Na Cidade-Luz



HARRY DORMIU ATÉ TARDE NO DIA SEGUINTE e, quando se levantou, pediu que Dobby avisasse a Hermione, Rony e Gina que se encontrassem com ele na cabana de Hagrid, dirigindo-se então para a casa do amigo. Porém, quando ainda se encontrava no saguão do castelo, encontrou-se com Lupin, que não participara da festa da noite anterior, por ser a última noite de lua cheia e, como sempre acontecia nesta época, o ex-professor estava com uma aparência péssima.
Após trocarem umas breves palavras sobre o estado atual da guerra que se vivia contra as forças das trevas, Harry aproveitou para comentar um fato ocorrido recentemente:
— Lupin! Uma noite destas vi um animal estranho na orla da Floresta Proibida, Hagrid me disse que era um Patrono, não sabia que eles existiam além do feitiço que me ensinou para enfrentar Dementadores, e tem mais: eu o vi na forma de um cervo e Hagrid disse que ele tinha a forma de um dragão.
— Dumbledore me falou sobre eles quando eu freqüentava Hogwarts como aluno, ele era professor de Transfiguração e me deu algumas aulas particulares, eu tinha muitos problemas com Transfiguração, se é que me entende! – respondeu-lhe bastante interessado – A criatura que você viu é muito rara e costuma aparecer nas épocas em que ocorre um desequilíbrio favorável à disseminação do mal. O que você tem que entender, Harry, é que o universo vive em perfeita harmonia e equilíbrio: para existir o forte tem de haver o fraco também, para existir a caça é necessário o caçador, para se enaltecer o belo tem de existir o feio, e assim por diante. Isto ocorre também com o bem e o mal, que devem estar sempre proporcionalmente equilibrados para que uma categoria não se sobreponha à outra. O Patrono é o inimigo natural do Dementador, ele é o seu oposto, é assim que é mantido o equilíbrio entre estas espécies, quando você convoca o feitiço do patrono, é esta criatura que você viu que empresta o poder benigno para combater o mal que o Dementador procura espalhar, Dumbledore disse que sempre existirá um por perto quando você precisar, e quando o mal passar a dominar, ele aparece para se alimentar.
— Quer dizer que o Patrono se alimenta da... maldade?
— Exatamente! Da mesma forma que um Dementador suga tudo de bom que existe em você, deixando-lhe somente os piores pensamentos, o Patrono suga toda a maldade que encontrar para se alimentar.
— E porque ele toma aparências diferentes?
— Ninguém conhece sua verdadeira forma, ele assume aquilo que você sente no seu interior, geralmente a mesma forma do seu patrono, aquele que você convoca em seu feitiço. Gostaria de lhe dar mais informações sobre essa espécie, Harry, mas é somente o que sei.
— Certo! Bem, então eu vou indo...
— Harry, na verdade existe mais um motivo para eu ter vindo a Hogwarts hoje. – confessou Lupin, enquanto olhava dissimuladamente ao seu redor, verificando se estavam realmente sós.
— Sim? – interessou-se o garoto – Aconteceu alguma coisa?
— Bem, na verdade, Olho-Tonto e eu temos tentado convencer ao Fudge... ele é o Ministro da Magia novamente... você sabe... O que ocorre é o seguinte: como sabe, os Comensais da Morte abandonaram o prédio do Ministério poucos dias após o assassinato do Scrimgeour e... no período em que tiveram livre transito em suas dependências, eles tiveram acesso a certos locais e segredos que... bem, nós acreditamos que possam dizer respeito a você.
— Como assim? Havia alguma coisa a meu respeito no prédio do Ministério?
— Bem, não exatamente a seu respeito, mas, da mesma forma que você está empenhado em encontrar meios de derrotar ao Lord Voldemort, pode ter certeza de que ele também está se prevenindo contra uma possível investida sua e... após alguma resistência do Fudge, conseguimos que ele concordasse em recebe-lo no Ministério e deixa-lo a par do que possa ter sido... roubado naquele período.
— Roubado? Voldemort mandou que roubassem alguma coisa do Ministério?
— É difícil para eu falar sobre isto, Harry, pois não possuo a informação para lhe passar, mas gostaríamos, Olho-Tonto e eu... ele é o novo líder da Ordem da Fênix agora... você sabe... bem, gostaríamos que você fosse ter com o Fudge... ele está cheio de melindres agora que reassumiu... temos que aproveitar enquanto está disposto a colaborar.
— Por mim, tudo bem, Lupin! Quando poderemos nos reunir com ele?
— Vou entrar em contato com o Moody, e te procuro mais tarde, está bem?
O bruxinho concordou com a cabeça, enquanto uma conhecida figura de cabelos cor-de-rosa se aproximava da dupla e enlaçava Lupin pela cintura.
— Tudo bem, Harry? Sinto cheiro de segredinhos! – ela metarmofoseou seu nariz para que se parecesse com o de um cachorro.
Harry cumprimentou-a com um sorriso, despediu-se dos dois e foi para a cabana de Hagrid, onde, pouco depois os três alunos da Grifinória juntaram-se a ele.


— E a Fawkes, está bem? – preocupou-se Hagrid, após ouvir juntamente com os demais, a aventura vivida a pouco pelo rapaz.
— Está ótima! Só preciso que me arranje alguns vermes para alimenta-la.
— Pois eu tenho exatamente o que você precisa! – respondeu o grandalhão com enorme satisfação, dirigindo-se para a porta dos fundos – Vou buscar para você, fiquem à vontade, eu não entendo muito bem o que é esta coisa que você destruiu, mas sei que esta fênix foi uma heroína, e deve ser tratada muito bem.
— Harry... – começou Hermione pensativa, após a saída do meio-gigante –... tem alguma coisa que não se encaixa nesta estória... – mas foi interrompida por leves batidas à porta.
Rony abriu a porta e deixou Michelle entrar, após receber um beijo no rosto da garota, o que causou uma expressão de desagrado em Hermione.
— Tonks me disse que viu vocês vindo para cá! – disse ela, enquanto também aplicava um beijo em Harry – Estão conversando sobre a busca da próxima horcrux? Vovó tem se mostrado ansiosa para resgatar a dela!
Houve uma breve troca de olhares entre os quatro amigos, no que Harry se manifestou:
— Sim, falávamos sobre isso e... acho que temos de aproveitar este breve momento de calmaria para irmos atrás dela... alguma sugestão?
— Bem, temos de ir à Paris... podemos viajar rapidamente pelas lareiras... a professora McGonagall teria de liberar uma das que existem aqui em Hogwarts!
“Harry!” – sussurrou Hermione entre dentes, sinalizando com a cabeça que queria ter com o rapaz em particular.
— Creio que isto não será problema. – respondeu o bruxo, ignorando o apelo da amiga.
— Acho que nós dois seremos o suficiente desta vez. – continuou a sonserina – Não haverá feitiços guardando estes objetos.
“Harry!” – agora era Gina que imitava o gesto de Hermione, batendo levemente um dos pés no chão, em sinal de impaciência.
— Está acontecendo alguma coisa? – perguntou Michelle, percebendo a movimentação das duas garotas.
— Não está acontecendo nada, Michelle. – tranqüilizou-a Harry – Neste caso, acho aconselhável irmos todos nós, – disse, circulando o dedo em direção aos demais em seu redor – encontre-se conosco após o almoço no escritório da diretora e tudo já estará acertado!
— Mas, realmente não vejo necessidade de... – a garota tentou insistir, mas foi interrompida pelo bruxo:
— Iremos todos nós, Michelle!


Durante o almoço, no Salão Principal, Gina e Hermione ficaram caladas e emburradas durante a maior parte do tempo, cochichando às vezes entre si sobre o fato de Harry nem se dignar a ouvir a opinião das duas a respeito da “destruição” da horcrux falsa de Ravenclaw, e só desistindo da greve de silêncio ao concordarem que, pelo menos desta vez, todos os três integrantes do seleto grupo daqueles mais próximos de Harry estavam incluídos na missão.
— Michelle esteve sob controle da Maldição Impérius e se libertou... a avó dela foi assassinada por Voldemort e... ela matou o Rabicho! – disse ele quando ainda se encontravam na cabana de Hagrid – Elas cometeram um erro natural... o próprio Dumbledore foi enganado por uma horcrux falsa... não importa o que digam: Michelle goza de minha inteira confiança!
— É, assim como o Snape gozava da completa confiança do professor Dumbledore! – ironizou Gina com empáfia.
Após terminarem a refeição, as duas garotas seguiram juntamente a Harry e Rony até a estátua da gárgula que dava acesso ao escritório da diretora. Durante o trajeto, a caçulinha Weasley tomou uma das mãos d’O-Menino-Que-Sobreviveu e caminhou assim com ele durante algum tempo.
— Apesar de não concordar com a sua atitude, saiba que confio no seu instinto, Harry! – disse ela e, enlaçando-se ao pescoço do rapaz, aplicou-lhe um beijo arrebatador – Não se deixe enganar!
O bruxo deu um sorriso amarelo para a garota e, após dizer a senha para liberar a passagem, desvencilhou-se amavelmente da menina e seguiu ao lado de Rony.
— Vocês voltaram, não é? – perguntou o ruivo.
— É, parece que agora todo mundo sabe.


Após alguns minutos, em que Harry conseguiu convencer a professora McGonagall a liberar a lareira de seu escritório para que o pequeno grupo fizesse sua pequena excursão, Michelle entrou no gabinete e, após deixar transparecer uma breve expressão de insatisfação ao perceber o trio ao lado de Harry, disse:
— Tudo certo? Podemos ir?
— Sr. Potter! – interrompeu a diretora antes que o rapaz pudesse emitir qualquer som – Não sei como fui me deixar convencer a permitir esta aventura tão perigosa! O senhor tudo bem, não é mais um aluno de Hogwarts... e... as Srtas. Granger e Weasley estão bem preparadas para se defender, pelo que já fiquei sabendo, e... o Sr. Weasley... bem... o Sr Weasley é um... Weasley! – continuou tropeçando nas próprias palavras – Mas a Srta. Michelle... Olímpia jamais me perdoará se acontecer alguma coisa a ela!
— Também sei me defender, diretora! – replicou a carequinha – Além do mais, apenas estarei retornando à minha própria casa!
Como tudo que pudesse ser dito já o tivesse sido feito, Minerva McGonagall resignou-se a observar os cinco jovens adentrarem de mãos dadas, um a um, na lareira de seu gabinete, liderados por Michelle, e desaparecerem logo em seguida em meio a uma nuvem de fuligem esverdeada.
Quando Harry, que ainda mantinha uma das mãos segura por Michelle e a outra por Gina, conseguiu fixar os olhos na imagem do recinto que aparecera ao seu redor, tão logo saíra da lareira da residência dos Bentley, pôde perceber que se tratava de um ambiente bastante suntuoso e ostentoso: estavam em uma sala imensa, ladeada por dois ramos de escadarias em semicírculo que subiam provavelmente para os dormitórios no andar superior, era muito farta em tapeçarias, móveis e adornos, e profusos raios do sol da tarde invadiam o lugar, por entre algumas brechas existentes nas cortinas.
— Meu pai guardava seus valores no porão, numa espécie de cofre. – anunciou Michelle, e dirigiu-se para um pequeno lance de escadas que descia a um canto mais escondido da sala, arrastando Harry, que ainda mantinha seguro pela mão: propositadamente, Gina também não se desvencilhara do namorado, mantendo-se os três pateticamente unidos.
— Vou precisar das minhas mãos agora! – disse o bruxo ao atingirem o primeiro degrau, contendo a custo um sorriso, ao perceber a expressão de deboche no rosto da ruivinha.
Então, sob um olhar de desesperada incredulidade de Rony, ele retirou o Chapéu Seletor de dentro das vestes e o ajeitou na cabeça, sacando sua varinha logo em seguida. Pôde perceber, de relance, que Hermione e Gina colocaram uma das mãos sobre a boca para conter o riso.
— É lá embaixo! – disse Michelle não se atendo ao detalhe – e começou a descer pé-ante-pé, acompanhada por Harry em seus calcanhares: ele fez um sinal para que os outros seguissem mais atrás.
Ao chegarem ao final do lance de escadas, seguiram por um corredor estreito que derivava à esquerda, passaram pela porta de uma lavanderia, de uma adega e, finalmente ao final deste, havia uma pequena saleta, pouco maior que um armário de vassouras, em que havia um pequeno divã empoeirado, uma antiga escrivaninha e, no extremo oposto à entrada, um enorme quadro apoiado ao chão, de tamanho um pouco maior do que uma porta: nele se via a imagem de um pequeno corredor ladeado por duas prateleiras que continham, de um lado, várias pilhas de moedas de ouro, alguns montes de cédulas de origem desconhecida e alguns tipos de pepitas de um material brilhante, e do outro, algumas espadas e punhais, um escudo com um brasão que deveria pertencer à família, e alguns pequenos baús, de onde podiam se ver amontoadas diversos tipos de jóias.
— É uma magia relativamente simples, mas bastante eficaz. – explicou Michelle – Apenas quem de direito pode acessar os valores contidos na pintura. – e, apoiando uma das mãos na superfície da pintura, começou a atravessa-la, como se não passasse de uma finíssima camada líquida que separasse o “cofre” do restante do aposento – Venha! – continuou ela, olhando para Harry.
Harry hesitou por um instante e manteve-se atento ao seu pensamento: “Não vejo problema algum!”, percebeu o Chapéu Seletor opinando.
— Vocês dois, esperem aqui! – disse, dirigindo-se a Rony e Hermione, ao mesmo tempo em que passava o braço ao redor da cintura de Gina e a encaminhava junto a si – Tenham cuidado! – completou, ao mesmo tempo em que verificava os dois consentirem com um sinal de cabeça.
— Há uma derivação logo à frente. – anunciou a dona da casa, lançando um olhar curioso para a ruivinha, enquanto caminhava por entre as prateleiras passando a mão displicentemente pelas caixas de jóias.
Ao final das prateleiras, havia um novo quadro, de proporções idênticas ao que estavam explorando, e posicionado numa reentrância à direita, de forma que era impossível vê-lo do aposento onde os outros dois jovens haviam permanecido.
— Uma vez vi papai mexendo no medalhão e no espelho da vovó aí dentro... mas nunca consegui entrar! – disse a menina apoiando novamente uma das mãos sobre a tela, sem, no entanto, conseguir transpô-la.
“Uma imitação medíocre do Espelho de Ojesed!”, Harry percebeu o Chapéu Seletor opinar.
— Espere aqui! – disse o bruxo, lançando um olhar significativo para Gina e, com forte decisão, avançou em direção à pintura e atravessou-a, ao mesmo tempo em que a ruiva se afastava um passo da outra menina e, sacando de sua varinha, mantinha-a em riste.
Harry estava em um cubículo pouco maior que uma cabine telefônica, e à sua frente havia um pequeno pedestal que servia de suporte a um jarro de barro arredondado de base larga e uma boca muito estreita, onde caberia apenas a sua mão. “Não sinto perigo!”, o Chapéu lhe sugeriu, então Harry enfiou o punho fechado no objeto e tateou lá dentro, ao sentir uma espécie de fina corrente entre seus dedos, segurou com força e puxou sua mão para fora.
Um leve formigamento percorreu a cicatriz em forma de raio na sua testa, nada comparado a qualquer sensação que tivera antes, apenas um leve arrepio. Olhou fixamente para o objeto dependurado no final da corrente de ouro: um belíssimo medalhão, também de ouro, com duas cobras entalhadas ao redor de uma enorme gema oval esverdeada, observando melhor, pode perceber que a pedra estava trincada ao meio e ligeiramente derretida.
Sim! Aquele era o verdadeiro medalhão de Salazar Slytherin, e tinha sua cicatriz para comprova-lo! E estava destruído... sem dúvida o tal do R.A.B. dera a sua vida para extinguir aquela horcrux... a quarta horcrux.
— O espelho da minha avó! Pegue o espelho da minha avó! – ele ouviu a voz da garota vindo do outro lado do quadro, provavelmente, a exemplo do painel do Monte dos Imortais, as duas meninas podiam ver o que se passava ali, retratado na tela.
Ele depositou o medalhão sobre um dos cantos do pedestal e enfiou a mão no jarro novamente, tateando até sentir uma haste grossa na ponta dos dedos, segurou-a com força e puxou para fora do jarro: um belíssimo espelho cravejado de pedras preciosas apareceu à sua frente, porém, quase que imediatamente, um forte ardor espalhou-se pela palma de sua mão. Instintivamente ele depositou o objeto ao lado do medalhão e, olhando para o local em que sentira o desconforto, pode observar uma pequena mancha vermelha, como uma leve queimadura.
— Entregue-me o espelho! – ouviu novamente Michelle do outro lado – Me dê o espelho da vovó!
“Confie nos seus instintos, Potter!”, ouviu uma voz em seu pensamento lhe dizer, então ele arrancou o Chapéu Seletor de sua cabeça, e rapidamente enfiou-lhe o medalhão e o espelho, colocando-o imediatamente a seguir novamente na cabeça, em seguida girou nos calcanhares e saiu do cubículo, recebendo, logo em seguida, um forte abraço de Gina.
— O que está fazendo? Eu quero o espelho! – disse a outra, segurando-o pela manga da camisa.
— Vamos sair daqui, agora! – disse ele, ignorando a mentalmaga, e caminhou rapidamente por entre as prateleiras, novamente cingindo a caçulinha Weasley pela cintura e, involuntariamente arrastando Michelle que não desgrudava de suas vestes.
— Tudo bem por aqui? – perguntou à dupla ansiosa de amigos, assim que abandonaram o quadro.
— Tranqüilo até demais! – respondeu Hermione – Achou alguma coisa?
— Está aqui comigo! Vamos embora, tenho um mau pressentimento! – disse, passando distraidamente uma das mãos pela sua cicatriz, ao mesmo tempo em que empurrava o grupo pelo corredor. Quando estavam quase alcançando a escada que os levaria para a sala da lareira, foram obrigados a parar ao ouvirem a voz ameaçadora de Michelle:
— Harry, você tem que me entregar a horcrux da vovó, agora! – eles se viraram e se depararam com a garota parada a poucos passos, a varinha apontada para o coração de Harry.
Quando Gina e Hermione fizeram menção simultaneamente de sacarem suas varinhas, Harry conteve-as com um gesto:
— Calma Michelle! Está tudo bem! – disse ele caminhando lentamente em direção da menina e, empurrando sua varinha amavelmente para o lado, pegou-a pela mão – Eu lhe entregarei quando estivermos em segurança, certo?
A garota deu um sorriso, aparentemente convencida pelas palavras do outro, e seguiu junto aos demais, todos correndo agora, subindo de dois em dois os degraus da escada. Quando Hermione, que era a primeira do grupo se encontrava a poucos metros da soleira da porta, sentiu o chão faltar-lhe sob os pés: os degraus da escada desapareceram, transformando-se numa rampa lisa e íngreme, que fez com que o grupo de jovens desabasse e escorregasse abruptamente em direção ao piso firme no final da antiga escada, com as varinhas daqueles que as empunhavam voando para todas as direções, inclusive o Chapéu Seletor, que se desprendeu da cabeça de Harry e foi cair, caprichosamente, no colo de Michelle.
Harry levantou-se o mais rápido que pôde e começou a procurar sua varinha desesperadamente, quando a encontrou, próxima a uma das paredes, virou-se ameaçadoramente para enfrentar um inimigo invisível, logo em seguida Gina, Hermione e, por último Rony, o imitaram, bastante desconcertados.
— Não está aqui! – ouviram a voz desesperada de Michelle – O que você fez com o espelho da minha avó? – a menina permanecia sentada ao chão, uma das mãos enfiadas no Chapéu Seletor, e a outra o segurando pela ponta e sacudindo-o para ver se algo se desprendia lá de dentro.
Harry guardou sua varinha na cintura e dirigiu-se para Michelle, arrancando o Chapéu de sua mão com um bote rápido.
— É o segredo do mágico: somente ele mesmo sabe como tirar o coelho da cartola! – sua expressão era de moderada indignação: sua paciência estava chegando ao fim.
— Sabe explicar o que houve com a escada, Michelle querida? – disse Gina, com uma nota de impaciência.
— Desculpem! – disse a menina levantando-se, resignada – É um dos mecanismos de segurança, esqueci-me dele! – e com um gesto de sua varinha, a escada voltou ao normal.
O grupo subiu os degraus novamente sob os resmungos irados de Rony, desta vez deixando Michelle seguir na frente e, quando finalmente chegaram à lareira, deram-se as mãos novamente, desta vez com Harry liderando a fila, e retornaram ao escritório da professora McGonagall.
Quando o quinteto já se encontrava novamente no gabinete da diretora de Hogwarts, batendo as mãos contra as vestes a fim de retirar o excesso de fuligem de que haviam se impregnado, Michelle dirigiu-se a Harry, intimando-o:
— Cumpra sua promessa e me entregue a horcrux da minha avó!
O bruxo imediatamente retirou o Chapéu Seletor da cabeça e meteu uma das mãos em seu interior, permanecendo remexendo-a no fundo do objeto por alguns instantes, no fim do qual retirou-a novamente... vazia.
— E agora? – indagou a menina, perplexa – Que foi?
— Não sei como pegar de volta! – explicou Harry, com cara de sonso.
— Como? O que quer dizer com... – tentou insistir a bruxinha de cabeça lisa, no que foi interrompida.
— Estou dizendo que não sei como retirar os objetos de dentro da cartola, digo... do chapéu! – mentiu ele, prendendo o artefato mágico na cintura – Mas, não se preocupe: vou me dedicar intensamente a descobrir como faze-lo e, quando conseguir irei correndo avisá-la.
A garota soltou um grunhido de insatisfação, enquanto encarava o Menino-Que-Sobreviveu indignada e, após bater um dos pés com força no soalho, retirou-se da sala sem dizer palavra, batendo a porta com força às suas costas.
— Que gênio, hein? – comentou Gina, irônica.
— Que conversa foi essa, Potter? – indagou Minerva McGonagall – Pensei que a Srta. Bentley fosse digna de sua confiança!
— Apenas estou atendendo a um conselho do próprio Chapéu Seletor, Professora McGonagall, e “confiando nos meus instintos" além de... é lógico... dar ouvidos à opinião de minhas amigas. – disse, olhando de Hermione a Gina e recebendo um largo sorriso de cada uma.
— Bem, pelo menos conseguiu o que procurava? – continuou a animaga, não conseguindo esconder a curiosidade.
— Sim! – ele respondeu, girando levemente em torno da própria cintura, de modo a poder contemplar o semblante de cada um – O medalhão de Salazar Slytherin foi realmente destruído por Ramsey Bentley! – e, enfiando a mão displicentemente no buraco do chapéu preso à sua cintura, puxou uma longa corrente de ouro entre os dedos que terminava em um magnífico adorno, contendo uma gema danificada a seu centro, sentindo o olhar admirado de todos a observa-lo. Neste momento, não pode evitar olhar para o quadro de Alvo Dumbledore, dependurado a uma parede junto às demais pinturas dos ex-diretores de Hogwarts, este se encontrava em pé e olhando fixamente para Harry, que abaixou a cabeça, desviando o olhar.
— Agora, vamos embora. – disfarçou ele, enfiando o objeto novamente no chapéu – Estou cansado! – e, dirigindo-se para a porta, parou por um momento, como se tivesse se lembrado de algo – Só mais uma coisa, diretora, a outra horcrux, o anel de Servolo Gaunt, devia estar entre os pertences do Professor Dumbledore...
— Realmente... – disse a mulher, um pouco confusa – Você... o quer?
Diante do sinal afirmativo feito com a cabeça pelo rapaz, a bruxa dirigiu-se até uma das gavetas da própria escrivaninha e retornou com o referido objeto envolto em um pedaço de tecido, depositando-o na mão de Harry e, antes que este pudesse abrir a boca para agradecer, ela disse:
— Não diga nada, Harry: isto pertence mais a você do que a qualquer outro! – e presenteou-o com um de seus raros sorrisos.
Bastante satisfeito, ele girou em seus calcanhares e saiu pela porta, seguido de perto pelos amigos.

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