Na Ala Hospitalar




Foi com grande dificuldade que ele abriu os olhos, confuso sobre o lugar onde estava. Tentou sentar-se na cama, e descobriu que sua cabeça latejava cruelmente a cada movimento. Percebeu, ao olhar em volta, que estava na Ala Hospitalar e que estava escuro. As únicas luzes iluminando o ambiente eram as de algumas velas e a do luar, que entrava por uma fresta na janela. O único barulho que se ouvia era... O ronco de Rony?

O amigo estava completamente adormecido, babando no ombro de Hermione. Ela também estava dormindo, mas de um modo muito mais delicado. Harry observou-a pensativo durante alguns minutos, sentindo o velho aperto no peito. Aquele sentimento terrível de perda que parecia ter se tornado parte dele, nos últimos tempos. Então resolveu acordar os amigos.

- Rony - disse num sussurro, cutucando a mão do garoto. - Rony. Acorda.

- Harry! - Hermione exclamou numa voz bem mais alta do que seria apropriado. - Rony - ela disse, cutucando o namorado com força. - O Harry acordou.

Rony levantou a cabeça, parecendo meio perdido.

- Ah, você aco-acor... - bocejou longamente, distraído.

- Como você está se sentindo? - perguntou Mione, ansiosa e preocupada.

- Estou ok - Harry disse, e ao fazer um movimento displicente com a cabeça seu nariz ardeu dolorosamente. Não havia nenhum tipo de curativo sobre ele, mas estava bastante vermelho e inchado. - O que aconteceu?

- Um balaço pegou você, cara - Rony disse, já completamente desperto. - E você caiu uns 40 metros. O apanhador da Corvinal até tentou segurar você, mas, bem, você já não é nenhuma peninha... E ele é um magrela, então acabou caindo junto com você.

- O garoto tentou me pegar e acabou caindo? - repetiu Harry, incrédulo.

- Não é totalmente idiota? - riu Rony.

- Ele estava tentando ajudar - Hermione disse, lançando um olhar de censura ao garoto.

- Antes não tivesse se metido a herói - Rony encolheu os ombros. - Acabou caindo por cima de você. Ele saiu razoavelmente bem, mas você... Bem, você só acordou agora.

Harry não disse nada. Em sua cabeça, reconstruía parte por parte o jogo contra a Corvinal. Então se lembrou.

- Mas houve uma coisa - disse. - Uma luz, não sei... Atingiu os meus olhos e eu quase perdi o pomo por causa disso. Não parecia o tipo de luz produzido por um feitiço...

- Porque não era - Hermione disse aborrecida.

- Aqueles otários da Corvinal - Rony falou entredentes. - Trapaceiros.

- Um dos jogadores da Corvinal tinha um espelho - Mione falou sacudindo a cabeça. - Descobriram que ele usava isso para fazer os gols. Ofuscava os olhos do goleiro com a própria luz do sol, que refletia no espelho e direcionava para onde ele desejava. Quando percebeu que você ia apanhar o pomo, o sujeito tentou fazer o mesmo com você. E quase deu certo, mas você conseguiu se recuperar a tempo e capturar o pomo.

Harry ergueu a sobrancelha, mal podendo acreditar no que estava ouvindo. Aquele era o tipo de atitude que ele esperaria de alguém da Sonserina, mas nunca da Corvinal. Era revoltante. Teria que ter uma boa conversa com o capitão do time deles.

- Como descobriram o truque? - perguntou Harry.

- O Cael viu quando o cara deixou o espelho escorregar de dentro da manga do uniforme - Rony contou. - Ele e o John voaram literalmente em cima dele, e aconteceu uma confusão dos diabos. McGonagall ficou furiosa, é claro.

- E com razão - sibilou Hermione.

- Nah - Rony disse, ignorando-a. - Aqueles sujos mereciam uma bela surra, e foi o que tiveram.

- Oh, claro. E agora vocês terão que passar a semana cumprindo detenções - Mione falou sarcástica. - Certamente valeu muito a pena, não é, Ronald Weasley? Sem contar que você apanhou bem mais do que bateu.

- Mas bati - Rony murmurou, fechando a cara. - E o Harry podia ter morrido!

- Ok, não precisa exagerar - Harry disse com uma careta.

- Sobre isso ele não está exatamente exagerando - Hermione falou preocupada. - Aliás, você tem certeza de que está bem?

- Ele está legal, Mione - Rony falou com displicência.

Hermione mordeu o lábio inferior, não muito confiante disso.

- Acho que é melhor chamar Madame Ponfrey - ela ponderou.

- Não precisa - afirmou Harry. - Eu juro que estou legal. Aposto que amanhã de manhã já vou poder sair da ala hospitalar.

- Ela vai dar uma bronca na gente - Rony acrescentou rapidamente. - Não deveríamos estar aqui tão tarde.

- E ela não deveria estar dormindo quando tem pacientes na ala hospitalar - Hermione disse encolhendo os ombros. - Era a obrigação dela nos expulsar daqui...

- E é exatamente isso o que ela vai fazer quando você for falar com ela! - protestou Rony. - Não seja tão cabeça dura, Mione! O Harry já disse que está bem.

- Estou - Harry confirmou mais uma vez. - E o Rony está certo, Madame Ponfrey não vai gostar nada de saber que vocês ficaram aqui até tão tarde.

- Estávamos preocupados com você - Hermione falou desviando os olhos, e Harry teve certeza absoluta de que ela estava corando. Não pôde evitar um sorriso, que passou despercebido tanto por Rony quando pela própria Mione.

- Mas agora é melhor vocês irem, ou vão ter problemas - Harry aconselhou.

- É, vamos Mione - Rony falou levantando-se, e puxou uma Hermione relutante pela mão. - Vamos, pequena... Você não vai conseguir acordar amanhã para a reunião de monitores.

Aquele argumento pareceu convencê-la, afinal, e a garota seguiu o namorado.

- Amanhã a gente se fala - Mione disse, parando à porta.

- É, acho que sim - Harry disse, e deu um sorriso cheio de tristeza para a garota que ela não teve tempo de retribuir, pois Rony a puxou porta a fora.

Com um suspiro, Harry afundou a cabeça no travesseiro e fitou o teto da ala hospitalar até adormecer.

***

Ao contrário do que Harry esperava, Madame Ponfrey recusou-se a liberá-lo no dia seguinte. Ele protestou, argumentou, discutiu... Mas de nada adiantou. Ficou sentado em sua cama, emburrado, torcendo o nariz para o café da manhã que a bruxa trouxe em uma bandeja.

- Não estou com fome - ele resmungou.

- Continue agindo assim, e tão cedo não sairá daqui - Madame Ponfrey disse simplesmente. - Vou deixar a bandeja aqui, e você come quando sentir vontade. - E Harry observou-a caminhar em direção a porta. - Aliás, você tem visita.

Harry empertigou-se na cama quando reconheceu o capitão da Corvinal, Tim Crown. O rapaz aproximou-se um pouco receoso, e cumprimentou-o com um aceno de cabeça. Era mais alto que Harry alguns centímetros, e tinha cabelos cor de palha caprichosamente repartidos ao meio. Os olhos eram negros, cheios de desconfiança.

- Tudo bem? - perguntou o garoto.

- É, tudo - Harry disse, encolhendo os ombros.

- Olha, Harry, eu queria que você soubesse que aquela coisa do espelho, bem, eu não tive nada a ver com aquilo. Foi uma atitude estúpida, e eu posso lhe garantir que o responsável está sendo punido como merece.

- Ok - Harry falou naturalmente. - Eu capturei o pomo, não capturei? Ele só atrasou um pouco o fim da partida.

Tim estreitou os olhos para ele, evidentemente irritado com a arrogância do adversário. Harry sorriu, cínico.

- Na verdade, eu vim aqui apenas para que você soubesse que eu não joguei sujo.

- Já sei.

- Então eu vou indo.

- Tchau.

Harry encarou a expressão levemente irritada no rosto de Tim Crown, ainda sorrindo. O rapaz desejou-lhe melhoras, e então deixou a enfermaria. Se tivesse virado para dar uma última olhada em Harry, teria visto o garoto revirar os olhos com ar de pouco caso. E teria achado estranho, pois não era assim que as pessoas costumavam descrever Harry Potter quando seu nome surgia em meio a alguma conversa. Aquele sujeito grosso e sarcástico? Não, não podia ser o mesmo cara de que ouvira falar.

Infelizmente era.

***

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