Inimigo oculto



Olá a todos vocês que se propuseram a ler esta fanfic!


Esta história, assim como a grande maioria de seus personagens, são de propriedade de J.K. Rowling; eu só os peguei emprestado para me divertir um pouco.


Se alguém anda acompanhando esta fanfic por aqui, deve ter percebido (ou não) que vez ou outra eu tenho feito alterações nos capítulos, e desta vez excluí alguns. Isto se deve a uma nova revisão, e ao fato de que eu decidi reestruturar a coisa toda a partir do 4º capítulo. Agora continuarei postando normalmente.


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Parte IV – Inimigo oculto


Short, preciso que reúna a equipe. Surgiu um trabalho especial para vocês.


Fora a ordem do velho Michail em uma reunião particular travada a sete chaves em seu gabinete, e o clima da conversa arrastara-se pesadamente. Assim como a maioria dos chefes mágicos, Michail Milanov sempre desconfiara que houvesse muitos ouvidos grudados pelos cantos, por isso mantinha o tom de voz controlado em volume baixo ao lhe repassar a tarefa de reforçar o contingente auror do país amigo, que agora tinha de dividir suas forças com os cada vez mais frequentes ataques ao mundo trouxa, e principalmente, tratar do caso Dumbledore.


"...E então vocês partirão para Londres dentro de poucos dias... Algum problema, Short?" – indagara o Ministro, notando a sombra passageira que provavelmente havia nublado seu semblante.


"Não... problema algum, senhor." - Foi a pronta resposta de alguém que tratava de afastar antigas e inquietantes memórias, tentando deixá-las para depois.


Mesmo após Michail deixar a sala para tratar de outros assuntos, Hope permanecera observando algum ponto do gabinete impecavelmente organizado de seu chefe, com a expressão distante.


A notícia caíra como uma bomba: em todos os países da Europa que haviam sofrido com a tentativa de expansão de domínio do Bruxo das Trevas na primeira guerra, via-se facilmente jornais cujas primeiras páginas estampavam de todas as formas possíveis o falecimento do diretor de Hogwarts.


Não era difícil concluir que as reais circunstâncias ainda permaneciam misteriosas para as massas; cada periódico mostrava em matérias de capa a sua versão dos fatos, colhidos das mais diversas fontes, e a maioria prometia testemunhos oculares da noite em que tudo aconteceu. Um ou dois deles até estampavam a foto de uma suposta testemunha em especial: o famoso “menino que sobreviveu” dera seu depoimento afirmando categoricamente que o responsável pelo assassinato do ex diretor havia sido alguém de sua inteira confiança.


Londres. Depois de tanto tempo, voltaria a pôr os pés lá.


Poucos dias depois, Hope deixava seus pensamentos a levarem longe, percebendo apenas de soslaio a paisagem correr frenética e incessantemente além da janela, desfigurando-se em meros borrões luminosos. Apesar da tremenda velocidade na qual estavam viajando, aquela deveria ser a chave de portal mais confortável do mundo mágico, pois uma vez em seu interior, mal conseguia-se notar que o nôitibus atravessava Estados e países com a velocidade do turbilhão de pensamentos nos quais divagava pela enésima vez, desde que soubera que teria de voltar à sua terra natal.


Um longo veículo roxo de dois andares se solidificou no ar a pouco mais de meio metro acima da rua de pedra batida e pousou majestosamente, sem causar ruído algum que perturbasse a calmaria sem sinal de vida àquela hora da madrugada. Apenas Hope e Sanguini desceram do nôitibus, ela envolta por um grosso sobretudo que a cobria quase que completamente e protegia do frio da manhã, enquanto que Sanguini parecia não se importar com o vento gélido roçando sua pele. O ar se condensou próximo à boca de Hope quando ela ergueu o olhar e vislumbrou parte do vilarejo de Hogsmeade, que se estendia a cerca de cem metros deles.


- Tudo ainda está como se lembra? – Quis saber Sanguini, dando uma olhada de relance na mesma direção.


- Não estou certa – ela respondeu, mais para si mesma do que para tirar a dúvida do parceiro - Já faz algum tempo desde que estive aqui, mas pelo visto logo iremos descobrir.


Ela forçou um pequeno sorriso, e os dois puseram-se a caminhar.


-~oOo~-


Mais uma vez contemplando a falsa paisagem noturna da sua janela, Rufus Scrimgeour amaldiçoava a leve tremedeira que tomara conta de suas mãos, sofrendo para acertar a sineta no meio da cera quente que selaria o pergaminho endereçado a um certo Senhor Hopkins, que apenas ambos sabiam se tratar de um nome falso para Kingsley Shacklebolt. Desde os frequentes e irritantes alertas de Moody, ele fora obrigado a perceber como estava perdendo o controle da situação: Pius Thicknesse vinha agindo de forma estranha e, segundo suas últimas fontes confiáveis, tentava formar aliados na escolha do novo diretor para a Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, pelas suas costas. Assim, sentia-se sufocado dentro de seu próprio habitat, incapaz de mover abertamente um dedo que fosse.


Agora, esforçava-se para manter-se calmo e utilizar as últimas partículas de paciência que lhe restavam, enfim selando a correspondência e atando-a à pata de um corvo, para que não despertasse suspeitas. Rufus suspirou e voltou a pensar em como seria divertido comandar outra vez um grupo de aurores. “Um grupo excepcional de aurores”, como lhe havia garantido Michaíl.


Ele tivera a oportunidade de analisar aqueles homens a seu critério quando ainda se encontrava em território estrangeiro, sendo acompanhado pelo próprio Michail. Mas “homens” era apenas um modo de pensar, já que as apresentações formais ficaram a cargo da líder do esquadrão, uma mulher magra de estatura mediana, com longas mechas castanho escuras caindo onduladas do alto de um rabo de cavalo, fazendo par com a expressão séria e altiva.


Lembrou de quando passara um olhar analítico em cada um dos membros, voltando a observar um deles em particular. Seus olhos fixaram-se na figura esguia e muito, mas muito pálida para seu gosto, prostrada bem ao lado da mulher. Aquele homem tinha uma aparência jovem e parecia ser bastante cordial apesar de todo o resto. Seu cabelo castanho avermelhado escorria pelos ombros até a metade das costas, e vestia trajes de tons negros e roxos contrastando com sua pele e cabelos. Ele ostentava um meio sorriso calmo e misterioso, e agora devolvia-lhe um olhar cor de mel, sem parecer se importar realmente com sua insistência em mirá-lo por mais tempo que o normal.


Rufus desviou o olhar a contragosto, antes que o ato pudesse ser recebido com animosidade e tratara de dar as instruções iniciais: aqueles que não foram escalados para reforçar o contingente no mundo trouxa deveriam se alojar em áreas distantes uns dos outros, no máximo em duplas, por questões estratégicas.


O Ministro não queria se importar com o fato de os forasteiros terem um tipo diferente de conduta, primeiro porque fora justamente esse o motivo que o levou a “contratá-los”, e também não queria se preocupar com o outro fato de um de seus membros ser nada menos que um vampiro, seres que sempre permaneceram e ainda permaneciam nulos até agora; quem poderia saber se eles estavam realmente nas sombras? E aquele ali parecia calmo e amigável demais para o seu gosto.


Acontece que seu subconsciente tratava de martelar seu cérebro, determinado em preocupá-lo ainda mais.


-~oOo~-


Para a maioria das pessoas em Hogsmeade, quase cinco da manhã era considerado extremamente cedo. Principalmente quando dois estranhos batem à sua porta. Corrigindo, entram pela sua porta.


As ordens tinham sido bem claras: os aurores estrangeiros deveriam se misturar à população local sem revelar sua verdadeira condição. Mesmo assim, quando Hope e Sanguini puseram os pés numa estalagem de Hogsmeade enquanto o sol ainda cogitava a ideia de se erguer, o estalajadeiro parou de organizar melancolicamente os copos e garrafas nas prateleiras e deu uma longa examinada na dupla que adentrou o estabelecimento. Assim que notou a palidez incomum, o semblante calmo e o corpo esguio de Sanguini, ficou paralisado e de olhos vidrados, deixando cair por acidente um copo de vidro, que parou seu percurso antes que chegasse ao chão e se espatifasse, voltando sozinho para seu lugar ao lado dos outros na prateleira.


Depois do movimento, Hope recolocou a varinha num bolso interno do sobretudo, olhando de soslaio para Sanguini, que apenas sorriu e deu de ombros.


Só conseguiram o tão desejado quarto depois de uma longa e cansativa abordagem sobre quem supostamente eram e de onde vieram, histórias sobre visitas a parentes, além de argumentos sobre como um verdadeiro comensal da morte não se disporia a responder metade daquelas perguntas e de como todos já estariam mortos.


- Da próxima vez, transfiguro você ou finjo que é meu criado. – advertiu Hope, desabando na única poltrona do aposento sem se importar com o estado corroído em que ela se encontrava, determinada a tirar um bom cochilo. Porém o sono não conseguiu vencer a batalha contra os pensamentos caóticos que vinham travando uma batalha em sua cabeça a noite inteira.


- E eu tenho culpa de chamar tanta atenção?


Sanguini se voltou para Hope quando não obteve resposta, deparando-se com o estado pensativo ao qual ela se entregara. Ele recostou-se na parede de frente à poltrona onde a parceira estava e cruzou os braços, ficando a mirá-la fixamente até que ela notasse a sua insistência silenciosa.


- Você está assim desde que nos incumbiram dessa missão. – Ele insistiu – Está pensando no falecido Dumbledore, que Merlin o tenha. É ainda aquela conversa, que não te sai da cabeça?


- E como poderia ser diferente, Darten? – Hope retrucou com ar irônico ao invocar o nome oficial do parceiro, coisa que só costumava fazer quando o assunto em questão era de extrema seriedade.


– Esqueceu-se que também é por causa dele que estamos aqui? Não posso simplesmente parar de pensar que há uma relação entre tudo o que ele me falou e isto aqui – ela fez um gesto aleatório indicando todo o aposento – Eu sei que há algo muito, mas muito estranho por trás desse... – por um segundo Hope pareceu agoniada com a palavra presa na garganta – falecimento, mas ainda não descobri o que é.


Ambos se calaram por um momento, enquanto Hope recordou novamente o momento no qual se encontrou pela última vez com o recente ex-diretor de Hogwarts. Era possível contar nos dedos as agradáveis ocasiões em que ele se retirava da escola e de suas obrigações para lhe fazer uma visita, e neste último encontro – cerca de um mês antes da morte -, Hope assustara-se com a mancha necrosada que havia tomado conta de uma das mãos do idoso amigo.


Diferentemente das demais vezes em que o vira pessoalmente, embora a impressão que o bruxo se empenhara em deixar fosse aquela do senhor carismático e agradável de sempre, Dumbledore parecera-lhe muito abatido e vez ou outra ela tinha a impressão de perceber uma névoa de preocupação nublando o seu semblante. Não demorou muito até a impressão se confirmar: o teor da conversa entre eles saiu do âmbito das amenidades e tomou um rumo totalmente inesperado quando ele lhe revelou uma história fantástica e macabra envolvendo horcruxes, que a intrigara na época e agora a sensação voltara pior do que nunca. Hope fechou os olhos em parte para se concentrar naqueles pensamentos e em parte porque o seu corpo já começava a exigir um descanso devido à viagem, e acabou por adormecer ali mesmo.


Sanguini continuava observando a parceira em total silêncio; ele conhecia de cabo a rabo o teor daquela conversa, porém não havia compreendido o seu conteúdo muito mais do que a própria Hope. Na época em que ela recebera a ilustre visita, Sanguini se encontrava, ironicamente, na própria Hogwarts, tratando de se safar de uma situação complicada com Horácio Slughorn, reconhecidamente aficionado por saber mais sobre a condição de seres como ele. Felizmente, conseguira contornar bem a situação ou pelo menos era isso em que queria acreditar, até descobrir aquele livro que o bruxo tanto insistia em escrever. Ao contrário de suas expectativas, o livro foi concluído e publicado mesmo após as suas fracassadas tentativas de persuadir o professor do contrário. Ao menos, para seu alívio, ele fora impresso em uma tiragem muito pequena. Sanguini tentou acalmar a si mesmo; ao menos, em meio a bruxos em geral, o assunto “vampiros” não era considerado de muita importância.


Ele foi tirado de seus devaneios ao perceber que o cansaço da viagem já tomara inteiramente a parceira, que se entregara ao sono ainda sentada na poltrona, numa posição pouco confortável. Aproximou-se dela com passos silenciosos como os de um gato e ergueu-a nos braços sem que ela movesse uma pálpebra, repousando-a numa das camas do pequeno aposento, que além daquele móvel era provido de um baú no extremo da cama onde Hope agora dormia, e de um pequeno guarda roupas. Sanguini também teve o cuidado de puxar um cobertor sobre seu corpo.


- Logo agora que eu queria dar uma olhada no estoque de sangue em pó numa dessas lojas... – comentou para o nada, olhando em seguida para cima e amaldiçoando a droga do teto por não ter vigas.


- Ótimo. Onde é que eu vou dormir agora?


-~oOo~-


“...Potter – começou Kirm, com tato, olhando de relance Tonks e Lupin, que os fitava com um quê de desconfiança na face – Precisamos que venha conosco. É um assunto de seu interesse. E urgente.”


- Você só pode estar brincando! – reagiu Harry ao entender que queriam levá-lo ao Ministério praticamente à força.


- Nós não brincamos com coisas sérias, Potter. Temos ordens expressas para voltarmos com você entre nós dois. Nymphadora – chamou Savage - é seu dever fazê-lo contribuir, sabe disso, não?


Tonks olhou para Harry e depois para Lupin, procurando uma forma de contradizer os colegas. Lupin estava pronto para dizer algo, mas Harry o interrompeu.


- Pois eu tenho a impressão de que os dois vão se meter em problemas, porque eu não sei onde está escrito que tenho que ceder aos caprichos do Ministro. Se eu fosse algum de vocês iria correndo dar o recado, e torcendo para não ser despedido. – Harry tinha acabado de passar por situações perturbadoras, estava exausto física e mentalmente e estava disposto a mandar os lacaios de Scrimgeour para algum raio que os partisse.


 Savage e Kirm se comportaram como se não lhes tivesse chegado ofensa alguma aos ouvidos.


- Você, aliás, todos vocês, podem vir junto – disse o mais baixo entre pausas calculadas, fazendo um gesto com a mão para abranger os três. – E acredite, Harry Potter, você tem de vir conosco, gostando ou não, se quiser saber as notícias que temos sobre sua família.


-~oOo~-


Severus Snape se dirigiu ao seu quarto diminuto e poeirento em Spinner´s End, enxotando Rabicho com um aceno de varinha e um ranger controlado de dentes quando passou como um raio por ele, fechando com força a porta atrás de si.


 


“Maldito rato desgraçado” – sua mente se permitiu xingar, agora que estava no último refúgio que lhe restara no mundo.


 


“Morta” – foi outro pensamento involuntário que seu cérebro atormentado lhe impôs – Aqueles olhos...


 


Severo desabou sentado na cama de solteiro coberta com um tecido já gasto pelo tempo, afundando o rosto numa das mãos abertas, como que tentando impedir aquele tormento de lhe consumir a razão. A imagem de Charity Burbage caída sem vida, olhando para ele com pupilas opacas, teimava em não abandonar seus pensamentos.


 


“Severo, por favor... somos amigos...”


 


- Aaaaargh... – ranhou, trincando os dentes com raiva, numa desesperada tentativa de se recompor, balançando a cabeça como se a imagem perturbadora da sua colega de trabalho em Hogwarts, morta pelo Lorde bem diante de seus olhos enquanto ainda olhava fixamente para si, pudesse ser arremessada para bem longe.


 


Severo parou de súbito o movimento, tentando retomar o típico controle que deveria guiar todas as suas ações e inspirou e expirou lentamente algumas vezes. Aos poucos, a antiga expressão imparcial e indecifrável do ex mestre de poções voltava ao seu devido lugar. Snape soltou um riso de escárnio para si mesmo.


 


“Amigo, hã?” – Um brilho quase louco trespassou seu olhar, enquanto o mesmo riso desdenhoso voltava a brincar em seus lábios finos – “Quem demônios iria me querer como amigo, minha cara? Triste fim...”


 


- Accio Whisky de Fogo – ordenou Snape, com a mesma voz calma e controlada de sempre. Se houvera alguma coisa que seu amado pai o ensinara, era que todas as grandes merdas da vida podiam ser afogadas em uns bons litros de álcool. O filho, agora um adulto repleto de problemas até a última partícula de sua alma, observou contemplativo o líquido que se agitava em seu interior com um misto de indecisão e desprezo, quando uma conhecida sensação de fogo em carne viva em seu braço esquerdo o trouxe totalmente à realidade presente.


-~oOo~-


BAM.


Um corpo agonizante se chocara violentamente contra o chão com todos os seus músculos numa luta desconcertante, recolhendo-se ante a dor.


- M... mas milorde... - a voz saíra quase num engasgo, colocada para fora com as gotas de suor que vazavam de seu corpo.


- Não deveria ter a audácia de se queixar - sibilou uma voz, tão afiada quanto o aço de uma lâmina - Estou sendo bastante razoável, mal considero isso um castigo, você deveria saber, não é?


Dolohov sorveu o ar em grande quantidade, embora até o ato de respirar lhe causasse dores. Amaldiçoou em silêncio o motivo de sua desgraça e praguejou secretamente de forma ainda pior o fato de não saber qual era exatamente esse motivo. De qualquer forma, realmente deveria estar agradecido. Metade do plano fora executado com sucesso, e ele não estava tendo nem um terço do sofrimento que o Lorde costumava implicar aos autores de falhas realmente graves. Porém, ele sabia que algo mais estava irritando o Lorde das Trevas; estava com plena ciência de que a notícia que um de seus comparsas viera trazer ao mestre recentemente não fora das melhores: todos os indícios indicavam que os Comensais que ele havia enviado para outro país haviam sido capturados e deveriam estar agora trancafiados numa cela repleta de magia preventiva. Não que o estado deplorável deles fosse do interesse do Lorde das Trevas, mas o contexto era péssimo, e agora ele estava ali, no chão, também pagando por isso como forma de ele canalizar a sua fúria.


- Agora, erga-se. Quero ouvir novamente a história que veio trazer até mim, Dolohov - O Comensal ergueu forçosamente a cabeça, deparando-se com a bainha da negra e puída capa de seu mestre.


O corpo magro de Voldemort se inclinou e se abaixou, ainda assim, ficando num nível mais elevado que seu servo largado no chão. Ele abaixou o braço de cores cadavéricas e tocou a parte inferior do queixo de Dolohov com a ponta da varinha, mantendo os olhos com duas fendas verticais ofídicas fixados nos dele.


- Foi... exatamente como disse, milorde – o comensal iniciou mais uma vez, tentando não perder o controle da própria voz devido ao mal estar que estava sentindo - Fomos até lá e fizemos conforme as suas ordens...


- E...? - indagou Lord Voldemort, com um tom arrastado, misturado a um inconfundível toque irônico.


- E está... estávamos nos saindo muito bem, volto a dizer, mas... mas então, eles vieram. Apareceram de lugar nenhum, eu juro... - Dolohov parou a narrativa, como se estivesse ciente de que seu mestre também tinha decorado muito bem aquela parte - e então nos vimos obrigados a bater em retirada.


Lord Voldemort tirou a varinha do queixo do Comensal com visível irritação, levantou-se e ficou de costas para o mesmo, iniciando uma lenta caminhada pelo ambiente familiarmente obscuro do aposento.


- Terei de pedir que deixe-me concluir seus pensamentos. Quer dizer que meus comensais foram atacados em plena missão... - ele se virou, lenta, perigosa e ameaçadoramente, os olhos estreitos e a boca rasgada num esgar - E sequer sabem por quem?


O Comensal fechou os olhos com uma careta e ficou esperando a próxima pontada dolorosa, que não veio. Ele abriu os olhos, surpreso pela falta de repreensão, e viu seu mestre pensativo.


- Pois muito bem - ele ouviu Lord Voldemort murmurar - Acho que terei de mandar alguém mais competente verificar isso -  Voldemort voltou seu olhar para Dolohov, com um novo meio-sorriso irônico. Dizendo isso, esticou o braço esquerdo e tocou a varinha na imagem de uma cobra enroscada em um crânio, que ao seu toque, começou deslocar-se, entrando e saindo de seus orifícios estampados como uma tatuagem.


-~oOo~-


Após um demorado banho e já enfiado em suas vestes formais, Severus abandonava seu pequeno quarto, deixando para trás uma carcaça de vidro completamente vazia, atirada na lixeira ao pé do lavabo. Pelo ralo da pia ainda escorriam as últimas gotas do líquido que uma vez a preenchera.


 


Se havia uma coisa que ele prezava em manter era a sua total capacidade de domínio sobre a própria mente, e esse vinha sendo o motivo de sua permanência insuspeita ao lado do Lorde das Trevas durante todos esses anos. Que se danasse se em seu íntimo, lá no mais profundo recanto maldito de seu ser havia um lembrete rachado e dolorido de como a sua alma estava sofrendo em frangalhos, pois era justamente assim que ela deveria permanecer, ardendo e incomodando eternamente para que ele jamais esquecesse. Não seria igualando-se àquele projeto mal acabado de trouxa que fora o seu pai, que o faria sentir-se melhor, muito menos o permitiria levar a cabo a sua missão.


 


A única coisa pela qual ele realmente se lamentava no momento era sobre como levar tal missão adiante, desta vez, total e completamente sozinho.


 


Ou não.


 


Ainda em sua apertada sala de visitas, Severo retirou uma capa de viagem do cabide de madeira próximo ao portal que levava ao quarto, vestindo-a com um rodopio ao redor de seu corpo. Rabicho reapareceu hesitante em seu campo de visão, assim que o tecido  levemente acinzentado e gasto caiu completamente sobre seu corpo.


 


- P-para onde você está indo agora? – Rabicho falava evitando olhar diretamente nos olhos indiferentes do dono da casa, e achou prudente acrescentar – Senhor?


 


Severo o olhou de cima com uma sobrancelha muito erguida assim como um dos cantos da boca, não fazendo o menor esforço para esconder o sarcasmo em seu rosto.


 


- Vou fazer o que o Mestre me ordenou... o que eu não acredito que seja da sua conta, Rabicho. Você deveria se preocupar mais em cuidar dos afazeres domésticos, deve ser esse o motivo de você estar me servindo de... – ele acentuou o tom irônico – companhia. – Sem dizer mais uma palavra o dono da casa aparatou, reaparecendo novamente com um estalo seco e o farfalhar de grama bem aparada sendo pisada. Severus olhou à frente, observando o longo e sinuoso caminho de terra que avançava pela ampla colina acima, em direção à mansão Malfoy.


 


-~oOo~-


 


Não muito tempo se passou, e um estalo foi ouvido bem ao lado de Dolohov, que agora tentava se erguer e ficar numa posição mais digna diante de seu mestre. Snape aproximou-se, completamente envolto pelas tradicionais vestes de Comensal da Morte, tirando a máscara e ajoelhando-se perante aquele que o convocara.


- Meu caro Severus, tenho um novo serviço para você.


-~oOo~-


 


No próximo capítulo:


Hope ainda gritava quando duas mãos masculinas de dedos finos seguraram firmemente seus ombros por trás, impedindo que se movesse.”


Nota:


Olá novamente!


Vocês reconhecerão alguns trechos como pertencentes à linha cronológica do 7º livro, e outros não. O plano é ser tão fiel ao livro quanto me for possível, à medida que a história for avançando.

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