O FOGO DAS TREVAS



CAPÍTULO 5


Quem teve a idéia brilhante foi Jorge Weasley. Um bando de velhotes montados em vassouras como se ainda tivéssemos idade para tanto. Mas acabou sendo realmente muito divertido. Eu, jogando como apanhador, como nos meus tempos em Hogwarts, Rony Weasley no gol, Harry e Gina Potter, Angelina Johnson-Weasley, Fred e Jorge. E uniformes laranjas, é claro. Como as vestes dos Cannons. Lógico! Eu presido o time e forneço os uniformes.

Você pode dizer também que sou o dono das vassouras, do pomo, dos balaços e das goles. Ah, como pude esquecer? O campo também é meu. É lógico que eu jogo! Não por ser dono de tudo, é claro. Apenas porque não há muitos apanhadores com mais de sessenta anos a fim de enfrentar um duríssimo torneio de veteranos, onde pessoas sanguinárias querem o seu escalpo.

OK. Eu estou exagerando um pouco. Nas regras que Hermione Weasley nos obrigou a criar para esses torneios de veteranos há alguns anos atrás, os vôos nunca ultrapassam os doze metros, os balaços são um pouco mais leves e há dispositivos mágicos nas vassouras que impedem a queda dos jogadores. Harry e eu alegamos que isso tiraria a graça do jogo, mas nossa amiga nos deu um grande bronca, perguntando se nós tínhamos perdido o juízo, se esse exemplo de irresponsabilidade é que queríamos passar para os jovens e outras muitas coisas. Bem, ninguém discutia com a Senhora Weasley quando ela era curandeira dos Cannons. E é evidente que ninguém discutiria agora.

“Voadores Laranjas” é o nome do nosso esquadrão. Alguns engraçadinhos (e eu tenho quase certeza que tem o dedo de “um certo Weasley” nisso) nos apelidou de “Vovozinhos Laranjas”. Até a imprensa incorporou o apelido. Não que haja algum desprezo da mídia. Muito pelo contrário. Os nossos jogos estão recebendo uma cobertura quase digna dos clássicos do quadribol britânico.
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Fred Weasly acertou um balaço certeiro no apanhador do outro time, deixando o caminho livre para que eu voasse até o pomo. Nunca fui tão bom quanto Harry num mergulho vertical, mas também nunca foi tão mal assim. Estiquei o braço e apanhei o pomo a poucos metros do chão. Vejo torcedores de todas as idades (na verdade filhos e netos) comemorando e nem ligo muito para um estalo perigoso que sinto nas costelas.

O problema é que quando aterriso, pronto para receber os louros da glória, quase não consigo respirar.

- Você está bem, Draco? – pergunta Harry, que é o primeiro a vir na minha direção.

- Lógico que eu estou bem – respondo de mau humor – Quem... – respiração falhando – precisa respirar, não é mesmo?

Mais tarde Hermione cuida das minhas costelas que saíram do lugar e me dá (mais uma) bronca. Ela acha que é uma irresponsabilidade homens e mulheres que já são avós brincarem de jogadores. Meus netos, por outro lado, parecem impressionados.

- Irada a sua apanhada, vovô! - disse a minha neta. Fico feliz. Geralmente são Harry e Gina que os impressiona no jogo.

- Olhem para mim! – diz o zombeteiro neto de Hermione – Sem respirar! – grita o Weasley pestinha, fazendo uma imitação tacanha da minha dificuldade para desmontar da vassoura depois de machucar as costelas.

Ele é repreendido pelos pais, mas desconfio que esse moleque não tem jeito. No final eu também acabo rindo. Como poderia não estar de bom humor numa manhã quente, em que arrasei no jogo de quadribol da Liga de Veteranos e todos gritaram o meu nome. Ou pelo menos deveriam. Não posso me esquecer de ameaçar o time com o despejo do “meu” campo se a torcida não mostrar mais respeito por mim.

Muito mas tarde, estou sozinho na boa e velha Mansão Malfoy. Tive que convencer os amigos e parentes que estava bem. Hermione curou as minhas costelas com a rapidez e o talento de sempre. Ela não perdeu nem um pouco a prática com a idade. Retomo o trabalho das minhas memórias, uma vez que normalmente durmo muito pouco. Sim, os acontecimentos sombrios. Eles começaram discretamente, intermediados por momentos felizes. Foi no inverno de 2.002...
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Cris Toledo e sua namorada Tess Smith saíam alegres da loja de roupas de Madame Malkin. Era o final de uma manhã fria, mas o dia estava claro e ensolarado. A peruana tinha razões para estar feliz. Sua seleção havia triturado o time do Canadá nas difíceis eliminatórias das Américas e ela havia sido escolhida a jogadora da rodada do seu continente. Parte do prêmio em dinheiro recebido pelo feito a garota havia dado para alguma instituição de caridade em seu país e o restante usou para comprar roupas para ela e para Tess.

Tudo foi muito rápido e inesperado. Um jovem com uma máquina de fotografia bruxa pediu para tirar uma foto dela. A artilheira, sorrindo, parou olhando para a câmera. Era sempre gentil com os fãs. Tess, não querendo ficar a tiracolo da sua companheira famosa, deu alguns passos para o lado, segurando as sacolas com as compras. Mas quando o rapaz acionou a máquina não foi um flash que saiu dela. Foi fogo. Fogo mágico.

Um feitiço terrível inventado pelos Comensais da Morte durante a guerra. Era o " Fogo das Trevas" , criado por feiticeiros malignos e dificílimo de ser conjurado ou combatido. A reação instintiva de um bruxo é sempre invocar água. Acontece que a água apenas aumenta a ação daquela chama infernal, que em pouco tempo pode queimar uma pessoa até os ossos. Essa seria a sorte da jovem peruana se o seu amigo Harry Potter não estivesse naquele momento saindo de uma loja de aparelhos eletrodomésticos que havia sido inaugurada, vizinha à loja de roupas.

Gina Potter havia ficado encantada com os desenhos e filmes trouxas que aprendeu a gostar convivendo com os filhos de Toni e Helga M’Bea. A jovem fez questão que o esposo (que conhecia engenhocas trouxas melhor do que ela) a acompanhasse na compra de uma daquelas máquinas que reproduziam esses filmes. Apenas nas lojas bruxas eram vendidos aparelhos, que além de reproduzir vídeos e DVDs, ainda eram acoplados a uma TV mágica que exibia a programação da TV Bruxa.

O Eleito não ficava muito feliz com esses passeios, uma vez que era sempre complicado para ele deslocar-se por lugares onde havia muitos bruxos reunidos. Havia o assédio dos fãs, os inevitáveis pedidos de autógrafos e os ataques histéricos das jovens bruxas.

Tentando não ser grosseiro, Harry com muito esforço, conseguiu livrar-se dos caçadores de autógrafos, depois de comprar o aparelho mais moderno da loja, que seria entregue na sua residência no dia seguinte através do serviço de entregas mágicas. Ainda empolgada com a aquisição para os seus momentos de lazer, a jovem ruiva parou subitamente o que dizia para o marido e apontou assustada para o estranho fogo azulado que havia jorrado da máquina de um fotógrafo naquele momento, do outro lado da rua. Ambos, escolados em feitiçarias malignas desde os tempos da guerra, correram naquela direção.

A ruiva, com o seu extraordinário talento de duelista, tantas vezes demonstrado em combate, tirou rapidamente a varinha das vestes e estuporou o rapaz que havia lançado o feitiço, que corria do local, enquanto Harry se aproximou, exatamente no momento em que Tess jogava água conjurada de sua varinha na jovem em chamas.

Sem tempo para ser delicado e sabendo muito bem o que aquela tentativa de salvamento poderia significar, Potter empurrou a garota e sem recorrer à varinha (ele era capaz de lançar feitiços sem ela) pronunciou o feitiço “Vacuos”, que eliminou por um momento o oxigênio em volta de Toledo, fazendo com que as chamas se dissipassem. Mágico ou não, não há fogo que se propague sem oxigênio. Hermione, com a inteligência já conhecida, foi quem descobriu e ensinou aos então membros da Força Aérea o feitiço neutralizador. Não fosse por ele e pelo fato de Harry estar por perto, Cris Toledo queimaria até que nada sobrasse dela.

As queimaduras, entretanto, eram graves. Abraçando carinhosamente a amiga que estava desacordada, o Eleito desaparatou do Beco Diagonal e aparatou na porta dos St. Mungus. Ele tinha certeza que os curandeiros do hospital salvariam a sua amiga e colega de time. Mas que os deuses tivessem piedade daquele bastardo que lançou o feitiço!
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Pouco tempo depois, Harry estava de volta ao local do crime, depois de deixar Toledo aos cuidados dos curandeiros, e de ter enviado uma coruja para Hermione, que ele sabia que se encontrava na Toca naquele momento com Rony. Gina ainda consolava uma desesperada Tess Smith, à beira da histeria.

- Eles mataram a Cris! – chorava inconsolável a antiga lufa-lufa – E eu fui tão burra! Como não identifiquei aquele feitiço? – gritava desesperada.

- Está tudo bem, Tess – disse Harry, abraçando a jovem – Toledo está no St. Mungus. Ela vai ficar boa. Eu prometo.

No segundo seguinte o olhar terno de Harry desapareceu completamente. O jovem bruxo que havia lançado o feitiço despertou. Gina havia providenciado cordas mágicas e o havia amarrado. Ainda um tanto desorientado ele olhou em volta, tentando se levantar, apesar de estar totalmente preso. Provavelmente o rapaz nem soube o que o atingiu.

- Oh, desculpe – disse Harry de maneira selvagem – Eu peguei você desprevenido, foi?

Com um simples gesto de mão as cordas desapareceram. Surpreso por estar livre o quase homicida tentou correr, passando por Harry. Uma verdadeira multidão perfilava-se às suas costas. Foi atingido novamente. Foi um soco tão forte que ele caiu respirando pesadamente. Antes que pudesse se recuperar foi atingido de novo. E de novo. E mais uma vez.

- Pare, Harry! – exigiu Gina de maneira enérgica, segurando o esposo.

Naquele instante, aurores do ministério aparataram no Beco Diagonal. O bruxo que havia tentado matar Toledo ofegava pesadamente. Havia hematomas no seu rosto e sangrava copiosamente pela boca e pelo nariz.

- Não se mexa! – disse o maior e mais mal encarado dos aurores para Harry, apontando-lhe a varinha.

Os Potter o reconheceram de imediato. Era Ewan MacCalister, antigo aluno da Sonserina, uns cinco ou seis anos à frente do nosso ano em Hogwarts. Antigo batedor de quadribol. Só debilóides como os que passaram pelo ministério naqueles anos deixariam um sujeito como aquele virar auror. De uma tradicional família bruxa escocesa, detestava trouxas, “sangues-ruins” e mestiços. E obviamente detestava Harry Potter.

- MacCalister, seu retardado! – indignou-se Gina – Esse pulha quase matou a Toledo e você ameaça o Harry?

- Só quem está à beira da morte aqui é esse sujeito – disse o funcionário do ministério, apontando para o jovem caído, que continuava ofegando de dor.

- Você quer prender Harry Potter? – indagou espantada uma moça morena, uma outra auror do Ministério, também conhecida do casal, pois servira com eles na Força Aérea durante a guerra.

- Com licença – disse educadamente um bruxo de meia idade com um sotaque do norte da Inglaterra – Esse rapaz tentou matar a moça que estava com essa outra jovem – e apontou para Tess – Harry Potter salvou a menina e...

- E resolveu fazer justiça a seu modo – interrompeu MacCalister de maneira arrogante – É bem típico dele mesmo...

- Pois eu acho que a surra dada nesse sujeito foi pouco, perto do que ele fez com a moça! – retrucou o homem mais velho, com visível sinal de irritação. Uma pequena aglomeração já se fazia presente e a maioria das pessoas parecia concordar com o defensor de Harry

- É meu dever prendê-lo para averiguação! – disse o auror, sendo vaiado e xingado pelas pessoas.

- Você pode tentar – desafiou-o Harry.

- O seu dever é cuidar da segurança dos bruxos honestos e não prender o herói do mundo mágico, seu imbecil! – vociferou o senhor, sendo aplaudido pelos presentes.

Agora já era uma multidão que se reunia em volta dos Potter e dos aurores. As pessoas se assustaram, contudo, quando um barulho parecendo o estalar de um chicote indicou que alguém havia acabado de aparatar bem no meio do Beco Diagonal. A figura imponente de Quim Shacklebolt, chefe do Escritório dos Aurores, se interpôs entre Harry e MacCalister.

- O que está ocorrendo aqui? – perguntou o homem negro encorpado, cheio de autoridade.

- Potter está causando tumulto, senhor – tentou explicar-se MacCalister, recebendo mais uma vez uma vaia da multidão.

- Potter não está causando tumulto algum! – indignou-se a jovem auror que havia servido na Força Aérea.

- O Sr. Potter acabou de salvar a vida de sua amiga e surrar esse bruxo das trevas. E esse auror estúpido quer prendê-lo! – explicou o homem de meia idade com uma voz indignada, apresentando-se a Shacklebolt como Ignatius Morgantale, comerciante de relíquias mágicas.

Shacklebolt decididamente não gostava do auror MacCalister. Pesavam sobre ele suspeitas de ter simpatias com o lado das trevas, mas nada havia sido provado a respeito e, sendo justo, o rapaz tinha uma conduta até então sem máculas. Não poderia afastar ou punir um indivíduo apenas por julgá-lo antipático e mal educado.

Seu superior hierárquico, contudo, Severo Snape, que cuidava do setor de segurança do Ministério, havia recomendado que o chefe dos aurores ficasse de olho no subordinado.

Com um gesto discreto, Quim Shacklebolt ordenou aos demais aurores que efetuassem a prisão do “fotógrafo” surrado por Harry. Pediu gentilmente ao Sr. Morgantale que o acompanhasse até a o Ministério para prestar depoimento, obtendo a pronta concordância do comerciante. Para o auror que queria prender Harry, o chefe disse friamente:

- Suma da minha frente, MacCalister. Depois Snape vai ter uma conversinha com você!
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Alguma coisa dizia ao meu amigo Severo Snape que aquele não seria um dia normal. Desde criança ele parecia sentir as vibrações más de um dia complicado quando ele se iniciava. O relatório sobre a sua mesa não trazia boas novas. Muito pelo contrário. Fogo das trevas. Fazia muito tempo que ninguém invocava algo tão terrível. Na verdade, desde a guerra.

O mais preocupante era o fato de que o sujeito que havia invocado o feitiço maligno ser um bruxo medíocre. Um ignorante que odiava trouxas. Snape lembrava vagamente do rapaz quando passou sem nenhum brilho por Hogwarts, de uma turma da Sonserina três anos à frente da minha.

Tadeus Merrintown (esse era o nome do facínora), filho de pai bruxo e mãe trouxa. O pai, de uma prestigiosa, mas falida família da Irlanda do Norte, havia sido abandonado pela esposa quando o pequeno Tadeus tinha oito anos. É claro que o pai do garoto nunca admitiu que os seus maus modos tenham sido responsáveis pela fuga da mulher. Preferiu passar a vida incutindo no filho todo tipo de ódio e preconceito contra trouxas e bruxos nascidos trouxas.

O jovem Tadeus nunca teve um trabalho regular após o término da escola, onde se formou penosamente e com notas baixíssimas. Ao invés de culpar as suas limitações intelectuais e mágicas, preferiu colocar a culpa nos nascidos trouxas, que segundo o seu raciocínio tortuoso, sempre o perseguiram e eram responsáveis pelo seu fracasso. Ele seria o mais próximo no mundo bruxo de um skinhead. Intolerante, preconceituoso, agressivo e patologicamente imbecil.

Grupos de jovens desordeiros que atacavam trouxas e nascidos trouxas não eram exatamente uma novidade no mundo mágico. Os Ministérios da Magia de vários países e a Confederação Internacional dos Bruxos sempre ficavam de olho nessas pessoas. Nos últimos anos, contudo, na Grã-Bretanha, o máximo de ocorrência desse tipo esteve relacionada ao fato de alguns jovens bruxos metidos a rebeldes ostentantarem camisetas (proibidas pelo Ministério Britânico) com dizeres como “Fodam-se Trouxas” ou “O Lorde voltará!”. Ataques a trouxas e mesmo brincadeiras cruéis não vinham acontecendo desde o fim da guerra.

Aquele rapaz, Merrintown, já havia recebido advertências por distribuir material de propaganda antitrouxa e por usar camisetas com dizeres ofensivos. Mas, ninguém imaginava que ele fosse capaz de um ato como aquele cometido contra a artilheira dos Cannons. E o mais importante: Era óbvio que o jovem bruxo era incapaz de conjurar sozinho um feitiço complexo como aquele usado contra Toledo. Um incompetente que nem mesmo os Comensais da Morte cogitaram em recrutar durante a guerra! Seguramente ele era apenas um peão nesse jogo. Restava descobrir rapidamente quem era o rei, ou no mínimo, os bispos e a rainha.
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- Mandou me chamar, senhor? – perguntou o auror Ewan MacCalister, postando-se de maneira humilde em frente a mesa de trabalho de Severo Snape.

Este se lembrava bem do rapaz quando ele estudou em Hogwarts. Bom aluno e batedor razoável do time de quadribol de sua casa, a Sonserina. Orgulhoso de sua origem sangue-puro e preconceituoso, mas bastante dissimulado. Enfim, um sonserino legítimo. Havia recomendado a Arthur Weasley que relegasse alguns aurores a funções subalternas até que fosse possível averiguar melhor as suas lealdades. Weasley, o santarrão que era, ignorou o conselho sob alegação de que tal medida seria fazer exatamente a política que havia condenado e da qual ele próprio, Arthur, tinha sido vítima no passado. Preferia que Snape, o chefe do setor de segurança do Ministério, mandasse relatórios de tempos em tempos analisando o comportamento dos suspeitos, como o rapaz que estava agora na sua frente.

- Eu não preciso dizer que você agiu como um idiota, não é mesmo? – perguntou friamente o antigo mestre de poções, sentindo um prazer perverso em dizer umas boas para aquele ex-sonserino.

- Potter estava causando problemas e espancou um homem, senhor – retrucou o rapaz, sem que a humildade aparentada nos seus modos chegasse à sua voz.

- Pois eu tenho aqui o testemunho de vários bruxos, inclusive de um respeitável e rico comerciante de antiguidades chamado Ignatius Morgantale, que dizem que você agiu como um idiota desmiolado. O Senhor Morgantale, inclusive, está propenso a apresentar uma representação contra você – disse Snape, apontando para uma pilha de pergaminhos dispostos de maneira organizada sobre a sua mesa – Você sabe o que uma representação de um cidadão influente pode fazer com a carreira de um auror, não é mesmo?

- Ora, senhor – atrapalhou-se ligeiramente MacCalister – O senhor mais do que ninguém sabe que qualquer coisa que o Potter faz obtém apoio dos bruxos...

- Por isso mesmo você deveria ser cuidadoso quando se trata de algo relacionado a ele – interrompeu o superior – E os seus colegas aurores também não aprovam o que você tentou fazer.

Como o rapaz ficou em silêncio em face da consideração, Severo Snape continuou:

- Vejamos. Você estava de plantão no Escritório Central e foi disparado o alarme mágico que indicava o uso de um feitiço das trevas no Beco Diagonal. Você chamou reforço e desaparatou rumo ao local de onde partiu o alarme. Aí você diz no seu relatório que encontrou um homem se esvaindo em sangue, espancado por Harry Potter, que o desafiou e o ofendeu, além de atiçar a multidão contra você. Está correta a minha descrição dos fatos segundo o seu relatório, MacCalister?

- Perfeitamente, senhor – respondeu o homem mais jovem.

- Apenas diga se está correta.

- Está, senhor.

- Você pensa que eu e seu chefe Shacklebolt somos dois idiotas, não é mesmo?

- Sim senhor... digo, não senhor! – atrapalhou-se MacCalister, agora definitivamente.

- Auror MacCalister, você demorou vários minutos para aparatar no Beco. Nesse meio tempo, entre o alarme e a sua chegada no local da ocorrência, Harry Potter levou a vítima da maldição, Cris Toledo, para o Hospital ST. Mungus, retornou ao local do crime, socou o autor do feitiço das trevas e só aí você faz a sua “entrada triunfal”, tentando prender o herói do mundo mágico, exatamente quando ele realizava mais um ato de heroísmo! E na frente de várias testemunhas! Você deu uma nova dimensão à palavra idiotice!

- Pensei que não gostasse do Potter, senhor – confessou o auror, parecendo decepcionado.

- Eu não gosto da mania de herói que ele tem nem do seu ego maior do que o Expresso Hogwarts! Mas eu não seria tolo de prendê-lo quando ele acaba de bancar o herói na frente de bruxos que o idolatram! E você teve sorte, rapaz. Potter é um bruxo poderoso. Sim, ele é, não faça essa cara! Ele poderia arrancar a sua cabeça oca e usá-la como goles num treino dos Cannons antes que você tivesse tempo de dizer Salazar Slytherin!

- Mas...

- Auror MacCalister! – interrompeu Snape com ar cansado – Eu sou o único obstáculo entre você e uma corte marcial. Prove para mim que não é tão idiota quanto aparenta ser e me diga porque você demorou tanto para atender ao alarme. E não se apresse. Nós temos o dia e a noite inteira.
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- Por que você está fugindo de mim, Harry? – perguntou Teresa Smith para o meu sócio.

Ambos estavam no salão de chá do Hospital ST. Mungus, praticamente vazio àquela hora. Já era tarde para o café da manhã e a maioria das pessoas não julgavam ainda que fosse hora de almoçar.

Depois de surrar o rapaz que lançara o feitiço maligno em sua amiga Toledo, Harry comprometeu-se com Shacklebolt que prestaria depoimento naquela mesma tarde no Ministério. Sempre acompanhado por Gina, o jogador sensação dos Cannons compareceu ao compromisso depois de se certificar que a peruana estava recebendo o atendimento devido. Hermione havia se deslocado até o hospital e coordenava os procedimentos de cura. Embora alguns curandeiros mais velhos demonstrassem um certo despeito, ninguém no mundo mágico duvidava que a jovem bruxa era a maior autoridade no tratamento de pessoas vitimadas por feitiços das trevas.

Felizmente, a artilheira talentosa não havia sofrido danos permanentes. Graças a Harry Potter, todos diziam. Um minuto a mais e nada salvaria a pobre moça de virar cinzas. Não obstante o novo feito espetacular, o herói do mundo mágico se afundava no sentimento de culpa. Ele odiava o fato da sua amizade causar danos às pessoas. Nem mesmo as palavras de conforto de Gina e de Rony afastavam o sentimento de culpa. Ficara mais deprimido ainda por ter sido recebido pelos aurores do Ministério como herói. Como se ele quisesse realizar atos de heroísmo que envolvesse riscos às vidas de seus amigos!

A manchete do Profeta Diário destacava o seu salvamento, acrescentando mais alguns detalhes absurdos e fantasiosos, como o fato dele ter apagado o fogo das trevas com um sopro, como se ele fosse aquele super-herói de histórias em quadrinhos dos trouxas.

Havia sido convencido (na verdade quase obrigado por Gina e Hermione) a comer uma das refeições rápidas que eram servidas no dito salão. Estava muito pouco disposto a agüentar a tietagem das pessoas e Gina se incumbira de conversar com a imprensa, pois sabia do estado de ânimo do esposo.

- Desculpe eu derrubar você daquele jeito, Tess – desculpou-se finalmente Harry, depois de mexer a comida com um garfo de plástico, sem a menor vontade de comê-la.

- Você poderia até me atropelar com um testrálio desde que salvasse a Cris – disse a garota gentilmente – Ela quer ver você, sabe?

- Eu estou cansado de ver pessoas feridas por serem amigas do “maldito garoto que sobreviveu” – desabafou Harry.

- Escute, Harry – falou a jovem, colocando as mãos sobre as mãos do jogador, que agora jaziam inertes sobre a mesa – Nós não sabemos ainda o que aconteceu. Espere, deixe eu falar! – insistiu Tess, vendo que o rapaz à sua frente iria interrompê-la – Se realmente Cris tiver sido atacada para atingir você, isso não significa que você seja culpado. A culpa continuará sendo daqueles malditos bruxos das trevas, não sua. Todos nós, principalmente mestiços como eu, devemos muito a você. Não é justo que você se culpe pelas ações dessas pessoas más. Mas... eu tenho certeza de que os seus amigos já lhe disseram isso. Estou apenas reforçando – sorriu a garota de maneira encorajadora.
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Praticamente todo o time dos Cannons compareceu ao ST. Mungus naquele dia e no seguinte. Por pressão de Angelina Johnson, presidente do sindicato dos jogadores, a rodada do fim de semana da Liga Inglesa havia sido suspensa, com a concordância dos patrocinadores e dos donos das equipes. Éden Perfumo, como era de se esperar, proprietário dos Falcões, insistiu na realização dos jogos, mas foi voto vencido.

O que mais me irritou foi, quando entrei no saguão do hospital, logo após ser informado do atentado, agüentar jornalistas perguntando quando Toledo voltaria e se voltaria a jogar. Aquilo me tirou do sério! Apenas Pamela Marul, jornalista de uma publicação feminina bruxa, parecia preocupada com a figura humana da jogadora. Para os demais importava apenas saber quando ela jogaria novamente.

- No momento estou preocupado, assim como todos os nossos companheiros de equipe, com sua pronta recuperação. Não estou pensando em quadribol no momento, acreditem vocês ou não! – declarei para um bando de aves de rapina da mídia bruxa que estavam à espreita na entrada do hospital.

As pessoas julgavam, a princípio, que o ataque havia sido obra de um fã alucinado ou de algum bruxo preconceituoso, que não aprovava a vida amorosa da peruana e sua ligação afetiva com outra garota. O Ministério não se esforçava muito para desmentir. Tudo que não precisávamos naquele momento era de uma onda de histeria, associada com a volta da situação vivenciada anos atrás.

Aqueles que lutaram na guerra, entretanto, assim como eu e Severo Snape, sabíamos que havia algo muito sinistro por trás daquele atentando. E não havia dúvidas: as pessoas responsáveis por ele queriam, sim, atingir Harry Potter.

O meu sócio, sem paciência para as perguntas idiotas dos jornalistas, apenas riu muito da história do “supersopro” (“Acho que vou soprar a goles no próximo jogo!”) e conseguiu com muita dificuldade chegar até o andar onde Toledo convalescia. Felizmente não era permitida a presença de repórteres naquele parte do hospital.

Andy Lopes, que tinha grande afeição por Toledo, e sua namorada, saíam naquele momento do quarto da artilheira. Depois de um breve cumprimento aos brasileiros, Harry entrou.

A peruana estava toda enfaixada. Apenas seu belo rosto moreno estava à mostra.

- Ah, vem cá e não faz essa cara!– ela disse para animar o amigo.

- Como você está? – perguntou Harry timidamente.

- Agora melhor, já que o meu salvador dignou-se a me visitar – brincou a garota – Pode chegar mais perto. Eu apenas pareço uma múmia. Eu não sou uma.

- Como você pode brincar com uma coisa dessas, Toledo?

- Harry, a Gina me contou como você está se sentindo. Eu acho absurdo da sua parte se sentir culpado pelo que aconteceu. Será que eu preciso lembrar que foi você que me salvou ontem? Será que eu preciso lembrar que você me acolheu quando eu não tinha ninguém e que você nunca me julgou pela minha “orientação”, por assim dizer. Você é um grande amigo, Harry. Eu tenho muita sorte de ter um amigo como você.

O meu sócio ficou realmente emocionado com aquela declaração. Bem, vocês sabem como esses grifinórios são emotivos.

Aproximou-se mais da cama de Toledo, que com algum esforço, levantou-se e segurou o rosto do Eleito com as duas mãos enfaixadas, que eram pequenas, mas muito potentes, treinadas na arte de lançar goles com o máximo de força possível.

A peruana depositou na testa de Harry um beijo carinhoso e o abraçou.

- Se realmente eu fui atacada para atingir você, temos que nos manter unidos, certo? Você lembra do que o Toni dizia durante a guerra. Só a amizade e a união das pessoas de bem pode combater as trevas – ponderou a jovem de maneira sensata.

Harry apenas retribuiu ao abraço e concordou com a amiga. Nada mais havia para dizer naquele momento.
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NÃO PERCAM O CAPÍTULO 3 DA "COPA MUNDIAL". MAIS ARMAÇÕES DOS BRUXOS "NÃO MUITO BONS"!!!!










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