A terceira Horcrux



A LUZ DO LUAR ILUMINOU MOMENTANEAMENTE a cena recheada de tensão que se desenrolava defronte à residência número doze do Largo Grimmauld.
— Você! – disse Harry, a varinha apontando para o coração do seu desafeto.
— Abaixe isso Potter! – retrucou o outro com desdém – Já lhe provei da última vez que não é páreo para mim! – ele próprio mantinha sua varinha empunhada, porém, com um trejeito, deixou-a propositadamente apontada para um dos lados.
— Cometeu um erro Snape, não deixarei que fuja como antes! – disse, com os dentes rangendo de raiva – Muita coisa mudou desde aquele dia: agora posso enfrenta-lo!
—Não percebo mudança alguma. – disse analisando o garoto de cima a baixo – Sempre no lugar errado e na hora errada, sempre escolhendo os amigos errados para se associar: foi assim com o Lockhart, quando passeava pela escola distribuindo autógrafos, até ele tentar apagar a sua memória; foi assim com o falso Olho-Tonto, perseguindo uma patética carreira de auror, até que ele o entregou ao Lord das Trevas; e continua sendo assim, sempre se enganando com as amizades e... também... com aqueles a quem despreza, como é o caso de Malfoy, que você sempre perseguiu e destratou, e que agora é seu aliado!
— Mas eu não me enganei com você! – respondeu com energia: continuava com o braço esticado e a varinha em riste.
— Será mesmo? – resmungou o bruxo seboso.
— Você é um assassino! Matou Dumbledore... ele estava indefeso... eu vi tudo... eu estava lá! – ele agora gritava, procurando extravasar sua raiva.
— É verdade, eu fiz isto! – e Harry pensou perceber uma tênue sombra de arrependimento e remorso passar por aqueles olhos frios, mas o comensal recuperou-se em seguida – Mas, eu insisto: observe melhor as amizades que faz! – e, realizando um largo gesto, em que jogou ao redor do corpo a longa capa negra que trazia presa às costas, o bruxo desapareceu com um estalo.
Harry correu para frente, tentando inutilmente alcançar o corpo desmaterializado de seu oponente, apertava tão forte a varinha em sua mão que esta chegava a doer-lhe.
— H-Harry! – a voz fraca de Hermione, às suas costas, o fez voltar à realidade – O S-Snape... ele se foi...
O bruxo voltou-se e amparou a amiga nos braços, ela estava pálida e tremia muito. Então ele retirou o pedaço de pergaminho de sua mão e, após lê-lo, ambos entraram pela porta do numero 12, que aparecera à sua frente, sem antes deixar de dar uma longa olhada ao seu redor.
— Potter, obrigado por ter trazido sua namoradinha! – debochou Malfoy, que se encontrava no corredor de entrada ao lado de uma Gina com cara de poucos amigos, assim que a dupla fechou a porta atrás de si – Eu estava dizendo a ela que...
PLAFT! – um violento tapa, em que Harry concentrou toda a sua raiva e frustração, reunida a todo o peso de seu corpo, atingiu Draco bem no meio do rosto, fazendo-o chocar-se contra a tapeçaria pendurada em uma das paredes e cair sentado em seguida.
— O que? Ora seu... – o louro estava tão aturdido que não conseguiu completar sua frase: ficou observando o outro se dirigir para a cozinha, seguido por Hermione, ainda cambaleante, e Gina, quase tão confusa quanto Draco.


Harry ficou muito descontente e decepcionado consigo mesmo, depois do encontro que tivera com Snape, no qual ele se limitou a ouvir as provocações do ex-professor e nada pôde fazer para impedi-lo de fugir, já Rony, Hermione e Gina tinham as versões mais extraordinárias para a aparição gratuita do bruxo.
— Ele percebeu que Harry estava mais poderoso que ele, e resolveu salvar a própria pele! – dizia Rony, enaltecendo o tempo dedicado pelo amigo ao estudo do livro de Gryffindor.
— Ele veio para matar o Malfoy, mas quando chegou, a Mione já havia protegido a casa, então ele foi embora! – sugeria Gina, insinuando que, se eles tivessem se atrasado um pouco, estariam livres de Draco.
— Ele queria te avisar de alguma coisa... uma amizade que você teria feito recentemente... alguém em quem você não deve confiar... – analisava Hermione, pensativa.
— Mas... como ele é um servo do Voldemort... eu não devo acreditar no que ele diz! – retribuía Harry ferozmente, todas as vezes que Mione externava sua opinião.


Percy havia se recuperado da Maldição Impérius com o tratamento aplicado por Alastor Moody e, por sugestão de seus pais, resolveu mudar-se para a Romênia e trabalhar com dragões, junto ao seu irmão Carlinhos, assim estaria protegido de uma possível vingança dos Comensais da Morte: Penélope Clearwater surpreendeu a todos e foi embora com ele. Fred e Jorge haviam voltado para a rotina de sua loja de logros, aproveitando que os seguidores de Lord Voldemort andavam inativos, após a derrota “moral” em Azkaban.
Até chegarem as festas de fim de ano, “o Eleito” não saiu mais de sua masmorra, treinando intensamente as magias contidas no livro guardado no Monte dos Imortais, ocasionalmente com a ajuda de Gina, que conjurava um clone para substituí-la em sua cama e ficava até altas horas da noite em companhia de Harry. Ele já dominava bem a maioria dos feitiços ensinados até quase a metade do livro, exceto aquele em que devia transportar seu pensamento para outro corpo, tentando o controle de sua mente, nestas ocasiões seu próprio corpo ficava inerte. Gina, sua cobaia neste experimento, sentia que seu pensamento estava sendo compartilhado com alguém, mas Harry não conseguia lhe dar sugestões para controlar seus atos.
— Deve ser porque eu sei que o está fazendo, porque não tenta com um animal? – sugeria a menina.
— Com Fawkes nem pensar, ela é muito poderosa e independente... talvez com Edwiges, mas ela também é muito teimosa... – analisava o bruxo.
— Quer que eu peça o Bichento emprestado para a Mione? Ele é muito inteligente! – ofereceu-se a ruivinha.
— Bem, em todo o caso, o livro entendeu que eu consigo realizar o feitiço, pois me deixou passar para o próximo... só preciso mesmo é controlá-lo melhor. – concluiu o rapaz.
— Talvez a Michelle possa ajuda-lo, estes feitiços da mente são a especialidade dela! – sugeria a garota.
— Ela já esteve aqui na masmorra uma vez, mas não sabe nada do livro e, quanto menos pessoas conhecerem este lugar, tanto melhor. – e encerrou a questão.


Na noite de Natal, Harry juntou-se aos amigos no Salão Principal, para a ceia, juntamente de Hermione e os dois Weasley que restaram, que também haviam resolvido passar as festas no castelo, principalmente para não deixarem Harry sozinho. Muitos alunos haviam permanecido na escola naquele ano, ainda acreditando que Hogwarts era um dos locais mais seguros na atualidade. Gina lembrou-se que havia prometido a Harry de que pediria o gato de Hermione emprestado para que ele pudesse treinar o feitiço que estava tendo dificuldades, no que a amiga lhe respondeu:
— Não vejo o Bichento há séculos – seu olhar preocupado buscou a mesa da Sonserina, onde mirou Michelle, que enfiava alguns pedaços de bolo nos bolsos – Depois vou perguntar para Michelle se ela o tem visto, eles andam muito juntos ultimamente.
Em seguida, observando melhor Harry, que estava quieto e cabisbaixo, disse:
— Ainda se remoendo pelo encontro com o Snape?
— Eu devia tê-lo matado! – disse Harry, socando uma mão na outra.
— Matado? Como? – interessou-se Hermione.
— Sei lá... com qualquer feitiço!
— Estou falando sério, Harry. – ela estava impassível – Todos sabemos que Você-Sabe-Quem tem mais poder em uma mão do que Snape jamais sonhou em possuir, e nem mesmo Dumbledore conseguiu derrota-lo!
— O professor Dumbledore não matou o Voldemort porque sabia das horcruxes! – ele respondeu revoltado – Mas eu vou destruí-las primeiro... e depois...
— Você já matou alguém antes, Harry?
— Onde você está querendo chegar? Sabe que não!
— O que estou te alertando, é para que você esteja preparado, quando a hora chegar... e imaginar como vai agir. Uma Maldição da Morte talvez não tenha efeito contra ele!
Harry não respondeu, sabia que a amiga tinha razão, mas, mesmo assim, seu humor não melhorou, quando todos estavam erguendo brindes nas mesas, ele se levantou, procurando não chamar atenção, e saiu.
Ele passou a caminhar distraído pelos jardins do castelo, que estavam encobertos pela neve e iluminados pela lua crescente, encostou-se a uma enorme pedra que ornava o caminho e passou a admirar a paisagem no horizonte, além do casebre de Hagrid. Foi então que ele viu um vulto branco mover-se pela orla da Floresta Proibida, procurou se aproximar um pouco mais para distinguir melhor do que se tratava, e constatou que era um enorme cervo, extremamente branco, e que emitia uma luz própria, prateada e muito intensa: parecia-se muito com um... Não, não podia ser!
Ficou admirando aquela criatura por alguns instantes, foi quando percebeu que ela também parara seu passeio e olhava para ele, então Harry ouviu barulho de passos às suas costas, e a magnífica aparição galopou para dentro da floresta, sumindo rapidamente. Ele se virou para ver quem se aproximava e deu de cara com Hagrid, que parecia muito excitado.
— Hagrid, acabei de ver um animal muito estranho! – disse apontando na direção que o ser desaparecera – Era todo branco e... parecia feito de luz... mas era corpóreo... eu acho que era um...
— Você também o viu? Não é lindo? – respondeu o grandalhão com extrema satisfação – Eu o estive observando uns dias atrás, há anos que não aparecia nenhum destes por aqui!
— O que é ele, afinal de contas? – perguntou de chofre, calculando que sua idéia inicial pudesse ser equivocada.
— Oras, como se você não soubesse! Era um Patrono! Uma espécie que você conhece bem, hein? Mas dizem que são bons agouros, aparecem quando o mal está se espalhando, a última vez que rondaram por aqui foi quando o Lord das Trevas estava no poder, antes de você nascer.
— Um Patrono? – o rapaz repetiu boquiaberto, suas suspeitas estavam corretas – Mas... eu pensei que fosse apenas um feitiço... Como é que...
— Não sei explicar como funciona o feitiço... o Dumbledore é quem era especialista nisto, mas... como professor d’O Trato Das Criaturas Mágicas, posso lhe dizer que é uma criatura impressionante... muito rara. Ele deve voar bem, você viu que belas asas?
— Asas? – o menino respondeu confuso – Que asas? Não tinha asas, era um cervo!
— Um cervo? Que brincadeira é essa Harry! – agora era o meio-gigante que estava confuso – Não era um cervo, era um dragão! Um animal magnífico!
Harry tornou a olhar para o interior da floresta, procurando por um outro animal ao qual Hagrid pudesse estar se referindo, mas não havia nada: como os dois podiam ter olhado para o mesmo bicho e terem visto coisas diferentes?


No penúltimo dia do ano, Harry e Rony foram até o gabinete da diretora para finalmente retirar a Penseira e os frascos com os pensamentos do falecido diretor, que Minerva McGonagall vivia lhe cobrando que buscasse.
— Então conseguiu destruir mais um pedaço da alma de Você-Sabe-Quem! Parabéns Potter! – disse-lhe a diretora, enquanto olhava o quadro de Dumbledore com um canto de olho.
Mas Harry não ouviu o que ela disse, parou na frente do Chapéu Seletor e pôs-se a divagar em silêncio.
— Pode leva-lo, Potter! – ouviu a velha bruxa dizer.
— O que foi? – disse ele, retornando do mundo dos sonhos.
— Disse que pode levar o Chapéu Seletor com você, Harry! – eram poucas as ocasiões em que a mulher o tratava pelo nome, sem formalismos.
— M-Mas... ele pertence a Hogwarts!
— Ele pertence aos defensores de Hogwarts! – corrigiu-o a outra – Basta nos empresta-lo no inicio do ano letivo, para a seleção das casas dos alunos.
Harry sorriu com satisfação, como há um bom tempo não fazia, apanhou o objeto e prendeu-o à cintura e, após agradecer à diretora, saiu da sala com Rony, que carregava a Penseira.
— Se eu fosse você, jogava esse lixo fora! – comentou Rony – Você não vai usar esta porcaria, vai?
Mas Harry não respondeu.


No dia seguinte, bem cedo, Harry juntou-se aos amigos durante o café da manhã, e disse num tom resoluto:
— Vamos aproveitar hoje que não há aulas e o castelo está pouco movimentado, para procurarmos a Tiara de Rowena Ravenclaw!
Todos ficaram muito animados, e Harry fez um sinal para Michelle, na mesa da Sonserina, para que se encontrasse com eles no saguão.
Quando todos estavam juntos, o menino da cicatriz alertou:
— Não será necessária muita gente... na verdade... quanto menos melhor!
Após protestos inflamados de Gina, Rony, Neville e Luna, o Menino-Que-Sobreviveu, dirigiu-se para o corredor da Sala Precisa, acompanhado de Michelle e Hermione, que não parava de dizer que “... escolheu muito bem Harry, posso ajuda-lo com a minha inteligência, enquanto Michelle fará consultas à avó dela!”.
Após algumas tentativas frustradas, eles conseguiram entrar na sala que Harry reconheceu como sendo a mesma em que ele escondera o livro do Príncipe Mestiço, no ano anterior, eles se infiltraram por corredores abarrotados de trastes, até que o bruxo avistou o armário em que ocultara o livro: bem em cima deste, estava a tiara, colocada na cabeça do busto lascado, no mesmo lugar em que a deixara. Ele a segurou na mão, com força, estava bastante oxidada e suas pedras não tinham brilho.
— Tem certeza de que é esta mesmo? – perguntou Hermione, aparentemente decepcionada, no que Harry encarou Michelle que, após fechar os olhos por alguns instantes, disse:
— Minha avó está dizendo que é o objeto correto. Ela me ensinou um feitiço para destruí-la!
— Pode ser perigoso! – o garoto preocupou-se.
— Sem problema, vovó Margot me protegerá! – e, tomando a tiara das mãos de Harry, colocou-a sobre um banquinho ao lado do armário, em seguida, apontando a varinha firmemente, ela murmurou algumas palavras num idioma desconhecido, então o enfeite soltou uma pequena coluna de fumaça branca e começou a derreter, lentamente.
— Parabéns, Harry! Está destruída! – disse a garota careca, após o objeto tornar-se um amontoado disforme – Agora podemos ir até Paris, para procurarmos a outra horcrux!
Quando saíram da Sala Precisa, deram de cara com os quatro amigos que haviam sido rejeitados, e que demonstraram grande espanto com a rapidez dos outros.
— Já? – exclamou Rony, boquiaberto.
Harry e Hermione balançaram a cabeça afirmativamente, não conseguindo esconder, no entanto, um certo ar de frustração.


Após a comemoração da passagem de ano, Harry se dirigia exausto para a masmorra que habitava, quando, próximo à estátua da velha vidente, ouviu uma nota musical bastante familiar. Dobrou um corredor em direção à origem do som e visualizou um clarão de fogo logo à frente: Fawkes estava encarrapitada no corrimão de uma escadaria, segurando o Chapéu Seletor no bico. Harry apanhou o objeto que havia deixado em seu quarto no dia anterior e acompanhou a fênix, que deslizava suavemente pelo corredor, e fez com que ele a seguisse até as cozinhas de Hogwarts, após passarem pela entrada existente atrás de uma tapeçaria.
Os elfos domésticos acorreram a ele instantaneamente. e lhe ofereciam varia travessas de doces e guloseimas, ele recusou educadamente e continuou a seguir a ave, até chegar num cômodo independente, nos fundos da cozinha, onde provavelmente os elfos dormiam.
Havia vários cestos e caixotes espalhados pelo chão, recobertos com trapos rasgados e, encostadas às paredes, existiam diversas cômodas com as gavetas abertas, e que também deviam servir de leito aos pequenos seres. Então Harry viu Fawkes pousar no chão, bem ao centro do aposento, ao lado de uma pequena árvore seca, que brotava do piso deteriorado, e onde os elfos haviam pendurado diversos lençóis velhos.
A fênix passou a bater com o bico no chão próximo ao tronco seco, Harry se abaixou para examinar o local e percebeu que uma pequena corrente de ar vinha das frestas do piso existentes ao redor do tronco, o que indicava que a base da árvore se encontrava no pavimento inferior, sendo que a porção que ele via, era apenas a ponta de sua copa.
— Bombarda! – gritou o menino com convicção, abrindo uma passagem larga no chão: se Fawkes estava querendo lhe mostrar alguma coisa, ele não deveria perder tempo.
A ave voou até o seu ombro e, prendendo suas garras nas vestes dele, levantou-o facilmente no ar com um pequeno bater de asas e, em seguida, mergulhou com sua carga no buraco entrevado.
— Lumus! – ordenou Harry levantando a varinha acima da cabeça, tão logo haviam alcançado solo firme, cerca de quinze metros abaixo do dormitório dos elfos.
A tênue fonte de luz lhe revelava um piso extremamente rochoso, formando um corredor longo e que ia se afunilando lentamente. Ele seguiu a fênix por cerca de 20 minutos, até que a passagem terminou em uma enorme porta de carvalho, que amparava um ostentoso arco de pedra que exibia uma estranha escrita. “Se ao menos tivesse trazido a Poção Tradutória”, pensou ele, então sentiu sua companheira aplicar algumas leves bicadas no chapéu que ele trazia junto a si.
Imaginando qual seria a intenção de sua guia, ele colocou o Chapéu Seletor sobre a cabeça, no que ele deslizou até seu pescoço, deixando-o às cegas. Então, sentiu o chapéu ir se ajustando ao contorno de sua cabeça, até liberar-lhe a visão e encaixar-se perfeitamente em seu cocuruto. Ele então olhou novamente para aqueles algarismos estranhos, imaginando que o chapéu o ajudaria de alguma forma.
“Não sei o que está escrito!”, ouviu um pensamento, que não era o seu, se manifestar.
Não havia trinco ou ferrolho nenhum na porta, apenas uma estreita fresta entre esta e o chão, então se lembrou do feitiço da troca de sombra, que aprendera no livro de Gryffindor.
— Inversus! – bradou ele, e seu corpo trocou de lugar com a própria sombra, ele então se arrastou por baixo da folha da porta até o outro lado.
“Finite Incantatem!”, pensou ele, e voltou à forma original. Acendeu a varinha novamente e percebeu que Fawkes já se encontrava ao lado dele.
Estava em uma sala ampla e completamente vazia, com mais de trinta metros de comprimento, Fawkes voou rapidamente até o lado oposto e pousou a frente de outra porta fechada. Harry caminhou em sua direção, mas quando alcançou o centro da sala, um grito o sobressaltou.
— Harry! Harry! – ouviu a voz de Mione vindo detrás da porta que acabara de passar – Hogwarts está sendo atacada, você precisa voltar!
Ele voltou correndo até a passagem fechada: “Mione, o que foi? O que está acontecendo?”, mas não ouve resposta. Teria sua amiga sido alcançada e abatida pelos invasores? Encostou o ouvido na porta, mas não ouviu mais nada, nem vozes, nem barulho de luta, nada!
Estaria sendo vítima de sua imaginação? Afinal, como Mione poderia saber que ele estava naquele lugar? Andou novamente em direção a Fawkes, que o aguardava pacientemente, mas, ao alcançar novamente o meio da sala, ouviu:
— Harry! Você precisa voltar! – era a voz de Rony, vinda do mesmo ponto que ouvira Mione antes – Aconteceu uma coisa horrível com a Gina! – ele virou-se para a porta e hesitou um pouco.
“Não confie em seus ouvidos!” – ouviu o Chapéu Seletor dizer, em seus pensamentos.
Retornando sua atenção para a porta em que Fawkes se mantinha estática, o bruxo seguiu decidido em sua direção, não dando atenção para as vozes que tentavam, a todo custo, atraí-lo para a sala anterior. Ao alcançar a passagem, girou rapidamente a maçaneta dourada e a porta abriu-se sem resistência.
Ele se encontrava em uma câmara muito semelhante à anterior, porém um pouco mais larga, a fênix, que atravessara a entrada junto dele, desta vez deu um salto e se empoleirou em seu ombro.
Forçando um pouco o olhar, ele pôde avistar outra passagem no extremo oposto, então se pôs a andar em sua direção, mas, conforme ia andando em direção à porta, esta ia se deslocando lentamente para a sua esquerda, no que o bruxo ia corrigindo seu trajeto para alcança-la, quando chegou até o lado oposto e tocou na maçaneta, só sentiu a rocha pura: a porta desaparecera e em seu lugar havia apenas a parede de pedra. Voltou ao ponto inicial, por onde adentrara à câmara e olhou novamente para o lado oposto: lá estava a porta outra vez. Começou a caminhar novamente em sua direção, só que agora a porta se desviava para o lado direito, o bruxo corrigiu seu destino mais uma vez e avançou até alcança-la, mas, ao tocar nela sentiu somente a rocha, havia sumido outra vez. Olhando para trás, viu novamente a porta que atravessara para acessar essa câmara e retornou até ela.
”Não confie em seus olhos!”, sugeriu o Chapéu Seletor em sua mente, ele então mirou a porta do outro lado do aposento, fechou os olhos e traçou uma linha reta em sua direção, os braços estendidos tateando no escuro, procurando não se desviar para nenhum lado, como fizera antes, após algum tempo sentiu que suas mãos tocavam um batente de madeira, abriu os olhos e girou a maçaneta que estava ligeiramente à sua esquerda, a porta abriu-se e ele passou por ela.
Na câmara seguinte a paisagem era a mesma, exceto pelo fato de que, ao invés de chão firme, a partir da soleira da porta até o outro extremo, havia um enorme tanque com um líquido amarelado, novamente Fawkes atravessou o espaço existente até a porta no outro extremo, com um gracioso bater de asas, Harry, sem imaginar outra alternativa, afundou o Chapéu Seletor mais ainda em sua cabeça, prendeu a varinha na cintura e atirou-se decidido dentro do tanque, dando poderosas braçadas. Conforme ia avançando em direção ao seu destino, um cheiro horrível de esgoto e carne putrefata ia invadindo seus pulmões, enquanto um gosto terrível, ao mesmo tempo amargo e azedo, entrava pela sua boca e impregnava sua garganta. “Já sei, já sei!” – pensou ele, quase sem respiração – “Não confie em seu paladar e olfato!”. “Talvez não precise mais de mim, Potter!”, mentalizou o Chapéu Seletor, mas Harry não teve força para contestar o mau-humor do objeto mágico, por diversas vezes afundou naquele líquido nojento, mas utilizando até sua última fração de forças, conseguiu atingir o lado oposto, vomitando logo em seguida.
Após passar alguns instantes se recuperando, olhou para a fênix ao seu lado e disse:
— Você bem que podia ter me carregado até aqui, Fawkes! – ao que, com aquele que poderia ser considerado um olhar reprovador, a ave olhou para o espaço às costas dos dois.
O liquido amarelo havia desaparecido, havendo novamente o chão firme por onde ele houvera atravessado e, ao olhar para si próprio, percebeu que estava completamente enxuto, como que a repugnante experiência que acabara de viver, tivesse ocorrido somente na sua mente.
“É muito difícil não acreditar nestes sentidos!”, pensou ele e, girando a maçaneta da porta, atravessou para a outra câmara.
Seus olhos de arregalaram com o que viu: labaredas de quase dois metros de altura subiam do chão, por toda à parte. Fawkes, ao contrário do que fizera antes, começou a caminhar saltitante entre as chamas, parando a uns poucos metros à frente e olhando para trás, aparentemente esperando que Harry a seguisse. O rapaz hesitou por um instante.
“Não confie em seu tato!”, sugeriu-lhe novamente o objeto mágico em sua cabeça.
— Vai ter que ser uma coisa MUITO IMPORTANTE MESMO, esta que você quer me mostrar, Fawkes! – ele ameaçou a ave e, com forte determinação avançou em direção ao fogo.
Ele começou a sentir um calor insuportável subir pelo seu corpo, mas, em sua mente, ele procurava se convencer do contrário: “Não é de verdade... não pode me queimar... Fawkes também esta aqui e não está sentindo nada!”, a temperatura amenizou um pouco e ele continuou a avançar. “Mas, as fênix vivem no fogo!” – um pensamento terrível se apossou dele – “Ela não pode se queimar... mas eu posso!”, e começou a sentir a pele arder terrivelmente, começava a perder o controle quando... POFT! Havia batido com o rosto na porta, conseguira atravessar! Olhou rapidamente para trás, nada de chamas, “Você tem potencial, Potter!”, opinou o Chapéu Seletor. Harry e Fawkes atravessaram a porta.
A última câmara era quase um cubículo, se comparada às anteriores: poucos passos após a entrada havia um pedestal com o formato de um corvo e, na cabeça da escultura, repousava uma magnífica tiara de prata incrustada de brilhantes pedras vermelhas, aproximando um pouco mais o olhar, podia-se perceber o brasão da Corvinal, entalhado em baixo relevo.
— A Tiara de Rowena Ravenclaw! – exclamou o bruxo e, aproximando-se para apanhar o objeto, parou repentinamente, ao sentir um estranho formigamento em sua cicatriz – Muito bem, Fawkes! Esta com certeza é a verdadeira horcrux!
Ele sacou de sua varinha e começou a circular o pedestal, imaginando como poderia destruir o objeto. “Use a espada!”, sugeriu-lhe o Chapéu Seletor, então Harry arrancou o chapéu de sua cabeça e, olhando em seu interior, percebeu o cabo da espada de Godric Gryffindor, com a qual havia matado o basilisco, anos atrás. Ele retirou a espada de dentro do chapéu e colocou-o novamente na cabeça, Fawkes se empoleirou outra vez em seu ombro, enquanto ele se posicionava bem à frente do horcrux. Então ele ergueu a espada até o alto de sua cabeça e desferiu um golpe violento e certeiro, atingindo o artefato ornamental em cheio. Houve um forte estrondo e ele foi atirado alguns passos para trás, ao mesmo tempo em que viu, desesperado, a espada partir-se em vários pedaços. Então um fiapo de fumaça negra emergiu da tiara, também danificada, e tomou lentamente a forma de uma cobra, repentinamente, um jato de luz verde saiu da boca daquele espectro em direção ao rapaz, Fawkes saltou graciosamente à sua frente e engoliu o feixe de luz, incendiando-se em seguida e caindo ao chão na forma de um monte de cinzas, exatamente como fizera no Átrio do Ministério da Magia, quando Dumbledore e Voldemort se enfrentaram.
Harry aproximou-se da horcrux destruída, e que apresentava o seu centro ligeiramente derretido e, retirando o Chapéu Seletor de sua cabeça, apanhou a jóia e enfiou-a nele, desta vez sem sentir nada em sua cicatriz, em seguida, juntou pesarosamente os estilhaços que sobraram da espada e enfiou-os também no chapéu e, por fim, recolheu cuidadosamente a filhote de fênix, que tateava pelo chão e aconchegou-a nos braços, refazendo novamente o caminho que o trouxera até ali.

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