A CAMINHO



As crianças querem que eu conte o que ocorreu após o episódio do “Potter 500”. É bom recordar aqueles momentos felizes, que foram inegavelmente alguns dos melhores da minha vida. Como eu não pretendo relatar para vocês apenas esses dias, ganho tempo até ter a coragem necessária para trazer de novo à tona alguns acontecimentos sombrios envolvendo os meus amigos e a mim mesmo.


Bem, mas vamos deixar de choradeira e vamos aos fatos. Eu começo ditar aquelas lembranças antes dos pestinhas acordarem. Há algumas passagens que devo poupar do conhecimento de crianças de doze anos. XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX


Uma multidão de jornalistas se acotovelava no saguão do Hospital St. Mungus, atrapalhando os profissionais que cuidavam da saúde da comunidade bruxa de Londres e assustando os pacientes da instituição.


Todos queriam notícias do “Potter 500”. Na verdade, o mais correto seria chamá-lo de “Potter 510”. Meu sócio havia acabado de bater o recorde de pontos numa partida de quadribol, marcando um número absurdo de gols, o que não se via desde o século XIX. Mal sabia ele que essa marca se tornaria lendária em todo o mundo esportivo. Hoje, quarenta anos depois, nenhum jogador ou jogadora chegou perto de superá-la.


A saída do estádio após a partida foi uma loucura. Enquanto os torcedores comemoravam o feito, Hermione ameaçava com azarações dolorosas qualquer pessoa que se aproximasse de Harry. O artilheiro fora acometido por um mal que é conhecido como “estafa de vôo”, que é comum em corredores de vassouras, principalmente nas modalidades em que se percorrem longas distâncias.


Você, trouxa, na sua santa ingenuidade, deve estar pensando que é só um bruxo subir numa vassoura e mandá-la levantar vôo. Bem, seria o mesmo que pensar que basta subir num carro e esperar que ele ande sozinho. Uma vassoura, por mais potente e moderna que ela seja, é movida pela magia de um bruxo. Rigorosamente, qualquer feiticeiro é capaz de pilotar uma vassoura, como a rigor, qualquer trouxa seria capaz de aprender a dirigir um automóvel. Mas nem todo trouxa se tornará um exímio piloto de Fórmula 1 ou um ás na Fórmula Indy (viram como eu estou inteirado do mundo dos trouxas agora?).


A mesma coisa ocorre em relação às vassouras. Neville Longbotton, atualmente uma das maiores autoridades do mundo em herbologia, e diretor de Hogwarts, pode ser muito douto na sua especialidade, mas mal consegue guiar uma vassoura daquelas simples de passeio. Hermione Granger é uma das maiores inteligências que tive o privilégio de conhecer, mas é uma péssima piloto, além de morrer de medo de altura. Por outro lado, conheci sujeitos absolutamente imbecis que eram capazes de fazer malabarismos inacreditáveis pilotando uma vassoura.


Bem, então a questão é essa: é a habilidade mágica de um indivíduo que move a sua vassoura. Não qualquer habilidade. A habilidade específica para essa finalidade. Se o mesmo indivíduo realizar muitas acrobacias ou ficar por horas montado numa vassoura, há um estresse natural. Cai a capacidade de concentração, há uma fadiga física e mental, que no limite (embora seja raro), pode levar uma pessoa à morte. Foi por essa razão (a outra foi a razão comercial) que as partidas de quadribol foram limitadas a quatro horas de duração. Era comum, antigamente, os jogos durarem dias ou semanas, o que aumentava consideravelmente o risco para os pilotos.


Após um jogo de quatro horas de duração, desviando-se de balaços e voando a uma velocidade impressionante para marcar quinhentos pontos em menos de quatro horas e com a tensão advinda disso, Harry Potter estava realmente em frangalhos. Mas feliz. Muito feliz.


- Eu consegui – ele me disse contente, deitado numa maca no vestiário, enquanto Hermione, praguejando contra aquele jogo de lunáticos, cuidava do amigo, ministrando-lhe poções revitalizantes.


O sentido de união do time era tão grande, que mesmo com a algazarra lá fora, todos esperavam que Harry se recuperasse antes de sair comemorando. E eles tinham muito o que comemorar. Digamos que eles tinham quinhentos mil galeões de razões para comemorar.


O representante das Vassouras Firebolt apareceu no vestiário para anunciar sorridente que a empresa cumpriria a promessa e daria quinhentos mil galeões para o time, que seria dividido entre os jogadores, mais quinhentos e dez mil para Harry pelo número de pontos marcados.


Gina, que não saía de perto do marido, me lançava olhares intimidantes a todo momento.


- Essa é a última gracinha que você faz, Draco! – disse a ruiva, enquanto apreciava a eficiência profissional de Hermione.


- Acredite ou não, sua ruiva geniosa – eu respondi para a jovem Senhora Potter – eu gosto do seu marido e não quero colocar a vida dele em risco. Ele é certeza de casa cheia e muitos milhões de galeões para mim. Por que eu iria arriscar perder isso?


- Humpf! – bufou a garota em resposta


- Você me perdoa? – perguntei para ela de maneira surpreendentemente humilde - Por favor!


- Vou pensar... – ela respondeu segurando o riso e se fazendo de difícil. Ver Draco Malfoy se desculpando certamente a divertia muito.


- Eu providencio para você e para o Harry uma suíte no Golden por tempo indeterminado.


- Com café da manhã incluído? – ele questiona, ainda de olho no esposo, que parecia reagir bem às poções.


- E nas suítes com aquelas camas mágicas, que...


- Feito! – interrompeu a ruiva – Mas nada de arriscar a saúde do Harry ou de qualquer jogador de novo mais do que a saúde da gente já corre riscos. Certo?


- Temos um trato – disse para a garota, estendendo-lhe a mão.


Inesperadamente ela me puxa (é bem forte para o tamanho) e me dá um beijo no rosto.


- Você é bem legal. Para um sonserino, digo.


- Você também não é nada má para uma grifinória – devolvo-lhe a brincadeira. XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX


- Por que diabos eu tenho que continuar no hospital? – perguntou Harry, bastante contrariado.


- Porque não é brincadeira o que você teve – respondeu Hermione – Os sintomas podem demorar a aparecer. Você pode começar a sentir tonturas, mal estar, fadiga. Se isso acontecer eu quero que você esteja em algum lugar onde as pessoas possam examiná-lo.


- Você vai fazer o que Hermione diz – intrometeu-se Gina – Você quer estar na seleção inteiro, pelo que eu me lembro.


- É, Harry, fique bonzinho, ou nós não deixaremos Gina passar as noites com você – eu acrescentei, recebendo olhares indignados dos “pombinhos”.


- Falando em passar as noites... – disse Hermione, soando misteriosa.


- É! – concordou Rony, um sorriso bobo no rosto cheio de sardas.


O casal Weasley andava realmente muito feliz naquele dia. É verdade que todos estavam felizes. Harry estava bem, o time era um sucesso, os galeões entravam a rodo. Mas Hermione e o ruivo estavam “mais” felizes do que era moralmente permitido. Deveria haver alguma lei proibindo tanta felicidade!


- OK, digam logo porque vocês estão com esses sorrisinhos bobos o dia inteiro – eu os provoquei – Vocês sabem que eu não agüento ver pessoas tão felizes assim...


- Mione está grávida – diz Rony Weasley, como se aquilo fosse algo realmente para deixar as pessoas felizes.


Bom, as pessoas realmente ficaram felizes. Gina deu pulos e gritos como se tivesse vencido uma partida de quadribol. Harry levantou-se da cama, pela primeira vez com um ar que não beirava o tédio absoluto. Queria a todo custo que Hermione deitasse no lugar dele e olhava a amiga como se essa fosse a encarnação de alguma antiga deusa pagã da fertilidade.


- Harry, eu estou grávida, não estou doente! – disse-lhe a medibruxa com aquela racionalidade de sempre – Já chega o Rony que quer me carregar para todo o canto.


Achei que era melhor sair temporariamente de cena. Gina e Harry ainda estavam abraçadas à amiga e o ar de felicidade do Weasley estava realmente me embrulhando o estômago.


Certo, Hermione estava grávida. Quer dizer que ela e o ruivo..., bem vocês sabem. E eu que tinha a esperança que o casamento deles não sobrevivesse à lua de mel!


Depois desses pensamentos “agradáveis”, decidi que precisava de um drinque. Algo bem forte. Será que cicuta gelada desce bem no inverno? XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX


No dia seguinte, eu e Hermione discutíamos as questões administrativas dos Cannons. O relatório sobre as condições físicas dos jogadores, que deveria ser encaminhado periodicamente para o Departamento de Esportes Mágicos do Ministério da Grã-Bretanha. As condições sobre a saúde de Harry (que estava se recuperando muito bem, apesar de uma pequena crise que o acometera à noite). Eu olhava para aquela garota incrivelmente inteligente e me amaldiçoava pela milionésima vez por ser tão idiota e passar parte da minha vida ofendendo-a e chamando-a de “sangue-ruim”.


- Parabéns, Hermione – disse finalmente, tentando disfarçar o meu despeito pela felicidade do casal Weasley – Espero realmente que a criança puxe a você...


A tentação de uma ligeira provocação era maior do que eu. Hermione, no entanto estava sorrindo. Nada poderia estragar a sua felicidade naquele dia.


- Espero que nosso filho ou filha tenha os cabelos vermelhos do Rony – ela me disse com ar sonhador – O meu cabelo é tão comum!


- Não há nada que seja comum em você – comentei, tentando soar casual – Não no sentido depreciativo, se é que você me entende.


Hermione agradeceu, ligeiramente encabulada. E eu continuei achando-a adorável. Mesmo grávida daquele Weasley.


- Bem, eu acho que é tudo – ela falou, dando por encerrada a nossa reunião. Devo confessar que na última parte, ouvi muito pouco.


Hermione iria ter um filho do Weasley! Esse fato martelava a minha mente.


- Eu queria lhe dizer uma coisa, Draco – advertiu a medibruxa, me arrancando dos devaneios.


- Sou todo ouvidos – respondi, tentando disfarçar a preocupação com a conversa – Se você precisar se afastar das suas funções...


- Eu não preciso me afastar de nada! – retrucou a jovem irritada – Que mania vocês homens têm de achar que mulheres grávidas são inválidas! Quero dizer, não preciso me afastar do time por enquanto. Não por causa da gravidez, pelo menos.


- O que você quer dizer com isso?


Hermione suspirou longamente e me encarou, colocando sobre mim aqueles seus lindos olhos castanhos.


- Eu sei que a minha presença ainda o perturba – ela disse de maneira direta – Escute, eu não quero deixar você embaraçado, mas eu posso perceber.


- Tudo bem, Hermione – concordei resignado – Às vezes eu me surpreendo pensando se as coisas poderiam ser diferentes...


- Mas não são, Draco. E você sabe disso.


- Você tem razão – assenti – Me desculpe. Mas não quero perder uma profissional como você. E os jogadores e a Vera confiam muito em você. Eu vou superar. Nós, Malfoys, somos duros na queda. XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX


Dias depois, foi organizado um jantar na residência do primeiro ministro para comemorar a gravidez de Hermione e a convocação de Harry, Gina, Rony e Angelina para a seleção inglesa de quadribol. As bebidas foram por minha conta. Um Malfoy não comparece a um jantar sem levar alguma coisa. Vinho, hidromel, espumante e conhaque. Tudo da melhor qualidade e adquirido a peso de ouro do melhor estoque altamente exclusivo e ilegal do meu amigo Leo Pires. Hermione permitiu que Harry comparecesse, mas nada de álcool ou ficar acordado até tarde.


- Ahn, Sr. Malfoy – me chamou num canto Arthur Weasley – Essas bebidas foram providenciadas pelo seu amigo Pires?


Como a maior autoridade da comunidade mágica do Reino Unido, o Sr. Weasley não queria ser surpreendido com itens que talvez tivessem entrado no país de maneira não muito legal. A oposição faria a festa com essa notícia.


- Pode ficar sossegado, Sr. Ministro – digo para tranqüilizá-lo – Eu tenho as notas de compra de todas as bebidas. Essas belezinhas estrangeiras entraram no país de maneira legal.


Visivelmente aliviado, Arthur Weasley me deu um tapinha amistoso no ombro e se afastou feliz da vida. Eu não contei uma mentira. Realmente as bebidas entraram legalmente no país, mas eu não precisava explicar que o meu amigo português a adquiriu no exterior de um carregamento ilegal. Suponho que o ministro tenha assuntos mais importantes com o que se preocupar do que a proveniência de conhaques e espumantes fabricados por elfos italianos e franceses. XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX


- Nosso irmãozinho! – dizia Fred Weasley, encarando Rony como se esse houvesse realizado uma façanha.


- Quem diria! – concordou Jorge.


- Que danadinho! – provocou Fred, fingindo que estava muito impressionado.


- Parece que foi ontem que ele pedia as nossas revistas emprestadas... – caçoou Jorge – E hoje ele anda por aí, fabricando bebezinhos.


- Você tem certeza de que ele não pediu ontem aquela que tem uma bruxa que...


- Parem de amolar o Rony! – interferiu Angelina Johnson – Quer dizer que o senhor coleciona revistas indecentes... – disse a garota negra, seus olhos fuzilando na direção do noivo.


- Claro que não, meu bem! – defendeu-se o sócio das Gemialidades Weasleys – Quem poderia ter pensamentos safados com outra bruxa, tendo você por perto? – perguntou sedutor.


- Você? – zombou Fred.


- Não ligue para esse indivíduo sem fé, meu açúcar!


- Meu açúcar? – repetiram Rony, Gina e Fred, caindo na risada.


- Vem, meu “açúcar ruivo” – gracejou Hermione, puxando o marido – Eles estão com inveja porque você teve a “competência” de fabricar um bebê, enquanto esses dois...


- Eu só perdôo a sua insolência porque você é uma Senhora Weasley grávida – retrucou Fred, fingindo contrariedade.


- É. Nós não costumamos brigar com Senhoras Weasleys grávidas – concordou Jorge – Nós damos a elas o “tratamento especial”.


Inesperadamente os dois gêmeos malucos abraçaram Hermione ao mesmo tempo e encheram a garota de beijos, enquanto Rony reclamava e Gina, Harry e Angelina riam a valer.


- O “tratamento especial”? – perguntou Fleur, esposa de Gui Weasley, que passava por eles nesse momento – Eu também fui vítima desses lunáticos quando fiquei grávida – disse a francesa. XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX


Inegavelmente aquela era uma festa dos grifinórios. Molly e os pais de Hermione trocavam impressões felizes sobre a perspectiva de terem netos ruivos pulando pela casa. Angelina abraçava a todo instante Harry e Gina e perguntava para Harry se ele estava realmente bem. Os M’Bea brincavam com Rony, alertando-o para o fato de que bebês choram à noite. Diziam que ele deveria se preparar para uma fase complicada no quadribol, pois os treinos da manhã seriam muito difíceis nos primeiros meses. Eu, no meu canto, apreciava uma taça de hidromel de ótima procedência, quando O Sr. Weasley e Severo Snape me chamaram para uma conversa, agora bem mais séria do que aquela sobre a procedência de remessa de bebidas.


Era uma sala razoavelmente grande, onde havia uma mesa de trabalho cheia de fotos de pessoas ruivas felizes, que acenavam alegremente. Os gêmeos Fred e Jorge, que eram adolescentes quando uma das fotos foi tirada, mostravam a língua e faziam gestos nada amistosos.


- Molly quase deu uma surra neles por causa desses gestos – explicou o ministro, com um sorriso maroto – Mas eu gosto muito dessa foto. Só não diga a Molly que ela está no meu gabinete de trabalho.


- É eficiente para espantar pessoas indesejáveis – disse Snape com um arremedo de sorriso no rosto.


- Senhor Malfoy – iniciou Arthur Weasley cheio de formalidades.


- Me chame apenas de Draco, Senhor Ministro.


- Certo. Então me chame apenas de... – ia dizendo o homem mais velho.


- Eu prefiro chamá-lo de Sr. Ministro, se o senhor não se importa, Sr. Weasley – eu o interrompi.


Como o ruivo me olhava com uma expressão de quem interroga, eu expliquei:


- Não me entenda mal, Sr. Weasley. Eu admiro o senhor e acho realmente que o senhor está fazendo um trabalho eficiente à frente do ministério. Inclusive eu tenho feito contribuições ao governo bruxo, porque acho realmente que o senhor é o homem certo no lugar certo. Mas não acho aconselhável que eu tenha alguma intimidade com o senhor. O senhor pode me chamar pelo primeiro nome. O ministro, afinal, pode se dar ao luxo de ter intimidade com quem que seja, mas eu não.


- Sim, você tem razão – disse o patriarca dos Weasleys, ligeiramente constrangido – Eu preciso me acostumar com as mesquinharias da política.


- Como o jovem Draco disse com muita propriedade, você está fazendo um bom trabalho, Arthur – concordou Snape – E é por isso que algumas pessoas não estão satisfeitas. Arthur vem prejudicando alguns indivíduos que sempre se acostumaram a ter privilégios no governo bruxo da Grã-Bretanha – explicou-me.


- E essas pessoas decididamente não gostam de você, Draco – advertiu o ministro.


- Vamos ser francos – disse Severo Snape – Essas pessoas não seriam corajosas o suficiente para apoiar o Lorde das Trevas abertamente. Não sem ter a certeza de sua vitória. Mas não estão contentes com o atual status do mundo bruxo. Elas odeiam Arthur Weasley, por considerá-lo um adorador de trouxas, Harry Potter por tudo o que ele representa para as pessoas de bem e você, por ter se unido a aquilo que eles mais desprezam.


- Eu corro algum perigo? – perguntei preocupado. Não estava interessado em ter adoradores das trevas no meu encalço. Eu tinha apenas vinte e dois anos e estava muito interessado em me manter vivo e saudável.


- Duvido que essas pessoas tenham peito de realizar alguma medida drástica como um atentado contra a sua vida – disse o meu antigo professor de poções – De qualquer maneira você, o casal Potter e os seus amigos estão sendo vigiados constantemente.


- Mas há outras formas de prejudicá-lo – explicou o ministro – Alguns empresários tentaram convencer o Conselho a abrir uma investigação contra você.


- Não há nada nos meus negócios que eles possam questionar – disse indignado.


- Nós sabemos – concordou Snape.


- Por isso eles não conseguiram apoio – explicou o Sr. Weasley – Mas nós estamos alertando você para que tome cuidado. Meu filho Gui e Olívio Wood também foram avisados.


O silêncio pairou por alguns instantes na sala. Por fim, o ministro disse:


- Você tem sido uma pessoa decente, Draco. Todos sabem que eu e seu pai, bem...


– O senhor não gostava dele. Nenhuma pessoa de bem gostaria – eu o interrompi – O senhor não precisa ter receio de me deixar melindrado, Sr. Weasley.


- Eu fico feliz em constatar que você é uma pessoa melhor do que ele, se me permite dizer. E eu tenho que agradecer tudo o que você vem fazendo pelo Harry e pelos meus filhos – o ministro me diz com sinceridade.


- Fico lisonjeado, Sr. Weasley. Mas eu sou apenas um sujeito querendo ganhar dinheiro. E seus filhos e Harry realmente me ajudam nisso. Não há nenhum gesto nobre da minha parte.


- Muita gente no nosso mundo quer ganhar dinheiro, mas não tem nenhum escrúpulo na maneira de obtê-lo – observou Severo – O que o ministro quer dizer é que você tem agido de maneira correta e que essa administração fará o possível para que você não seja prejudicado. Até porque – acrescentou com um ar ligeiramente sombrio – os seus inimigos são nossos inimigos também. Queira você ou não. XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX


Enquanto a limusine mágica dirigida por Goyle me conduzia para casa, eu pensava nos acontecimentos daquela noite. Com um sorriso sincero, lembrava da alegria de Rony e de seus amigos e familiares com a gravidez de Hermione. A felicidade de Harry, Gina e Angelina com a convocação para a seleção inglesa. E pensava, principalmente, nas palavras do ministro Weasley e do meu antigo professor de poções, sobre as pessoas que queriam ferrar a minha vida. Céus, eu estava ficando com o coração mole!


Ficava contente com a alegria daqueles grifinórios e decepcionado pelo fato das pessoas não apreciarem o meu trabalho. Mas, que droga! Eu só queria ganhar dinheiro de maneira honesta! O que importava se eu me juntei ao “Santo-Potter-Salvador-do Mundo-Mágico”?


Mais tarde, na fria e solitária Mansão Malfoy, eu refletia sobre alguns aspectos da alma humana. Sim, caros leitores. Depois de tomar algumas traças de hidromel, eu me sentia ligeiramente melancólico e ridiculamente filosófico. Potter tinha (na verdade tem até hoje) aquela ruiva geniosa, mas que o adora perdidamente.



Harry acordou de madrugada, trêmulo e suando frio. Esse não era um sonho recorrente, mas ainda o incomodava algumas vezes. Voldemort. As coisas que o bruxo lunático dissera para ele antes de morrer. Isso ainda o assombrava, embora o jovem procurasse deixar aquelas palavras e aqueles olhos viperinos horripilantes longe de sua mente.



Estava numa luxuosa suíte do Hotel Gold. Antes mesmo de perceber onde estava e de ter consciência que estava desperto, sentiu braços suaves o envolverem, e um corpo delicado junto ao seu. Quando abriu os olhos, deparou-se com Gina, que olhava preocupada para ele. Não era apenas preocupação que via nos olhos da sua ruiva, entretanto. Era também aquele amor incondicional que tanto o tocava.


- Está tudo bem, Harry – ela lhe disse – Eu estou aqui com você.


- Sim, você está – concordou Harry, sentindo-se idiota por não ter nada mais terno para dizer à garota que amava. À sua esposa – Você sempre esteve.


- Quer falar sobre o pesadelo? – a ruiva lhe perguntou amorosamente – Hermione diz que ajuda.


- Eles não são mais tão freqüentes – Harry disse – Mas agora eu não quero falar de pesadelos. Não quando estou abraçado à ruiva mais linda do mundo – falou, beijando a garota.


- Hei, seu assanhado! – brincou a jovem – Deixe-me tirar esse seu pijama. Você está todo suado.


- Se você começar a tirar a minha roupa eu não me responsabilizo pelos meus atos, Sra. Potter – gracejou Harry, o pesadelo com Voldemort, agora tão distante quanto todas as coisas ruins da sua vida, incluindo quartos que eram armários, cicatrizes que doíam o tempo todo e pessoas queridas perdidas para sempre.


Gina tinha sobre ele o poder de afastar as memórias ruins para algum canto remoto da sua mente.


- Espero que você não tenha nada contra homens nus e suados – falou, enquanto se livrava do paletó do pijam e ao mesmo tempo beijava a esposa. A suíte era sempre mantida numa temperatura agradável através de magia.


- Não contra “esse” homem nu e suado em questão – retrucou a ruiva, abraçando-se a Harry e correspondendo ao seu beijo.


E Rony Weasley, é claro, tinha Hermione. E Hermione tinha aquele ruivo bobo, mas que inegavelmente a amava a ponto de ficar mais bobo ainda ao seu lado.



Rony acordou e não a encontrou na cama. Por mais absurdo que isso pudesse parecer, ele sempre sentia um princípio de desespero quando acordava sem ter Hermione por perto. Os ruídos vindos do banheiro da suíte, entretanto, apontavam para a presença dela. Grávida, pensou o ruivo. Hei, espere aí! E se houver alguma coisa errada com a “minha” Mione e com o “meu” filho?


Movendo-se com a mesma agilidade que usava para cobrir os aros a quinze metros de altura, montado numa vassoura, Rony “Maluco” Weasley, praticamente num salto, estava à porta do banheiro. Em outro movimento mais rápido ainda, tinha Hermione nos seus braços. Ela tinha acabado de escovar os dentes e parecia ligeiramente pálida.


- Tudo bem com você, querida? – o ruivo perguntou quase em pânico – Dói em algum lugar? Você está se sentindo bem?


Primeiro Hermione olhou surpresa para o marido, depois, com a cor aos poucos voltando para o seu rosto, ela começou a rir. Passados alguns segundos ela estava gargalhando.


- O que é tão engraçado assim? – perguntou Rony, as orelhas começando a ficar vermelhas, sinal inequívoco de contrariedade.


- Venha, Rony, ainda é muito cedo – disse a medibruxa, puxando o jovem até a cama – Não fique bravo – ela falou, segurando-se para não rir novamente.


Quando os dois acomodaram-se novamente na cama de casal, Rony abraçou possessivamente a esposa, mas ainda estava visivelmente emburrado.


- Rony, isso é apenas enjôo matinal. É normal no começo da gravidez. Eu disse para você.


- Eu fiquei preocupado – respondeu o ruivo – Depois do que fizemos ontem...


- Rony, meu querido – disse Hermione calmamente, esforçando-se para não cair de novo no riso – Sexo na gravidez não faz mal nenhum. Deixa de ser...


- Um legume insensível? – perguntou o ruivo, ligeiramente contrariado.


- Não, você não é um legume insensível – ela diz se aconchegando mais a ele – Você é só um pouquinho desinformado, mas a sua preocupação comigo é muito...


- Não diga FOFA! – advertiu o rapaz.


- Eu ia dizer adorável – sussurrou Hermione sonolenta, enquanto Rony acariciava os seus cabelos crespos até que ela dormisse em seus braços.


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Quando acabei de ditar as últimas palavras sobre coisas ocorridas há décadas atrás, algumas delas imaginadas e não presenciadas, um homem da minha idade entrou no meu gabinete. Ele é uma das poucas pessoas que eu recebo nesse aposento sem estuporar ou ameaçar com maldições imperdoáveis. Os cabelos ainda são rebeldes, mas já bastante grisalhos. Ele usa óculos redondos, de acordo com a última moda trouxa, e se veste como sempre, com simplicidade. Apesar de já ter passado dos sessenta anos, ainda há muitas mulheres que o acham bastante atraente.


Nós nos cumprimentamos com um aperto de mãos e um abraço. Ele é uma das poucas pessoas que recebem um abraço de Draco Malfoy. Claro que eu estou falando de Harry Tiago Potter, o Escolhido, o Eleito, “Campeão na luta contra as trevas”, ou seja lá o nome que tenham inventado para ele hoje. Embora tenhamos nos tornado grandes amigos com o passar dos anos, ele não perde a oportunidade de lançar uma provocação. Sim, o “Senhor Cicatriz” conseguiu desenvolver algum senso de humor ao longo dos anos.


- Como vão as “Mentiras do Velho Malfoy”? – ele perguntou, olhando a tela do computador. Há anos venho escrevendo uma biografia e há várias editoras bruxas interessadas nela, inclusive a minha própria editora.


- Dobre a língua, Potter – eu respondo – Você está se referindo à obra prima biográfica do mundo bruxo. À obra que vai atrair multidões de leitores e deixar a Editora Pégasus louca de vontade de publicar as reminiscências do empresário mais bem sucedido que a bruxidade britânica teve o prazer de conhecer.


- Sem falar que você é o dono da Editora Pégasus... – ele jogou na minha cara.


- Isso é um mero detalhe insignificante. Mas não fique com inveja. Eu estou dedicando a você, vejamos... – eu faço uma pausa dramática, fingindo pensar – Duas páginas inteiras! Como o livro tem mais de mil...


- OK, Draco. Já percebi o quanto você é bondoso – ele me disse, depois de soltar uma sonora gargalhada – Mas, onde estão os “meus” netos?


- Se você se refere aos “meus” netos e a aquele Weasley endiabrado... – retruco maliciosamente – Eu os deixo dormir até mais tarde. Não sou tirânico com pobres crianças indefesas, como “algumas pessoas” que eu conheço...


E assim passamos a manhã. Dois senhores de idade com muito bom humor e a língua afiada para provocações. As crianças dizem que ver nós dois trocando farpas é mais divertido do que alguns programas de televisão.


Os pestinhas brigam para escolher o sabor dos muffins enquanto eu e Harry conversamos sobre coisas amenas. Combinamos para breve uma partida de quadribol da Liga dos Veteranos, que fundamos, junto com os gêmeos Weasleys e outros. E pensar que um dia, há décadas atrás, eu me senti muito só. Mas apenas porque eu não havia olhado em volta de mim mesmo.


Principalmente para uma certa mulher. XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX


FINALMENTE! NO PRÓXIMO CAPÍTULO, ALGUMAS ARMAÇÕES DAS TREVAS, O TIME DO VETERANOS (NA VERDADE, OS “AVOZINHOS LARANJAS”).


NÃO PERCAM! QUEM SERIA A “UMA CERTA MULHER” QUE DRACO MALFOY NÃO PERCEBEU OLHANDO EM VOLTA?

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