Hope Short



Olá a todos vocês que se propuseram a ler esta fanfic!


Esta história, assim como a grande maioria de seus personagens, são de propriedade de J.K. Rowling; eu só os peguei emprestado para me divertir um pouco.


-~oOo~-


Parte V– Hope Short


Um corpo movia-se inquieto sob o lençol, em plena madrugada.


Hope revirou-se na cama pela terceira vez, com o sono novamente perturbado por imagens de si mesma, provenientes de sonhos recorrentes e muito semelhantes, apenas com alguns detalhes diferenciados dos quais uma pessoa seria incapaz de lembrar-se depois de acordada. Porém com aquele sonho era diferente, pois não se tratava apenas de um sonho. Mesmo inconsciente, sempre que Hope emergia deles ofegante e banhada em suor, sabia que as cenas que seu cérebro processava quase toda noite se tratavam de uma parte nebulosa de sua infância, que acreditava ter ficado para trás.


Havia uma criança correndo ao redor de um homem de formas e feições indefinidas. Ela falava ou gritava, movimentando um pedaço de madeira na ponta dos dedos como se seus lances rápidos fossem capazes de atingir os adversários de papelão que flutuavam em círculo ao seu redor. A cada inimigo de mentirinha que ela conseguia atirar vários metros ao longe, olhava para o homem perto de si, e mesmo que seu rosto fosse apenas uma massa onírica irreconhecível, sabia que ele estava sorrindo.


Seu subconsciente observou impassível a uma alteração lúgubre de cenário, e a criança agora estava em um lugar escuro e tinha os olhos cheios d´água enquanto apertava com força o próprio pulso sob a manga longa de um suéter como se sentisse dor ali. A pequena Hope ainda gritava quando duas mãos masculinas de dedos finos seguraram firmemente seus ombros por trás, impedindo que se movesse.


Novamente ela se remexeu, inquieta, enquanto seu sonho distorcia a realidade a cada cena. Mais imagens se passaram, porém seriam apagadas da memória assim que ela acordasse. Ainda houve outro trecho nítido em seus sonhos, que não se esvaneceria por apresentar uma intensa aproximação com a realidade.


Agora havia um homem alto de longos cabelos e barba já brancos, vestido em um manto púrpura cujas mangas não escondiam uma das mãos ressecada e negra em contraste com a outra perfeitamente saudável, prostrado diante de uma Hope já adulta. O eco das palavras ditas pelo Dumbledore de carne e osso tornaram-se distantes e difusas, prenunciando o despertar, mas seu conteúdo permanecera gravado na memória.


O dia amanhecia com o sol insinuando-se preguiçoso pelo quarto quando Hope levantou. A auror se desvencilhou dos lençóis ainda lutando para manter os olhos abertos e cruzou a extensão do quarto até o pequeno guarda-roupa de duas portas do outro lado, abrindo-as com certa violência.


Ela parou no meio do movimento com uma expressão de espanto até perceber que a figura grande e pálida pendurada de cabeça para baixo no cabide apertado da mobília era Sanguini. O vampiro abriu os olhos com certo esforço, resmungando.


- Não se pode dormir um pouco por aqui? Acabei de entrar, se não se importa.


Hope ergueu as duas mãos e deu de ombros em um "ok" resignado, tomando cuidado para manter o próprio corpo à frente do parceiro para bloquear os raios solares que ameaçavam atingir o local onde ele descansava; a sua pele sempre fora de certa forma avessa à iluminação solar, causando-lhe um profundo desconforto, e a depender do tempo de exposição e da intensidade dos raios, poderia também provocar grandes queimaduras. Ela o observou voltar à expressão tranquila de alguém que descansa serenamente, naquela posição que qualquer um julgaria incômoda e curiosa; ainda não havia se acostumado com certos costumes que não sabia se eram típicos de sua raça ou apenas uma curiosa mania particular, como dormir de ponta cabeça.


- Eu nunca entendi como diabos você consegue relaxar de cabeça para baixo, Sanguini.


- Melhor aqui assim que naquele baú apertado. Além do mais a posição não me incomoda, esqueceu que meu corpo não se comporta exatamente como o seu ou o de qualquer outro de sua raça?


A moça assentiu, e antes de fechar as portas para deixá-lo descansar, perguntou como havia sido a noite, enquanto era a sua vez de descansar.


Sanguini reabriu um dos olhos e a encarou esboçando um sorriso malicioso, caprichando para exibir dois caninos salientes e pontiagudos.


- Proveitosa... eu diria que um certo Lorde das Trevas – disse as últimas palavras com o máximo de ironia que conseguiu – está no mínimo uns dois comensais mais irado. – Ambos abriram um sorriso satisfeito.


- Ok, te vejo mais tarde e pedirei os detalhes. – disse e fechou as portas.


Hope examinou o próprio corpo, notando que pegara no sono com a roupa do dia anterior. Ela virou-se para a pequena janela do aposento na parede oposta e só então notou o som de pequenas e ocasionais bicadas no vidro da janela, onde viu um corvo tentando chamar sua atenção, já impaciente. Ela reconheceu o animal e só então desfez o encanto sobre a janela, vendo a ave invadir a sala dando uma volta no quarto com um agitado bater de asas em tom de protesto.


- Deveria dizer a seu dono que há formas mais eficazes e rápidas de comunicação - murmurou para o corvo - e aproveitar para tirar umas férias - concluiu, surpresa com o próprio senso de humor que julgava já extinto.


Quando o pássaro finalmente pousou contrariado no criado-mudo e permitiu que lhe desamarrasse o bilhete da pata, apenas esperou Hope concluir o processo e decolou rumo ao horizonte. Ao desenrolar o pedaço de pergaminho, se ateve primeiramente à forma da grafia, e então abriu um sorriso e devorou o que nele dizia, mesmo havendo apenas uma breve informação e abaixo, uma assinatura com uma palavra carinhosa que costumava ser dirigida a si há muito tempo. Só podia ser dele.


Hope destruiu o pergaminho e olhou através da janela para a paisagem que se descortinava à sua frente, preparando-se para mais um longo dia.


-~oOo~-


"Você, aliás, todos vocês, podem vir junto – disse o mais baixo entre pausas calculadas, fazendo um gesto com a mão para abranger os três. – E acredite, Harry Potter, você tem de vir conosco, gostando ou não, se quiser saber as notícias que temos sobre sua família."


Harry continuava de pé mesmo após o pedido do auror para que sentasse. Ele permanecia imóvel, tentando digerir a informação de que os Dursleys estavam entre a multidão que sofrera um suposto atentado terrorista, segundo o que diziam as manchetes trouxas. Ele ficara inquieto com aquilo, mas ainda tentava descobrir o que estava sentindo, exatamente.


- Eles estão...?


- Mortos? – interpretou Savage - Não, apenas com alguns ferimentos e certas sequelas devido a azarações que esperamos ser facilmente reversíveis, mas fora isso, apenas um certo... estado de choque. A meu ver, e acredito que isso também já deva ter sido notado por todo o lugar, parece que eles não estão se sentindo muito confortáveis, embora não estejam em condições de fazer algo a esse respeito.


Harry sentiu o provável pingo de preocupação que pudesse vir a ter escoando pelos seus poros; o fato de passar toda a vida sendo humilhado e maltratado pelos tios não significava que queria vê-los mortos, mas não chegou a sentir uma tristeza profunda, até porque eles estavam bem, embora se recuperando dos traumas em um hospital da região.


- Mas por que toda essa vinda até aqui?


Harry finalmente viu o momento certo para se referir ao que parecia ser o subterrâneo de algum edifício que ele esperava estar localizado em um ponto qualquer de Londres, para o qual o haviam trazido.


- Só para me darem essa notícia? Seria muito mais fácil vocês me levarem logo a esse hospital - nesse ponto Harry se deteve e pensou um pouco; achava muito pouco provável que os Dursley quisessem algum tipo de ato de solidariedade dele.


Savage soltou um longo suspiro, como se estivesse se preparando para mais outra rajada de informações.


- Com esse ressurgimento inesperado... - e com essa última palavra Harry ergueu furioso o olhar "como assim inesperado?" - ...d´aquele-que-não-deve-ser-nomeado, está mais do que na hora de você nos dar seu depoimento sobre o que aconteceu naquela noite.


Harry sentiu uma leve tontura ao ter de lembrar novamente daqueles fatos, e se alienou observando mais uma vez o lugar escuro ao seu redor: estava em uma sala ampla e aparentemente circular, e a impressão que teve foi de um dèja vu ao sentir uma certa semelhança com aquela na qual estivera diante do Wizengamot poucos anos trás, por uso indevido de magia. Olhando para as bancadas de pedra semicirculares dispostas no lado oposto, ele relembrou claramente daqueles rostos severos encarando-o e, vez ou outra, um agudo "hum-hum" ecoava em sua mente. Harry fez uma careta horrível jurando que poderia ser capaz de vomitar a qualquer momento, e amaldiçoou mentalmente Scrimgeour pela ácida ironia.


Vendo-se sem muitas opções, ele finalmente sentou na pequena e aconchegante poltrona abandonada bem no centro do lugar, levemente aliviado por não se tratar de algum assento provido de correntes mágicas que geralmente se usava em interrogatórios.


Foi então que um vulto se deslocou do canto esquerdo da sala onde a pouca luz não conseguia alcançar, e à medida que se aproximava ia ganhando forma e contornos femininos. Quando chegou bem próxima, Harry distinguiu uma mulher de altura mediana e rosto emoldurado por mechas castanho escuro onduladas, controladas em um alto rabo de cavalo. Ela vestia um uniforme de tom marrom já pendendo para o vinho escuro, composto por um casaco de manga longa atado por um cinto e uma calça, cujas bainhas se escondiam nos canos de lustrosas botas pretas, recordando a Harry traje semelhante ao que vira nos alunos de Durmstrang no Torneio Tribruxo. O conjunto composto pelas roupas e seu porte rígido dava-lhe um aspecto de pesada formalidade, embora ela aparentasse ser no máximo uma década mais velha que ele próprio. A mulher parou a uma distância curta com as mãos atrás das costas e fez um leve meneio de cabeça, mirando-o com um olhar castanho escuro calmo e polido.


- Bom dia, senhor Potter. Sou Hope Short, agente auror designada para colher as informações que por ventura me dará, por ordem do Ministério da Magia. – disse ela, e embora falasse fluentemente a sua língua, Harry percebeu um sotaque semelhante ao que já ouvira em Igor Karkaroff. A moça exibia uma expressão monótona e usou uma elevação de voz que sugeria que o garoto não deveria ser o único a estar ouvindo aquele cumprimento, embora Savage houvesse se retirado sem que ele sequer percebesse.


Harry, por sua vez, só conseguia imaginar que nunca a tinha visto nas vezes em que estivera no Ministério.


"Agora que já nos apresentamos formalmente, podemos ir ao que interessa, Harry Potter."


A auror continuava a mover os lábios como se estivesse falando normalmente, porém Harry notou que seus movimentos labiais não condiziam com as palavras que havia acabado de ouvir. Ele se concentrou e percebeu que a mulher estava apenas movendo a boca como um ventríloco, mas que dela não saía som algum.


- Mas o q... – Harry esboçou uma reação, mas antes que pudesse terminar a pergunta, outro som penetrou sua mente sem antes ter que fazer todo o percurso através do aparelho auditivo, e então percebeu, assombrado, que a mulher estava se comunicando com ele unicamente através da mente.


– O que diabos você está fazendo na minha cabeça!? – ele murmurou, temendo que houvesse mais pessoas como ela escondidos nas sombras abundantes da sala.


"Não se assuste, Potter. Apenas considere este um meio mais... eficaz de comunicação, sem que possamos ser interrompidos. Costumam dizer que num lugar como este, as paredes têm ouvidos, não concorda?"


Harry a olhou admirado. Pelo que a mesma lhe dissera pouquíssimo tempo atrás, com o que agora tinha certeza que fora de modo dissimulado, embora ela claramente trabalhasse para o Ministério, era intrigante o fato de parecer não gostar de intrusões, mesmo que fossem de seus próprios colegas de trabalho.


"Sinto ter que fazer você vir aqui quando estaremos tão próximos e poderíamos poupar o meu e o seu tempo e paciência." – e sorriu com o canto da boca, para depois voltar a abrí-la e fechá-la de forma mecânica.


"Próximos?" – indagou Harry, notando que para respondê-la era necessário apenas pensar na resposta, agora certo de que a única coisa que sabia era que não estava sabendo de mais nada, e isso o irritava profundamente.


"Vai entender o que eu quis dizer mais cedo do que imagina, Potter. Mas por hora, vamos brincar de seguir regras."


"O que você quer, afinal de contas?" – continuou Harry, não fazendo questão de esconder as rugas de desconfiança entre as sobrancelhas.


"Quero saber de tudo o que veio dizer aqui hoje, ou seja, o que tem a dizer sobre os acontecimentos que levaram à morte do diretor de Hogwarts, mas não quero que tenha o trabalho cansativo de recontar."


E ao notar a expressão ainda mais arredia do rapaz, transmitiu apenas:


"Peço apenas que confie em mim. Basta apenas que se concentre nos episódios daquela noite e isso me dará um fio de pensamento que iniciará todos os fatos em sequência, e você não terá que fazer mais nada. Isto não vai demorar mais que alguns segundos."


Harry piscou. Ou estava interpretando tudo de forma absurda, ou o que ela estava sugerindo era que ele lhe desse um fio de sua mente para que ela puxasse, como se fosse um carretel de linha. Se pegou imaginando também se outros fatos que nada tinham a ver com o interrogatório também estariam inclusos no pacote. De súbito, ele a encarou momentaneamente assustado por não ter desconfiado que ela poderia estar lendo seus pensamentos naquele exato instante. Se estivesse, Harry pensou, ainda sem poder crer na idéia e com uma pitada de ódio crescente, estaria diante da segunda melhor legilimens com quem já topara na vida.


"Porquê me olha assim? Eu não posso ler seus pensamentos, pelo menos não os que não estiver disposto a me dar, se é com isso que está preocupado".


Ela transmitiu mentalmente logo em seguida, o que lhe soou como mais uma grande ironia.


"Ao contrário do que muitos pensam, a mente não é um livro aberto que se pode ler como e quando bem entender".


Após a transmissão desta última frase, Harry teve um impulso tão forte e cheio de raiva que a mulher fez um brusco movimento para trás como se houvesse sido atingida por um golpe invisível e fechou os olhos com força, pondo uma mão na testa e massageando-a, tentando suprimir uma careta de dor.


Hope lutava contra uma tontura. Por um momento, a imagem de um homem alto e pálido de feições severas, olhos negros e frios e completamente trajado de negro, fora jogada com violência em sua mente. Ele ostentava algo semelhante a ódio na face e tinha uma varinha erguida em posição de ataque. Tal invasão mental veio seguida de um nome: Severus Snape.


Nem o nome, nem o rosto lhe eram surpresa, pois tivera acesso a informações sobre os boatos da fatídica noite, principalmente no que dizia respeito às acusações feitas pelo rapaz à sua frente, que incriminavam seriamente o homem que fora arremessado em sua cabeça. Porém era preciso saber mais.


- Foi algo que eu disse? – indagou a mulher já recomposta do sobressalto, sem recorrer ao estranho poder que usara até agora.


Harry fez que sim com a cabeça, ainda com expressão raivosa.


- Você disse a mesma coisa que... – Harry hesitou, indeciso entre azará-la e perguntar se ela estava bem - ...alguém já tinha me falado, um tempo atrás.


- Peço que me perdoe, não foi minha intenção, porém terei de pedir que tome mais cuidado com seus pensamentos daqui em diante.


- Pois muito bem então – disse Harry, agora com vontade de gritar para o mundo inteiro ouvir que durante todos esses anos ele estivera certo sobre aquele cretino – Espero que vocês tenham a decência e o bom senso de me darem ouvidos agora, venha e termine o que quer que estivesse fazendo.


Hope assentiu, também ciente de todo o caso sobre o menino que sobreviveu e a recusa do mundo bruxo, particularmente do Ministério daquele país, a aceitar os alertas do mesmo. Ela voltou a buscar contato visual para voltar a se comunicar mentalmente.


"Tentaremos novamente, basta que pense no momento em que a confusão começou. O resto, deixe comigo."


Harry sentiu uma leve pressão dos dedos da auror sobre sua testa, e poucos segundo depois um verdadeiro show de imagens e vozes se descortinou dentro da mente de ambos como um filme acelerado, iniciado desde o momento em que Draco ameaçara Dumbledore na Torre de Astronomia, até o vulto do agora fugitivo Severus Snape abandonar Hogwarts juntamente com os comparsas. Após o procedimento, a sala escura voltou ao seu campo de visão tão rapidamente quanto se esvaíra, e Harry notou que a mulher tentava se recompor, passando um certo período ainda apoiada no encosto da sua cadeira, com os olhos fechados.


"Você... viu tudo?"


"Tudo o que sua mente quis me mostrar, sim." – ela respondeu, agora erguendo o corpo e voltando a assumir uma expressão contida e porte ereto, com as mãos atrás das costas - Então este é Severus Snape, suposto assassino do diretor de Hogwarts? – ela falou, e desta vez a voz não estava apenas dentro de sua cabeça.


- Suposto uma droga! Foi aquele maldito, eu estava lá, e agora você sabe!


A mulher então se aproximou novamente, pondo a mão em seu ombro.


- Já que é assim, agora temos mais um motivo para você querer me ajudar, Potter. Encontrar e capturar este homem é a minha principal obrigação.


Harry sentiu que poderia suspirar; mal acreditava no que acabara de ouvir, vindo de alguém que ele acabara de conhecer e cujo comportamento só podia ser descrito como "intrigante". Os olhos de ambos se encontraram, repletos de convicção e consentimento mútuo.


- Você é do Ministério, não? Pensei que já tivessem lhes dado motivos suficientes para trancafiar o Snape em Azkaban por uns mil anos. Vocês já deveriam saber que ele era, e sempre foi um servo de Voldemort.


- Precisávamos das informações detalhadas acerca daquela noite fatídica, Potter. Além do mais, até então, todos sabíamos que este homem havia sido inocentado das acusações de pertencer ao bando de... – Harry pensou ter sentido uma clara hesitação em falar o nome de Voldemort, embora por um instante tivesse tido a ligeira impressão de que ela havia se contido por pura precaução ao olhar de esguelha para os lados e continuar – Dele. O ministério não sabia de tudo.


"Eu não sabia de tudo", foi o real pensamento que cruzou a sua mente naquele momento.


Harry assentiu, imaginando o quão misterioso estava sendo aquele interrogatório e se perguntando de onde ela poderia ter surgido.


- O Ministério da Magia agradece a colaboração que nos prestou hoje, senhor Potter. – Informou a auror, voltando ao tom entediante de antes. Espero que com isso você não precise ser novamente incomodado depois de deixar estas instalações.


Harry ainda ficou encarando-a enquanto ela dizia as palavras finais de praxe, dispensando-o e deixando claro que eles não poderiam conversar mais nada naquele momento. Então ele apenas virou-se para encontrar com Lupin e Tonks, que voltaram a aparecer no local.


Depois que Harry saiu, Hope soltou os ombros e sua face por detrás da mão espalmada abandonou a rigidez anterior, denunciando exaustão. Ao menos agora tinha certeza sobre o que realmente acontecera com Dumbledore e saberia por onde começar, finalmente sentindo que o quebra-cabeças que ele havia deixado em suas mãos finalmente começava a fazer sentido e se encaixar.


-~oOo~-


Aquele casebre solitário afastado da cidade parecia timidamente inofensivo, ainda mais sob a coloração alaranjada de fim de tarde. Tal impressão estava incorreta, visto quem se encontrava ali dentro, no momento verificando o mais rápido que conseguia se "a droga dos feitiços ilusórios estavam bem feitos". Eles tinham de estar bem feitos. Depois do ocorrido em sua casa, ele relutava em ficar naquele local por mais tempo que o necessário, embora não por medo, obviamente. Medo era uma coisa que se negara a ter desde... desde... bem, desde muito tempo. Agora ele mudava estrategicamente de local sempre que precisava fazer algo importante. Era preciso estar atento. Vigilância constante.


Alastor Moody atravessou mancando talvez pela décima vez a extensão do pequeno aposento que não se dividia em mais de quatro cômodos. Ele simplesmente não era capaz de ficar relaxando ou lendo um jornal enquanto esperava, e verificou as horas no relógio de bolso dentro das vestes. Seu olho artificial girava em vários ângulos enquanto o normal examinava a pequena janela da salinha, esperando que a noite que se aproximava não trouxesse consigo novas calamidades. Ele começou a admitir que estava ficando tenso e isto certamente só serviria para atrapalhar as coisas, então respirou fundo e evocou a disciplina de anos de treinamento. Ele não havia chegado até ali ficando tenso.


Um estalo vindo da sala chamou sua atenção e Moody mancou até lá, observando Arthur e Tonks recém chegados através de um sinete que ambos seguravam.


- Tonks, Arthur – cumprimentou Moody, vendo o Sr. Weasley procurar aflito algo para pendurar o chapéu.


- Ora, Moody, vamos acabar logo com isso, eu estou com um pressentimento muito ruim, se quer saber. Molly, coitada, ficou reclamando que não posso sair de casa quando Harry está prestes a chegar, e se quer saber, todos estamos muito aflitos para saber como ele está. Ah, meu Merlin.


- Você está certo. Sentem-se.


Moody não mostrou interesse em imitá-los, em vez disso continuou mancando de um lado a outro da sala, procurando as palavras para começar.


- Odeio enrolações e por isso vou ir direto ao assunto – iniciou Moody, com expressão semelhante a um comandante na frente de batalha – A verdadeira guerra se iniciou depois de especulações por baixo de tapetes e pequenos embates, e nós não podíamos prever no que isso iria acabar acarretando para o nosso lado – o tom do austero auror não poderia ter sido mais claro; os pensamentos dos presentes logo se voltaram para o bruxo sacrificado na Torre de Astronomia.


Uma mão se ergueu e Moody concedeu permissão para que Arthur se pronunciasse.


- Estamos certos de que o que diz é verdade, mas... porque os outros não foram chamados para essa conversa, Alastor? Porquê só nós dois? Ele procurou apoio no olhar de Tonks, que estava mais séria do que de costume nas últimas semanas e principalmente agora, diante de seu mentor. A jovem auror assentiu e voltou o olhar para Moody.


- Pensei que nunca perguntariam – suspirou, finalmente fazendo com que seus passos desiguais levassem-no à poltrona – Não se preocupem quanto aos outros, eles saberão de tudo antes do que vocês imaginam, principalmente o garoto Potter – profetizou – Mas nesse momento em particular, para fortalecer a atitude que tomei, eu preciso contar com a discrição de vocês. Nós precisaremos de todos os poucos aurores que temos dentro daquele Ministério, agora mais ainda – Moody permaneceu em silêncio por alguns instantes e não foi interrompido, pois os outros dois ali presentes notaram que o velho combatente parecia mais sóbrio do que nunca agora. – A Ordem da Fênix precisa. – dito isso, Arthur e Tonks arregalaram os olhos, e um pouco de esperança mesclada à dúvida pôde ser visto brilhando neles – Moody se permitiu mostrar os dentes num sorriso astuto – Todos sabemos o que o velho Dumbledore diria se desistíssemos agora.


Moody olhou para as mãos de Arthur e ficou claro que ele não estava com total controle das mesmas no momento. O ex-auror não era muito bom no quesito cortesia, mas acabou conjurando um pequeno bule e três xícaras em cima da mesa de centro entre eles. A mão de Arthur já tinha voado na xícara mais próxima e agora estava batalhando para tentar fazer cair mais líquido no recipiente que no chão. Moody esperou pacientemente Tonks oferecer a sua própria xícara de forma misericordiosa, já devidamente preenchida, a Arthur. Se o Weasley já estava assim antes mesmo dele iniciar a conversa, pensou, era melhor preparar um kit de primeiros socorros.


- Ah, obrigado Tonks. Moody, desculpe o mau jeito, todos temos estado muito nervosos com tudo o que tem acontecido... pode continuar. Diga logo o que precisa tanto assim de discrição.


Moody entrelaçou os dedos, olhando para Arthur como se quisesse impedi-lo de ter espasmos.


- Bom, para começar o assunto eu preciso falar sobre alguém. Mais especificamente sobre o Ethan.


Arthur e Tonks engasgaram.


- Ethan? Aquele Ethan? – Arthur insistiu - Mas isso já foi há tanto tempo, o que tem ele a ver com esta reunião?


Moody ficou em silêncio mirando o chão, depois ergueu uma olhadela para o teto. Depois engoliu em seco.


- Bom, para começar, ele é meu irmão.


- Irmão? – Bradaram os outros dois em uníssono.


- Você nunca nos disse que tinha um irmão! – Interrompeu a voz admirada de Tonks, seguida do ruído provocado pela porcelana de Arthur se partindo em muitos estilhaços sobre o chá verde derramado no carpete.


O olho móvel do auror se manteve quase fixo nos dois por breves segundos, e ele ingeriu um bom gole de chá como que para tomar fôlego.


- Vocês nunca perguntaram. – ele respondeu simplesmente.


-~oOo~-

Hope & Sanguini 


No próximo capítulo:


"- Sabe o que isso significa, Harry? – Os irmãos viraram parra o amigo, ainda eufóricos – Ele pode sugar todo o sangue daqueles infelizes! – E se entreolharam de forma maldosa – Ele pode sugar o Snape!"


(...)


"Severus suspirou diante da aldrava adornada de ferro, esfregando o início do nariz. Então bateu na porta e se preparou de antemão para as perguntas que Narcisa certamente faria"


Nota:


Eu venho constantemente dizendo que meu plano é ser tão fiel ao livro quanto me for possível, à medida que a história for avançando, e aos poucos estou chegando lá. Ou ao menos é o que espero.

O link acima é um desenho da minha visão pessoal dos personagens Hope e Sanguini. Eu tenho várias sketches (esboços) de algumas cenas da história que gostaria de terminar, mas caso não consiga (sou muito lenta desenhando, oh God...), postarei as sketches mesmo. 


Quanto aos próximos capítulos, menos Harry e mais Snape, I promisse.

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