A idéia de Marlene



::McKinnon::

- Você ficou maluca ou algo do tipo? Vai dar detenções pra Aine por causa de uma armação?!

Lílian piscou daquele seu jeito que a faz parecer um gênio e eu uma estúpida, e falou com uma calma tão grande que chegava a ser irritante:

- Você acha que alguém no mundo conseguiria convencer Filch de que isso é armação?

- Mas você sabe que é! - retruquei.

- Eu sei, McKinnon, mas não posso enfiar isso naquela cabeça dura. Então deixe essa detenção comigo e vai ficar tudo bem.

Foi a minha vez de piscar, mas de incredulidade. O pensamento rápido de Lílian às vezes me assustava um pouco.

- Não quero levar uma detenção, mesmo que seja de você - falou Aine com o rosto molhado de lágrimas.

- Não se preocupe, a Lily vai ser legal com você - assegurou Andy.

- Isso não é justo - resmunguei me largando numa poltrona. Ia continuar meu discurso de revolta quando recebi mais uma vez aquele olhar autoritário de Lílian.

Ela se sentou no tapete diante da lareira e Aine a acompanhou, ficando de frente para ela. Eu me sentei entre as duas e Andy fechou o círculo se posicionando a minha frente.

- Quem será que fez isso comigo? - indagou Aine.

- Nossa querida Héstia, eu apostaria minha capa violeta - falei entre dentes.

- É! - concordou Andy. - Ela está querendo se vingar de nós desde aquela discussão na semana passada no almoço!

- Mas se ela brigou com a McKinnon, então por que escolheu a minha sacola?

- Talvez tenha sido mais fácil - falei.

- Duvido - discordou Lílian. - Ela provavelmente acha que atingiu a todas nós incriminando a Aine.

- Eu vou dar um jeito nisso - concluí.

- Não vai adiantar nada, você só vai conseguir ficar em detenção junto com ela se for arranjar confusão com a Jones.

Suspirei e lancei a Lílian um olhar significativo. Ela olhou para mim por um momento, depois se virou para Aine, sorriu de um jeito traquinas e se levantou, correndo para as escadas anunciando:

- Sou a primeira no banho! - o que foi um baita golpe baixo, porque todas havíamos discutindo o caminho inteiro quem seria a primeira a se aquecer no chuveiro.

Acabamos ficando as quatro entaladas na porta do banheiro e tiramos na sorte a ordem para usar o chuveiro. Andy saiu vitoriosa com o primeiro lugar e correu para juntar todo um aparato de roupão, chinelos, toalha, touca e poções espumantes.

Eu me larguei na minha própria cama, completamente inconformada com o último lugar. Aine começou a embrulhar seus presentes de Natal com um papel muito fofo que mostrava uma enorme diversidade de ursinhos jogando quadribol. Sentada no chão com os cabelos bagunçados caindo a todo momento no rosto, parecia um anjo de quadro daqueles que eu tinha no meu quarto em casa.

Lílian se sentou à minha frente e começou a revirar a mochila em busca de seus vários frascos de tinta para recarregá-los com a tinta recém-comprada.

- Jones vai ficar no castelo para o Natal - eu não agüentei e cochichei para ela. - Com certeza vai dar um jeito de espalhar para todo mundo sobre a Aine. Aquela maldita víbora, devíamos ter ido na mesma hora àquela livraria arrancar aqueles cabelos pintados dela!

- Não poderíamos - falou Lílian. - Se ela souber que isso é realmente importante, vai ser bem pior.

- Lily, você quer, por favor, parar de parecer tão calma? - Ela realmente me dava nos nervos.

- Você tem alguma solução? - ela ergueu os olhos para mim e perguntou.

Eu cruzei os braços e fiz uma careta dizendo a primeira coisa que me veio à cabeça:

- Tenho.

- E qual é? - ela perguntou levemente curiosa.

- Vamos fugir nas férias de Natal - respondi como se fosse a solução óbvia. - Quando voltarmos, a poeira já vai ter abaixado. Sem nós aqui, pode ser até que a Héstia desista de contar.

- Fugir para onde?

- Para a casa de uma de nós - eu pensei na minha tia, na família de Andy, na irmã implicante de Lílian. Eram todas opções ruins, exceto por uma: - A casa de Aine. Vamos passar o Natal lá e resolvemos o problema.

Ela não riu como eu esperava; em vez disso sustentou meu olhar balançando a cabeça e falou:

- Se pudéssemos, talvez...

Eu a mirei incrédula. Lílian Evans estava mesmo levando em consideração minhas loucuras impulsivas?

- Não digo a casa onde ela vive agora, mas a casa onde os pais dela morreram. Aconteceu alguma coisa naquela casa que deixou nossa Aine assim, e eu queria muito saber o que é para poder ajudar.

- Está falando sério? - meu queixo deve ter caído vários centímetros.

- Não conte o que eu ouvi a Aine, isso só aumentaria o problema. E também não fale nada sobre essa idéia. Pelo menos não até sabermos o que temos que fazer - ela concluiu. E falava sério. Juro que falava. Eu poderia até mesmo dizer que ela estava desapontada por não ter pensado nisso antes.

Eu tive ímpetos de perguntar o que ela tinha feito com minha amiga Lílian Evans. Mas nesse momento Aine se aproximou de nós, completamente adorável num vestido amarelo que comprara naquele dia, e eu não tive a chance de dizer mais nada. Andy saiu do banheiro e Lily se pôs a juntar suas coisas para o banho.

Minutos depois, Andy estava vestida e, com uma toalha molhada na cabeça, veio se sentar ao meu lado parecendo muito deprimida.

- Estou muito preocupada com ela - murmurou olhando para Aine, que cantarolava enquanto mexia em alguma coisa qualquer dentro do malão. - Ela ficaria muito pior se soubesse, não ficaria?

Concordei com um aceno de cabeça e falei sobre o que eu e Lílian tínhamos conversado há pouco. Seu rosto rosado se iluminou de ânimo.

- É uma idéia genial... Se tivéssemos um bom plano - acrescentou.

- Estou cuidando disso - falei, confiante.

- Só não conte a Aine enquanto não tiver um.

- Não se preocupe, terei o melhor plano do mundo - assegurei.

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::Andy::

- Vou até lá dizer que sabemos que ela é culpada - falei para Lílian.

Eu, Lílian e Marlene ocupávamos a mesma cama numa discussão velada sobre o que fazer com Héstia Jones, que acabara de entrar no dormitório e agora reclamava repetidamente da demora de Aine no banho. Dois dias já tinham se passado desde a nossa ida a Hogsmeade, que terminara numa desastrosa armação, e a detenção de Aine estava marcada para a noite do dia seguinte - uma clássica noite de polimento de troféus, o que era bem melhor do que a sugestão de Filch de ajudar na faxina anual do corujal.

Lílian tinha descartado todas as nossas idéias que incluíam infringir o regulamento - ou seja, todas as nossas idéias. Naquele momento eu entendi muito bem por que Tiago e Sirius estavam sempre pegando detenção; era muito difícil se vingar de alguém sem descumprir as regras.

Eu já ia me levantando para falar com a Jones quando Lílian me segurou pelo braço.

- Não, Andy - ela cochichou pra mim. - Do que isso ia adiantar?

Suspirei resignada e voltei a me sentar ao lado de Marlene, que estava tão impaciente quanto eu com a rigidez de Lílian. Nesse momento, Aine saiu do banheiro enrolada na toalha e Jones começou a se encaminhar para tomar seu lugar. Mais que depressa, Marlene saltou da cama e a deteve.

- Eu estava esperando antes! - falou.

Lílian sacudiu a cabeça como se dissesse "Denovo!" e fez um sinal para que eu a seguisse para fora do quarto. Eu fui com ela, descendo as longas escadas em caracol, chegando a uma sala comunal vazia. Na manhã do dia anterior a grande maioria dos alunos havia partido para passar as festas de fim de ano com a família. Escolhemos lugares num canto junto à janela e nos largamos num sofá fofo, mirando o céu nublado lá fora.

- Então, tem uma idéia? - perguntei.

- Não.

- Mas você... você rejeitou todas as minhas idéias! - reclamei.

- Todas as suas idéias incluíam eu ser obrigada a dar pelo menos um mês de detenções a mim mesma e às minhas melhores amigas - ela falou.

Foi quando nosso sofá se mexeu como se que alguém tivesse se jogado com tudo do outro lado de Lílian. Mesmo sem levantar a cabeça para ver quem era, soube após poucos segundos.

- O que você quer Potter? - perguntou Lílian com toda a sua calma característica.

- Hum... Eu soube que a Bagman está de detenção por contrabandear bombas de bosta.

- E o que você tem com isso?

- Nada, é só que é bom saber que às vezes outras pessoas além de mim levam detenção por causa disso - falou Tiago.

- Mas a Aine é diferente de você! - reclamei, erguendo o corpo e ficando ajoelhada de modo a poder olhar para Tiago Potter. - Ela não estava contrabandeando bombas de bosta, foi uma armação!

Lílian olhou pra mim com aquela expressão que dizia claramente que eu estava falando demais, mas eu sabia que se existisse alguém no mundo que soubesse como fazer Aine se livrar da detenção, essa pessoa teria que ser um Maroto.

- Ouvi comentários sobre isso também - o sorriso de Tiago se abriu, como se finalmente estivéssemos chegando /em/ a algum lugar. - E eu fiquei pensando se Bagman e suas amigas não vão tentar se vingar de quem armou tudo.

- Se veio aqui achando que nós vamos compactuar com uma vingança... – começou Lílian.

- Claro que queremos nos vingar! - eu exclamei sem me preocupar se depois minha amiga quisesse me trucidar por dar razão ao Potter.

- Eu saberia como - disse ele. - Mas acho que vocês não vão querer nenhuma sugestão de um "criador de casos" como eu, não é mesmo?

- Achou certo - Lílian respondeu olhando para mim.

- Não! Nós queremos sim - eu ignorei o olhar dela e continuei dando cordaa Potter. Por mais que ele estivesse apenas tentando se mostrar com aquela conversa mole toda, eu realmente achava que alguma coisa produtiva ainda poderia sair dali.

- Querem? - ele tirou os olhos de mim e os voltou para Lílian, que pareceu engolir seco ao meu lado.

Ela então colocou as mãos no rosto, suspirou e falou, como se não pudesse acreditar que aquilo estava mesmo acontecendo:

- Está bem. Mas eu não vou infringir nenhuma regra, Potter...

- Mas você quer se vingar, não quer?

-Claro que eu quero me vingar daquela va... daquela garota horrível - ela se corrigiu.

- Onde está ela agora? - Tiago alargou ainda mais o sorriso. Nos induzir a fazer algo que é típico dele e de seu grupo de amigos parecia diverti-lo enormemente.

-Hum, acho que está tomando banho, se a Marlene não perdeu a paciência e a atirou pela janela...

Ele então ergueu o corpo e correu em direção às escadas que levavam aos dormitórios dos garotos, voltando instantes depois com algo que parecia uma amalucada câmera fotográfica antiga, daquelas que o fotógrafo some atrás e solta fumaça para fazer o flash.

O olhar de Lílian se iluminou e eu até achei que ela seria capaz de abraçar seu "odiado” Tiago Potter se não estivesse tão preocupada em arrancar a câmera das mãos dele e correr para cima.

Intrigada, lancei um olhar a Tiago e segui Lílian. Encontrei-a parada no meio do quarto. Marlene tinha a cara amarrada, sentada diante da penteadeira com os cabelos sedosos amassados.

- Eu juro, Lily, é a última vez que faço alguma coisa que você me pede - ela resmungou, ao nos ver pelo espelho.

Mas Lílian estava mais preocupada mexendo na tal câmera.

- Tem filme - murmurou, sorrindo como eu nunca tinha visto na vida.

- Certo, o que está acontecendo? Vamos tirar fotos de quem? - perguntou Marlene se erguendo da banqueta e se juntando a nós.

- Bom - fez Lílian com um ar de inocência -, não há nenhuma regra que impeça alguém de entrar num banheiro ocupado por engano. E também não há nenhuma regra que mencione fotografias...

Um sorriso idêntico ao de Lily surgiu no rosto de Marlene e eu só pude acompanhar com os olhos, sem entender, enquanto as duas desfaziam o feitiço que trancava a porta do banheiro.

- O que elas vão fazer? - indagou Aine se juntando a mim.

- Shhh - fez Lílian.

Marlene ia na frente e Lílian a seguia com a câmera em punho. Assim que a primeira puxou a cortina do chuveiro, a segunda bateu a foto antes que Héstia pudesse sequer saber o que estava acontecendo.

Ainda com o grito de Héstia ecoando na torre e a fumaça do flash saindo pela porta do banheiro, nós quatro corremos para fora do quarto, descemos as escadas aos saltos e saímos pelo buraco do retrato, só parando quando Lílian nos trancou dentro da sala da monitoria, todas histéricas de contentamento.

- Você sabe revelar isso? - perguntei rindo tanto que minha barriga doía e tive que apoiar as mãos nos joelhos.

- Sei - respondeu Lílian, e deu a volta na escrivaninha para procurar algo dentro da gaveta. Colocou sobre a mesa uma espécie de travessa retangular rasa e um frasco cheio de um líquido vermelho vivo.

- O que é isso? - perguntou Aine.

- Revelador - respondeu Lily, puxando de um compartimento da câmera um quadrado preto muito fino. Ela o colocou na travessa e derramou sobre ele o líquido vermelho, ao que o quadrado reagiu imediatamente, crescendo e adquirindo cores, a imagem aos poucos se desenhando diante de nós.

Aine era a única de nós que não ria, apenas suspirou desanimada:

- Agora vocês vão arranjar problemas no feriado por minha causa.

- Não me importo mais - falou Marlene. - Não vamos passar o feriado aqui.

- Sério? - eu a mirei esperançosa. - Você já tem um plano?

- Plano pra quê? - perguntou Aine.

- Para...

- Marlene! - Lílian nos olhou significativamente.

- Não me chame assim! - ela reclamou mal-humorada, mas Lílian não lhe dava mais atenção, estava acrescentando mais e mais líquidos coloridos à travessa com a foto no que eu suponho que fosse uma técnica para dar movimento à imagem.

- Tenha paciência, Aine, será uma surpresa - eu disse.

- Um presente de Natal? - Aine arregalou os olhos azuis aquosos.

- Espere, será genial - Marlene me apoiou.

- Por que não me surpreendo ao ouvir isso? - Lílian falou resignada, usando uma espécie de pinça para erguer a fotografia do meio do líquido.

A imagem de Héstia de touca cor de rosa com florzinhas brancas na cabeça e sacudindo uma esponja em forma de pomo de ouro surgiu muito nítida no papel, clara e perfeita, olhando apavorada para nós. Só posso dizer que a foto ficou fantástica, um nu frontal com uma expressão de susto tão grande no rosto que qualquer um poderia jurar que era o Barão Sangrento que tinha invadido o banheiro.

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