Você Não Está Aqui
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St Mungus – 17:56h
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Snape caminhava pelos corredores do hospital acompanhado do medibruxo Terry 
Boot, que fora seu aluno em Hogwarts, há 10 anos atrás. Terry pertencia a 
Corvinal e fora um dos alunos mais brilhantes daquela época. Como de praxe, 
Severus Snape ia calado, envolto de seus próprios pensamentos, enquanto o 
medibruxo ia num solitário monólogo sem perceber que seu antigo professor não 
lhe dispensava a mínima atenção.
Obviamente que era Hermione Granger que povoava os pensamentos de Snape, a cada 
segundo que fosse. Mas, neste momento, o Mestre de Poções estava procurando uma 
forma mais energética de trazer a Srta Granger de volta, assim como lhe falou 
Minerva McGonagall: “...traga-a de volta para nós! Dê um forte motivo para que 
ela retorne...” O único meio pelo qual tinha profundo conhecimento era através 
de Poções...
_Sr Boot... – saindo de seu quase transe, Snape fala pela primeira vez com o 
medibruxo. _...como a Srta Granger está reagindo com a poção que preparamos?
_Bem, Sr Snape, como é algo experimental, creio que ainda seja muito cedo para 
esperarmos alguma reação da Srta Granger... mas, pelos exames mais recentes que 
fizemos, houve uma mínima melhora em seu quadro clínico, uma pequena redução nos 
danos causados ao sistema nervoso pela crucius kedrava.
Terry Boot e Severus Snape chegaram até o leito de Hermione, no Centro de 
Tratamento Intensivo de St Mungus, onde ela jazia num profundo sono, em coma, 
após ser nocauteada com a nova maldição chamada crucius kedrava. Fora a primeira 
vítima a sobreviver a tal maldição, uma fusão de cruciatus com avada kedavra, 
que atinge diretamente o sistema nervoso central e aumenta a temperatura 
corpórea até atingir o ponto de combustão espontânea. Apesar de Hermione, há 8 
anos, ter abandonado completamente o mundo bruxo, fora um grande baque para os 
seus antigos conhecidos, mesmo aqueles que não a viam pelo mesmo período de 
tempo.
O medibruxo afastou as cortinas alvas que ocultavam o leito, dando visão a uma 
Hermione totalmente estática, inanimada. Porém, sua aparência havia melhorado em 
alguma coisa, mas muito diminuta, que apenas alguém muito interessado poderia 
perceber.
_As faces dela estão menos pálidas e suas olheiras menos densas... suponho que 
seja algum benefício trazido pela poção desenvolvida... – dizia Snape, 
segurando-se para não levar a mão ao rosto da moça para acariciá-lo. 
_Mesmo? Tenho vindo administrar as doses de poção, a cada duas horas, mas não 
havia reparado em qualquer melhora externa, mas se o senhor está dizendo... eu, 
ao menos, gostaria de que Hermione saísse desse estágio e, pelo menos, fosse a 
um estágio de ‘coma vígil’.
_Coma vígil? O que significa?
_Na minha opinião, uma melhora. O estado em que Hermione se encontra é o ‘kôma’ 
ou sono profundo, isto é, um estado de inconsciência em que nem sequer uma 
estimulação enérgica a desperta, e durante o qual se perdem as atividades 
cerebrais superiores, conservando-se apenas as funções básicas para a 
sobrevivência do corpo: a respiração e a circulação. É um estado vegetativo, é o 
que popularmente dizemos que está na ‘ponte, entre a vida e a morte’... já o 
‘coma vígil’ é o estado em que o paciente aparenta estar desperto e, mesmo que 
mínima, apresenta resposta a estímulos externos, que prova que a mente do 
paciente está ali. É uma situação bem mais fácil de se lidar, pois podemos 
conversar com o paciente, ele pode sentir cheiros e sabores, o que é uma grande 
ajuda em sua recuperação.
_Então, nada do que falarmos ou fizermos aqui será percebido por ela... – Snape 
afirmava para si, num murmúrio, tristemente, ainda se contendo para não 
acariciá-la.
_Infelizmente, não... é triste ver, sabe? Mães, pais, esposas, maridos, 
filhos... embora o coma não seja algo comum entre bruxos, a reação dos entes 
queridos é a mesma que entre os trouxas, quer dizer... creio que entre nós é 
ainda um pouco pior, os familiares e amigos têm maior dificuldade de aceitar que 
a magia não é milagre, que nem tudo é possível através da mágica...
Terry arrumava sua prancheta no colo, com um último sorriso para Snape:
_Bom, mesmo que ela não esteja aí para ouvi-lo... seria bom conversar com ela um 
pouco, não é mesmo? Talvez se o Senhor chamá-la de ‘Intragável Sabe-Tudo 
Granger’, como na nossa época de escola, ela fique com tanto ódio que acabe 
despertando apenas para repetir aquele antológico passa-fora que ela lhe deu no 
7º ano, tá lembrado?
Snape pareceu se divertir com a lembrança - que estava guardada num cantinho da 
mente - sorrindo, mesmo que desdenhosamente, para o medibruxo.
_Como poderia me esquecer? Foi a primeira e única vez que um aluno me desafiou! 
Tenho certeza que até hoje ela tem pesadelos picando cannabis... um mês inteiro 
pulverizando as folhas, flores e raízes.
_O senhor é mau! Nem vou convidá-lo para nosso casamento! – Brincou Terry, 
sorrindo alegre para o professor.
Snape virou-se para Hermione, seu sorriso desaparecerá do rosto... ele havia se 
esquecido sobre o interesse de Boot pela moça, como havia lhe dito logo cedo, 
pela manhã, quando saía de uma noite em claro preparando a poção no Hospital. E 
ele realmente não precisava ser lembrado disso.
_Realmente pretende investir nisso, não é Sr Boot? – Snape dizia num tom baixo e 
seco, sem virar-se para o medibruxo.
_É claro que sim! Por que não, afinal? Talvez eu até faça isso em sonhos, para 
quando ela despertar, já seja meio-caminho andado...
Terry saiu com o mesmo sorriso, fechando as cortinas brancas em torno do leito, 
deixando Snape com a pior expressão do mundo, aliás, com sua habitual expressão 
para tudo aquilo que lhe desagrada.
Puxando uma cadeira também branca para mais próxima do leito, Snape reparava nos 
dois criados-mudo postados cada um ao lado da cama, recostados à parede 
verde-clara. Havia dois vasos com muitas flores: um com flores comuns, rosas e 
flores silvestres; o outro trazia um buquê de flores miúdas de cor amarela 
radiante, que Snape reconheceu ser Floris Convalescentia, que os bruxos costumam 
presentear os doentes por causa de suas propriedades curativas que eram obtidas 
depois de muito preparo e em utilização com outras ervas e não em estado 
natural, como um buquê. Sorriu levemente da ingenuidade de certas pessoas e seus 
costumes, mas, enfim, ao menos as flores deixavam o ambiente mais agradável. 
Também reparou que havia alguns envelopes, talvez uns quatro, sendo três deles 
em pergaminho e o outro em papel vermelho vivo, coisa de trouxa... qual trouxa 
teria enviado o cartão para St Mungus? Provavelmente, isso era coisa de Minerva, 
ainda mais sabendo da aversão ao mundo bruxo que Hermione desenvolveu nos 
últimos anos... também havia uma caixa com sapos de chocolate, provavelmente de 
Dumbledore, e uma outra caixa, feita artesanalmente mas sem qualquer habilidade, 
que devia ser de Hagrid. 
Observando a moça, cujo único indicativo de que ainda estava viva era o 
movimento do tórax, que subia e descia lentamente sob a coberta de linho branco. 
A conversa com Boot sobre o estado de kôma, agora a pouco, o desanimara. Havia 
acatado o apelo de Minerva e tentaria ‘trazer de volta’ Hermione... cogitava até 
mesmo usar sua oclumancia, mas como isso seria possível? A Srta Granger não 
estava ali, era apenas uma concha vazia. Lembrou-se da comparação que Terry fez, 
ao mencionar que este estado é o que popularmente se diz estar em meio a uma 
ponte entre a vida e a morte... e se realmente houvesse tal lugar, alguma 
dimensão onde a mente física ou alma daqueles que estão moribundos ficasse a 
espera de voltar ao corpo físico ou seguir adiante para outra vida?
Snape cruzou as mãos, com os cotovelos apoiados sobre as pernas. Apoiando o 
queixo sobre as mãos, continuava a dirigir um olhar penetrante à moça no leito, 
esperando que ela lhe desse qualquer pista... estava tentando lembrar-se de algo 
a respeito dessas crenças populares, lembrava-se de já ter lido sobre um estudo 
a respeito, mas algo que envolvia magia negra, talvez. Precisava voltar para 
Hogwarts, tinha quase certeza que fora lá mesmo que havia lido sobre isso, em 
algum de seus milhares de livros de sua biblioteca particular, alguma poção das 
trevas talvez...
Balançou a cabeça como tentando apagar aqueles pensamentos tolos... a morte era 
o grande mistério da vida assim como a única certeza, mas a Srta Granger não 
está morrendo, por Merlin! Ela já até apresentou uma melhora no seu quadro 
clínico! Mesmo que tenha sido pequena, é um progresso e não se passaram sequer 
24 horas que a poção começou a lhe ser administrada. Era ainda uma poção 
experimental, sendo utilizada pela primeira vez, e o caso era grave e novo. Tudo 
que é necessário ser feito, está sendo feito! Agora é uma questão de tempo. 
Certamente antes do próximo fim de semana Hermione estará acordada, talvez mesmo 
até muito furiosa por ter sido trazida para o hospital bruxo.
Severus levanta-se e vai até o leito. Ele não precisa mais se conter. Acaricia o 
rosto da moça, enterrando seus dedos nos cabelos castanhos de cachos macios. 
_Volte para nós, Hermione... não desperdice sua segunda chance... há muitas 
pessoas que a amam, que a querem de volta... há até um pedido de casamento 
esperando por você...
Estas últimas palavras saíram amargas de sua boca, mas se aquilo fosse um motivo 
realmente forte para trazê-la de volta, o usaria a exaustão se preciso fosse!
_Tudo que quero é que você retorne à vida, ganhe sua segunda chance para ser 
feliz... não importa ao lado de quem seja.
Abaixando-se, Snape depositou um demorado beijo terno na testa pálida de 
Hermione. Seus cabelos negros, meio longos e lisos, formavam um véu de cortinas 
para os seus rostos. Sentiu a face aquecer e os olhos marejarem, tudo isso 
estava sendo muito difícil para si. Apesar de todos os pesares, de tudo que já 
passou, viveu e até mesmo provocou, ver Hermione naquela situação mórbida e 
vulnerável, lhe machucava profundamente. E lhe doía ainda mais a alma, ao ver 
que fora essa tragédia a única forma de ter-se aproximado da moça como nunca 
antes fora feito... sentiu uma pontada de culpa, de não ter-se atrevido a entrar 
em sua vida, deixando que seu orgulho e seu preconceito em relação à idade de 
ambos falassem mais alto, impedindo-o, burramente, de se aproximar de Hermione 
Granger. O seu problema fora brio demais, acreditando que poderia livrar-se 
daquele sentimento odioso que o incomodava dia e noite... um brio que o tornava 
ao mesmo tempo mesquinho para consigo mesmo, achando que jamais competiria com 
Potter... é vergonhoso, mas é a verdade! Se ela afastou até mesmo Potter, a 
quem, diziam, que amava, jamais teria qualquer chance de aproximação, nem mesmo 
como amigo, uma vez que a garota o detestava... e o pior é que ele dera todos os 
motivos para tal!
_Não se pode esperar que sejamos adultos e maduros para tudo na vida... – dizia 
tristemente para si mesmo. _...para alguém que passou a vida envolta de ódio, 
terror e trevas, essa é uma situação muito difícil de lidar, sim...
Arrumou a cadeira onde estava, caminhou para fora das cortinas deixando um 
último olhar vagar sobre Hermione, antes de partir.
_É melhor a senhorita voltar por bem, por livre e espontânea vontade, Srta 
Granger! Senão, irei pessoalmente onde estiver e a trarei na marra!
Fecha as cortinas e dirige-se para o laboratório do hospital. É necessário 
preparar mais poções e buscar mais detalhes sobre o estado clínico da moça. Tudo 
que puder ser feito será feito, até o impossível! Nem que para isso tenha que 
voltar a se envolver com magia negra novamente!
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Fim do 6º capítulo - continua
By Snake Eye's - 2004
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N/A.: A descrição de Terry Boot sobre “kôma” e “coma vígil” foi retirada, 
descaradamente, do Dicionário Aurélio Séc. XXI (um excelente programa!), com 
algumas leves modificações.
Antes que alguém moralista pudico e ignorante venha me acusando de colocar Snape 
e Hermione metidos com ‘maconha’, por ter mencionado sobre a detenção da garota 
no 7º ano pulverizando a cannabis (sativa, nome científico do cânhamo) é legal 
ir procurar ver todas as propriedades benéficas que se pode extrair da planta. 
Apenas por causa de um bando de babacas que a usam como alucinógeno (por causa 
do THC – tetraidrocanabinol- substância narcótica encontrada na planta) todas as 
outras milhares utilidades benéficas para a humanidade (inclusive remédios para 
amenizar os efeitos do câncer!), deixam de ser aproveitadas... uma das maiores 
estupidez humana da nossa época! Quer saber mais? Acesse:
www.alterfannativo.hpg.ig.com.br/materia_planeta.htm e clique em “Cannabis 
Sativa”. E, ah, sim, realmente faço apologia à cannabis! Ao seu uso científico, 
utilitário para nosso dia-a-dia, medicamentoso, capaz até de salvar nossas ricas 
florestas da destruição pela “necessidade de sustentação do homem”!
 
                    
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