POTTER 500



Eu paro por um momento de ditar as minhas memórias para essa máquina estúpida. As lembranças “daquele” time laranja dos Cannons aquecem os meus dias agora que estou me tornando um “senhor” (repararam no eufemismo para velho?). Aquele uniforme laranja parecia cair muito bem naquele pessoal. É lógico que tivemos outros grandes elencos nesses quarenta anos, mas continuo achando que nenhum foi tão bem vestido por aquelas roupas laranjas como “Aquele”. Freqüentemente jornalistas jovens (e estúpidos) me perguntam qual o melhor time dos Cannons que eu presidi. Foi “Aquele”, não há dúvida!

Rony Weasley no gol, Harry e Gina Potter, além de Cris Toledo, na artilharia. Andy Lopes e Toni M’Bea como batedores e Vitor Krum, o apanhador. Ás vezes Potter também jogava como apanhador. Dava gosto de vê-los jogar. O mais divertido (lembrem-se de que sou um sonserino!) era espicaçar os adversários antes e depois das partidas.

E aqueles atletas eram o sonho de qualquer presidente de time. Não se comportavam como estrelas mimadas, raramente brigavam por dinheiro (havia é claro uma exceção chamada Apollo Cole!) e a maioria queria os companheiros de equipe como irmãos.

Ah, foram ótimos tempos aqueles!

Por causa do meu sarcasmo e do meu humor lendário (é difícil manter uma fama!), as pessoas ficam com medo de perguntar sobre os velhos tempos. Mal sabem que eu adoro falar deles!
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Os pestinhas estão de novo na minha casa. A garota e o primo insistem que se tornarão os maiores historiadores de quadribol do mundo bruxo. Por isso vivem me amolando para contar velhas histórias do time dos Cannons. O outro menino apenas gosta das histórias.

- O senhor não entende, Sr. Malfoy? – pergunta o pequeno Weasley cheio de autoridade – A nossa família produziu alguns dos melhores jogadores de quadribol do século XXI. É justo que alguém conte a história deles.

- É. A gente não pode deixar aquela Vera Skeeter sair por aí contando a versão dela dos fatos – concorda a garota do casal de gêmeos.

- Bom, o que vocês querem saber? – pergunto, simulando mau humor. Na verdade acho muito engraçado os garotos terem a pretensão de serem historiadores do quadribol. E para mim não é nenhum tormento falar dos velhos tempos.

- Aquela história dos quinhentos pontos do Vovô Harry! – diz a garota sorridente, como quem acaba de ter uma grande idéia!

- YES! – exclamam os meninos.

- OK, pestinhas. A história do “Potter 500”! Segurerm-se!
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Era um inverno frio, mas eu decididamente me sentia confortavelmente quente. Havíamos vencido a Liga Britânica numa decisão espetacular contra os Duendes de Dublin. A imprensa do mundo mágico iria se referir àquela partida como o melhor jogo de decisão dos últimos cinqüenta anos. Foi uma daquelas partidas de tirar o fôlego e deixar a torcida com os olhos grudados nos jogadores. De um lado Jane O’Neal e os seus companheiros jogando o fino. Do outro lado, o trio de artilheiros dos Cannons fazendo miséria.

Ainda me recordo dos cachecóis e dos gorros laranjas voando para o alto quando Vitor Krum apanhou o pomo de ouro e Lino Jordan, “A Voz”, gritava emocionado que os Cannons eram campeões britânicos invictos.

- SEEEEEEEEEEEEENSACIONAL! – A ÁGUIA DOS BALCÃS APANHA O POMO! OS CANNONS SÃO CAMPEÕES DA LIGA BRITÂNICA. QUATROCENTOS E TRINTA A DUZENTOS E OITENA!!! QUE JOGO, SENHORES OUVINTES E TELESPECTADORES!!!! QUE JOGO!!!

A transmissão da TV Bruxa e da Rádio Bruxa foi interrompida por alguns instantes. Diriam depois que Lino Jordan estava aos prantos e não conseguia dizer mais nada no momento. É claro que Jordan sempre negou. A festa se espalhou pelas ruas de Chudley e depois para toda a Grã-Bretanha. Até nos Estados Unidos e na América Latina o título foi comemorado. O Ministério da Magia teve muito trabalho para esconder a ruidosa comemoração dos bruxos.

Harry Potter seria considerado o melhor jogador da Liga Britânica e muitos já o aclamavam, aos vinte e um anos de idade, o maior jogador de quadribol de todos os tempos. Era tido como um gênio. Mal sabiam que Harry Potter estava “apenas” começando a ser genial. O que ele faria nos anos seguintes, nos campos do mundo todo, seria suficiente para fazer dele uma lenda, mesmo que não tivesse dado cabo de “você-sabe-quem”. Ou seja, mesmo que já não fosse uma lenda.

Modesto como sempre, Potter louvou, nas entrevistas após a partida, o espírito de equipe dos Cannons e fez questão de citar os nomes de todos os jogadores (titulares e reservas) que o ajudaram a ganhar o título da Liga. Fez questão de louvar o meu trabalho como presidente, o de Vera Ivanova como treinadora e agradeceu à sua amiga Hermione Granger por cuidar do time e manter a todos “com os ossos no lugar”.

- Como você e Gina ensaiam aquelas jogadas, Potter? – perguntou um jornalista do Profeta Esportivo.

- Na cama, à noite – respondeu a ruiva cheia de más intenções, antecipando-se ao marido – Antes de dormir... – acrescentou com um ar falsamente angelical.

Enquanto um muito vermelho Harry Potter tentava manter a seriedade perante a mídia bruxa, o resto do time se acabava de rir.

- Essa é a nossa irmãzinha! – dizia Fred Weasley, que havia chegado naquele momento. As Gemialidades Weasleys patrocinariam parte da festa dos Cannons, junto com as Organizações Potter-Malfoy.

A festa seria um evento midiático, que contaria com a participação de personalidades do mundo bruxo, artistas e desportistas em geral. A TV Bruxa e as revistas de futilidades estariam presentes, é lógico, e eu anunciaria feliz a fortuna que arrecadei em apostas. Claro que o “Santo Potter” me convenceu (obrigou seria o termo mais correto) a ceder parte dos ganhos com as apostas a uma causa nobre qualquer, que eu nem me lembro mais. O cara faz isso até hoje.
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- Pois eu aposto com vocês que o Potter aqui faz quinhentos pontos brincando! – eu disse para um grupo de incrédulos jornalistas.

Toni M’Bea e Vera Ivanova apenas balançaram a cabeça em sinal de descrença. Rony Weasley me encarou como se eu estivesse maluco. Vitor Krum franziu as sobrancelhas, o que não queria dizer nada, afinal as grossas sobrancelhas do búlgaro sempre estavam franzidas, estando ele satisfeito ou chateado. Gina Potter, que sorria feliz, ficou séria na mesma hora. Andy Lopes e Cris Toledo apenas me olharam à espera de alguma troça.

Lembro-me vagamente como começou a confusão. Toni discutia com um jornalista escocês veterano sobre as virtudes e defeitos do quadribol dos velhos tempos e do quadribol com as regras novas. O veterano repórter dizia que não teríamos mais aqueles placares elásticos, agora com o limite de jogo de quatro horas.

Alguém lembrou de um antigo artilheiro irlandês, Marcelus O’Bryan, que havia marcado quinhentos pontos numa partida no século XIX. Num jogo onde os Morcegos de Ballycastle, time do artilheiro, derrotaram o Orgulho de Portree após sete dias.

- Ninguém conseguiria hoje fazer quinhentos pontos com essas novas regra de tempo – concluiu o homem idoso.

- Potter consegue! – gritei feliz, apontando para o meu sócio, que nesse momento fez uma cara de quem ficaria muito contente se pudesse utilizar um feitiço de invisibilidade. E lançar em mim um feitiço estuporante.

- Malfoy, você está bêbado – ele ainda me disse. É lógico, que bêbado e feliz como eu estava, ignorei completamente o “Bonzinho-modesto-politicamente correto-Potter”.

Foi aí que soltei a frase que me perseguiria pelas semanas seguintes, desafiando as pessoas para uma aposta. Afirmando que Potter marcaria quinhentos pontos.

- Aquela sua banca de apostas continua funcionando? – perguntou um sujeito bem vestido e com um ar levemente metido.

- Mais é claro! – respondi convicto – As bancas de apostas estarão a disposição novamente no Beco Diagonal, em Hogsmeade e no nosso estádio em Chudley. Vamos, pessoal, façam um loiro simpático mais rico e feliz!

- Posso colocar uma banca de apostas nas lojas das Gemialidades? – perguntou Fred Weasley, recebendo um tapa da irmã mais nova.

- Isso é loucura! – disse a ruiva – Os batedores adversários vão massacrar o Harry! Esqueceu que o primeiro jogo da Liga Inglesa é contra os Falcões?

Os Falcões de Falmouth tinham (e gostavam de manter) a fama de ser o time mais sujo e violento do quadribol inglês. Não que isso estivesse dando muitos resultados ultimamente. Nas últimas edições da Liga Inglesa ficaram nas últimas posições. Crabe, meu antigo colega na Sonserina em Hogwarts (e capanga, como diziam os grifinórios) era um dos batedores do time. Havia sido um fiasco recentemente na seleção inglesa e todos esperavam dele mais truculência e mais membros quebrados pelo “Trasgo de Falmouth”, como era conhecido. E acreditem: burro como era, ele considerava o apelido um elogio!

Gina Weasley, que agia como uma verdadeira leoa grifinória quando alguém ameaçava o seu homem, parecia prestes a me dar uma surra.

- Você fala sério? – perguntou a ruiva.

- Você fala sério? – repetiu a pergunta o sujeito metido

- Claro que falo! – insisti.

- Muito bem. Sr. Malfoy – disse o sujeito – Eu aposto quinhentos mil galeões como Harry Potter não consegue marcar quinhentos pontos.

Exclamações de surpresa se fizeram ouvir por todo o salão do Hotel Gold, onde havia sido servido o jantar que comemorava o título dos Cannons.

- Quem é você afinal? – perguntou Toni M’Bea. Como eu, o africano não havia simpatizado com o sujeito. Apenas estava mais sóbrio e conseguia perceber isso claramente.

- Eden Perfumo – disse o sujeito muito cheio de si – Sou o novo dono do time dos Falcões. Seu primeiro adversário na Liga Inglesa.
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Se eu não estivesse bêbado demais, reconheceria Eden Perfumo. Quando eu era pequeno, já tinha visto o sujeito na minha casa algumas vezes. Descendente de espanhóis radicados a várias gerações na Inglaterra, o Sr. Perfumo era um daqueles bruxos muito ricos cuja origem do dinheiro era bastante suspeita. Nada muito diferente da venerável família Malfoy. A única diferença importante residia no fato de que os Malfoys começaram a trapacear alguns séculos antes dos Perfumos. Por isso haviam acumulado mais capital.

O avô de Eden Perfumo havia sido um bom amigo de Tom Riddle quando este ainda estava em Hogwarts. Como outros bruxos ricos e puros sangues, havia a suspeita (nunca comprovada) de que a família Perfumo havia sido simpática aos Comensais da Morte. Provavelmente comprar o time dos Falcões era apenas um capricho de um sujeito rico e boa vida. Ou então uma cobertura para os supostos negócios escusos da família.

Na segunda-feira o Profeta Esportivo estampava na primeira página a aposta-desafio lançada pelo novo dono do time dos Falcões. Todos os jornalistas estavam me procurando, querendo que eu confirmasse ou desmentisse a aposta. E o pior: Perfumo declarara que Harry Potter não teria coragem de mantê-la, com medo dos seus batedores.

Decididamente esse cara não sabia onde estava se metendo. Se você quer fazer com que dez grifinórios voem numa mesma vassoura, é só dizer a eles que isso não é possível!
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- Sinceramente, Draco – me dizia Severo Snape de maneira contrariada – Essa aposta é uma das coisa mais idiotas que eu já vi na minha vida. Pensei que apenas aqueles grifinórios fossem desmiolados. Achava, entretanto, que você tivesse um pouco mais de cérebro – disse o meu antigo professor de poções, com visível satisfação. Algumas coisas nunca mudavam. O velho e bom Snape certamente continuava sentindo um enorme prazer em esculhambar as pessoas. Mesmo um amigo próximo.

- Severo – eu lhe digo impaciente – Eu não vim aqui para ouvir as suas reprimendas. Eu quero informações sobre Eden Perfumo.

- E quem disse que eu as tenho, jovem Draco? – me pergunta o ex-comensal da Morte com um sorriso irônico.

A sala do ex-mestre de Poções, na sede do Ministério, na qual conversávamos naquele momento, era quase tão lúgubre e impessoal quanto a masmorra em que ministrava aulas em Hogwarts.

- Severo, Severo... Somos ex-sonserinos – eu lhe digo de maneira arrogante – Você acha mesmo que eu deixaria de ter informantes no ministério? Mesmo com Arthur Weasley sendo ministro? “Por acaso” eu sei que a sua função e de Remo Lupin é exatamente colher informações sobre pessoas suspeitas de simpatias com o lado das trevas.

- Muito bem, jovem Draco – assentiu Severo com um sorriso orgulhoso nos lábios. Certamente ele apoiava o meu empenho de me manter bem informado – O Senhor Perfumo não tem qualquer vínculo aparente com os Comensais da Morte. Ele é mimado e acomodado demais para aderir ao radicalismo desses. Isso não significa que não partilhe algumas idéias preconceituosas contra trouxas ou nascidos trouxas. Ou que ele não partilhe de uma certa aversão pelo seu sócio. .

- Como muitos bruxos ricos – eu acrescento.

- Como muitos bruxos ricos e puros sangues – concordou meu ex-professor – Ele tem muito dinheiro, atualmente todo ele oriundo de fonte legal. Pelo menos o que conseguimos rastrear. Não possui negócios escusos. Pelo menos não o suficiente para ir contra a lei.

- Então não tenho com o que me preocupar – disse aliviado.

- Não, você tem muito com o que se preocupar – discordou Severo – Como muitos bruxos ricos e preconceituosos, Perfumo odeia Harry Potter. Não a ponto de querer matá-lo ou algo nesse sentido. Mas certamente ficaria muito feliz em desmoralizá-lo. E a você também.

- A mim? – pergunto surpreso.

- Draco, para quem se pretende bem informado você é muito distraído! – advertiu Snape – Os bruxos da alta sociedade o tratam bem porque você é hoje sinônimo de sucesso. O garoto de ouro do mundo empresarial. Mas muitos não o perdoam no íntimo por você não seguir o mesmo caminho trilhado pelo seu pai. Sua associação com Harry Potter é considerada por essas pessoas a suprema traição.

- Mas...

- Não me interrompa – disse imperiosamente Severo – Digamos que o Potter, como seria sensato da parte dele, recuse esse desafio bobo. Ora, Perfumo diria para todo mundo que “o garoto que sobreviveu” não tem coragem.

- O cara que derrotou o Lorde das Trevas não tem coragem?

- As pessoas esquecem rápido, Draco. Claro, Potter continuaria sendo endeusado, mas o seu prestígio no quadribol sairia arranhado. E você ficaria com quinhentos mil galeões a menos. É o tipo da história que bruxos como ele adorariam contar aos netos.

- Você acha mesmo que esse dinheiro me deixaria menos rico?

- A questão não é o dinheiro. É óbvio isso. É o tipo da vingança mesquinha digna de pessoas como ele. Mas tem a outra hipótese...

- Potter aceitar o desafio.

- Sim. Como o idiota que é, ele o aceitaria. Conseguindo ou não marcar os quinhentos pontos, com os batedores dos Falcões usando de todo a sorte de violência para pará-lo. A convocação para a seleção da Inglaterra não sai por esses dias? – perguntou Snape, já sabendo a resposta.

- Potter fora da seleção! – disse alarmado, percebendo a extensão da minha estupidez.

- E metade dos bruxos ingleses querendo a sua cabeça – cantarolou o ex-professor maldosamente.

- Mas eles vão odiar também o Perfumo!

- Que não tem nenhum nome a zelar e nem precisa convencer as pessoas de suas boas intenções. Apesar da sua vida pregressa suspeita, Eden Perfumo não tem fama de ter sido um Comensal da Morte.

- Raios! – eu praguejei. E continuei praguejando pela maior parte daquela semana.
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- Você é um idiota! – me disse Gina Weasley sem cerimônia e sem respeito pela hierarquia.

- Todo mundo está dizendo isso... – concordei desolado.

- Hermione vai matar você se o Harry se machucar – ameaçou a ruiva – E eu vou te matar também!

- Ótimo! Entrem na fila e tirem a senha!

Como a ruiva não parava de bufar, falei para ela, ligeiramente contrariado:

- Eu não estou obrigando o seu amado esposo a marcar aquela droga dos quinhentos pontos, Sra. Potter. Ta legal, eu perco quinhentos mil galeões... Mas isso nem de longe vai me deixar pobre.

- Ahn... Você não esqueceu nada não? – pergunta a garota maliciosamente.

- As apostas no Beco, em Hogsmeade e em Chudley!

Eu era um cretino tapado mesmo! Com toda a preocupação, esqueci de cancelar as apostas. Os gêmeos também estavam aceitando apostas nas suas lojas. Só que essas felizmente corriam por conta deles e eram apostas de um ou dois galeões, em sua maioria.

Terça-feira à tarde, descubro que as apostas já andavam pela casa dos quatro milhões de galeões. Tudo bem, isso ainda não me deixaria pobre. Mas ninguém fica contente de perder quatro milhões de galeões!
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Faltavam dez dias para o jogo de abertura da Liga Inglesa e Eden Perfumo fazia piadinhas pela imprensa, dizendo que se eu ficasse arruinado, ele me daria um emprego nas suas empresas. Não tinha nenhuma graça aquele sujeito idiota repetir as minhas piadas. Eu já estava com vontade de assassiná-lo. O mesmo sentimento era alimentado naquele momento pelos atletas dos Cannons. Só que em relação a mim!

Potter, por outro lado, o cara que estava sendo ameaçado de ser quebrado ao meio pelos batedores dos Falcões, treinava com afinco. Havia inclusive providenciado goles mais pesadas do que o normal para os treinamentos. Era uma tática usada para aumentar a força dos arremessos. Mas se Potter aumentasse a força dos seus arremessos, ele certamente mataria o goleiro adversário!

- Ele está treinando que nem um louco – disse Rony Weasley com visível expressão de desgosto – Se aqueles trasgos dos batedores dos Falcões o machucarem...

- Já sei. Você vai me matar!

- E também àquele Crabe!

Uma coisa que eu vi no treino realmente me surpreendeu: Potter fez uma manobra tão rápida que quase se tornou um borrão laranja. Ele voou como um hipogrifo desgovernado e arremessou a goles em direção ao aro central. Depois, contornando com a rapidez de um raio o aro da direita, apanhou uma outra goles que havia sido deixada flutuando próxima ao meio do campo e realizando a mesma manobra, mas pelo outro lado, atirou a bola no aro da esquerda.

Potter era soberbo, mas aquela manobra era uma das coisas mais espetaculares e perigosas que eu já tinha visto. Um milímetro de erro e ele se chocaria com os aros ou cairia da vassoura. Gina, no chão, olhava o marido com um misto de censura e assombro.

Mais surpreendente ainda foi descobrir que o ex-grifinório montava uma vassoura de treino, feita para adolescentes e crianças que estavam aprendendo o jogo. Daquelas com dispositivo de segurança. Como eu o olhava apalermado, Potter me disse:

- É para ficar mais veloz no jogo – explicou simplesmente.

Ele estava treinando com uma vassoura de velocidade controlada para ficar ainda mais rápido na partida de estréia. Comecei a acreditar na possibilidade de não perder aqueles milhões de galeões.

- Potter, seu demente... – eu ia dizendo.

- Ah, agora nada de broncas, “sócio” – ele me interrompeu sarcástico – Você teve a idéia besta de fazer a aposta. Eu vou ganhá-la para você. Mas metade do que você ganhar nas apostas vai para Hogwarts como doação, e vinte e cinco por cento para o Acampamento de Verão.

- Você vai me deixar apenas com vinte e cinco por cento das apostas? – choraminguei.

- Na verdade você não vai ficar com nada, Malfoy! O restante vai para o time como um bônus. Você meteu a gente nessa fria – zombou Potter maldosamente – Mas pense na parte boa. Você não vai perder nada se eu marcar os quinhentos pontos – ele me interrompeu antes que eu pudesse reclamar: – É isso ou nada!

E ele me deixava escolha? Maldito “Santo Potter”!
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Apenas quando faltavam dois dias para o jogo de abertura da temporada eu confirmei, através da minha assessoria de imprensa, que estava aceitando a aposta de Eden Perfumo. Isso era mera formalidade, pois as bancas que recebiam as apostas já registravam valores estratosféricos. Mesmo os torcedores dos Cannons tinham dificuldade em acreditar que Harry Potter marcaria quinhentos pontos. Nas lojas dos Weasleys, um galeão apostado contra os quinhentos pontos rendia apenas um galeão e alguns sicles, enquanto que uma aposta nos quinhentos pontos pagava seis galeões ao felizardo corajoso que apostasse nessa possibilidade remota.

Ivanova fechou os treinos à imprensa. Na semana que antecedeu ao jogo, os jogadores praticamente se isolaram. Hermione, que respondia nesses dias aos meus cumprimentos com bufos ou resmungos, parecia ter se cercado de todo o aparato de cura do Hospital St. Mungus. Havia vários aparelhos estranhos (e modernos), capazes, segundo ela, de curar uma fratura, de detectar traumatismos diversos e até realizar operações de emergência.

O Episódio mais humilhante para mim, em meio a toda essa tensão, coube a Molly Weasley. A matriarca da família enviou-me um berrador, que foi entregue exatamente no momento em que eu me reunia com um grupo de investidores estrangeiros. Como se eu tivesse doze anos de idade!

Mal escondendo a graça que achavam do episódio, os homens e mulheres de negócios, assistiram a voz levemente esganiçada da Sra. Weasley me acusar de colocar Harry Potter (“que é como um filho para mim!”) em perigo e me ameaçar com uma surra bem dada se algo acontecesse a ele ou às “crianças”. Céus! Aquela mulher sabia ser assustadora quando queria. Havia recebido outras ameaças parecidas naquelas semanas, mas a da Sra. Weasley era de longe a que mais dava medo.

Quando finalmente a reunião foi encerrada (ela pareceu ter durado séculos, graças ao episódio do berrador), uma bruxa já perto dos cinqüenta anos, pediu para falar em particular comigo.

Para a minha surpresa, a mulher, que era executiva de uma importante instituição financeira australiana, me deu uma bronca ainda maior do que a dada pela Sra. Weasley através do berrador. Disse que os seus filhos e sobrinhos, assim como a maioria dos seus compatriotas, eram fãs de Harry Potter. Deixou claro que se algo acontecesse ao rapaz por causa da minha irresponsabilidade, eu poderia dar adeus a todo e qualquer investimento australiano nas Organizações Potter-Malfoy. Ela disse ainda que era bom eu rezar para que tudo desse certo senão...

Foi assim mesmo que ela encerrou a conversa. Com reticências. Senão...

Aquilo estava começando a se transformar num pesadelo.
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Na véspera da partida contra os Falcões, Vera Ivanova e Toni M’Bea, na condição de treinadora e capitão do time, respectivamente, romperam o silêncio em torno da preparação dos Cannons e deram uma concorrida entrevista coletiva.

Apesar de não haverem ainda perdoado a minha irresponsabilidade, os dois, inteligentes como eram, sabiam que os boatos que circulavam nos últimos dias, dando conta de uma cisão no time dos Cannons (que era conhecido pela união e pela amizade dos seus jogadores) era prejudicial à imagem da equipe.

- Queremos deixar claro que não existe nenhuma divisão no nosso time e que estamos nos preparando seriamente para a estréia na Liga – disse Vera ivanova.

- É verdade que vocês ficaram chateados com Draco Malfoy por ter feito essa aposta? – perguntou de maneira perspicaz uma jornalista do Profeta Esportivo.

- Serei absolutamente sincero – disse Toni M’Bea, com a sua impressionante voz de barítono – Esse tipo de aposta não é do meu agrado. Principalmente quando coloca em risco a integridade de um companheiro de profissão, que também é um dos meus melhores amigos. Mas o que está feito está feito. Não adianta ficar discutindo. E o Sr. Malfoy continua contando com a confiança de todos os jogadores.

Uma figura esse Toni! Na verdade o time mal andava falando comigo, fora os rosnados de Gina, Hermione e Rony Weasley.

- É verdade que você está treinando o time para ajudar Potter marcar os quinhentos pontos? – perguntou um repórter da Rádio Bruxa.

- É verdade que estamos treinando o time para ganhar o jogo. Não tem sentido treinar Potter exclusivamente para marcar quinhentos pontos quando o time deles pode simplesmente desistir da partida se ele chegar próximo a esse escore – respondeu Ivanova de maneira eficiente.

- Você não sabe que Perfumo fez uma promessa de que o time não abandonaria o jogo? – perguntou uma jornalista do Profeta Diário.

Vera e Toni entreolharam-se confusos. Não. Eles não sabiam da promessa feita pelo dono dos Falcões.

Quando um time está perdendo a partida por escore muito elevado, é comum que comunique o árbitro e abandone o jogo. Isso é permitido pela regra, embora não seja do agrado da maioria dos torcedores. Nós havíamos cogitado a hipótese do time dos Falcões abandonar o campo, evitando que Harry marcasse os quinhentos pontos. Nesse caso, eu pretendia simplesmente contestar a aposta judicialmente e não pagá-la. Mas a informação em questão mudava tudo!

Mais tarde tomamos conhecimento que na manhã daquele dia, numa entrevista quase tão concorrida quanto a do capitão e da treinadora dos Cannons, Eden Perfumo, questionado se o seu time adotaria o estratagema de abandonar o jogo no caso de Potter chegar perto dos quinhentos pontos, havia dito de maneira indignada que isso seria covardia.

- Uma covardia típica daqueles que se aliam aos antigos inimigos – havia declarado cheio de segundas intenções, mas negando-se a explicar o que queria dizer com tal afirmação.

Como se fosse necessário.

Mas a declaração do Sr. Perfumo teve inegavelmente um efeito positivo: centenas de corujas me foram enviadas na véspera e no dia do jogo, desejando sorte na aposta e me saudando pelo ótimo trabalho que eu vinha realizando à frente dos Cannons.

A imprensa do mundo mágico e os esportistas de um modo geral, também não apreciaram o destempero verbal do dono dos Falcões. Angelina Johnson, presidente do sindicato dos jogadores de quadribol da Inglaterra e do País de Gales, emitira, através da assessoria de imprensa do sindicato, uma nota criticando a insinuação de Perfumo, que, segundo dizia o comunicado, trazia de volta “sentimentos de animosidade que o mundo bruxo julgava ter superado há tempos e que nenhum cidadão de bem do mundo mágico quer ressuscitar”.

Angelina era uma garota inteligente, leal, além de ótima jogadora. Mas eu não acho que ela fosse tão boa assim com as palavras. O documento, que recebera elogios em todo a Europa e gerara outros semelhantes na Escócia e Irlanda, tinha a cara de Olívio Wood. O antigo capitão do time da Grifinória trabalhava para mim em tempo integral mas, eu tenho certeza, não recusaria a oportunidade de produzir um texto como aquele. Principalmente se o pedido partisse de uma ex-colega de escola.
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Onde você estava no dia em que Potter marcou quinhentos pontos contra os Falcões?

Mesmo hoje, quarenta anos depois, muitos bruxos ainda fazem essa pergunta. O feito tornou-se tão emblemático que quase todas as pessoas, mesmo aqueles bruxos que não ligam muito para o quadribol, são capazes de responder à pergunta. A mentira mais comum em torno dela é “eu estava no estádio”. Pois sim!

Todos os búlgaros juram de pé junto que estavam no estádio no dia em que Vitor Krum estreou na seleção de seu país, com apenas dezesseis anos de idade. Todos os brasileiros, até alguns que nem eram nascidos na época, garantem que viram a apanhada espetacular de Toninho Santos no jogo da seleção brasileira contra os Cannons. Estar supostamente no lugar onde aconteceram feitos expressivos do quadribol é uma das mentiras mais tradicionais e mais socialmente aceitas do mundo bruxo. E algo envolvendo Harry “Mergulho” Potter não poderia ser diferente.

Se todos os bruxos que no futuro diriam estar presentes no estádio dos Cannons naquela tarde de inverno realmente estivessem presentes, teríamos uma lotação de cinco milhões pessoas, no mínimo. O que era impossível, pois só existiam vinte mil lugares disponíveis no recém inaugurado estádio do time laranja.

Mas, eu, Draco Malfoy, atual presidente de honra do glorioso Chudley Cannons estava presente na abertura da temporada da Liga Inglesa de 2.002. Sou capaz de recordar, inclusive, de cada um dos aspectos que envolveram aquela partida. Da constante aflição de Hermione Granger, da determinação de Harry Potter, do alarido crescente da torcida, até a explosão final, dos gorros e cachecóis laranjas jogados para o ar (havia até alguns espertinhos que surrupiavam essas peças e as revendiam nos dias seguintes aos jogos).
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Mesmo antes da rivalidade entre os dois times, provocada por aquela aposta, eu achava o uniforme dos Falcões a coisa mais sem graça e ridícula de toda a Grã-Bretanha. Muitos criticam o uniforme roxo do Orgulho de Portree e mesmo as vestes laranjas dos Cannons. Mas pelo menos são diferentes e possuem personalidade. Agora, o uniforme dos Falcões... Fala sério! Branco e cinza chumbo com um falcão ridículo estampado no peito!

O time de Falmouth entrou no campo, parecendo muito seguro de si, principalmente a sua dupla de batedores, o “trasgo” Crabe e o não menos violento, mas um tanto mais habilidoso, Bernie Wolfe. O time havia se reforçado medianamente para aquela temporada. Contrataram uma garota da Argentina, Myrea Cardozo, a única mulher da equipe, que parecia ter qualidades, e mais alguns veteranos que já haviam passado sem brilho por outras agremiações da Inglaterra e do exterior. Em condições normais seria um jogo fácil para os Cannons, sobretudo porque o apanhador dos Falcões, Martin Harper, antigo apanhador da Sonserina em Hogwarts, meu reserva quando estávamos na escola, não chegava aos pés de Vitor Krum.

Toni M’Bea e Harry Potter tiveram a idéia de reconciliar o time e a direção (ou seja, eu!) antes da partida. Potter, inclusive, atribuiu a mim (sempre o “Santo Potter”!) a idéia de dar um quarto do valor obtido nas apostas ao time, como um bônus especial. As Vassouras Firebolt prometeram também pagar quinhentos mil galeões ao elenco laranja se os quinhentos pontos fossem assinalados, o que inegavelmente deixou todo mundo muito feliz

Mesmo ainda não estando muito contentes comigo, os jogadores atenderam aos pedidos dos dois colegas e uma paz foi selada minutos antes da partida. Na verdade os colegas de Harry não gostaram das declarações de Perfumo e estavam loucos para fazer aquele almofadinha metido engolir uma ou duas coisas naquele sábado frio.

Quando o jogo finalmente começou, Hermione, que durante as últimas semanas mal dirigia uma palavra a minha pessoa, surpreendentemente segurou na minha mão. Ela estava trêmula e certamente só mantinha os olhos na partida porque tinha medo que algo muito ruim acontecesse ao seu melhor amigo.

Seis minutos depois, a mão de Hermione ainda segurava a minha e eu estava estupefado demais para apreciar a proximidade daquela jovem. É difícil descrever o que aconteceu naqueles seis minutos iniciais, porque foi tudo tão rápido e tão espetacular, que mesmo Lino Jordan e os dezoito mil torcedores dos Cannons (dois mil eram torcedores dos Falcões) tiveram dificuldades para acompanhar a rapidez dos lances.

Com poucos segundos de partida (nove para ser mais exato), Harry roubou a goles da garota argentina e deu um daqueles seus arremessos demolidores. Parnell, o francês que jogava no gol dos Falcões, mal teve tempo de se mexer. Muitos torcedores ainda estavam se dirigindo para os seus lugares quando o time branco e cinza tentou sair para o ataque. Apenas alguns privilegiados, que já prestavam atenção ao jogo, conseguiram perceber o vôo de Mergulho Potter, contornando o aro esquerdo, roubando a goles de MacKenzie, o outro artilheiro dos Falcões, e mais uma vez marcando um gol de longa distância.

Parecia uma daquelas comédias bobas que os trouxas adoram. Todas as tentativas dos Falcões de sair para o ataque eram interceptadas por Mergulho Potter. Ele marcava um gol, contornava o aro, roubava a goles e marcava novamente. Como Vera havia orientado, Andy e Toni arremessavam os balaços na direção dos batedores adversários. Crabe e Wolfe, abismados e surpresos com aquela tática, mal conseguiam se equilibrar na vassoura. Não haviam conseguido sequer se aproximar de um dos balaços para arremessá-los na direção dos artilheiros adversários. Gina, Toledo e Rony limitavam-se a rir do ridículo imposto ao time de Eden Perfumo.

Quando o relógio do estádio apontou o sétimo minuto de jogo, Potter marcou oitenta a zero para os Cannons.

- EU NÃO ACREDITO!!!! EU NÃO ACREDITO!!!! HARRY ARRASOU... EU REPITO... ARRASOU!!! O GAROTO DE OURO DOS CANNONS MARCOU OITENTA PONTOS EM SETE MINUTOS!!! ISSO SÓ PODE SER UM RECORDE MUNDIAL!!! – vociferou Lino Jordan, a “Voz’”.

- NÃO TENHO CONHECIMENTO DE UM PLACAR TÃO ELÁSTICO COMO ESSE EM TÃO POUCO TEMPO DE JOGO! – concordou Marla Donovan.

- E LÁ VEM ELE DE NOVO! O POTTER TÁ ENDIABRADO!! PASSOU PARA GINA POTTER! É FALTA!! FALTA DE JEFF MACKENZIE, QUE SEGUROU O BRAÇO DE GINA!! PARECE QUE A COISA ESQUENTOU! MACKENZIE FALOU ALGUMA COISA PARA A RUIVA, QUE DEU UM TABEFE NO ARTILHEIRO DOS FALCÕES!!!

Felizmente, a juíza da partida era Calista Newman. A Sra. Newman, uma das árbitras de quadribol mais respeitadas e temidas do mundo, fizera fama exatamente por não permitir o jogo desleal. Ela apontou duas penalidades para os Cannons e uma para os Falcões.

Harry converteu as duas para o time laranja, anotando o incrível placar de cem a zero em menos de dez minutos de jogo. Sob uma imensa vaia da torcida local, Cardozo partiu para cobrar a penalidade para os Falcões. Nervosa, a artilheira argentina, arremessou a goles com força, mas sem muito sentido de colocação. Rony Weasley fez a defesa sem grande dificuldade.

Realizando uma jogada ensaiada durante os treinos, o ruivo, enquanto era ainda ovacionado pelos torcedores dos Cannons, abandonou a sua área com a goles nas mãos. Os jogadores adversários, chocados demais com a ousadia de “Maluco” Weasley, mal conseguiram reagir. Rony lançou a goles para o alto, aparentemente sem direção. Harry, em outro grande vôo, apanhou a bola e enquanto esta descia, atirou-a com violência na direção da cabeça do goleiro Parnell. Assustado e surpreso, o francês desviou-se da goles (e foi devidamente “homenageado” pelos humilhados torcedores do seu time, com gritos de medroso e frangueiro), que entrou no aro central, deixando o placar em cento e dez a zero.

- O TREINADOR DOS FALCÕES PEDE TEMPO! – anunciou Lino Jordan – ESSE PERFUMO NÃO SABIA COM QUEM ESTAVA LIDANDO!!! MARLA, VOCÊ ACHA QUE POTTER CONSEGUE MARCAR QUINHENTOS PONTOS?

- BEM, SEM DÚVIDA É UMA TAREFA BASTANTE COMPLICADA – ponderou a mais famosa comentarista de quadribol do Reino Unido – POR OUTRO LADO, É INEGÁVEL QUE ELES SE PREPARARAM PARA ESSA POSSIBILIDADE. O SISTEMA DE MARCAÇÃO SOBRE OS BATEDORES ESTÁ DEIXANDO POTTER LIVRE. TODOS OS PASSES DE ATAQUE ESTÃO INDO NA SUA DIREÇÃO. E AS ROUBADAS DE GOLES QUE ELE REALIZOU FORAM FANTÁSTICAS!

No recomeço da partida, os Falcões tentaram colocar em prática o que mais sabiam fazer: o jogo desleal.

Platt, o outro artilheiro do time branco e cinza, acertou uma cotovelada em Toledo, causando um princípio de tumulto. Andy chamava o adversário para a briga, enquanto M’Bea tentava acalmar os ânimos.

- Você é muito valente com garotas, seu @#$%&* - xingou o brasileiro, no seu sotaque carregado.

Foi aí que Vince Crabe, meu antigo colega da Sonserina, cometeu um erro daqueles que se você for um cara esperto, certamente lhe servirá como lição e o tornará um sujeito ainda mais esperto. Se você, contudo, for um idiota juramentado como o batedor, com músculos no lugar do cérebro, o erro renderá apenas um nariz quebrado, um maxilar deslocado e a sua fama de valentão implacável arruinada para o resto da vida.

Madame Newman interrompeu o jogo para que a artilheira dos Cannons fosse atendida. M’Bea e Krum puxavam Andy para a área técnica do seu time, impedindo que o brasileiro partisse para cima do artilheiro adversário, que fazia gestos de desafio. Quando o batedor foi finalmente contido pelos companheiros, Crabe, numa velocidade espantosa para um homem do seu tamanho, desviou-se do seu trajeto e desferiu de maneira covarde e vil, uma bastonada em Andy Lopes. Felizmente os reflexos rápidos do garoto brasileiro impediram que o golpe fizesse o estrago que poderia ter feito. Ainda atordoado, Andy não queria deixar barato, mas Toni o conteve com energia. Aí Crabe cometeu “o” erro. Madame Newman rapidamente exigiu que ambos os times fossem para as respectivas áreas. Dificilmente ela deixaria esse fato passar em branco.

- O que foi, “Miss” África? Quer levar uma porrada também? – perguntou o ex-sonserino com a sutileza de um basilisco. E ainda fazendo gracinha com o apelido de Toni, que era freqüentemente chamado Mister África.

Os outros jogadores dos Falcões, igualmente violentos, mas mais inteligentes do que Crabe, tentavam puxar o seu colega para área do seu time. Os mais veteranos sabiam que Toni M’Bea não era como aqueles jogadores novatos que o batedor costumava intimidar. Parado, olhando para desaforado adversário, o africano era uma figura impressionante. Um metro e noventa e oito de altura e cento e tantos quilos de músculos talhados em aço. Tive a impressão naquele momento que Toni estava torcendo para Crabe fazer mais alguma besteira. Não precisou torcer muito.

- Eu não quero brigar com você, seu moleque – disse friamente o batedor dos Cannons.

Talvez ofendido por ter sido chamado de moleque, talvez achando que o africano tinha medo dele, por isso não queria briga, Crabe livrou-se rapidamente dos seus companheiros de time e partiu para cima do jogador mais velho com o bastão de batedor em riste. O time laranja em peso marchava para junto do seu capitão. A ajuda, entretanto, não foi necessária.

Ágil e elegante como um daqueles grandes felinos africanos, Toni deu apenas um passo para o lado, escapando do golpe do bastão. Uma fração de segundo depois, o bastão, de maneira surpreendente, estava na mão esquerda do gigante africano, que com a mão livre socou a carona de trasgo de Crabe. Talvez eu tenha tido uma alucinação. Mas até hoje tenho a impressão de ter ouvido algum osso sendo partido. Fico imaginando se eu continuaria vivo se recebesse um soco daqueles.

Hermione, que só havia soltado da minha mão para correr e atender Toledo, apenas exclamou:

- Pelas barbas de Merlin!

Como eu disse, Crabe era burro. Do contrário teria percebido que o primeiro soco já o havia nocauteado. Mas ele continuou em pé, encarando o africano com um ar demente. O nariz, agora mais achatado do que o normal, havia começado a sangrar.

Toni me explicou depois que havia usado o princípio de uma luta oriental trouxa da qual eu não me lembro mais o nome. Usar a força do adversário contra ele mesmo. Ele se aproveitou do impulso que Crabe deu para golpeá-lo com o bastão, para desarmá-lo e socá-lo. Realmente os trouxas sabem inventar coisas divertidas, tenho que admitir!

Toni só desferiu o segundo soco porque imaginou que Crabe ainda reagiria. Sempre de maneira elegante, o africano trocou o bastão da mão esquerda para a direita, e com mão livre, movendo-se com rapidez, socou novamente o batedor dos Falcões. Juro! O brutamontes literalmente saiu do chão alguns centímetros antes de cair desacordado.

Eu e Crabe rompemos nossa amizade na época da guerra. Sua família havia sido fiel ao Lorde das Trevas até o fim. Apenas teve o bom senso de não envolver o filho no conflito. Eu conhecia, entretanto, aquele grandalhão muito bem. Com quinze anos de idade o monstrinho era capaz de arrastar uma carruagem de Hogwarts. Uma daquelas que precisam de um testrálio para carregá-la. E Toni M’Bea o havia colocado para dormir com algo prosaico como dois socos.

Entre as lendas que envolveriam posteriormente a partida, uma delas reza que o africano usou alguma “maldição sinistra” contra os adversários. Ou que lançou mão de algum tipo de hipnose que “apagou” o time dos Falcões. Tudo bobagem, é claro. Havia desde aquela época medidores de magia nos campos de quadribol para evitar feitiços e trapaças. Os medidores não registraram absolutamente nada. A única hipnose que Toni M’Bea usou foram os seus poderosos punhos.
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- Se o seu time fugir agora eu te processo, sua ratazana ibérica! – gritei descontrolado na direção de Eden Perfumo.

Madame Newman, como era esperado, expulsou Crabe, mas excluiu também Toni M’Bea do jogo. Explicou para o representante da Liga que o africano havia apenas se defendido, mas não poderia tolerar agressões.

Perfumo viu aí uma brecha para fugir da aposta e da derrota humilhante. Ameaçava tirar o time do campo.

O delegado da Liga foi taxativo:

- Você é quem sabe. Mas vocês serão considerados perdedores de qualquer forma. E perderão o mando de dois jogos.

- Mas o regulamento... – tentou argumentar o dono dos Falcões.

- Eu conheço o regulamento, moço! – retrucou contrariado o representante – Eu o escrevi, sabe? Você pode desistir sem represália num jogo considerado perdido ou com um escore difícil de ser mudado, “passadas mais de uma hora e meia de jogo!” – enfatizou o cartola – Seu time está perdendo por cento e dez pontos e não foram jogados nem quinze minutos!

Perfumo pulou a grade da tribuna de honra e caminhou na direção da área técnica dos Cannons. Me encarando cheio de raiva, ele disse:

- Vamos continuar. Mas se o meu apanhador capturar o pomo, o jogo termina! E se o Potter não tiver marcado quinhentos pontos, eu ganho!

Antes que eu pudesse responder, uma risada rouca veio do grupo de jogadores que um minuto antes ouvia as instruções da treinadora. Para minha surpresa e dos demais, era Krum quem estava rindo. Na verdade gargalhando.

- Ele não vai pegar o pomo, Perfumo – disse o búlgaro com ar de desafio – Não nessa vida.

- Você já tem a minha oferta – resmungou o dono dos Falcões, afastando-se contrariado. Ignorando o comentário da “Águia dos Bálcãs”, mas era visível que havia ficado abalado com a convicção do apanhador dos Cannons.
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Incendiados pelo otimismo do seu apanhador, os Cannons voltaram para o jogo com a corda toda. O pobre M’Bea, entretanto, teve que se contentar em ouvir o jogo pela Rádio Bruxa nos vestiários.

Com um batedor a menos de cada lado, o jogo assumiu um ritmo alucinante. Potter converteu mais duas penalidades, anotando centro e trinta pontos. Mackenzie converteu uma, fazendo os primeiros dez pontos dos Falcões.

Enquanto isso, Harper procurava o pomo desesperadamente. Se Harry dava uma aula de jogo de artilharia, Krum dava um curso completo para o apanhador dos Falcões. Vários tipos de fintas e bloqueios eram demonstrados pelo búlgaro, deixando claro que não houve excesso de confiança quando afirmou que o adversário não apanharia o pomo.

Passadas duas horas e meia desde o início da partida, os Cannons marcavam trezentos e oitenta pontos a vinte. Trezentos e cinqüenta gols haviam sido marcados por Harry. Trinta e cinco arremessos convertidos num único jogo, o que já era um recorde dos últimos vinte anos.

- Ninguém agüenta jogar num ritmo desses por tanto tempo – choramingou Hermione. Ela havia vibrado com o trigésimo quinto gol do seu amigo, mas estava cada vez mais preocupada.

- Calma, Hermione – eu tentava tranqüilizá-la – Seu amigo é muito resistente.

- Você não entende! – ela me disse à beira das lágrimas – A magia que é necessária para manter uma vassoura no ar já despende muito da energia de um bruxo. Isso somado à toda essa correria e ao stress...

Antes que a jovem pudesse concluir seu prognóstico pessimista, Harry marcou mais um gol. E a torcida dos Cannons resolveu jogar junto com o time. Em todo o estádio, as pessoas levantaram as mãos, os cinco dedos erguidos para o ar e de maneira ritmada começaram a gritar:

- POTTER! QUINHENTOS! POTTER! QUINHENTOS!

De alguma forma aquilo contagiou a equipe.

- É ISSO AÍ, GALERA!!! – gritou Lino Jordan – TODO O ESTÁDIO PEDE!!! POTTER!! QUINHENTOS!!! – aderiu o locutor.

Como que possuído pelos deuses do quadribol, Potter marcou mais um gol, e mais outro e mais outro. Os desolados jogadores dos Falcões corriam desesperados atrás das artilheiras dos Cannons, que endereçavam a Harry todos os passes. Temiam fazer mais faltas que resultassem em novos pênaltis, pois Harry implacavelmente os converteria. E não podiam se dar ao luxo de ter mais jogadores expulsos. Sua única esperança era apanhar o pomo e acabar com aquilo. Nem havia mais esperança de uma vitória. Faltando vinte minutos para as quatro horas de tempo máximo de duração de uma partida, o placar apontava quatrocentos e quarenta a trinta. Até Rony saía do gol para cercar os jogadores adversários, dando um jeito da goles sobrar para Harry. Que marcou três gols quase que em seguida.

- VINTE E CINCO MINUTOS PARA O FIM DO JOGO! – anunciou Lino Jordan – QUTROCENTOS E... YES, POTTER!!! SEEEEEEENSACIONAL O GOL DE HARRY! QUE FINTA!!! QUE TÉCNICA!!!! LÁ VAI ELE DE NOVO!!! DRIBLOU PARNELL!!! É GOOOOOOL!!!! QUATROCENTOS E NOVENTA A TRINTA!!! QUANTOS GOLS PARA O QUINHENTOS, MARLA?

- MEU CONTADOR MÁGICO INDICA QUE POTTER JÁ MARCOU QUATROCENTOS E SESSENTA PONTOS! – informou Marla com a eficiência de sempre – FALTAM QUATRO! MESMO QUE ELE NÃO ALCANCE OS QUINHENTOS PONTOS, É UM FEITO NOTÁVEL, SEM DÚVIDA!

- YESSSSS, POTTER!!!! – gritou Lino a beira da loucura – ARREMESSO CERTEIRO DE LONGE! FALTAM APENAS TRÊS GOLS!!! FORÇA, POTTER!

Força era exatamente do que Potter precisava naquele momento. Como temia Hermione, era visível que o artilheiro estava exausto. Mesmo com três tempos pedidos, aquela partida era o mais próximo no mundo bruxo daquelas maratonas trouxas. Só que com direito a balaços e cotoveladas. Todos, aliás, estavam exaustos. Mas Harry, que havia sido o mais exigido e o que se movimentara mais, era de longe o que havia sofrido o maior desgaste. Depois do jogo, implorando para que eu não contasse para Gina ou Hermione, “Mergulho” confidenciou para mim e para o seu amigo Weasley, que no final da partida esteve mais de uma vez prestes a perder os sentidos de tão cansado que estava.

Mesmo próximo de ser vitimado por estafa de vôo, Harry Potter ainda pilotava melhor do que a maioria dos bruxos. Escapando por pouco de um balaço (prova de que seus reflexos estavam lentos), Harry arremessou mais uma vez a goles de longa distância. Parnell, que a essa altura também mal se agüentava na vassoura, nem mesmo esboçou uma reação. O estádio todo ficou em pé. Faltavam apenas dois gols!

Eu, Hermione e Vera prendemos a respiração quando o goleiro tentou colocar de novo a goles em jogo e Harry, que havia contornado de novo os aros, interceptou o passe e marcou mais um gol.

- Eu não acredito que eles caíram nessa de novo! – Apesar de constatar a incompetência do time adversário, eu estava socando o ar, e antes que pudesse me dar conta, tinha também as mãos para cima e gritava “POTTER!!! QUINHENTOS!!”, como todo o estádio.

Tentando esfriar o ânimo dos Cannons, o treinador dos Falcões pediu tempo. Consultando o seu cronômetro mágico manual, Madame Newman negou-se veementemente a concedê-lo. Na verdade, o tempo no quadribol é uma concessão do árbitro aos técnicos ou capitães que o solicitam. Os juízes não são obrigados a concedê-los, principalmente restando cinco minutos para terminar a partida.

- CINCO MINUTOS??? – perguntei em pânico para Vera Ivanova.

A búlgara, tão tensa quanto eu estava, confirmou com um aceno. E num gesto que eu nunca esperaria dela, a treinadora abaixou a cabeça até os joelhos, dizendo que não agüentava ver o fim do jogo.

Para os Falcões aqueles cinco minutos devem ter parecido uma eternidade. Para nós, eles se passaram como um pensamento, provavelmente.

Durante incontáveis dois minutos nada aconteceu de importante. Então Rony saiu de sua área e apanhou a goles que havia sido despachada para frente de qualquer maneira. Para não serem surpreendidos novamente por um lançamento do goleiro para Potter, o time inteiro dos Falcões partiu para marcá-lo. Nada importava mais na partida, a não ser impedir que ele marcasse os famigerados quinhentos pontos. Até o goleiro estava fora do gol marcando Harry. Se Rony Weasley quisesse marcar um gol, ninguém ligaria. Parecia ser essa a sua intenção.

- O que diabos esse ruivo maluco está fazendo? – perguntei desesperado.

- Tenha fé – disse um vozeirão ao meu lado. Era Toni M’Bea, que havia abandonado o vestiário e se acomodava ao meu lado. Ninguém se preocuparia com ele com tão pouco tempo pra o fim da partida.

Rony Weasley realmente arremessou a goles direto para o aro central. Mas antes que a esfera completasse a trajetória, Harry livrou-se da marcação dos adversários e, mesmo sendo seguro, socado, puxado por quatro ou cinco jogadores, socou a bola, quase que a enterrando no gol. Era uma jogada parecida com a que os jogadores de basquete trouxa costumam fazer. O gol havia sido confirmado? A juíza, contudo, interrompeu o jogo e mandou parar o cronômetro. Todos ficaram em silêncio. “Ela anulou o gol?”, perguntavam os torcedores aflitos

A gritaria no estádio havia cessado como que por encanto. Então, quando virou-se para os colegas de time, Harry, muito sorridente apresentava duas marcas feias de arranhões no rosto, obra da artilheira Myrea Cardozo. Ela havia tentado impedir o ponto quinhentos usando, literalmente, as unhas. A garota foi expulsa e Harry ainda teve mais uma arremesso a seu favor. E o gol havia sido validado!

Quando Potter arremessou a goles, Parnell nem mesmo esboçou uma reação. Ponto quinhentos e dez! O estádio explodiu! Principalmente, porque, quando recomeçou o jogo, faltando um minuto para o final, Vitor Krum apanhou o pomo, encerrando a partida.

Não tenho vergonha de dizer que eu me debulhei em lágrimas. Eu estava abraçado a Toni M’Bea, que sorria muito feliz. Hermione, depois de um momento de emoção, correu para os jogadores, que vinham escoltando Harry. Ele parecia em frangalhos, mas estava muito feliz.

- Afastem-se dele! – gritou a curandeira para um grupo de torcedores que se aproximava do Eleito para abraçá-lo. O grito foi tão cheio de autoridade que todos pararam imediatamente, como se tivessem sido atingidos por um feitiço de imobilidade.

- Quem essa garota pensa que é? – perguntou um sujeito gorducho, vestindo laranja dos pés a cabeça.

- A garota mais durona dessas bandas, meu chapa – disse Toni M’Bea com um sorriso maroto.
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- Então, gostaram? – eu pergunto às crianças.

Elas estão com os olhos vidrados. Finalmente conseguiram dizer :

- UAU!

Então começam as perguntas em série:

- O vovô Harry se machucou muito?

- A vovó Hermione continuou brava com você?

- Quem ganhou a Liga Inglesa naquele ano?

- Eles pagaram a aposta?

- O que vocês fizeram com o dinheiro?

- Chega! – eu digo cheio de autoridade – Eu disse chega – repito antes que eles continuassem com a saraivada de perguntas. Seus pais sempre implicam comigo porque dizem que eu deixo vocês acordados até tarde. E já é bem tarde. Amanhã, durante o café, eu respondo essas perguntas.

- Mas... – tenta argumentar a garota.

- Amanhã. Enquanto comemos uns muffins.

- De baunilha? – pergunta a garota de maneira esperançosa.

- ECA! – reclamam os meninos

- E de morango e chocolate.

- YES! – comemoram os garotos.

Nem era tão tarde assim. Mas na minha idade é difícil não se emocionar muito com a lembrança daqueles dias. Sem nenhum motivo, eu me lembro da letra do “Potter Laranja”, que tanto irritava o meu sócio. Quando subo para os meus aposentos, estou cantarolando o rap, entremeado pelo refrão “POTTER! QUINHENTOS!”. Como naquela tarde fria.
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TAÍ, GENTE! EU SEI QUE DEMOREI MUUUUITO PARA POSTAR! MAS ESPERO QUE TENHA COMPENSADO! O OUTRO CAPÍTULO NÃO DEMORA... MUITO!! UHAHAHAHA! NÃO PERCAM: EM BREVE, A FIC DA COPA MUNDIAL DE QUADRIBOL!!!!





























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