é impossível, já que são mulheres que só pensam em si mesmas.
-Isso não é verdade... – sua atenção pareceu se desviar para um ponto atrás do filho - Hey... O que está acontecendo ali?
Jack virou-se para a mesma direção que seu pai olhava e não teve como esconder a surpresa. Vega, a caçula dos Black, estava no meio de um beijo apaixonado com Malfoy. Beijo não, eles estavam se engolindo, isso sim!!

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Stella não sabia onde estava com a cabeça para ter se deixado levar pelos beijos do príncipe e pela sua própria falta de razão. Ela parou de acariciar os cabelos do rapaz e, calmamente, foi usando todo o resquício de força de vontade que lhe restava para diminuir a intensidade dos beijos e, por fim, cessá-los por completo.
Aparentemente, Eric notara o pedido implícito da garota, pois a mesma sentiu que ele afrouxou um pouco as mãos que lhe seguraram a cintura e, até mesmo, ela sentiu-se ser ligeiramente afastada da parede em que o rapaz a recostara com delicadeza.
Ela sentiu-o recostar a testa à dela e sorveu uma grande quantidade de ar, sentindo a sua respiração tão arfante quando a do rapaz.
Extremamente corada, ela encarou os olhos fechados do príncipe e notou um sorriso transparecer nos lábios dele, calmamente. Piscou de forma demorada e também sorriu.
-Isso foi bom... – ele comentou, baixinho, a voz extremamente rouca.
-É, foi bom... Muito bom. – ela deixou escapar, corando logo em seguida. – O que você deve estar pensando de mim agora, hein? Saiba, Alteza, que eu não costumo ficar beijando...
Ele colocou o dedo na frente da sua boca, impedindo-a de falar.
–Eu sei que você não costuma fazer isso. E fui eu quem a beijou. Não precisa se desculpar, você também gostou, não foi? Eu não consegui me controlar, me desculpe. É que você simplesmente...- ele não completou a frase, somente aproximou-se mais dela, aparecendo que ia beijá-la, mas mudou de idéia no último segundo. E Stella teve que lutar para esconder a frustração.
-É melhor irmos para a festa, não? – ele sussurrou rente ao ouvido dela, fazendo-a se arrepiar um pouco. Após isso, Eric se afastou da garota e esboçou seu melhor sorriso.
Ela o encarou sem saber o que dizer... Aparentemente, o rapaz não estava tão seguro do que poderia falar naquele momento, pois passou a mão pelos cabelos e suspirou.
-Sim, é melhor. – ela murmurou calmamente. – Todos esperam à sua chegada, Alteza. Fico surpresa de ninguém tê-lo procurado ainda. – ela se desencostou da parede e fez menção de tomar o rumo para o salão e quase conseguiria seu intuito, se Eric não tivesse segurado-a pelo braço firmemente, fazendo-a voltar-se para si.
-E quanto a o que acabou de acontecer? – ele perguntou num tom sério, encarando-a de modo penetrante. – Eu só não quero que tenha uma visão errada de mim, Sté. Eu não quis desonrá-la de nenhum modo.
Ela o olhou espantada.
–Eu não havia pensando nisso, sei que não quis. Quanto ao que aconteceu, eu não sei, foi tudo tão de repente. Por favor, vamos voltar para o baile?
Ele pensou em discutir, não entendia como Stella podia parecer tão calma. Eric tinha vontade de segurá-la e perguntar “Você não sentiu o mesmo que eu?”, pois ele realmente havia sentido algo especial. Mas resolveu não falar nada e seguiu a garota em direção ao salão.

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No jardim, Jack não conseguiu se conter ao ver a cena que o pai lhe mostrara. O que aquela pirralha pensava estar fazendo? Era apenas uma criança!
Por um segundo lembrou-se da pequena Lyra e do parentesco que sabia agora ter com ela. Detestaria ver a irmã naquela situação.
Por isso se sentiu no direito de interferir. Seguiu a passos decididos na direção do casal, mas antes que os interceptassem, alguém o fez primeiro.
-Vega Black! Largue agora mesmo a boca desse infeliz do Malfoy!
Era Cygnus, acompanhado pela tia, como sempre.
-Quem você pensa que é? Meu pai? - Vega gritou, ainda agarrada a Malfoy, que fazia questão de puxá-la mais para perto de si.
-Sou seu irmão mais velho, e isso basta! Agora venha já aqui! E agradeça a Deus por não ser nosso pai que viu você fazendo essas sem-vergonhices.
-Não, não vou! – ela falou e riu, beijando Joseth de novo somente para irritar o irmão.
Jack não sabia quem estava mais propenso a ir para cima do Malfoy, se ele ou Black.
Cygnus não agüentava ver a cena porque Vega era sua irmã mais nova, lógico. Já ele... Bem, ele era torturado pela imagem da boca pequena e delicada de Vega beijando Malfoy.
-É agora que eu mato esse desgraçado! – ele ouviu Cygnus gritar, enquanto Persephone tentava em vão segurá-lo.
-Cygnus, pense! Não vá fazer nenhuma besteira! - ela repetia, embora quisesse ela mesma matar Malfoy.
-Querida, não diga para eu não fazer algo que você faria. – ele falou pra ela, antes de se aproximar de Vega e Malfoy.
-Acabou com o show, Vega? - ele perguntou, puxando a irmã e a deixando cair nos braços de Lancaster.
-Seu bruto! - ela reclamou, mas Cygnus não ouviu, ele já estava metendo um soco na cara de Joseth.

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