A Mina de Godric’s Hollow



A Mina de Godric’s Hollow


A noite estava calma ao ponto de se ouvirem os pensamentos, e tão assustadora, ao ponto de fazer os ossos de Harry tremerem nas bases. Era uma noite diferente e cheia de neblina, daquelas que mostravam que os dementadores ainda existiam, e o pior de tudo, estavam se procriando.

Gina ficara em casa a mando de Harry, que fez uma lista de precauções para a namorada antes de sair para a antiga casa dos seus pais. Muito diferente do que imaginava, a casa estava em excelente estado, como se fosse nova.

Hermione andava alerta com a varinha em punho, fazendo o lummus mais brilhante que Harry já vira.

- Não sei por que tivemos de vir hoje, Harry.

- Uma neblina de nada não vai ser problema.

- Só se for pra você! – Hermione esbarrou com força nas costas de Harry. – Não enxergo um metro a minha frente – disse esfregando o nariz machucado.

- Ainda sim acho melhor que seja hoje.

Harry se dirigiu lentamente até um vulto a sua frente, que parecia estranhamente com uma porta. Ele também não conseguia ver muito bem com aquele nevoeiro todo, mas se precisasse, ficaria a madrugada inteira ali até achar a entrada da casa.

- Aqui! – Rony gritou ao longe, e Harry acabou percebendo que o amigo não andava mais ao lado deles. – Aqui Harry! – Sentiu uma luz forte entrar pelos seus olhos, era Rony apontando o caminho. – Estou na porta. Bom... eu acho.

- Tire essa luz da minha cara! Aponte a luz pra você mesmo gênio!

Rony obedeceu à dica inteligente de Harry e apontou a luz da varinha para si mesmo, mostrando o caminho que Harry e Hermione deveriam seguir. Quando chegou até o patamar, Hermione estava com os olhos arregalados em desespero.

- Torci meu pé quando esbarrei em você! – ela disse sinceramente.

- Se você quer voltar, então volte Hermione!

- Eu não vou a lugar algum que não seja ao lado de vocês, tudo bem! – ela disse num gritinho reprimido. – E não me trate assim, Harry, eu não estou reclamando de nada. Desculpe se você entendeu desse jeito – disse tentando se levantar.

- Me desculpe – Harry disse enquanto ajudava a amiga a ficar de pé.

Hermione se levantou com firmeza estampada no rosto e caminhou o mais firme que o seu pé conseguia suportar. Fez um sinal para que Rony não a ajudasse, e abriu a porta da antiga casa dos Potter.

Era exatamente com o exterior: limpo e com o aspecto de novo. Aquilo parecia totalmente estranho, mas conveniente, pois nada pior que sair de um lugar assustador para outro.

- Vamos nos separar ou vocês querem ir junto?

- Você decide cara – Rony respondeu ao mesmo tempo em que encarava as paredes da casa como se elas fossem explodir em algo horroroso a qualquer momento.

- Vamos juntos então.

Harry, Rony e Hermione revistaram a casa inteira, desde o porão até o sótão empoeirado, e não acharam absolutamente nada que indicasse a existência de um horcrux.

- Isso é estranho, deveria estar aqui. – Hermione disse soltando ar de tão cansada que estava. Harry já pensava na possibilidade de não haver nada na casa, mas a opinião de Hermione era sempre uma coisa a se levar em conta.

- Tem que ter algum lugar que nós não olhamos.. tem que ter.

- Mas nós vasculhamos tudo! – Rony disse se sentando no sofá.

- Não tudo! – Hermione abriu estranhamente os olhos, parecia uma louca. Olhou para os lados e finalmente bateu os olhos em direção a porta da casa, que continuava fechada desde o momento em que entraram por ela.

- Você me assusta – Rony disse seguindo os olhos da garota, mas ela pareceu não ouvir. Girou o pescoço lentamente na direção de Rony e disse com um sorriso assustador nos lábios:

- A varanda.

- A varanda?

- Varanda! – Harry gritou de excitação. – Boa Hermione!

Harry abriu mais uma vez a porta da casa, e na hora que fez isso, tomou um tremendo susto: não havia mais neblina, não havia mais escuridão total, e, para o seu espanto maior, a casa não era mais aquela coisa bonita de antes, estava caindo aos pedaços por fora.

- O que significa isso? – Harry perguntou.

- Conheço esse feitiço. – Foi o que Hermione falou para a surpresa de Harry. – Feitiço de proteção.

- Continue.

Hermione riu, mas continuou para responder ao amigo.

- Esse feitiço nos engana mostrando outro lugar qualquer...

- Mas então ele pode estar lá dentro ainda.

- Não, não pode. – Hermione interrompeu. – São só as aparências que mudam, se ele estivesse lá dentro, com certeza sentiríamos ele, exatamente como Dumbledore sentiu na caverna. E essa neblina de antes, muito estranha pro meu gosto, em minha opinião também era magia...

- Você acha que está aqui fora?

- É o único lugar que nos resta.

- A neblina podia estar tentando esconder alguma coisa – Rony disse e Hermione ficou alerta novamente.

- Vamos procurar – ela disse e saiu mancando em direção a Harry, tomando a capa da invisibilidade da mão dele. – Vem – ela chamou os garotos para debaixo da capa, que estava ainda mais curta que no começo do sexto ano.

- Alguém quer me dar uma boa explicação pra nós estarmos andando debaixo dessa capa, que por sinal não sustenta mais nós três juntos, se não há vizinhos ou viva alma andando por aqui? – Rony disse ao se enfiar debaixo da capa.

- Eu tenho uma – Hermione replicou enquanto abraçava os amigos numa tentativa de colocá-los mais pra baixo da capa – Esses feitiços todos são uma prova viva de que esta casa está sendo vigiada, e por isso eu duvido muito que o horcrux não esteja aqui. – Ela apertou Harry para que ele soubesse que as palavras eram para ele. – E se eu não estou enganada, aquilo ali na frente é uma grama amassada.

- E?

- Alguém pisou ali Rony.

- Ah!

- Por isso não faça muito barulho.

- Esperem – Harry fez os amigos pararem de andar.

Era aquela mesma sensação. Aquele mesmo arrepio na espinha. Só podia ser ali, aquele buraco junto às rochas de uma pequena montanha que costeava não só a casa, mas toda uma parte da cidade.

- Há magia ali, eu posso sentir.

- Mas é uma mina de carvão Harry, e nem estamos mais no quintal da casa.

- Ele pode muito bem ter trocado de lugar. Snape sabe que estamos procurando por elas, podem ter sido mais espertos do que nós imaginamos.

- Ele tem razão – Rony disse como se estivesse falando uma grande verdade.

- Vou até ali ver – e saiu depressa de baixo da capa, fazendo Hermione soltar um gritinho de repreensão.

Harry caminhou até a mina de carvão. Não podia imaginar lugar pior para se entrar, pois quando chegou perto daquele buraco no chão, a única coisa que viu foi uma escada pregada à parede do buraco e uma escuridão sem fim. Padre Philip havia falado das minas de carvão que estavam em funcionamento na cidade, mas não pensou que fosse chegar perto de uma; conhecia a má fama desses lugares. Sujos, abafados e extremamente perigosos, com risco de desabar 10 toneladas de terra por cima da pobre alma que estivesse lá embaixo.

A magia estava forte ali. Harry não entendia bem como estava sentindo tudo aquilo, talvez porque estivesse concentrado ou coisa parecida. Mas de uma coisa ele tinha certeza: estava lá em baixo, e ele iria descer de qualquer jeito.

- Vou descer – ele falou olhando para o nada à procura dos amigos que ainda estavam cobertos pela capa.

- Nós vamos, você quer dizer – Rony gritou em meio à penumbra, só então Harry viu uma cabeça voadora a sua frente. – Você ta louco se ta pensando que nós vamos deixar você entrar nisso aí sozinho. – A cabeça voadora deu lugar a um corpo inteiro, e logo depois Hermione também saía debaixo da capa.

- Eu vou primeiro pra ver se está tudo bem lá em baixo.

- Harry...

- Eu vou Hermione – ele disse olhando para o rosto infeliz da amiga, que estava visivelmente morta de medo – não vou deixar nada de mal acontecer comigo. – Ele disse tentando melhorar o astral, mas a única coisa que conseguiu foi uma risada forçada de Rony.

Harry colocou os pés cuidadosamente nos degraus da escada, testou para ver se eram fortes, e só então desceu em meio à escuridão.

Uma luz vermelha apareceria no fundo do túnel quando Harry chegasse lá embaixo. Logo depois uma amarela, para dizer que podiam descer, ou então, uma verde, dizendo para que fugissem.

Rony e Hermione sentaram ao pé do buraco silenciosamente. Tinha um pouco mais de dois metros quadrados com uma escada de madeira íngreme descendo em zigue zague. Hermione não conseguia ver o fundo.

- A escada não tem corrimão!

Hermione sofreu um momento de pânico.

- Não – Rony disse corajosamente.

- Qual será a profundidade? – indagou, com a voz trêmula.

- Deve ter uns cinqüenta metros... – Hermione respirou fundo – no mínimo.

- Pare de me assustar!

- Eu não estou assuntando. Já vi minas perto da minha casa e sei a profundidade delas.

Hermione engoliu em seco. Entrar em lugares escuros e abafados, e acima de tudo, a cinqüenta metros abaixo da terra não era bem o que ela esperava ser a busca pelos horcruxes. “Eu falei que queria vir sozinho”, a voz de Harry soou na sua mente. Hermione não podia mais suportar isso – preferia descer cinqüenta metros de escada sem corrimão a não ajudar o amigo.

Vira uma luz azul brilhar no fundo do buraco. Uma luz tão fraca que Hermione suspeitava que ela viesse de cem metros abaixo deles. Logo depois uma luz amarela muito fraca brilhou lá no fundo. Cerrando os dentes, ela perguntou:

- Vamos?

Se Rony percebeu que estava com medo, nada comentou. Foi na frente, iluminando os degraus para ela, e Hermione o seguiu com o coração na boca. No entanto, depois de descerem alguns degraus, ele disse se virando lentamente para trás, e encarando o rosto contraído de Hermione:

- Por que você não põe as mãos nos meus ombros, para se firmar? – O que ela fez, agradecida.

Ele estava de um jeito que ela nunca havia visto. Parecia um outro homem andando a sua frente, e ela se perguntou se queria que ele mudasse tanto. Gostava daquele jeito dele, e até se divertia um pouco com as cenas de ciúmes. Tirando, é claro, quando viravam brigas. Briga era uma coisa que Hermione odiava.

Após algum tempo Rony parou para deixar que ela descansasse um pouco. Embora Hermione se visse como uma pessoa em forma e ativa, suas pernas doíam, em especial a que havia torcido, e respirava com dificuldade. Ao ver a expressão de preocupação no rosto de Rony, fez questão de aliviar o garoto:

- Você parece saber um bocado a respeito de minas, da profundidade do poço e tudo o mais – disse tentando puxar assunto.

- O carvão já foi um assunto de constante conversa na minha família. Antes de ir para Hogwarts, eu passei um verão com Rodney Ratty, o supervisor de uma mina de carvão perto da minha casa. A mãe decidiu que queria que eu aprendesse tudo o que pudesse, para no caso de um dia achar uma mina só nossa. Besteira, não é! – ele disse tentando parecer feliz, mas Hermione sentiu muita pena dele.

- Quem sabe não é...

- Vamos? – ele disse dando a mão para que Hermione se levantasse.

- Vamos – ela se surpreendeu com a rapidez com que ele mudou de assunto.

Eles continuaram. Poucos minutos depois a escada terminou em um deque que dava acesso a dois túneis. Abaixo do nível dos túneis, o poço estava cheio de água.

- Onde está Harry? – Hermione olhou preocupada para os dois túneis ao seu lado, um misto de curiosidade e medo tomou conta de seu coração. – Eu não posso acreditar que ele nos deixou aqui!

Rony saiu do deque para entra em um dos túneis, virou-se e deu a mão para Hermione. Sua mão era firme e seca, passando uma segurança extraordinária. Quando entraram no túnel, levou a mão dela aos lábios e beijou, num pequeno gesto de carinho que fez o coração de Hermione bater ainda mais forte do que antes.

- E se ele foi pelo outro túnel?

- Vamos descobrir quando terminarmos esse – Rony disse apertando mais forte a mão de Hermione. – Não se preocupe, nós ainda estamos juntos, não estamos? – ele disse com a voz mais amável que Hermione já o ouvira falar. Sua respiração falhou por um momento.

Virando-se para continuar a conduzi-la, ele não largou sua mão. Ela não soube o que fazer daquilo, mas não teve tempo de pensar. Teve que se concentrar em onde pisava. O piso era coberto por uma grossa camada de pó de carvão e ela podia sentir o pó também no ar. O teto era baixo em vários lugares e tinha que permanecer abaixada a maior parte do tempo. Percebeu que tinha uma noite bem desagradável diante de si.

Tentou ignorar o desconforto que sentia. Em ambos os lados, velas bruxuleavam nos intervalos entre as largas colunas, o que a fez pensar na possibilidade de haver alguém ali dentro.

- Será que há alguém aqui dentro?

- Não sei. Mas é estranho estas velas acessas – Rony disse para o pânico de Hermione, que esperava notícias melhores. – As velas são importantes, mas só são usadas em horário de trabalho. Eles deixam algumas a noite, para iluminar o caminho de quem vier buscar carvão caso haja emergência. Está vendo aquilo ali? – Rony apontou para um lugar estranhamente aberto e iluminado a sua frente – É chamada de “salão”. Entre um salão e outro, os mineiros deixam um pilar de carvão, para sustentar o teto.

Hermione subitamente percebeu que acima de sua cabeça havia dezenas de metros de terra e rochas que cairiam em cima dela se os mineiros não tivessem feito seu trabalho cuidadosamente, e teve que lutar para reprimir a sensação de pânico causada por este pensamento. Involuntariamente apertou a mão de Rony, e ele apertou a sua também. Daí em diante sentiu-se muito consciente do fato de que eles estavam de mãos dadas. Pareciam como naquele dia em que estavam na floresta, abraçados por causa da chuva e por causa do medo de que levassem Rony embora novamente. Gostava daquilo. Gostava e queria voltar a ter esses momentos com ele.

Havia um estranho silêncio em toda a mina, pensou Hermione, enquanto caminhavam. Os pingos d’água que caiam pelas paredes não faziam barulho algum, e os ratos que apareciam logo se afastavam. Era um silêncio medonho, onde até as respirações serviam de alívio.

- Esta parte parece estar esgotada – Hermione não tinha a menor idéia do que aquilo queria dizer, mas de qualquer forma teve vontade de abraçar o amigo naquele mesmo momento por ter falado pelo menos uma palavra. – Olhe para as paredes – disse ele, balançando a varinha em arco. A luz muito fraca refletiu-se nos olhinhos de ratos no limite do círculo. Sem dúvida viviam das sobras da comida dos mineiros. – Não há carvão, viu! – Ele disse orgulhoso por saber do assunto.

- Tem razão – ela disse sem entender nada. Para ela todas as paredes por que passaram eram iguais, e aquela definitivamente não parecia diferente, mas a beleza dos olhos de Rony brilhando de orgulho de si mesmo valia a mentira.

- O que é? – ele perguntou enquanto ela ria. Hermione notou que o rosto de Rony estava sujo de preto: o pó de carvão se depositava por toda a parte. Estava engraçado, principalmente quando sorria, e então o contraste dos dentes brancos com a pele escura o fazia ficar ainda mais estranho.

- Você está com a cara preta!

Ele sorriu e tocou no rosto dela com a ponta do dedo.

- E como é que você pensa que o seu rosto está?

- Oh, não! – exclamou com uma risada. Deu-se conta que devia estar exatamente igual a ele.

- Mas mesmo assim você está linda – disse ele, e sem mais nem menos, sem ao menos dar tempo de Hermione se recuperar da risada, abraçou-a.

Ela se surpreendeu, mas não se esquivou: gostou do abraço. Os braços dele eram firmes, e pela primeira vez Hermione pode sentir a aspereza da pele sobre o seu lábio superior, onde certamente devia se barbear.

TEC.

- O que foi isso? – Hermione saiu rápido do abraço de Rony.

- Harry? – Rony gritou e um eco se ouviu um segundo depois. – Eu posso ter certeza de que senti alguém aqui.

- Eu também.

- Sinal de que não estavam realmente concentrados.

Rony e Hermione se viraram automaticamente para trás à procura da voz.

Snape.

Estava magro e ainda mais feio do que o normal. Olheiras profundas e negras coloriam a parte de baixo de seus olhos. Parecia extremamente infeliz, e para pânico de Hermione, que sempre vira Snape como uma pessoa controlada, dessa vez estava com a aparência de um louco. A varinha tremia em sua mão.

- Crucio! Crucio! – Snape pronunciou antes que eles conseguissem se mexer.

Rony e Hermione caíram no chão com um baque surdo e começaram a se debater. Hermione gritava tentando se conter, mas Rony sofria calado. Parecia que a carne se descolaria de seus ossos a qualquer momento, que a pele estava sendo puxada com toda força para fora do corpo.

- Onde está Harry? – Snape falou com a boca crispada. Começou a gritar como um louco por não ter resposta. – DIGA MENINA!

- VAI SE FERRAR! – E foi ai que a dor parou. Por um motivo milagroso, Snape não conseguia mais controla-la depois disso. Ele gritava o feitiço com toda a voz, e Hermione nem sequer se mexia.

- Expeli... – e Hermione foi lançada para trás mais uma vez antes de conseguir falar as palavras, e sua varinha voou para longe de suas mãos.

- Garota idiota! Pensa que pode usar um feitiço como esse contra um Comensal como eu?

- Fique com raiva Rony! COM RAIVA! ESTÁ ME OUVINDO? COM RAI...

- Stupefaça!- Hermione foi jogada mais uma vez para longe, e dessa vez não sentia mais a perna direita. - Cale a boca! – Snape tentou gritar, mas sua voz já não era mais a mesma. Parecia ter envelhecido 10 anos nas últimas semanas.

Aquilo podia ser totalmente maluco, mas Hermione tinha uma teoria: não pense na dor que a tortura provoca, mas sim na raiva que você está sentindo da pessoa que a está provocando. Era a única coisa que a mantinha na esperança de continuar gritando:

- NÃO PENSE NA DOR RONY! POR FAVOR...

Foi nessa hora que Hermione se viu sob Snape. Ele se jogou com raiva por cima dela e bateu com força em seu rosto. Ela sentiu gosto de sangue na boca.

- Você quer sofrer como uma trouxa? – para o horror de Hermione, Snape sorria maliciosamente. – Vou lhe mostra a pior coisa que pode lhe acontecer.

Snape colocou todo o seu peso sobre as pernas de Hermione, e ela agradeceu por não senti-las naquele momento. Ele estava completamente fora de si.

- Não! – Hermione gritou desesperada quando Snape rasgou a sua blusa. Ele definitivamente estava fora de si. Hermione podia ver que em seus olhos havia um tipo de brilho, um brilho horroroso que o fazia ficar ainda mais nojento.

- Você continua sendo uma trouxa nojenta, Granger, e vai sofrer sem magia hoje.

Hermione sentiu uma lágrima rolar pelo seu rosto. Aquilo era horrível. Snape abriu com força as pernas de Hermione, e ela desejou com todas as forças que suas pernas voltassem ao normal. Como ele podia fazer uma coisa dessas com ela? Pervertido nojento! , foi o que saiu da boca dela antes que levasse outro soco. Mais o pior de tudo, era que Rony estava ali. Isso não era certo. Ele, que até então permanecia quieto se contorcendo no chão, agora gritava com raiva. Com tanta raiva que Hermione ficou com medo. Medo do que? Medo que ele sentisse nojo dela depois disso. Medo que ele não quisesse mais ela. Mas quem podia garantir que eles continuariam vivos? Hermione chorou tentando bater em Snape com as mãos, que já estavam marcadas pela pressão das mãos dele.

Quando Hermione pensou que Snape conseguiria o que queria, ele voou para trás e bateu de costas na parede oposta. Rony havia se libertado. A raiva transbordava em seu rosto. Ele bufava alto, e parecia pelo menos um metro mais alto, de tão erguido e esbaforido que estava. Lançou-se para cima de Snape e soqueou tanto ele, que Hermione pensou que o antigo professor morreria de tanta pancada. As mãos de Rony já se enchiam de sangue quando ele foi lançado pra trás.

- Hermioneee... – Foi a primeira coisa que saiu da boca de Rony ao bater com a parede. Não era só Snape que estava fora de si agora. Rony estava igualmente desesperado pela possibilidade de Snape violentar Hermione outra vez. Nunca sentira tanta raiva de alguém como estava sentindo agora. Era uma questão de honra mata-lo. Ele havia matado Dumbledore, mas ver Hermione naquele estado... sua mente revirava em pensamentos sanguinários agora.

- Seu... – Rony correu na direção de Snape mais uma vez.

- Cortare! – Snape gritou e um jorro de luz saiu de sua varinha. Hermione já sabia o que aquele feitiço faria: cortaria ao meio tudo o que tocasse. Arregalou os olhos em direção a Rony, que continuava correndo em direção a Snape.

- Rony! – Hermione gritou em vão. O garoto foi atingido pelo feitiço.

Na orelha.

Hermione não conseguiu conter um suspiro quando viu a orelha esquerda de Rony sangrando. Rony gritou de dor e de raiva, e quando tirou as mãos da orelha, trouxe com ela um pedaço pequeno de carne ensangüentada.

- Rictusempra!!

- Harry! – Hermione gritou ao ver o amigo ao seu lado. Snape desabara com a força do feitiço lançado.

- Finalmente quem estávamos procurando! Conseguiu achar o que veio procurar garoto? – Snape disse com a fala arrastada, aproveitando que Rony ajudava Hermione a se levantar.

- Mate ele Harry! Mate agora! – Rony gritou.

- Seu amiguinho não gostou muito do fiz com a sangue- ruim...

- Cale a boca seu monte de bosta! – Rony passou Hermione para os braços de Harry com extrema facilidade e gritou com toda a força que conseguiu: - Avada Kedrava!!!

A luz verde se formou na extremidade da varinha de Rony. Harry ficou impressionado com aquilo. Rony realmente queria matar. A luz foi pouca, e Snape, com o rosto perplexo por Rony ter conseguido o feitiço, se atirou para o lado um segundo antes do feitiço atingi-lo.

- Avada Kedrava! – ele gritou de novo e Harry pode ver a raiva nos olhos do amigo.

- Vamos embora Harry – Finalmente Harry havia olhado bem para Hermione. Era desolador olhar para ela. Sou blusa estava rasgada, deixando o sutiam aparecer, e só assim Harry percebeu de onde vinha tanta raiva por parte do amigo.

- O que ele fez? – Harry já sabia a resposta, mas tinha que ter uma última esperança.

- Ele ten-ten-tou...

- Mas conseguiu? – Harry já estava cheio de raiva.

- Não... – ela respondeu e uma lágrima correu pelos seus olhos.

Harry puxou ar pelas narinas. Ele sempre fazia isso quando estava para explodir. Soltou Hermione cuidadosamente no chão empoeirado da mina e deu um beijo em sua testa.

- Juro que nunca mais vou me separar de vocês – falou, e ainda ao lado da amiga, tentou lançar um Avada em Snape, mas Harry não o avistou em parte alguma.

Snape sumiu. Rony e Harry se olharam confusos com o acontecido. Rony gritou ao ver que o motivo de tanta raiva não estava mais lá, e para descontar, deu um chute com força na parede, que fez cair areia do teto.

- Maldito! – ele gritou batendo ainda mais forte na parede.

Depois do acesso de raiva, ele pareceu lembrar de Hermione.

- Mione! – ele correu em direção a garota, que tentava se por em pé. – Você está bem?

- Estou viva – aquilo cortou o coração de Harry.

- Você conseguiu o que queria Harry? – Rony desviou o seu olhar preocupado de Hermione para Harry.

- Consegui esse pergaminho escrito pelo R.A.B., e um colar, que de um modo estranho estava largado no meio do túnel.

- É o horcrux, Harry? – Hermione perguntou enquanto passava as mãos no rosto tentando aliviar-se.

- Sim... mas eu não entendo... – Harry fechou os olhos tentando pensar melhor, mas a única coisa que passou pela sua cabeça era que deviam sair depressa daquele lugar.

- Vamos sair daqui – Rony disse convicto e ninguém teve vontade de dizer o contrário. Levantou Hermione com delicadeza pelos braços, e a pegou no colo com tamanha facilidade que Hermione parecia pesar um quilo. – Vamos antes que ele volte.

- Vamos ter que subir as escadas. Não se pode aparatar aqui dentro. – Harry já havia tentado sair aparatando do lugar, mas pelo visto Voldemort havia se precavido mais uma vez.

- Tudo bem Rony... eu posso caminhar, eu acho...

- Nem pensar! – ele apertou Hermione contra si e não deixou a garota ir para o chão.

- Deixe-me tentar ao menos!

Rony soltou levemente Hermione até o chão, ao qual ela desabou no mesmo instante em que o tocou.

- Me desculpem – ela disse extremamente chateada.

- Eu levo você – disse Rony, e sem mais cerimônia levantou-a, ajeitou-a em seus braços e começou a se dirigir as escadas.

Rony carregou Hermione até o topo da escadaria e a arriou na lama gelada da boca da mina.

- Você está bem? - perguntou ele.

- Estou tão contente por ver-me de novo aqui em cima – ela disse cheia de gratidão – que não sei como agradecer... você deve estar exausto.

- Você não pesa nada Hermione... – ele disse olhando triste para ela. Falou como se o peso dela fosse nada, mas deu a impressão de estar com as pernas pouco firmes quando se afastaram do poço. Mas não vacilara uma só vez na subida. Subiu as escadas até mais rápido que Harry, que vinha atrás vigiando se Snape apareceria novamente.

- Vocês têm que aparatar para a casa do Will agora mesmo – Harry disse quando já estava por inteiro fora da mina – eu vou buscar a Gina e as nossas coisas.

- Mas Harry, e o horcrux? – Hermione falou apoiada no peito de Rony.

- Eu levo.

- Mas e se o Snape aparecer... Precisamos pega-lo e...

- Não voltaremos mais pra essa cidade – ele interrompeu a garota. - Nunca mais.

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Hermione estava determinada a não pensar naquilo.

Ficou sentada a noite inteira no chão de pedra do seu quarto, com as costas na parede, olhando fixamente a escuridão. A princípio não pôde pensar em nada que não fosse a cena infernal por que passara, mas gradualmente a dor passou um pouco e Hermione pôde se concentrar nos sons da tempestade, na chuva caindo no telhado da casa, no vento uivando por entre as árvores da floresta...

Rony e Hermione haviam aparatado na casa de William rapidamente, onde o garoto quase teve um ataque cardíaco ao ver a orelha quase mutilada de Rony, e pior ainda, Hermione aos trapos em seus braços.

Rony a levara para o quarto, onde a deitou levemente na cama com o cuidado que se reservaria para um bebê de um mês.

- Temos que ver a sua perna. Você não a sente mesmo? – William perguntou. Havia subido para o quarto junto com eles, com o rosto contorcido de tanta preocupação.

- Eu quero ficar um pouco sozinha agora – ela disse tentando ser gentil.

- Mas pode ser grave...

- Me deixem sozinha, por favor! – Hermione de repente gritou. Percebeu que estava apavorada.

- Vamos lá – Rony disse olhando para William – Tenta se acalmar ta. – Hermione resmungou em resposta.

Saíram do quarto. Foi nessa hora que a tempestade começou a cair. Era como se o barulho dela ocupasse um lugar no cérebro de Hermione, fazendo com que ela não pensasse muito no ocorrido.

Resolveu sair da cama. Hermione não sabia bem o porquê, mas todas as vezes que se sentia triste ou estava prestes a chorar, gostava de fazer isso no chão. Parecia o melhor lugar no mundo para descarregar as mágoas.

Rolou com dificuldade por cima da cama e se deixou deslizar para fora dela. As pernas ainda não funcionavam direito, apenas doíam quando ela se mexia. Mas não era teimosia a razão porque queria ficar sozinha ao invés de cuidar de suas pernas. O nó preso na garganta doía muito mais. Ela queria chorar, mas por uma razão inexplicável, não conseguia.

Ficou contente por estar frio. Ajudava a sentir-se separada do mundo, isolada, e parecia amortecer a dor. Não dormiu, mas em alguma hora da noite, foi tirada de seu transe por batidas na porta. Só podia ser Rony. Resolveu não responder.

O fim repentino da tempestade quebrou o encantamento. Rony bateu ainda mais forte na porta, e ela imaginou como poderia ela ter tanta certeza de era ele no lado de fora. Parecia ser uma coisa indiscutível, só podia ser ele... parecia certo que fosse ele. Ela olhou aborrecida para a porta, ao qual Rony já chamava seu nome: queria ficar sentada ali, encostada na parede, até morrer de frio ou de fome, pois não era capaz de pensar em nada mais atraente que dormir e, pacificamente, mergulhar na inconsciência. Então ele abriu a porta, e a débil luz da madrugada iluminou-lhe o rosto.

O choque a tirou do transe. Rony mal era reconhecível. Sua orelha, de tão inchada, estava completamente deformada. Hermione teve mais vontade ainda de chorar ao ver aquilo.

- Por que não cuidou disso ainda? – ela perguntou levantando a cabeça lentamente na direção de Rony.

- Não tive paciência também – ele disse se escorando na porta, e a luz vinda da janela já não clareava o seu rosto.

- Se você chama o que estou sentindo de impaciência...

- Você não precisa se isolar – ele disse repentinamente e ela sentiu o choro chegando devagarzinho. Estava cansada de chorar na frente de Rony.

- Eu só quero ficar sozinha um pouco.

- Você está sentada aí há duas horas Hermione. Você não quer conversar sobre o que aconteceu? – Era mesmo a vida real ou Hermione estava escutando Rony dizer aquilo mesmo? Conversar sobre aquilo. Ela deveria aproveitar a nova fase amiga de Rony, mas a última coisa que queria era conversar. Tinha uma mania chata: a de quando chorava, não conseguir falar mais nem uma palavra. Se começasse a desabafar, com certeza pararia na primeira frase e teria vontade de se trancar no banheiro. Mas como as pernas não iriam ajudar em nada nesse caso, resolveu ficar quieta o olhando. Podia estar com a orelha mutilada, mas Hermione não conseguia reprimir um suspiro ao ver o contorno do corpo de Rony encostado à porta, com os braços cruzados em uma atitude séria... Parecia grande demais visto de onde ela estava sentada. Por um momento Hermione acordou para a realidade, e viu como aquela pessoa lhe passava segurança. O sofrimento por que havia passado nas mãos de Snape por um segundo se esvaíra, e ela só pensava no porque de Rony ainda não ter chegado mais perto.

Ele deveria estar sofrendo também. Não conseguia nem imaginar o que teria acontecido se Snape tivesse conseguido o que queria. Pensou que Rony ficaria com nojo dela se isso tivesse acontecido, mas sabia que não era verdade. Rony se tornara um anjo da guarda, um amigo para desabafos e um excelente duelista, tudo em um homem só.

- Vem cá – ela disse batendo com a palma da mão no chão ao seu lado. Rony se encaminhou até ela e sentou a seu lado. – Como estão os outros?

Rony ficou quieto por um momento. Ela sabia que não era sobre isso que ele queria falar, mas esperou com expectativa pela resposta.

- Harry e Gina chegaram faz 5 minutos, vieram voando, é claro.

- Uhum – ela não conseguia mais falar. O toque do braço de Rony nela a fazia sentir melhor, mas ao mesmo tempo fraca.

- Quiseram passar aqui, mas eu não deixei. Falei que você já estava bem e que já estava dormindo.

- Uhum.

- Hermione! – Ele disse impaciente, provavelmente por causa dos “Uhums” constantes. - Eu entendo que você deve estar triste, mas eu estou aqui. E eu não quero que você fique remoendo essas coisas horríveis que aconteceram hoje, porque afinal, nós estamos vivos! Ta certo que eu estou sem meia orelha e que você ficou traumatizada... – ela não conseguiu conter uma risada – mas nós estamos aqui. – Ele suspirou alto e olhou para Hermione - Eu estou aqui.

Era impressionante como ele conseguia fazer Hermione rir em meio à tristeza. Ouvi-lo falar trazia esperança para o seu coração. Esperança de que tudo correria bem e alegre, se ele estivesse ao lado dela. Ele estava ali. Maldita guerra!

- Obrigada por me salvar daquele louco – cuspiu com dificuldade as palavras.

- Olha aqui Mi, - ele disse segurando a mão dela com firmeza. O frio que estava sentindo deu lugar ao calor que Rony provocava nela – eu vou sempre estar por perto quando você precisar. Eu quase consegui matar o Snape hoje, e acho que da próxima vez ele não vai ter tanta sorte. Eu juro – Hermione queria aquilo mais do que tudo. – Isso se você quiser continuar...

- Eu quero! – Por nem sequer um segundo aquilo passara por sua mente. Nunca deixaria os amigos lutarem sozinhos.

- Então não precisa se preocupar – ele se aproximou de leve e deu um selinho demorado em Hermione.

- Rony eu...

- Tudo bem, eu sei. – Ele levantou do chão, e quando Hermione pensou que ele sairia do quarto embravecido, ele se abaixou novamente e a fez se erguer, colocando-a em cima da cama. – Se encoste aqui – ele colocou os travesseiros em suas costas. -Tome isso, vai fazer suas pernas melhorarem um pouco – ele bebeu um gole pequeno da poção que trazia para ela – pra orelha.

- Dói muito?

- Um pouco – só podia estar se fazendo de forte, pois a metade da orelha que lhe restava estava em um tom escuro de roxo e parecia palpitar de vez em quando.

- Vai dar um jeito nisso vai... eu fico esperando você aqui. – Ela ficou vermelha ao ver o que tinha dito. Rony abriu um sorriso sem pestanejar – isso se você quiser...

- Capaz! Eu prefiro ficar com aqueles dois homens e a minha irmã lá embaixo na sala!

- Vai logo! – Ela disse rindo, empurrando o garoto para fora da cama.

- Essa pressa toda é só pra que eu volte rápido não, é! – Disse caminhando de costas na direção da porta com um sorriso maroto no rosto. Hermione podia apostar que ele estava tramando alguma coisa. – Leia rápido então.

- Leia rápido? – Rony riu da cara confusa de Hermione, que morria de vontade de pular da cama pra fazer Rony falar, e tirar da cara dele aquele ar superior de quem tem as duas pernas pra andar. – Quando eu estiver boa você vai ver!

Rony só fez rir e num gesto repentino, jogou um beijo para Hermione, que fingiu pega-lo no ar, para depois encostar a mão que supostamente guardava o beijo em sua bochecha. Não colocou na boca só pra ralhar com ele. Rony ensaiou a carinha de infeliz mais linda que Hermione já vira.

- Isso foi por essas frases sem sentido – ela disse rindo da cara dele.

Rony tomou uma expressão dura, e se deslocando com o rosto sério para o lado de fora do quarto, disse antes de fechar completamente a porta:

- Faça com que ela tenha sentido quando eu voltar.


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