Chantagem



Capítulo 6. Chantagem

::Aine::

- Mas a idéia foi minha! - Tiago repetia as mesmas palavras dezenas de vezes à mesa do café da manhã. Lílian apenas sacudia a cabeça negativamente. Estava irredutível.

- Sim, foi, mas isso não significa que eu tenha que te mostrar o produto do crime - ela falou, sorrindo de contentamento.

- Mas vocês vão deixar, não vão? - ele se voltou para mim, Andy e Marlene, esperançoso.

Marlene riu muito alto, como vinha fazendo cada vez que se lembrava da nossa vingança contra Héstia Jones. Eu e Andy trocamos olhares incertos e ela falou:

- É justo, Lily. Afinal, a idéia foi dele.

- E a câmera também - lembrei.

- Sim, é muito egoísmo nosso guardar aquela preciosidade só para nós - concordou Marlene, assim que conseguiu parar de rir por tempo suficiente para formar sentenças entendíveis.

Lílian estreitou os olhos verdes para nós e apoiou os cotovelos na mesa dizendo:

- E quem foi que disse que isso é uma democracia?

Foi quando nossa vítima surgiu à porta do salão principal. Esquadrinhou a mesa da Grifinória com os olhos, formando uma expressão de contentamento quando nos avistou. Aproximou-se de nós muito furtivamente e se sentou ao meu lado, crispando os lábios e depois mostrando os dentes como se quisesse me morder.

- Não foi nada engraçado o que vocês fizeram ontem à noite - murmurou ela.

- Nem foi essa a intenção - falou Lílian, enfiando um generoso pedaço de bolo na boca. – Mas não há um só aluno que não vai achar graça quando ver aquela foto assim que desembarcar do Expresso no fim do feriado.

Héstia empalideceu e agitou os braço na mesa de tal forma que derrubou a minha taça, alagando uma travessa de torradas.

- E não pense em nos denunciar - completou Marlene. - Aquela foto está muito bem guardada, podem procurar o quanto quiserem, nunca a encontrarão conosco.

- Vocês... vocês estão blefando, não havia filme nenhum naquela câmera... - ela falou, no tom de uma criança fazendo manha.

Lílian sorriu de um jeito assustador e falou, apoiando o queixo na palma da mão:

- Se você acha... Mas será que esse é um risco que você quer correr?

Jones olhou para mim, suplicando silenciosamente de um modo que me fez sentir pena. Ela positivamente faria qualquer coisa que pedíssemos.

- Vá agora à mesa dos professores e diga a Minerva que foi você que plantou a bomba de bosta na sacola de Aine - falou Tiago, muito satisfeito em poder tomar parte nas ameaças. Aparentemente só eu estava me compadecendo de Héstia. - Claro, você pode não fazer isso e eu vou ficar feliz em ajudar a Lílian a multiplicar aquela foto em tantas que poderemos secar o lago com elas.

Jones olhou mais uma vez para mim e, engolindo em seco, se levantou e caminhou até a mesa dos professores. Minerva ouviu atentamente o que ela dizia, depois olhou para nós, fazendo uma expressão muito estranha. Algo parecido com o que víamos quando ela colocava Tiago em detenção por mexer com Snape. Em seguida, a professora se levantou e fez um sinal para que Hésta a seguisse para fora do salão.

- Ela confessou! - Andy ergueu os braços em comemoração.

- Um mês de detenção para nossa querida Jones! - falou Marlene, satisfeita.

- Ei, não se esqueçam que o crédito foi meu - reclamou Tiago, olhando para Lílian como se esperasse por uma recompensa.

- Ele tem razão, Lily, devemos uma a ele - falei.

- Maravilhoso você me lembrar disso, Aine - ela resmungou, olhando feio para mim.

- Mas é verdade - falou Andy e Marlene sacudiu a cabeça em concordância. - E já que você não quer mostrar a foto a ele, deveria recompensá-lo de outra forma.

- Que forma? - Lílian perguntou incrédula.

Foi a vez de Marlene erguer o braços e falar impaciente:

- Você tem três chances: o que nosso querido Tiago quer e só você pode lhe dar?

Tiago sorriu para a cara de pavor que Lílian fez.

- Não, está fora de cogitação, nenhuma dívida com o Potter vale isso! - ela disse, olhando feio para nós, completamente vermelha.

Exaltada, Lílian se ergueu da cadeira e saiu apressada em direção ao átrio. Nos despedimos de Tiago e fomos atrás dela antes que se trancasse na sala da monitoria e ficasse inacessível até o almoço.

- Está tudo bem Lily, não vamos te obrigar a aceitar o convite para sair do Tiago - falou Marlene, que foi a primeira a alcançá-la quase no meio da escadaria de mármore.

- Era só brincadeira - completou Andy.

- Temos que admitir que ele teve uma ótima idéia - falei, sem querer desistir. Afinal, Tiago havia sido o responsável pela minha salvação.

- Eu sei - resmungou Lílian. - E eu sou grata a ele, só gostaria que isso...

- Que nunca tivesse acontecido? - sugeriu Andy.

Lily acenou com a cabeça e Marlene interveio:

- Precisamos é de umas boas férias desse castelo. Para descansarmos as cabeças dessas coisas ruins.

- Mas combinamos de ficar aqui no Natal - falei.

- Sim, e isso é o mais perfeito - Marlene sorria daquele jeito de quem prepara uma boa traquinagem. Não que ela fizesse isso com freqüência. - Lílian poderia nos tirar da lista dos que vão ficar e iríamos sem ninguém saber.

- Já disse que tenho que ter um tempo para pensar nisso direito - interveio Lílian.

- Pensar sobre o quê? - foi a minha vez de perguntar, impaciente.

Lily e Marlene trocaram olhares.

- Falsas promessas podem magoar muito mais - disse Lily, olhando para mim.

- Não será uma promessa falsa - esclareceu Marlene.

- Promessa de quê? Tem a ver com a surpresa de Natal?

Foi Andy quem segurou meus ombros e disse:

- Vamos fugir, Aine.

- Fugir para onde?! - eu estava chocada e gritei tão alto que Marlene se adiantou para tampar minha boca. Alguns alunos que estavam no átrio voltaram as cabeças para cima para nos olhar.

- Para uma aventura de férias - respondeu Andy. - Pensamos em visitar sua casa.

- Minha casa? - me desvencilhei de Marlene, falando baixo dessa vez. - Então tenho que avisar ao Otto...

- Não essa casa - falou Lílian. - Sua antiga casa. Aquela em que você vivia com seus pais.

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::Lily::

Eu Marlene estávamos sentadas, cada uma num dos lados da cama de Aine. Ela dormia, após mais de uma hora de conversas, eu e Lílian dizendo insistentemente que só a levaríamos à casa dos pais dela se ela concordasse e que ela não precisava concordar.

Quando Andy falou da fuga, logo depois do café da manhã, eu juro que achei que Aine fosse ter um ataque ali na hora e cair no chão dura como uma pedra. Ela ficou muito tempo tremendo e olhando para o vazio até que conseguíssemos fazê-la voltar a falar. Depois tinha passado o dia inteiro parecendo meio doente. Só tinha dormido depois da minha atitude extrema de fazê-la tomar um pouco de poção calmante que Remo Lupin gentilmente me deu quando viu o quão mal ela estava.

Andy ressonava como um gato, dormindo toda encolhida aos pés de Aine. Eu e Marlene começamos então a difícil manobra de tentar acordá-la e transferi-la para sua própria cama.

Eu fiz a primeira tentativa, sacundindo-a pelo ombro, sem resultado. Na segunda tentativa levei um chute muito doloroso bem na boca do estômago. Marlene quis apelar para a água fria, mas eu fiquei com medo que ela gritasse e Aine acordasse após tanto esforço para fazê-la dormir. Então optei pelo mais fácil e simplesmente levitei Andy para a cama, fechando as cortinas logo em seguida, com Marlene me olhando como se eu tivesse lhe tirado uma pena de alcaçuz de sua boca.

Assunto resolvido, me pus a mexer no armário à procura da minha caixa de fundo falso. Encontrando-a, usei a senha para revelar seu fundo verdadeiro e tirei de dentro nossa bela fotografia de Héstia Jones, que agora tinha se enrolado na cortina e mexia a boca como se gritasse comigo.

- O que vai fazer com isso? - perguntou Marlene, se aproximando.

- Dar a Héstia - respondi, guardado a foto num bolso interno do casaco de lã e seguindo para fora do quarto. Marlene veio me seguindo, falando sem parar que eu não devia fazer isso e que Jones ia aprontar outra assim que tivesse a foto em mãos.

- Acredite em mim, Lílian, sei como lidar com esse lixo - ela falou, muito enfática.

- Acordo é acordo - respondi. - Além do mais, não quero que ela decida a minha maneira de agir.

Claro, havia muita coisa que eu não sabia sobre pessoas mesquinhas como Héstia, e Marlene deveria estar certa. Mas não queria me tornar igual a Jones, então andei até ela, que estava conversando animadamente num grupo junto à lareira. O salão comunal estava bem menos cheio que o normal, já que grande parte dos alunos havia partido no trem para as férias de Natal.

Ela me olhou com cara de espanto, como se eu fosse puxar a varinha e atacá-la, mas o que fiz foi simplesmente puxar a mão dela e enfiar a fotografia dentro. Fui embora dizendo:

- Foi bom fazer negócios com você - e ainda tive tempo de ver seu rosto ficar branco quando ela olhou o que eu tinha colocado em sua mão.

Saí pelo buraco do retrato com Marlene em minha cola. Ela me seguiu até a biblioteca, abrindo a boca várias vezes como se fosse começar a falar e desistindo antes de emitir som.

- O que foi? - falei quando já estávamos na porta da biblioteca.

- Eu só estava imaginando... - ela começou naquele tom de quem quer me convencer a fazer alguma coisa. - Você já pensou o suficiente na nossa fuga?

Lançando um olhar desanimado à porta, puxei Marlene para um corredor adiante e perguntei aos sussurros:

- Bom, antes de eu decidir se concordo ou não com essa... essa loucura, preciso saber como iríamos, para começar. Você por acaso não está pensando em ir pedindo carona, está?

- Deixe essa parte comigo, estou trabalhando nisso - ela respondeu, abrindo um largo sorriso.

- Trabalhando nisso? - eu lhe lancei um olhar de desconfiança. - Mas como vamos exatamente? Aparatando? De trem? De vassoura? - minha voz tremeu levemente ao pensar nessa possibilidade.

Ela pareceu ter medo de responder. Estava com certeza imaginando que se me contasse, eu arranjaria imediatamente uns cinqüenta motivos completamente lógicos para descartar a idéia.

- De moto - ela falou, finalmente.

- De moto? - minha boca se abriu involuntariamente. - Onde vai conseguir uma moto? E uma moto que consiga levar nós quatro? Nenhuma de nós tem habilitação e mesmo que fosse o caso, não podemos simplesmente encomendar uma moto num catálogo e pedir pra entregarem antes do Natal! Sinceramente...

Ela colocou as mãos na cintura, irritada, e apenas disse:

- Será que pode simplesmente pesquisar uma boa rota para nós? Por favor?

Eu olhei para o chão me sentindo desafiada pelo tom que ela tinha usado.

- Está bem - respondi. - Deve ter algum livro aqui com mapas de estradas, tenho certeza de ter visto outro dia um na seção de Estudo de Trouxas.

Girei os pés para votar ao corredor da biblioteca, mas Marlene me deteve.

- Mapas de estradas? - ela perguntou, segurando uma risada. - Quem foi que falou em estrada?

Eu a mirei desconcertada. Para mim, ir de moto significava pegar a estrada, rodovias, esse tipo de coisa. Mas pela expressão dela eu temi que aquilo pudesse ser uma coisa do tipo que um trouxa não consegue entender imediatamente.

- E onde sua moto vai andar, na água? - eu realmente temia a resposta.

- Não, Lílian. Nossa moto não vai andar, vai voar!

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