A testemunha secreta



HARRY HABITUARA-SE NOVAMENTE A FAZER algumas de suas refeições na mesa da Grifinória, no Salão Principal, pois podia ao mesmo tempo ficar próximo de Gina e seus amigos, e ter contato com alguns de seus antigos professores de magia, além do que, era muito bem recebido sempre que comparecia às refeições, não só pelos alunos de sua antiga Casa, mas também pelos integrantes das demais, principalmente o mais jovens que, segundo ouvira comentários, se sentiam mais seguros com a sua presença, principalmente após uma noite em que Fawkes surgira espetacularmente no salão, vinda da abóbada encantada, e pousara suavemente ao seu ombro, para fazer-lhe companhia.
Naquela noite, um dos primeiro-anistas da Corvinal viera até ele, visivelmente aturdido e emocionado, e lhe entregara um rolo de pergaminho, onde havia um recado para que ele se encontra-se com a professora McGonagall em seu gabinete, onde o aguardavam Remo Lupin e Alastor Moody.
— É sobre a audiência com Fudge! – disse ele se levantando, enquanto dava um tapinha de agradecimento nas costas do mensageiro – Depois eu lhes conto tudo.
E dirigiu-se rapidamente até o escritório de Minerva McGonagall, onde os dois bruxos o aguardavam de pé, ao lado da lareira.
— Não percamos tempo, Potter! – disse Olho-Tonto tomando-o pelo braço – Vamos aproveitar enquanto esta lareira está liberada para viajarmos mais rapidamente e, após a sua volta, Minerva deverá desativa-la, por segurança.
— Pode desativa-la assim que partirmos, professora McGonagall – disse Harry –, tenho meus próprios meios para retornar, não se preocupe!
Os três bruxos mais velhos se entreolharam, com uma expressão mista de curiosidade e satisfação nos rostos, então, percebendo que podiam estar subestimando o rapaz de dezessete anos à sua frente, Alastor Moody largou o braço de Harry e, dirigindo-se para as chamas verdes da lareira, disse displicente:
— Nos vemos no Átrio do Ministério da Magia! – e desapareceu em meio à fumaça.
Harry seguiu-o logo após, despedindo-se da diretora com um aceno de cabeça, sendo imediatamente imitado por Lupin. Minutos depois, os três eram recebidos cortesmente por Cornélio Fudge em seu gabinete.
— Harry! Mas que prazer revê-lo! – disse o bruxo, levantando-se de sua cadeira e dirigindo-se até o jovem para apertar-lhe sua mão, como se estivesse em plena campanha política.
— Vim para saber o que Voldemort mandou que roubassem! – disse Harry secamente, enquanto retribuía o cumprimento do homem; sabia que o nome do bruxo das trevas faria com que o Ministro voltasse à cruel realidade dos recentes acontecimentos.
— B-bem... n-na verdade... eu... eu... – conforme o previsto, a pose de tranqüilidade e descontração do bruxo desmoronou instantaneamente, fazendo-o retornar à sua mesa para apanhar seu chapéu coco verde esmeralda, o qual manteve preso entre os dedos, girando-o compulsivamente a fim de disfarçar as mãos trêmulas. Harry não pôde evitar perceber que Lupin disfarçara um sorriso maroto em um fingido acesso de tosse.
— Vamos ao que interessa, Cornélio! – rosnou Olho-Tonto, afastando-se da porta e liberando espaço para que o Ministro saísse da sala, Harry seguiu ao seu lado, sendo acompanhado logo atrás pelos dois amigos.
— Na verdade, Harry – disse Fudge, recobrando o controle –, tudo leva a crer que o próprio Você-Sabe-Quem esteve aqui para... para retirar aquilo que desejava.
— Hein? Voldemort esteve aqui novamente? Mas o quê ele...
— É preciso que você entenda uma coisa, Harry: existem certos segredos que são confiados apenas ao próprio Ministro da Magia, por questões de extrema segurança, e um poderoso contrato mágico nos impede de revelar esta informação a qualquer pessoa que seja e por mais influente que possa se tornar. Estes segredos são transmitidos ao nosso sucessor, quando necessário.
— Por isso Fudge reassumiu – a voz de Moody era dura –, Rufo não teve tempo de passar suas informações vitais adiante, e Fudge já as conhecia.
O Ministro fingiu não ouvir a falta de cortesia do bruxo desfigurado, e continuou a contar os fatos a Harry, enquanto se dirigiam, pelo que o jovem pode perceber, ao Departamento de Mistérios.
“Para encurtar a estória” – continuou o bruxo – “Não haveria como Scrimgeour revelar um dos mais bem guardados segredos deste Ministério se não fosse... devidamente manipulado e, o único que poderia fazer isto, é Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado” – Harry olhou instintivamente para trás, imaginando que um dos dois companheiros que o seguiam pudessem lhe explicar o que Fudge tentava lhe dizer.
— O corpo de Scrimgeour foi encontrado ao lado de uma porta que vinha sendo mantida lacrada há séculos, no Departamento de Mistérios! – disse Lupin sucintamente, enquanto vinha à memória de Harry a imagem da suposta porta, que ele e seus companheiros da AD haviam encontrado quando estiveram naquele local, há quase dois anos atrás.
— Mas, segundo me contou Percy Weasley – Olho-Tonto continuou a explicação que Lupin havia começado –, o velho Rufo foi morto em seu gabinete, o que leva a crer que ele foi convertido em um Inferius e “convencido” a abrir a porta em questão.
— E Você-Sabe-Quem é o único bruxo conhecido que pode controlar os mortos com este feitiço maligno! – concluiu Cornélio Fudge, parando defronte à porta que dava acesso ao Departamento de Mistérios.
A porta foi aberta pelo Ministro e os quatro bruxos tiveram acesso a uma sala circular rodeada por diversas outras portas, já velha conhecida de Harry: uma delas dava acesso à câmara em que Sirius havia desaparecido.
— Ministro! – chamou Harry quando Fudge se dirigiu convicto a uma das portas e se preparava para abri-la – O que havia na sala que Scrimgeour foi obrigado a abrir?
— Não posso lhe dizer, Potter! – limitou-se a responder o velho bruxo.
— Mas, de que forma poderá me ajudar se não revelar o que foi roubado?
— Não é que eu não queira lhe contar, Potter, eu realmente não posso faze-lo: faz parte do contrato mágico que lhe falei! – explicou o bruxo – Mas, posso lhe mostrar a sala e, daí você poderá tirar suas conclusões! – e empurrou a porta, abrindo espaço para os demais entrarem antes dele.
O local ao qual tiveram acesso era imenso, com toda certeza uma enorme dose de magia fora necessária para embutir, naquilo que deveria ser apenas mais uma sala dentro do Ministério da Magia, um cenário tão magnífico e grandioso: o ambiente fora todo construído em rocha sólida, como se fosse uma caverna de abóbada imensa, todo seu contorno era esculpido na pedra e, a curtos espaços se erguiam, aqui e ali, pequenas erupções rochosas, que faziam com que fosse impossível olhar diretamente de um ponto ao seu extremo no aposento sem ser obstruída a visão por uma destas formações rochosas.
Harry avançou, com certo receio, pelo solo pedregoso e, a julgar pelos ossos de animais que jaziam no chão a cada metro, podia-se concluir que ali fora o lar de alguma criatura letal, durante um bom período. Um pouco adiante, o rapaz pode certificar-se, consternado, de que uma boa parte das elevações rochosas não tinham um formato natural, mas parecia que tinham sido esculpidas figuras humanas nas mesmas e, num ponto bem ao alto, mais distante, havia uma pequena reentrância na parede de rocha, como uma pequena gruta, onde a concentração de ossos ao seu redor era maior, como se fosse o ninho de tal criatura.
— Fique sossegado, Harry – acalmou-o Lupin –, seja o que fosse que vivia aqui, se foi: não há perigo!
Não completamente tranqüilo, o rapaz começou a passear por entre as diversas estátuas existentes no local, sob o olhar impaciente de Cornélio Fudge, que se mantivera estático ao lado da porta de entrada.
— Vai achar esta aqui muito interessante, Potter! – gritou Moody, dirigindo-se a uma formação existente mais à esquerda do caminho que o garoto seguira.
Harry se aproximou do local que o ex-auror indicava e soltou uma imprecação:
— Dolores Umbridge! O que significa isto? Uma estátua da Umbridge... aqui?
— Temo que não seja apenas uma estátua da velha Umbridge, Harry! – alertou Lupin – Na verdade, temos certeza de que se trata da verdadeira ex Alta Inquisidora de Hogwarts!
— Como assim? Petrificada? – perguntou o jovem.
— Se estivesse petrificada nós poderíamos faze-la voltar ao normal, Potter! – disse Olho-Tonto com uma voz gutural – Não, ela realmente foi transmutada em rocha! Ela e todos os outros que se encontram aqui!
— Mas... será que... Voldemort fez isto? – avaliou o bruxinho.
— Não ele, Harry – Lupin tinha a voz cansada –, mas aquilo que ele libertou, e para ter certeza do que levava, ele entregou sua seguidora para um “teste”.
— Então é certo que Umbridge servia ao Voldemort?
— O próprio Percy Weasley me confirmou isto: foi ela que lhe lançou a Maldição Impérius. – explicou Alastor Moody.
Harry voltou-se para o Ministro da Magia e estudou sua fronte, aquele era o único homem que realmente sabia qual a terrível criatura que havia sido libertada por Voldemort, mas as implicações existentes para garantir a ”segurança” de tal mistério o impediam de lhe revelar a verdade: só restava agora a ele, tentar descobrir que tipo de coisa habitara aquele lugar, e qual papel esta criatura teria nos planos de Lord Voldemort.


Nos dias seguintes, Harry não saiu da masmorra de Gryffindor, tendo passado a maior parte do tempo estudando o livro de magia no Monte dos Imortais. Gina, Rony e Hermione o visitavam com freqüência, deixando-o a par do que acontecia no mundo exterior, aproveitando também para discutir as últimas novidades trazidas pelo amigo, do Ministério da Magia.
— Oras, era um Basilisco, é claro! – opinou Rony, olhando incrédulo ao seu redor, como achasse inacreditável que somente ele tivesse encontrado a resposta.
— Rony, os Basilisco ou matam a pessoa, ou a petrificam, se esta tiver um contato indireto com seu olhar. – explicou Hermione – Umbridge e as outras pessoas da sala do Departamento de Mistérios foram realmente transformadas em pedra, segundo Harry nos contou, e, para este tipo de transformação não há volta!
— Além do mais – completou Gina –, se a gruta que Harry disse existir no alto do lugar fosse realmente o ninho da coisa, ela precisaria de asas para chegar até lá!
Como Harry já não se interessasse mais por aquele assunto, tendo levado ao extremo sua imaginação para tentar desvendar mais este mistério, a ruivinha aproximou-se dele para açula-lo:
— Aquela carequinha mimada anda doidinha atrás de você! – disse, com sua habitual ironia, enquanto apoiava a cabeça no colo do irmão, que estava largado na cama de Harry, observando este examinar os restos do Diário de Tom Riddle, que pedira a Dobby para lhe devolver – Ainda bem que ela não sabe como passar pelo portal da masmorra, já vimos ela várias vezes rondando pelo corredor da velha vidente!
— Ainda não quer conversar sobre o que pensa desta garota, Harry? – intimou Hermione, levantando as sobrancelhas exageradamente – Gostaria de ajuda-lo com isso.
— Acho que ela está apenas preocupada com a avó! – respondeu ele, entretido em enfiar o diário recuperado no buraco do Chapéu Seletor – Mas, se quer mesmo me ajudar, poderia parar de enrolar a Gina e emprestar o seu gato para nós treinarmos um feitiço inacabado.
— Não consigo encontrar o Bichento ultimamente e, a última vez que cruzei com ele, o danadinho acabou fugindo quando me viu. – desculpou-se Mione, envergonhada.
— Mas que idiota tenho sido! – disse Gina, desferindo um violento tapa na própria testa – Me empresta o Mapa do Maroto que eu o acho e vou busca-lo. – e a garota levantou-se de um salto e avançou até a outra extremidade do aposento, onde jazia o malão cheio de tralhas do namorado.
Rony sentou-se para dar espaço para Harry na beirada da cama, enquanto Hermione se aconchegava carinhosamente em seu colo. O garoto da cicatriz admirava fixamente o chapéu mágico que acabara de depositar sobre um móvel
— Você parece o Você-Sabe-Quem, com os seus troféus... – disse Hermione, analisando-o.
— É... temos muita coisa em comum... – respondeu, já habituado à sinceridade da amiga.
Os três ouviram Gina, que havia se sentado no chão e aberto o mapa sobre o colo, emitir um sussurro quase inaudível:
— h-a-r-r-y...
— O que?
— h-a-r-r-y... – ela estava branca e imóvel.
Harry levantou-se de um pulo e começou a olhar à sua volta, tentando achar Snape escondido em algum canto, mas ela não estava paralisada, seu corpo tremia todo e sua mão apontava para o mapa. Os três se aproximaram dela e viram, no pergaminho, na direção em que seu dedo indicava, a legenda rebuscada mostrar o seguinte nome: Pedro Pettigrew.
— Impossível! – gritou Hermione.
— Perebas! – assustou-se Rony – Mas, como pode?
Harry arrancou o mapa da mão da amiga, chegando quase a encostar os óculos no papel para ter certeza no que estava vendo.
— Está na Sala Comunal da Sonserina! – falou ele, finalmente.
— Aquela vaca! Aquela vadia! Aquela vagabunda! – Gina recuperou a cor do rosto, a voz e o gênio terrível, todos ao mesmo tempo.
— Ela nos enganou, Harry... a Michelle! – Hermione também estava indignada – Fez um teatrinho para nós, fingindo que matara o Rabicho!
— Ah, mas aquele rato miserável não escapará outra vez, isso eu juro! – disse Harry, largando o mapa e desferindo um poderoso chute no malão que repousava no chão.
— Temos que dar um jeito de entrar na Sala Comunal da Sonserina... de novo! – disse Rony, colocando uma das mãos no ombro do amigo para acalma-lo.
— Sim, mas antes vamos detonar aquela... aquela... piranha! – opinou Gina, com dificuldade para encontrar novos adjetivos para classificar a ex-aluna de Beauxbatons.
— Sabia que não podia confiar naquela carequinha! – disse Rony, sob o olhar incrédulo das duas.
— Vamos falar com a McGonagall, ela é diretora e tem acesso a todas as casas! – sugeriu Hermione.
— Isso! Isso mesmo! – disse Harry apontando o dedo indicador em direção à amiga – É isso mesmo que temos que fazer... por isso ela queria tanto a horcrux da avó... duvido que era para destruí-la... como pude ser tão idiota?
— Não se censure – disse Rony, com um ar superior -, ela enganou a mim também!
— Como se isto fosse alguma novidade, seu retardado! – impacientou-se Gina.
— Calma pessoal, vamos manter a calma! – Harry conseguiu controlar os dois – Temos que agir rapidamente e, o primeiro passo será trazer a diretora até aqui. Não sei o que seria capaz de fazer se cruzasse com aquela falsa pelo caminho.
Todos concordaram e passaram a discutir qual seria a melhor forma de encurralar a dupla de seguidores do Lord das Trevas que agia sob os narizes de todos há tanto tempo.


Mal havia sido disponibilizada uma pequena fresta, pela abertura da ostentosa porta, e dois exemplares felinos invadiram rápida e decididamente a Sala Comunal da Sonserina: à frente seguia um gato de cara achatada e pêlo felpudo e amarelado e, logo atrás, um exemplar fêmea de pêlo curto e singulares riscos ao redor dos olhos, que lembravam os aros de um óculos; um pouco mais atrás, oculto por sua capa da invisibilidade, Harry Potter caminhava lépido, não querendo perder os dois acompanhantes de vista.
Logo o rapaz percebeu que o cuidado de se manter oculto era desnecessário, pois a ampla e magnífica sala se encontrava completamente deserta, com toda certeza por se tratar de horário letivo e todos os alunos estarem ocupados com suas aulas. No lado oposto à porta de entrada, havia uma enorme lareira, cercada por diversos sofás e poltronas bastante confortáveis, e ladeada por dois corredores largos, que certamente faziam o acesso aos dormitórios masculino e feminino. O bruxo viu Bichento derrapar ligeiro, com suas pernas arqueadas, em direção ao corredor da esquerda, passando entre duas armaduras ornamentais que empunhavam pesadas espadas em riste, mantendo uma espécie de sentinela de cada lado da passagem.
Harry avançou decidido no encalço dos seus batedores, mas, subitamente... PLAFT!!! As duas armaduras haviam baixado as espadas em perfeita sincronia, a fim de evitar a passagem do garoto, fazendo com que ele se chocasse violentamente contra os artefatos e caísse estatelado para trás. O garoto levantou a cabeça, ainda atordoado e, então, lembrou-se: aquele deveria ser o corredor que levava ao quarto de Michelle, o dormitório feminino da Sonserina e, como todos dormitórios femininos, em todas as quatro Casas, havia feitiços de proteção para impedir que fossem invadidos pelos meninos.
“Miaaaauuuu!” – ele ouviu a gata, que havia parado na soleira ao final do corredor, se pronunciar, ao que as armaduras levantaram as espadas imediatamente, liberando a passagem ao garoto, já despido de sua proteção mágica, e que seguiu rapidamente no encalço dos bichanos.
Ao, finalmente, conseguir entrar no aposento localizado no final do corredor, Harry deparou-se com uma violenta disputa de vida ou morte: Bichento, que se encontrava sobre um malão que tinha as iniciais de Michelle Bentley gravadas em ouro, deu um salto espetacular em direção a uma enorme ratazana, que possuía uma de suas patas dianteiras prateada, e que correra desesperadamente de dentro do malão, tentando alcançar o vão estreito existente entre um antigo armário e o chão, mas o decidido felino caiu sobre ele, fincando suas garras afiadas em suas costas. O rato soltou um guincho desesperado e já sentia o hálito quente do predador em seu cangote, quando a gata de pêlo curto aplicou-lhe um violento tapa, arrancando-o das garras do outro e atirando-o sobre uma das camas de colunas próxima.
Mas Bichento não se deu por vencido e, demonstrando uma agilidade impressionante, saltou novamente por sobre a gata que lhe atrapalhara o bote e caiu pesadamente sobre a cama, com a bocarra extremamente aberta sobre o pescoço do apavorado roedor.
— ARRE!!! – com um forte estampido, Rabicho se transfigurou, re-assumindo a forma humana e, desesperadamente, arrancou o animal que cravara suas presas em seu pescoço e o atirou o mais longe que pôde, percebendo logo em seguida, que o terrível predador caíra graciosamente aos pés de Harry Potter, que permanecia estático junto à porta de entrada, observando a cena. O animago, ao reconhecer o garoto, enfiou a mão instintivamente dentro de suas vestes, arrancando de lá a sua varinha, mas um novo estampido se fez ouvir às suas costas, seguido de uma voz feminina e firme:
— Ah! Não mesmo! – disse Minerva McGonagall, já transfigurada também em sua forma original e, com sua varinha apontada para as costas do Comensal da Morte, ordenou: - Encarcerous! – e o bruxo das trevas teve seu corpo completamente envolvido por cordas bem atadas, ficando apenas sua cabeça à mostra. Bichento o olhava desconsolado.
— Harry! – disse o bruxo das trevas amavelmente, após um desesperado esforço para livrar-se das amarras – Que bom vê-lo novamente! – disse, como se tivesse re-encontrado um grande amigo que não via há muito tempo – Como você cresceu... e está...
— Cale a boca! – gritou Harry, apontando sua varinha ameaçadoramente para o espaço existente entre os dois olhos do bruxo.
— Calma Potter! – disse a diretora – Ele está sob controle, não conseguirá escapar. – e, dirigindo-se para a porta do dormitório – Vou providenciar para que a Srta. Bentley não chegue inesperadamente e crie algum problema... não sei por quanto tempo seus amigos conseguirão distraí-la! Se precisar de mim, estarei na Sala Comunal.
Após a saída da professora, um pesado silêncio instalou-se entre os dois bruxos, durante o qual Bichento saltou em cima do corpo preso por cordas que jazia sobre a cama e começou a cheira-lo.
— Você não fará mal a mim, fará Harry? – finalmente o bruxo traidor quebrou o silêncio.
— Não espere a clemência que lhe dediquei da última vez, Pettigrew. Desta vez você pagará pelos seus crimes.
— Mas eu posso ajuda-lo, Harry! Sei de coisas sobre o Lord das Trevas que ninguém sabe! Podemos fazer um trato! Você me protegerá... não do Ministério ou da Ordem da Fênix... mas do Mestre... ele me matará se eu for capturado... achará que eu contarei aquilo que sei...
— Não acredito no que diz, Pettigrew! E não acredito que tenha alguma informação que me interesse! Na verdade... – e sua expressão se tornou selvagem –... tenho treinado uma maldição com a qual pretendo matar o Voldemort e... nada melhor do que testa-la em você... para ter certeza que funcionará... quando precisar. E assim, também evitarei trabalho desnecessário ao Ministério!
— Por Merlin, não! Por favor, Harry, eu posso ajuda-lo! – o homenzinho miúdo e com feições de ratazana estava apavorado – Sei que você tem juntado os horcruxes do Mestre, assim como ele também sabe, mas tem uma coisa que apenas eu e o Mestre sabemos, e que será de sumária importância para você, Harry, se um dia chegar a enfrenta-lo!
— E o que seria este segredo tão importante que Voldemort só contou a você, seu mais fiel seguidor? – debochou o rapaz.
— É... é sobre... – e o bruxo pareceu momentaneamente arrependido de sua oferta, mas, aparentemente relembrando que sua situação era crítica, resolveu continuar – É sobre a última horcrux que ele criou... aquela que se tornou a sétima parte de sua alma... contando com a que ele carrega em seu próprio interior... ela... ela não foi criada com um objeto precioso como as demais... posso lhe contar... se prometer que me protegerá...
— Se está falando da horcrux que foi criada na cobra Nagini, está perdendo seu tempo: eu já sei! – disse em tom de triunfo.
— Nagini? – admirou-se o bruxo, e, balançando negativamente a cabeça – Harry, por que razão o Lord das Trevas colocaria uma parte de sua alma em um animal estúpido que, mesmo que não fosse destruído por alguém, um dia deixaria simplesmente de viver, levando com ele uma coisa tão preciosa? Não, Harry, Nagini não é uma horcrux... mas eu sei o que é!
Harry deu a volta lentamente na cama, continuando a apontar a varinha para Rabicho, aparentemente analisando as palavras do bruxo e considerando a possibilidade dele estar falando a verdade.
— Está bem, Rabicho! – disse ele finalmente – Vamos fazer um trato, você me dá algumas informações que eu preciso saber, e eu te darei proteção contra o Voldemort!
Pedro Pettigrew soltou um suspiro de alívio, enquanto procurava desviar o rosto do focinho do bichano que insistia em cheira-lo, então começou a falar, e Harry, como que hipnotizado pelas informações que o outro lhe transmitia, olhava para o rosto daquele ser repugnante cada vez com maior espanto e incredulidade.
Enquanto isto, na Sala Comunal da Sonserina, Minerva McGonagall observava a porta principal abrir-se estrondosamente.
Michelle Bentley, a sextanista calva que viera da Beauxbatons para estudar em Hogwarts, entrou ofegante na Sala Comunal da Sonserina empunhando ameaçadoramente sua varinha, quando deparou com a diretora Minerva à sua frente, também de varinha em punho.
— McGonagall! – exclamou ela, contendo imediatamente seu ímpeto de desembestar em direção ao dormitório – Então eu estava certa: aqueles pirralhos descobriram meu segredinho, por isso tentavam me distrair! Estão estuporados lá atrás... todos os três... e você será a próxima, minha velha professora... você nunca foi páreo para mim!
— M-Michelle? – balbuciou a mulher, confusa.
— Oh-oh! Então não percebeu ainda, McGonagall? Realmente, este corpo jovem tem lá suas vantagens!
— M-Margot! Margot Smith! É você? O que fez com... com sua neta?
— Ah! Sempre tão humana, McGonagall! Sempre tão preocupada com os outros! Mas não se preocupe com Michelle: como minha descendente, como descendente de uma das mais fiéis seguidoras de Lord Voldemort, ela deve estar muito satisfeita de servir aos meus propósitos!
— Você... você fundiu sua mente à mente de sua própria neta, Margot! Como pôde fazer algo tão mesquinho com o seu próprio sangue? Você terá o direito a uma nova vida... mas... e Michelle? Não tem o direito à própria vida?
— Não seja tão puritana, McGonagall! Além do mais, ela é uma mentalmaga, como eu e, no estado de semivida em que eu me encontrava, apenas poderia me unir a alguém que também tivesse os mesmos poderes que eu.
— Não pense que ficará impune, Margot: seu rato já foi capturado e você será a próxima!
— As coisas não serão como imagina, minha velha professora! – e um clarão azulado jorrou de sua varinha em direção à sua oponente, mas a ex-diretora da Casa Grifinória conjurou um feitiço escudo bem a tempo, contra-atacando com um raio avermelhado, que também foi defendido pela bruxa das trevas. Uma violenta batalha se desenrolou na seqüência, deixando suas terríveis marcas nas paredes e mobília do glamouroso salão, até que, após um feitiço executado por Margot Smith, em que vários objetos da mobília se arremessaram contra a velha animaga, esta se distraiu por uma fração de segundo, enquanto repelia um tapete que tentava se enrolar no seu corpo, e foi atingida em cheio por um feitiço estuporante que a atirou contra a parede ao lado da lareira e fê-la cair de borco ao chão: desfalecida.
Enquanto isto, no dormitório feminino, Rabicho havia acabado o seu relato. Harry o observava calado, visivelmente abatido e atordoado.
— Você está mentindo! – ele desabafou, finalmente – Só pode estar mentindo! Como vou saber se é verdade?
— Vai ter que acreditar em mim, Harry!
O rapaz tornou a andar novamente de um lado a outro pelo aposento, impaciente, mas, de repente, sua expressão se aliviou, demonstrando que ele tivera uma idéia.
— Tem outro jeito, Pettigrew! – disse, debruçando-se sobre o outro e encostando a varinha em sua fronte – Tem outro jeito: me passe a sua lembrança... a sua lembrança do dia que aconteceu tudo isto que me contou!
O bruxo das trevas pensou por um breve instante e, logo em seguida, concordou com a cabeça, aparentemente convicto de que tudo o que dissera era verdade.
Harry girou a varinha próximo à têmpora do animago e retirou, grudada à sua ponta, um fino fio prateado e com textura de seda e o depositou dentro de um frasco que conjurara na outra mão.
— Vou ver sua estória na penseira e, se for mentira, não haverá perdão, você morrerá! – ameaçou enquanto enfiava o frasco nas vestes, os olhos fixos no bruxo amarrado que, a muito custo, conseguira sentar-se à cama.
— Você não viverá para conferir nada, Potter! – disse uma voz feminina, vinda da porta do corredor – Crucio!
Harry sentiu uma dor terrível percorrer seu corpo, era como se cada um de seus nervos ardesse em brasa, ele caiu de joelhos ao chão, largando a varinha que empunhava e, em seguida, tombou de lado, contorcendo-se em dor, com as costas apoiadas na cama em que Rabicho assistia inerte à sua tortura.
— Você morrerá, Potter! Será o meu presente de retorno a Lord Voldemort! Mas sentirá muita dor antes, por ter me feito perder tanto tempo neste lugar miserável!
Então um bólido cor-de-laranja atravessou o aposento pelo ar e cravou suas unhas afiadíssimas no rosto da bruxinha possuída, fazendo com que ela se desequilibrasse e perdesse o contato mágico com Harry. Mal o rapaz se levantara, ainda grogue pela dor que lhe fora impingida, e viu o valente Bichento ser atirado violentamente contra uma parede e cair inerte no chão, mas tendo deixado quatro profundos cortes de cada lado do rosto de seu algoz que, tão logo discerniu a figura de Harry em pé à sua frente, apontou a varinha em sua direção e gritou:
— Avada Kedavra!

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