Com você



Cap.15 Com você
By Surviana





Aviso: Todas as personagens do universo Harry Potter, assim como as demais referências a ele, não pertencem ao autor deste texto, escrito sem nenhum interesse lucrativo, mas à JKR.

Por favor, não me processem! Só peguei emprestado para me divertir e divertir os outros!





O banheiro do quarto que dividia com suas amigas do terceiro ano era o local mais atrativo para Hermione desde o início da noite. Fazia algum tempo que não tinha insônia, mas desde o começo desse ano letivo, ela não conseguia pregar o olho por algumas noites, até mesmo algumas sucessivas.

O cansativo horário de aulas, a carga imensa de deveres que ocupavam todo seu tempo livre, a preocupação com Harry que estava com uma ameaça mortífera pairando sobre sua cabeça dia após dia e até seu animal de estimação causando-lhe brigas com Rony por perseguir constantemente o Perebas. Parecia ser uma enxurrada de coisas ruins lhe acontecendo, uma após outra. Nada disso, porém, arrancava-lhe tanto o sono quanto aquela estranha viagem ao passado na véspera do Dia das Bruxas.

Logo após aquele acontecimento, Hermione havia procurado a professora Minerva e pedido para ela verificar se o vira-tempo estava com algum tipo de defeito, omitindo, claro, o tanto de tempo que havia regredido e contando-lhe que haviam sido apenas algumas horas a mais que o solicitado por ela no número de voltas. A professora o devolveu no mesmo dia, informando-lhe que nada havia de estranho e que ela podia apenas ter se confundido com a contagem sem perceber. Hermione agradeceu e prometeu redobrar ainda mais sua atenção quando fosse usá-lo, embora tivesse a certeza absoluta de que ela havia feito tudo da mesma maneira de antes, e se algo saiu errado, foi por algum motivo externo.

Nas noites insones, uma batalha acontecia na cabeça de Hermione, e ela se via desesperada em tentar terminá-la. Uma parte de si queria devolver definitivamente o vira-tempo e contar para a professora toda a verdade sobre o que havia acontecido. Por outro lado, sentia-se feliz em ter conhecido um lado de Snape que nunca tinha imaginado, conhecê-lo apenas alguns anos mais velho que ela, ouvir palavras suaves ou de agradecimento.

Palavras que contrastavam tanto com as que ouvira mais cedo do professor que admirava em segredo. Palavras essas que deixaram suas lágrimas ensopar seu lençol e forçaram-na a colocar um feitiço silenciador na porta, evitando que suas colegas de quarto ouvissem seus soluços. Mas elas permaneciam ecoar na cabeça de Hermione com a mesma clareza de quando haviam sido pronunciadas, e faziam o nó de suas emoções se intricarem ainda mais.

- Fique calada, não lhe pedi informação.

Seu lado racional não conseguia pôr em ordem nada do que havia acontecido naquele dia estranho que o visitou, embora tivesse remoído todo aquele diálogo por semanas. O fato mais estranho disso tudo era que, se aquela viagem acontecera mesmo, Snape deveria se lembrar dela, ele ainda devia ter a cicatriz no braço para lembrar-lhe daquele dia, para lembrar-lhe que alguém esteve com ele, ajudando-o, lembrar-lhe dela. Será que ele mascarava tão bem suas emoções que ela nunca percebeu que ele já a conhecia? E se ele lembrava, porque a tratava tão mal?

- Srta. Granger, eu tinha a impressão de que era eu quem estava dando aula e não a senhorita.

Hermione jogou a cabeça entre as mãos e lamentava cada frase que ela e o professor trocaram naquela tarde, lamentava até por Rony ter pego uma detenção por sua causa, por Snape ter razão em sua última frase:

– Menos cinco ponto para a Grifinória por ser uma intragável sabe-tudo.

E por ser ela quem o conheceu jovem. Lamentava também por ser ela quem ele prometeu proteger, e lamentava ainda mais pelo desejo incontrolável que sentia em voltar lá novamente, naquele tempo tranqüilo onde podia estar próxima a ele, conversar, rir, até mesmo chorar, sem que ele soubesse quem ela era de verdade. Dormir era uma tortura por vê-lo em seus sonhos lhe chamando apenas de Tére e sorrindo.




Hermione caminhava apressada pelos corredores. Não estava atrasada, mas achava que se andasse rápido o suficiente, sua mochila pesaria menos, e pela lógica, ficaria menos tempo carregando todo o peso, já que chegaria mais cedo a seu destino – nesse momento, a aula de Estudo dos Trouxas. Por instinto, resolveu verificar se a mochila estava mesmo fechada e, quando voltou sua atenção ao corredor à sua frente, não deu tempo de frear: esbarrou numa massa de vestes marrons e, tanto sua mochila como a pasta do professor, voaram para o chão, a dele espalhando pergaminhos por todos os lados.

- Oh, meu Deus! - Hermione sussurrou, ainda tonta pelo tombo.

- Você está bem? – A voz calma do Professor Lupin parecia bem próxima dela. – Srta. Granger, você está bem?

- Oh, sim professor... mas seus pergaminhos... eles estão voando. – Hermione fez menção de se levantar, mas a mão do professor a segurou pelo ombro com firmeza.

- Eles não são tão importantes e, com um simples feitiço convocatório, voltam todos em ordem para mim. Mas e você, pode se levantar?

- Claro. – Hermione se pôs de pé devagar, mas com firmeza nos pés. Evitou os olhos do professor por pura vergonha em ter esbarrado nele. – Desculpe, professor, eu... eu não o vi a tempo e acabei me atrapalhando toda, e eu não...

- Não precisa se desculpar, Srta. Granger. Eu também não a vi a tempo, e pelos nossos portes físicos, a senhorita acabou levando a pior. Vou acompanhá-la até sua sala, assim verifico que está realmente com tudo em ordem. Podemos?

Hermione pôs-se a andar em companhia do professor. Ele lhe perguntou sobre suas aulas de Estudo dos Trouxas e até sugeriu um título para que ela entendesse melhor alguns dos pontos de vista negativos e positivos de bruxos atuais em relação a trouxas. Ela observava o professor pelo canto do olho, sempre evitando encará-lo. A aparência dele era abatida, típico mesmo de quem estivera doente. Ela fez uma nota mental de pesquisar quais doenças eram mais comuns nessa época do ano e, assim quem sabe, ajudá-lo de alguma forma para se desculpar por tamanha falta de atenção. Mas o encontro com ele serviu para lembrar-lhe da redação de dois rolos que o professor substituto da última aula de Defesa Contra as Artes das Trevas havia pedido.

O professor se despediu dela à porta da sala de aula e novamente lhe perguntou se estava bem, assentindo quando ela lhe deu um sorriso como resposta. Lupin tomou a direção da sala dos professores e não notou a garota ainda o observando, notando os arranhões em suas mãos e na pequena área descoberta do pescoço, a mente rápida fazendo uma ligação que preferia não ter percebido. Esperava estar enganada.

Mais tarde em sua mesa com os deveres, Hermione levantou diante de seus olhos o pergaminho cheio com sua redação de Defesa Contra as Artes das Trevas. Ao lado da pequena bagunça de pergaminhos amassados, estava a tabela lunar que havia pego mais cedo na biblioteca, acompanhado de um livro sobre o feitiço do Patrono.

A expressão de Hermione era de uma imensa tristeza quando passava os olhos pelos pergaminhos e, em seguida, comparava com os dados da tabela. Suas suspeitas provaram-se cada vez mais verdadeiras, os períodos de ausência do Professor Lupin encaixavam-se exatamente com os dias de lua cheia da tabela. O professor era um lobisomem, não havia outra explicação para sua doença misteriosa, e nada podia mudar essa condição. Ele era uma pessoa tão maravilhosa e um profissional tão competente. Por que certas coisas malignas acontecem com quem não parece merecer? E por que pessoas com índoles más sempre conseguiam os melhores prêmios, os melhores acontecimentos e até as melhores vidas?

Não entendia e talvez não tivesse o que ser entendendido nos destinos das pessoas. Eles poderiam estar escritos em algum lugar, ou poderiam ser escritos por elas mesmas. Complexo demais. O que importava era sua relação com seus próximos. E ela, Hermione, gostava do Prof. Lupin, apesar de tudo.




Um caldeirão fervilhava num fogaréu baixo na mesa de preparo de poções do Prof. Snape. Ele estava sentado na sua escrivaninha corrigindo algumas redações enquanto esperava a poção ficar pronta. O tempo frio lhe era agradável, e ele passava horas na masmorra preparando estoques de poções para a enfermaria, lendo alguns títulos recentes de avanços em Poções ou, como nesta noite, divertindo-se pondo notas deploráveis nas redações dos alunos cabeças-ocas das mais variadas Casas.

Olhou a ampulheta sobre a mesa; ele mentalmente começou a contar os segundos de vinte decrescendo ao zero, e sua contagem terminou junto com uma batida firme na porta.

- Entre.

A porta abriu-se dando passagem ao diretor, Alvo Dumbledore. Severo indicou uma poltrona e baixou sua pena indo sentar-se junto ao bruxo mais velho que cuidou de aguçar o fogo na lareira antes de iniciar a habitual conversa que os dois mantinham ao final de cada semana de aulas.

- Vai continuar sem sair, Severo? – Alvo perguntou brandamente.

- Sabe que não posso enquanto eles estiverem por aqui, até os puros estão condenados – como seu garoto-maravilha, por exemplo –, quanto mais uma pessoa como eu. E viagens de lareira não me enchem os olhos.

- O que me preocupa é a sua reclusão. Há quanto tempo não vai ao chalé? Poderia passar uma tarde lá.

- Você sabe melhor do que ninguém o que acontece naquelas visitas, Alvo. Estou começando a desconfiar que está escondendo algo.

- Eu soube que pôs fim ao seu romance no início do ano letivo. Ela parecia ser uma boa moça e fazia bem ao seu humor.

- Então é isso, vocês todos desejam um Severo Snape apaixonado, para assim ele não ser tão intragável. Desculpem desapontá-los, mas não há sequer a mais remota possibilidade disso vir a acontecer. É melhor procurarem uma outra forma.

O diretor sorriu brandamente e assumiu uma expressão de ternura tão grande no olhar que Severo preferiu focalizar seus olhos na parede por sobre o ombro dele, que permanecer encarando-o. A conversa ia tomar um rumo distante das aulas; era sua vida pessoal que o diretor estava analisando, e isso o incomodava.

- Eu estou ficando velho, meu filho, um velho tolo, mas que algum dia conseguirá pedir perdão pelos seus erros, os erros que a sabedoria costuma trazer na tolice que vem junto consigo.

- Eu sei o que você fez, Alvo, já conversamos sobre isso. Só não entendo por que diabos sua hipócrita sabedoria insistiu em me esconder aquilo. Eu nem ao menos posso lembrar do que aconteceu. – Snape suspirou, mas então continuou: – Apesar de nós dois sabermos a conseqüência do que houve e o preço que pago até hoje... Aquele... – ele parecia procurar as palavras – incidente ainda não exigiu o máximo de mim, e eu apenas posso supor que será cobrado, mais cedo do que eu gostaria eu posso arriscar dizer. – Snape olhou sério para Dumbledore, mas o diretor não reagiu. – Apesar do sofrimento que causou em nós dois, você não me deixou saber. – Dumbledore tencionou abrir a boca para responder, mas Snape não o deixou prosseguir. – Se um dia eu conseguir entender, se eu vier a aceitar, talvez eu até chegue a ser uma pessoa melhor quando esse dia chegar. Mas mesmo quando isso acontecer, eu não lhe confiarei, os anos que passei na escuridão, o que senti. Você nunca saberá, não haverá tempo para você, meu caro, mesmo que haja para mim.

Dumbledore fechou os olhos e escondeu o rosto nas mãos. A tristeza era palpável no ar, como a mágoa na voz de Snape quando ele terminou seu desabafo. Durante muito tempo, nenhum dos dois falou; a poção que cozinhava no fogo baixo, cortava o silêncio com suas borbulhas. Por mais que quisesse, Snape não podia negar um sentimento brotando nele enquanto observava o diretor em seu pesar.

- Eu o entendo, meu filho, mas foi preciso.

Quando o mago mais velho saiu do seu escritório e Snape se viu sozinho no frio da noite, um rugido alto de rancor cortou sua garganta e suas forças foram todas impostas para controlar o bolo que subia pela garganta. O fogo na lareira apagou com uma lufada de vento gelado que correu o aposento, resultado da magia tão forte que se desprendeu do corpo de Snape, enchendo o aposento.




Hermione estava deitava sob suas cobertas sentindo-se sozinha. Agora era rotina chorar constantemente, até quando não queria, mas suas lágrimas pareciam já terem feito seu próprio caminho sob seus olhos e com horários próprios para derramarem por seu rosto. Desde o Natal os amigos a tinham abandonado e já era quase março sem o mínimo sinal de que o relacionamento deles poderia melhorar.

Preferia pensar que todo dia era um novo dia e que cada manhã era uma nova chance das coisas melhorarem. Mesmo sem os amigos, era muito mais difícil, mas não desistiria. Esperou as colegas de quarto saírem para o café da manhã e se arrastou até o banheiro. A solidão agora fazia parte de si, e a tranqüilidade que ela trazia era o único atrativo que Hermione encontrava em estar sozinha.

Assim que terminou de se arrumar, apanhou sua mochila abarrotada e seguiu para as aulas do dia. Aritmancia era sua primeira aula. Adivinhação e Estudo dos Trouxas eram no mesmo horário. Era melhor seguir para a aula com sua própria turma e depois ir para as aulas que eles não estariam presentes. Mesmo não falando com ela, talvez Rony ainda estivesse encucado com seu horário e seria melhor não arriscar. Os cálculos que fariam hoje eram baseados na combinação do alinhamento do Sol e de alguns planetas de nomes tão difíceis que Hermione repassava-os mentalmente enquanto subia em direção à Torre de Astronomia, onde Sinistra demonstraria o alinhamento antes dos alunos voltarem a seus cálculos com Vector.

Como já estava cansada... Duas aulas e seguindo para a terceira num mesmo horário. Seguiu desanimada em direção às escadas, olhou para os lados reparando se alguém a observava mais atentamente e, constatando que não, retirou a correntinha de dentro do decote e contou o número de voltas que precisava, sentindo um vento frio correr-lhe o corpo e arrepiar os cabelos da nuca e um vislumbre de cintilação diante de seus olhos. Sorriu.

Seu coração batia acelerado enquanto caminhava apressadamente para a Torre de Astronomia. Se tudo ocorresse como da primeira vez, ele estaria lá. Abriu a porta silenciosamente e passou seus olhos pela extensão do aposento. Acostumando-se lentamente com a pouca luminosidade do lugar, seus olhos encontraram-no absorto no telescópio da janela voltada para o sul. A brisa da noite desarrumou seus fios finos, e Hermione deixou-se ficar parada à porta, admirando aquela imagem inimaginável do Snape observando concentradamente as estrelas e fazendo anotações num pergaminho ao seu lado. Sua mão ágil corria pela superfície do papel, os dedos finos e longos seguravam com firmeza a pena, e ela percebeu que podia ficar horas ali admirando aquelas mãos trabalharem.

Um barulho repentino de vidro espatifando-se no chão, ao mesmo tempo em que uma maldição era praguejada ao vento, trouxe-a de volta à realidade, assustando-a de leve e fazendo-a sorrir logo em seguida quando Snape finalmente a notou parada próxima à porta.

– Hey! Que ótimo! Você espiona as pessoas e denuncia sua posição sorrindo dos desastres delas? Mas que espécie de espiã é você?

Hermione notou o tom divertido na voz dele e sorriu novamente.

– Bem... – ela começou – na verdade eu estava imaginando se você está numa detenção. Afinal, a torre é proibida para quem não está em aula. Mas pensando melhor – ela olhou fixamente para ele, analisando-o –, você não parece estar recebendo algum castigo.

– Detenção! Tsc, tsc... Severo Snape em detenção? – Ele levantou uma sobrancelha em descrença, e Hermione afastou a imagem do seu professor que quis invadir sua memória. – Isso é uma pesquisa. A posição das estrelas e as fases da lua influenciam diretamente nas ervas e em alguns outros elementos que os Mestres em Poções utilizam. Quando colhidos na fase lunar adequada e no alinhamento das estrelas igual, ou o mais próximo possível, ao de quando foram plantados ou de quando os animais que os ofertam nasceram, os ingredientes são muito mais poderosos.

– Poções? – ela repetiu para provocá-lo. – Eu podia jurar que você estava tentando adivinhar o futuro! Deve ser seu desejo mais secreto, ensinar adivinhação...

Os dois gargalharam. Quando ambos se acalmaram, Hermione caminhou até o telescópio e também ficou admirando o céu noturno.

– É bom vê-la de novo, Tére. – Hermione baixou os olhos, corando. Para deixá-la mais confortável, Snape resolveu mudar de assunto: – Mas talvez eu possa descrever meu planeta preferido para você e ainda fazê-la tirar um dez com o charlatão que for seu professor de adivinhação.

Hermione sorriu novamente. – Adoraria.

Snape também sorriu com a resposta dela. Puxando-a pela mão até bem mais próximo do telescópio, regulou-o onde desejava e afastou-se, permitindo que ela observasse.

– Lá está ele, Saturno, o meu preferido. É considerado o Senhor do Karma, simboliza o tempo de plantar e colher, o tempo que devora as suas criações. Ele mostra que a evolução só se dará pelo trabalho, luta, esforço e disciplina, ou, muitas vezes, pela dor. – Hermione sentiu um arrepio quando percebeu que a voz dele estava mais próxima dela agora. Ele estava parado logo atrás dela, e continuou: – A dor precisa ser desmistificada, pois o sofrimento gera consciência. Pela dor nos conscientizamos dos aspectos em nós que precisam de atenção e desenvolvimento. E a própria dor na sua releitura é a dificuldade de aceitar as provações, os limites impostos pelo destino. Afinal, sofrer é saber suportar. – A voz dele soava baixa e séria, era a voz que ela ouvia nas suas aulas, a voz que fascinava quem conseguisse enxergá-lo além de sua capa escura. – Quando assumimos nossas escolhas e responsabilidades, Tére, os problemas que parecem tão pesados se tornam leves, porque simplesmente os aceitamos independente do tempo que nos exige para resolvê-los. Dê início a qualquer coisa, por mais insignificante que seja, com responsabilidade. – Ele levantou o braço para tocar no cabelo dela, mas no meio do caminho, desistiu. – O começo não é a hora de sonhar; o momento requer a mente quieta, a espinha ereta e o coração tranqüilo. Os castelos no ar precisam de cimento se desejamos realizá-los. A realidade é concreta – concluiu, o braço ainda parado no ar, como se tomando coragem para o primeiro toque. Um toque que nunca aconteceu.

Os olhos de Hermione focalizavam o planeta como se em nenhuma das outras aulas ela o tivesse enxergado de verdade. De fato, ele até parecia mais brilhante, chamando a atenção dela com o charme dos seus anéis. Os telescópios bruxos permitiam tamanha precisão para enxergá-lo ainda pequenino, mas muito bem delineado. E relacioná-lo com o Snape agora, mudava toda sua concepção sobre o planeta, e para muito melhor. Hermione olhou para o garoto ao seu lado, ele também já havia desviado seus olhos do céu para olhá-la, ainda com sua preleção. Um segundo arrepio atravessou seu corpo quando percebeu aqueles olhos pretos, tão sinceros, encarando-a, e uma sensação incômoda, e ao mesmo tempo deliciosa, começou a brotar em seu estômago.

– Para chegarmos ao alto da montanha – ele continuou com seu tom firme –, os passos têm que ser cautelosos e firmes. É preciso saber onde se pisa para não atrasar a empreitada. Isso, menina, é responsabilidade – ele a alertou num tom carinhoso. – Essa é a lição do Senhor do Karma: eu posso escolher entre viver minha auto-confiança, me cobrando, me exigindo e tornando as experiências difíceis e dolorosas, ou posso viver como um velho sábio, que sabe ter paciência e perseverança, aceitando com responsabilidade os desafios. A escolha é minha.

Os dois ficaram em silêncio, encarando-se por um longo momento. Depois de tantas palavras que lhe diziam tanto sobre Snape, Hermione não podia responder. Sua única certeza era a de que nunca imaginara que em sua tão jovem vida descobriria tantas coisas sobre uma pessoa desta maneira, simplesmente aprendendo.

– Não parece que acabei de ouvir tudo isso de você... – Hermione finalmente conseguiu dizer, olhando-o admirada. – É tão... – não conseguiu terminar a frase, a palavra não dita ficou no ar, e Snape achou que aquele momento não merecia interrupção.

Ele ficou admirando aquela menina tão misteriosa, a sua Tére, como gostava de brincar para si mesmo, e ficou imaginando como ela veio parar em sua vida. Ela era diferente das outras garotas da escola. Ela era uma grifinória e, mesmo assim, não se incomodou em ajudá-lo quando ele precisara. Mas havia alguma coisa estranha nela... Seus olhos brilhavam enquanto o ouvia falar, mas, de repente, eles simplesmente se apagaram, como se ela tivesse acabado de lembrar de algo terrível, algo relacionado a ele. Mas o que uma garota do terceiro ano da grifinória poderia saber de tão horrível a respeito dele?

– Talvez você não me conheça tanto, Tére – ele quebrou o silêncio, sentindo que precisava dizer-lhe alguma coisa para não perdê-la. – Talvez você nunca venha a me conhecer realmente. E os seus olhos demonstram que você sente medo de mim. – Ele se aproximou mais dela, querendo tocá-la, mas receando que com isso, a assustasse ainda mais. – Seus olhos me dizem o tempo todo que isso pode não ser real, que você não é real. – Ela recuou com estas palavras, e ele apressou-se em dizer: – Eu não quero assustar você.

– Eu não... não posso falar... Eu nem mesmo sei... – Severo notou algumas lágrimas querendo inundar os olhos da garota à sua frente, o que os fazia brilhar ainda mais. – Eu gosto de você... mas não podia...

Uma delas conseguiu escorregar pela sua bochecha, e ele enxugou-a delicadamente com o polegar. Seu estômago se sacudiu quando a pele dela deslizou sob seu dedo. Seu coração acelerou e seu cérebro lembrou-lhe que não estava andando por terras seguras. Antes, porém, que Snape pudesse responder e dizer-lhe que não se importava com isso, Tére se afastou, deixando-o novamente sozinho na Torre de Astronomia. Entretanto, no último olhar que trocaram, ele percebeu que existia uma força muito maior por trás do que acabaram de experimentar.




N/A: Oi gente, (sem cara de pedir desculpas pela demora) preciso muito saber o que vocês acharam. Esse capítulo é crucial para a relação do nosso lindo casal, por isso reviews com opiniões importarão muito!

N/A 2: Renan, o capítulo é dedicado a você. Obrigada pelo imenso carinho. E a todas as meninas fofas que me deixaram coments lindos no capítulo anterior! Muito obrigada mesmo!

N/A 2: Esse capítulo foi escrito à seis mãos. Ferpocel e BatestAzazis me ajudaram a cuidar dele com carinho e prepará-lo para vocês. Muitíssimo obrigada minhas amigas! Beijos!


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