Aqueles que vêm de longe



Olá a todos vocês que se propuseram a ler esta fanfic!


Esta história, assim como a grande maioria de seus personagens, são de propriedade de J.K. Rowling; eu só os peguei emprestado para me divertir um pouco.


-~oOo~- 


Parte III - Aqueles que vêm de longe


...O rosto dos comensais se distorceu em fúria, não apenas pela ameaça na voz do sujeito, mas porque muitos deles tentaram em vão aparatar, constatando que o lugar havia sido previamente enfeitiçado contra fugas.


Cadeiras espalhadas a esmo, inúmeros cacos de vidro espatifados e álcool e sangue derramados decoravam o bar. Pouco tempo depois que os comensais foram derrotados, um ruído típico de aparatação foi ouvido no salão ainda fechado e dois homens com o brasão do Ministério Búlgaro ostentado em coletes roxos apareceram ali.


Os recém chegados encararam com desconfiança a presença de Avery, mas tal impressão se desfez como mágica, ao perceberem que entre os comensais desacordados e atados por um feitiço se encontrava outro Avery, absolutamente idêntico ao que estava de pé os recepcionando, exceto pela falta de roupas e algumas cicatrizes a mais. O corpo magricela seminu do Avery amarrado se derramava sobre o dos outros comparsas igualmente inertes, com filetes de sangue escorrendo de pequenos orifícios no pescoço. Nenhum deles parecia disposto a esboçar qualquer objeção a isso nas próximas horas.


Os dois aurores se entreolharam sorrindo com malícia, passando pelo Avery de pé e seu companheiro pálido com um aceno de cabeça, indo em direção aos comensais. Um deles se ajoelhou e fez um gesto simples de varinha na direção do Avery caído para confirmar sua autenticidade – e lançou um olhar irônico dos minúsculos ferimentos abertos no pescoço, ao ruivo alto, que apenas sorriu e deu de ombros -, enquanto o outro limpava a bagunça do ambiente com algumas poucas palavras e acenos de mão delicados, capazes de atiçar a inveja de qualquer trouxa desorganizado.


- Belo trabalho, vocês dois. – elogiou aquele que terminava de devolver as garrafas de vidro já reparadas a seus devidos lugares. - Espero que com isso tenhamos alguma paz por aqui, já é o segundo ataque esta semana e não resta dúvidas de que daqui sairia o terceiro.


- Eles estarão em ordem para o interrogatório, mas o peladão aí vai sentir uma leve indisposição quando acordar. – observou o Avery de pé em tom casual, dando um leve toque no próprio pescoço com os dedos – Precisamos saber o que eles andam fazendo tão longe de casa.


- Sem problemas, шеф* – respondeu o outro auror, antes de fazer sinal de ok para o parceiro e ambos desaparecerem com um estalo juntamente com os prisioneiros.


Depois que eles partiram, o silêncio caiu pesado sobre local. O falso Avery adquiriu um ar pensativo e uma sombriedade na voz digna do verdadeiro comensal, quando finalmente falou.


- Não precisa, Sanguini. Já sei o que você vai dizer.


O parceiro o observava fixamente, com um olhar inquiridor.


- Você deve achar que aquilo está acontecendo de novo.


Sanguini continuou a observá-lo, de mãos juntas à frente do corpo, sem dizer uma palavra.


- Eu realmente espero não ter de descobrir que esteja... embora, o que mais eles poderiam querer aqui? – Neste ponto da conversa, buscou o olhar do parceiro e o manteve, esperando uma resposta.


- Bom, vamos ver o que temos... – Ele finalmente respondeu, erguendo a mão fechada em punho e levantando os dedos à medida que enumerava fatos.


- ...eles vem aqui e atacam os trouxas locais como já fizeram inúmeras vezes em Londres; enquanto que ao mesmo tempo, recebemos notícias de que os Lewis foram incomodados não faz nem duas semanas. Para completar, as outras famílias também estão ficando com medo.


Sanguini ergueu o olhar por entre 3 dedos pálidos.


- Então, o que mais eles poderiam querer aqui? – Ele complementou - Desculpe, mas você já conhece essa resposta melhor do que eu.


- Ótimo, nem você para me animar agora.


Sanguini apenas confirmou com um triste aceno, e concluiu o raciocínio.


- Neste caso, o que faremos a respeito?


- Ora, o que você acha? – o pseudo Avery resmungou, irritado - Nós vamos impedir.


Sanguini adquiriu uma expressão satisfeita de repente, tanto pela resposta que ouviu, quanto pela evidente transformação que havia começado a alterar a forma física do parceiro. Primeiro foi o cabelo; os fios antes curtos e grisalhos foram aos poucos se alongando e caindo em ondas castanhas, ao passo que seu rosto perdeu as feições de Avery e se contorceu em formas desconcertantes. Todo o seu corpo foi perdendo os contornos duros e masculinos, que se moldaram em suaves e sutis curvas. Sanguini observou as roupas que minutos atrás lhe caíam sob medida ficarem grandes demais para a mulher que surgiu dentro delas, fitando-o com os conhecidos olhos também castanhos.


- Ah, finalmente eu. – ela suspirou, imaginando a figura cômica que deveria estar parecendo, com as mãos totalmente ocultas sob as mangas do sobretudo quando soltou os braços ao longo do corpo, e a bainha das calças arrastando no chão - Preciso tirar esse trapo já, aquele imbecil estava fedendo a porco quando eu tive de arrancar isso dele.


Sanguini não conteve o riso.


- Bem vinda de volta, Hope.


- É hora de nos apressar, creio que ainda teremos de plantar certas informações na mente daqueles policiais – e agora sua voz não escondia um tom contrariado – Eles estão bem menos preocupados do que deveriam, e tudo o que posso dizer é para tomarem cuidado com a droga dos raios verdes.


- Não sei se devo chegar muito perto desse pessoal – disse Sanguini com um ar divertido – Acho que o chefe deles tem pavor a mim – ele deu uma pausa, assumindo a expressão de quem lembra de algo engraçado – Não faço idéia do por quê.


E parecia ser verdade. Sempre que Sanguini aproximava-se do homem, este o olhava de soslaio e colocava uma das mãos no pescoço como se quisesse escondê-lo, e de vez em quando era flagrado levantando a gola da farda de forma discreta quando o percebia por perto. Provavelmente, o chefe de polícia não conseguia entender o motivo de alguém andar por aí com a falta de cor que geralmente se adquire quando se está dentro de um caixão.


- Ah, é – ele continuou – Ivan e os outros já deram conta do recado enquanto os policiais montavam vigília lá fora, certos de que pegariam um dos... mefin... mufin... como é mesmo que eles chamam?


-  Mafiosos? – Hope sugeriu.


Isso! Ah, se eles soubessem...


Sanguini arregaçou uma das mangas do sobretudo e examinou um relógio prateado em seu pulso.


– Adivinhe – ele instigou, novamente com o meio sorriso que, segundo Hope, teimava em não deixar seu rosto – Estamos incrivelmente atrasados, e a noite ainda vai ser longa.


- Um vampiro que usa relógios trouxas – comentou Hope casualmente – Não sei porque ainda me surpreendo. Sanguini, você realmente não existe.


- Olha quem fala, o que você fazia com uma arma de fogo? – ele retrucou, soltando uma gargalhada logo em seguida - Fico me perguntando se aqueles caras tiveram alguma ideia do que os atingiu, literalmente falando.


– Ora, você me conhece, adoro um elemento surpresa. Além do mais, sei que você tem venerado os trouxas desde que eles criaram o protetor solar fator 150 - acrescentou, com um sorriso sarcástico - Agora vamos, ou acabaremos metidos naquelas malditas medidas disciplinares.


Hope esticou a mão para Sanguini, que abriu um largo sorriso ante a perspectiva de aparatar, experiência que ele particularmente considerava curiosíssima e muito divertida. Seu relógio de pulso marcava quase três da madrugada quando os dois desapareceram com um característico estalo.


-~oOo~-


Você acha mesmo que Você-sabe-quem mandou seguidores fiéis tão longe apenas para matar um único traidor, que por sinal era o Diretor de Durmstrang? Nós dois sabemos o que ele planeja fazer, e também sabemos exatamente como ele pretende fazer isso. Karkaroff foi só um maldito bônus!


Tal frase passara a desfilar pelos corredores mentais de Michail Milanov, Primeiro Ministro Búlgaro, tempos depois da visita nada inusitada de seu colega londrino, cuja voz insistia em assombrá-lo, relembrando-lhe acontecimentos sombrios da primeira guerra que por muito pouco não passaram de um sonho ruim. Rufus detestaria admitir abertamente, mas Michail sabia que o episódio de sua visita fora um claro pedido de socorro, embora camuflado sob um alerta de que aquilo que começara como um plano megalomaníaco do Bruxo das Trevas para ampliar seu domínio de terror, poderia estar tomando forma também em seu país.


Como se não bastasse os problemas anteriores, agora a morte do diretor de Hogwarts também entrava para a lista.


O que é isso agora, assassinato em série de diretores? - foi o pensamento ácido que se permitiu ter.


Michail acabou sendo convencido pelo seu colega inglês de que o foco estava se espalhando de forma perigosa: o fato de seus aurores lhe relatarem confrontos semanais com comensais e outras criaturas suspeitas de ter alguma ligação com o Bruxo das Trevas, até mesmo ali na longínqua Bulgária, não era mera coincidência.


Como dizia um ditado bruxo misteriosamente incorporado pelos trouxas, era preciso cortar o mal pela raiz. Por tal motivo fora criada a S.I.A., um Esquadrão de Auxílio Internacional submetido a treinamentos especiais que mesclavam artes mágicas e rigorosos exercícios físicos, fortalecendo o corpo em conjunto com a mente de seus aurores, para garantir que isso acontecesse.


Pelo que Rufus lhe dissera, o Ministério londrino havia disponibilizado um limitado número de aurores cuidando para que os recentes ataques a aglomerações trouxas parecessem atentados terroristas, ocorrências menores ligadas a indivíduos avulsos ou ainda tragédias naturais - e não a fúria enlouquecida de um Bruxo das Trevas. Assim, a ideia de parte de sua equipe se infiltrar na tal “polícia”, não era tão ruim assim. Com esse objetivo em mente, acatou distribuir uma pequena parte do contingente da S.I.A. para dar um reforço com os problemas no mundo não mágico, enquanto que o restante se encontrava aguardando naquele exato instante as ordens para seguir uma longa viagem.


O Ministro se dirigiu ao local onde parte do esquadrão aguardava e observou seus silenciosos membros; oito deles se dividiam no local, alguns de pé em posição rígida, de mãos juntas nas costas e outros sentados nos longos assentos de pedra do salão localizado nos andares inferiores do prédio, aguardando o momento da partida. Michail murmurou um comentário audível apenas para si mesmo; ainda havia um pequeno problema momentâneo.


Dois de seus membros estavam atrasados.


Ao menos eles tinham um bom motivo, uma missão importante para capturar os responsáveis pelo fortalecimento dos seguidores do Bruxo das Trevas em seu país, e ele esperava com excitação que ao menos houvesse um entre eles que fosse de seu círculo íntimo.


Esse momento de reflexão foi o tempo necessário para que um de seus assistentes chegasse com a informação de que os dois restantes haviam aparatado nas imediações do prédio e pediam permissão para se juntar ao resto do esquadrão. Michail sorriu consigo mesmo; a missão havia sido concluída com sucesso.


Os aurores se dirigiram até alguns andares mais abaixo, tão silenciosamente quanto haviam esperado. O destino final era uma velha garagem de ônibus abandonada, com um aspecto desolador. Havia veículos tristonhos, decrépitos e caindo aos pedaços no amplo estacionamento, mas caprichosamente alinhados em duas fileiras, quando o grupo surgiu no topo da escada do subterrâneo do Ministério. Um homem baixo e rechonchudo passou à frente deles e parou diante da porta de um ônibus no mesmo estado deplorável dos outros, sacou sua varinha e com um movimento de maestro deu um toque rápido na lateral do carro.


Foi como se enormes mãos invisíveis arrancassem a lataria exterior do grande veículo de dois andares como se fosse a tampa de uma lata de sardinhas. Conforme a antiga roupa de metal ia se desdobrando e desaparecendo no ar, um revestimento roxo escuro polido aparecia e tomava seu lugar, esticando-se e adequando-se ao esqueleto do ônibus até cobrir toda a sua extensão, deixando-o com aspecto novinho em folha.


Já era do conhecimento do Ministro e do Departamento de Aurores em geral, que uma viagem coletiva destes últimos exigiria o gasto de um tempo precioso em procedimentos mágicos protetores, além do perigo envolvido no processo tradicional: uma razoável quantidade de bruxos voando em suas vassouras e berrando uns para os outros a fim de manter toda a organização possível, bem às vistas de curiosos e trouxas, não parecia ser uma ideia das mais seguras, mesmo sob os feitiços desilusórios. Sem mencionar que uma grande burocracia era requerida para uso coletivo das redes de flú internacionais. Tal empecilho não constava nos planos; a viagem deveria necessariamente ser feita longe dos olhares suspeitos do Ministério londrino, do qual, nas atuais circunstâncias, muitos funcionários poderiam perfeitamente encabeçar uma lista negra de suspeitos de serem peões do tabuleiro de Você-sabe-quem.


Michaíl era da opinião que o uso de umas poucas medidas não convencionais eram a melhor maneira de contornar um problema sem maiores dores de cabeça, e transformar aqueles veículos em uma espécie de chaves de portal coletivas havia sido uma delas.


O recém revelado Nôitibus Ministerial abriu sua porta com o leve som que só carro novo faz, convidando seus passageiros a se acomodarem para a longa viagem.


Os membros do esquadrão embarcaram procurando um bom lugar para se segurar. O motorista olhou para os passageiros, fez sinal de OK e pisou fundo.


Frações de segundo depois, um borrão roxo se deslocava em velocidade absurda pelo túnel subterrâneo que desembocava numa rua pouco movimentada, parar sumir como um vendaval invisível noite afora. 


-~oOo~-


Nuvens alaranjadas cobriam o céu, anunciando o fim da tarde. Lá longe na linha do horizonte, um trem cortava caminho na paisagem verde, soltando vapores ocasionais.


O borrão das planícies e dos campos se refletia nas lentes de Harry, sem que ele as enxergasse realmente. Estava naquele trem praticamente sozinho, com exceção de Lupin e Tonks, que agora deveriam estar zanzando pelo corredor, como que respeitando seu silêncio.


Tentava esquecer por um segundo um fato em especial, mas outros ousavam perturbar sua mente. Voldemort... a profecia... tentara não pensar também sobre isso, mas agora seria inevitável.


Ele fechou os olhos com força, tentando visualizar algo diferente. Visualizou um prédio irregular pendendo de um lado, mas sempre misteriosamente equilibrado, sem nunca desabar. Lupin oferecera a Harry um tempo, mesmo breve, de descanso na Toca antes de passar o último período na casa dos Dursley, mas ele não faria isso. Não agora e não com o mundo bruxo mais vulnerável do que nunca. Não iria se arriscar a ir para a Toca e pôr seus amigos em perigo. E além do mais, ele tinha de ir para a casa dos tios. Só mais esta vez.


Harry só percebeu que o trem havia diminuído a velocidade quando Lupin abriu com cautela a porta da cabine e esperou que olhasse para ele.


- King´s Cross, Harry. Chegamos.


Foi quando Harry já tinha posto os pés no outro lado da estação, com Lupin e Tonks o ajudando com a bagagem, que o ex-professor insistiu.


- Tem certeza que não quer, Harry? – e Tonks reforçou – Há aurores protegendo a Toca dia e noite... você realmente não precisa ir agora, se não quiser.


Ele deu um sorriso fraco e procurou determinação para dizer


- Preciso – e achou que deveria completar com qualquer coisa que fosse – Eu estou bem.


Lupin assentiu. No fundo sabia que deveria ser assim, mesmo que a idéia não lhe agradasse, ainda que a Rua dos Alfeneiros e proximidades também estivessem recebendo vigília.


Nesse momento seu olhar bateu em duas figuras de terno cinza listrado que vinham a passos largos na direção deles. Harry puxou a varinha instintivamente, como se sua mente apagasse todos os pensamentos anteriores e só lhe restasse uma raiva crescente.


- Calma – disse Tonks, colocando a mão em seu ombro – São aurores.


Quando eles se aproximaram, Harry notou que um já era conhecido, mas não identificava o outro, apenas uns poucos centímetros mais baixo e de curto cabelo castanho-escuro.


- Savage. Kirm – cumprimentou Tonks, e eles devolveram com um leve aceno de cabeça para os três.


- O que vieram fazer aqui? – indagou Harry, cuja raiva não tinha passado por completo.


- Potter – começou Kirm, com tato, olhando de relance Tonks e Lupin, que os fitava com um quê de desconfiança na face – Precisamos que venha conosco. É um assunto de seu interesse. E urgente.


-~oOo~-


No próximo capítulo:


“- Pois eu tenho a impressão de que os dois vão se meter em problemas, porque eu não sei onde está escrito que tenho que ceder aos caprichos do Ministro. Se eu fosse algum de vocês iria correndo dar o recado, e torcendo para não ser despedido. – Harry tinha acabado de passar por situações perturbadoras, estava exausto física e mentalmente e estava disposto a mandar os lacaios de Scrimgeour para algum raio que os partisse.”



Notas:


 * шеф - significa “chefe” na língua búlgara. Segundo o tradutor, soa  algo como “shef”.


 Olá novamente!


Vocês reconhecerão alguns trechos como pertencentes à linha cronológica do 7º livro, e outros não. O plano é ser tão fiel ao livro quanto me for possível, à medida que a história for avançando.

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