Enxergando nas entrelinhas



Cap.14 Enxergando nas entrelinhas
by Surviana






Aviso: Todas as personagens do universo Harry Potter, assim como as demais referências a ele, não pertencem ao autor deste texto, escrito sem nenhum interesse lucrativo, mas à JKR.

Por favor, não me processem! Só peguei emprestado para me divertir e divertir os outros!





Severo estava parado no meio do seu escritório. A expressão dura que havia em seu rosto combinava com os nós dos dedos brancos que apertavam com tamanha força um pequeno pedaço de pergaminho. Seus sentidos estavam dispersos, sequer ouviu um de seus vidros espatifando-se na estante dos ingredientes de poções e seu conteúdo se espalhar pelo chão.

Os assuntos discutidos na reunião que acabara ainda há pouco na sala dos professores sumiram de sua cabeça no instante que vira a coruja negra encarrapitada na sua janela. Leu as linhas com uma quase certeza do que se tratava. Não errou.

Uma batida na porta o arrancou de seu rancor. Fechou os olhos com força tentando buscar o controle que lhe havia fugido, e somente quando sua respiração voltou ao seu estado normal, Snape acenou a varinha e abriu a porta para o elfo doméstico que lhe trouxe o jantar nas masmorras. A reunião estendeu-se por tempo demais para que qualquer funcionário lembrasse de se alimentar. A criatura entrou e saiu do recinto sem dizer uma palavra, um pedido antigo do mestre de Poções que odiava ser incomodado por quem quer que fosse.

Apanhou um pergaminho limpo e escreveu sua resposta à mensagem. Assim que atou o pergaminho à pata da coruja, ela saiu rápida pela porta do escritório em direção à janela mais próxima. Reforçou as proteções na porta do escritório assim que o animal partiu e aproximou-se de uma moldura próxima à lareira, onde estava retratado um dos mais renomados mestres em Poções do mundo bruxo. Estendeu a mão diante da figura, e a imagem se distorceu um pouco voltando à forma original, revelando em seguida, na pedra lisa em torno de si, uma porta oculta na parede.

O aposento era mal iluminado e ainda mais frio que qualquer outro lugar do castelo. Duas tochas na lateral do portal onde havia entrado eram as únicas fontes de luz e calor presentes ali. Uma estante com alguns volumes pesados e grossos e pequenos frascos de poções, uma mesa de trabalho com um caldeirão pequeno e outro um pouco maior, e um grande baú negro com uma serpente entalhada na própria madeira eram os únicos móveis que compunham o ambiente, tornando-o ainda mais impessoal.

Snape caminhou até o baú, e uma expressão sombria passou em seu rosto quando parou diante dele. Sua memória agitou-se, e as imagens do porquê de ter recebido aquele aposento secreto do diretor quando chegou à escola inundaram sua cabeça.

Data: 10 de Agosto de 1980

Chovia forte, a escuridão tomava conta do bosque onde uma figura encapuzada corria debaixo da densa cortina de água. Suas vestes de tecido grosso pesando como nunca sobre o seu corpo dificultavam o aumento de sua velocidade. A água escorria por baixo da máscara que cobria metade da sua face. Suas botas enterravam-se na lama, atrasando-o em encontrar seu destino.

Um murmúrio baixo saltava de sua boca, uma prece para qualquer um que pudesse ouvi-lo naquele momento, fosse quem fosse. O vento rugia na copa das árvores, e o frio cortante dava-lhe uma sensação de congelamento em cada um de seus músculos.

Avistou uma clareira mais à frente, risadas chegaram aos seus ouvidos antes de avistar qualquer ser vivo. E o frio... O frio dessa vez, sim, penetrou em cada um de seus músculos atingindo seus ossos e fazendo-o cambalear na correria. Uma nuvem se formava a sua frente, era a névoa que sua própria respiração lançava diante de seus olhos.

Quando avistou os vultos difusos de mais pessoas naquele bosque escuro, reconheceu feitiços dispersos voando para todos os lados, e dessa vez, as risadas desdenhosas encheram seus ouvidos, causando uma onda de tontura ao se chocarem com o sangue que latejava em sua cabeça. E o rugir da tempestade que desabava não cessou. O frio agora se tornara quase insuportável, Severo lutara contra seu próprio corpo, trouxera a última fonte de calor e energia que havia dentro de si para não interromper a corrida.

Quando entrou no círculo de maldições que ecoavam, percebeu, com horror, corpos espalhados pelo chão. A sua mão direita segurava a varinha, tremendo fervorosamente por debaixo de suas vestes, enquanto ele tentava em vão distinguir qual daquelas pessoas era quem procurava. Mais de duzentos metros adiante, avistou, embora seus olhos se recusassem a ver o que lhe era mostrado.

Um Dementador enlaçava o pescoço de uma mulher indefesa. O corpo dela se mexia desordenadamente, lutando em vão contra o monstro que a segurava pela garganta. Lutou só alguns segundos mais depois que Severo pôs os olhos na cena, no instante seguinte, um odor fétido inundou o ar ao redor e as risadas cessaram. Severo ouviu “pops” dispersos, indicando que os bruxos que se divertiam com a cena tinham desaparatado.

Uma névoa brilhante saiu da boca da mulher, desaparecendo ao ser sugado pela boca escancarada do maligno Dementador que a segurava. O corpo se debateu só mais uma vez e caiu pesadamente no chão, quando as mãos podres que a seguravam soltaram seu pescoço. O Dementador deslizou em volta da vítima, o odor fétido enchendo ainda mais as narinas de Severo. Outros três se juntaram ao monstro num ritual de giros em volta do corpo no chão.

Severo caiu de joelhos quando o odor se intensificou ainda mais, suas entranhas se reviraram e vomitou pôr sobre a lama a sua volta. O restante das forças que lhe acompanharam até ali lhe abandonaram, e ele caiu em cima de seu próprio vômito, a última coisa nítida em sua mente fora à luz interior da mulher que o gerou sendo sugada pelo demônio encapuzado, em seguida, desmaiou.



Severo deslizou pro chão de pedra sem conseguir se manter em pé. Uma onda de náusea tornava a invadi-lo como em todas as vezes que aquela lembrança o assolava. Apoiando-se com uma mão no chão liso e outra no próprio baú, fez mais uma tentativa de se levantar, até se dar conta de que tinha encostado sua pele no móvel escuro. Com uma rapidez que desconhecia, sua mão saiu do contato com a madeira, e ele pesadamente caiu no chão quando uma nova onde de náuseas o acometeu.

Arrastou-se pelo chão, tateando em busca da parede. Erguendo-se quando conseguiu se apoiar nela, deixou o recinto mais rápido que entrou. Não olhou pra trás quando a moldura mexeu-se de novo e ocultou novamente o beiral da passagem na pedra lisa. Sua mão tremia tanto quanto na noite daquela lembrança que o invadiu minutos antes quando alcançou a pena para escrever uma nova mensagem. Teria terminado em alguns minutos se não estivesse tão alterado psicologicamente. O que eram para ser três minutos, transformaram-se em três horas, e quando se deu conta, ele é quem recebia uma mensagem que não gostaria.

Não se deu ao trabalho de ler as linhas dessa vez, virou o pergaminho e escreveu sua resposta na parte de trás do papel. A coruja revoou novamente por onde havia entrado, mas dessa vez, Severo a acompanhou. A passos largos, seguiu pelos corredores desertos da escola em direção as portas de entrada. Minutos mais tarde alcançava os grandes portões e, assim que deixou para trás as proteções da escola, desaparatou.

Um ar de tristeza pairava no campo ao redor do pequeno chalé. Severo apertou as vestes contra o corpo quando uma aragem mais fria encostou em sua pele. Os passos rápidos com que havia feito o caminho nos corredores já não existiam, eles agora eram lentos, melancólicos, quase trôpegos. Distinguiu uma figura esguia sentada na pequena varanda, as longas vestes flutuando atrás dele, agitadas pela brisa fria que inundava as narinas de Severo com o cheiro de relva. Severo sentou-se no degrau de madeira ao lado de onde o diretor de Hogwarts admirava tranqüilamente as estrelas.

- Imaginei que estaria aqui.

- Também supus que viria Severo. Recebeu um convite, estou certo?

- Sim – Severo suspirou pesadamente. – Não consegui... E não sei se algum dia conseguirei...

- Vai precisar fazer tudo de novo Severo, não terminou ainda. Você, melhor que eu, sabe disso.

- Aquelas vestes, aquela máscara... – sua voz saía forçada –, me enojam...

- Você tem maturidade e inteligência suficiente para saber que terá que superar isso, Severo. Já faz onze anos, e por mais duro que seja de aceitar, não há nada que se possa fazer para mudar tudo que aconteceu. Você vai precisar vesti-las de novo, vai precisar se fechar ainda mais quando for questionado por uma explicação desses anos de recusa as comemorações particulares.

- Não se antes... eu...

- Então ela está aqui em vão. Pegue a varinha e vá lá dentro, sabe o que fazer.

Severo levantou os olhos para ele, uma raiva cega subindo pela sua garganta. – Você espera demais dos outros, Alvo! Já parou para pensar no que fazer se o seu maravilhoso prodígio fracassar? Tudo depende dele! Não me peça para assumir uma responsabilidade que cabe àquele estúpido que não tem nada na cabeça! E se todos nós nos esforçarmos e ele destruir tudo no final? Pra onde irá sua maravilhosa crença em esperança? Está tão cego nessa maldita espera que ainda não notou que ele nada mais é do que uma combinação de sorte com uma amiga talentosa e uma inútil habilidade de vôo?

Sua respiração estava descompassada quando terminou seu despejo de frustrações em cima do bruxo mais velho; o controle que impôs a si mesmo para não ter que gritar com talvez a única pessoa pela qual sentia respeito o havia deixado totalmente alterado fisicamente.

A calma na voz de Dumbledore quando o respondeu o irritou profundamente. O velho não parecia sequer ter ouvido uma única palavra de tudo que Severo havia dito.

- Não ter esperanças nos faz deixar nossa essência para trás, Severo. Somos bruxos, ou mágicos como alguns nos chamam, mas ainda assim humanos, e humanos respondem a estímulos. Nós sempre buscamos caminhos que nos mostrem uma luz no fim do túnel. Se não os buscarmos, vamos acabar esquecendo o verdadeiro motivo de um dia termos caído de pára-quedas nesse mundo. Agora mesmo – Dumbledore apontou o tapete luminoso acima deles -, veja, existem milhões e milhões delas, e só olhá-las devia nos bastar para sermos felizes. Ter o privilégio de vê-las e saber que estarão lá, dia após dia. Precisamos manter a esperança acesa, Severo, mesmo que tudo dê em nada, mesmo que muitos fiquem pelo caminho, até nosso último suspiro, precisamos acreditar, ajuda-nos a sobreviver.

Aquelas palavras remexeram incomodamente num cantinho da mente de Severo que ele achava estar dormente há muito tempo. Pôs-se de pé, disfarçando sua perturbação e evitando que um silêncio acusador se instalasse.

- Bom, Alvo, a escola está sem diretor; os professores precisam estar presentes. Vai ficar mais um pouco?

- Não, não, só estava esperando você, Severo, tenho uma bela torta de limão me esperando após o jantar. Ah, a propósito, já ia esquecendo, não use esse desagradável acontecimento na escola para adiar algum compromisso particular; respirar outros ares sempre faz bem.

Severo não teve tempo de questioná-lo sobre o que queria dizer com esse comentário, assim que terminou sua fala, o bruxo aparatou e Severo se viu apenas admirando a grama balançar no lugar onde antes os pés de Dumbledore estavam.




Quando o verão se espalhou pelos terrenos da escola, Severo recebeu mais uma carta de Marylin lembrando-o do compromisso na quinta-feira. Embora o ambiente instalado no castelo não fosse propício a alegrias, uma profunda onda de prazer o invadiu, pensando que um pouco de suas preocupações poderiam se dissipar nas horas que passasse com ela após a palestra. Nem mesmo a entediante tarefa de acompanhar os alunos à cada aula seguinte.

Quando a noite desceu sobre o castelo e suas obrigações foram enfim concluídas, Severo saiu de seus aposentos mais bem vestido que de costume, não esquecendo de lançar em si próprio um feitiço glamour para não ser incomodado pelo caminho. Mas seus passos silenciosos e sua total atenção em não ser visto teriam dispensado totalmente o uso do feitiço, mas precaução nunca era demais.

Bateu na porta do escritório da vice-diretora somente para confirmar se ela havia recebido seu recado mais cedo de que precisaria se ausentar, com um assentimento dela, retornou ao próprio escritório, desfez o feitiço e apanhou um punhado de Flu na vasilha ao lado da lareira e sumiu no meio das chamas, assim que proclamou “Ministério da Magia”.

Um grupinho de bruxas conversava animadamente próximo a fonte de ouro. Em outros diversos pontos do Átrio, grupos de bruxos também conversavam cordialmente uns com os outros. Uma mão ia tocá-lo, quando ele próprio apanhou o pulso no ar e não a deixou se aproximar. Aspirou mais profundamente o ar perfumado ao seu redor, e em seguida, o rosto sorridente de Marylin postou-se frente ao seu.

- Não acredito que está aqui!

- Eu também não, Marylin, acredite.

- Como estou? Bem?

Severo lançou um de seus olhares mais penetrantes em toda extensão do rosto de Marylin, os olhos dela não piscaram antes que ele se desse por satisfeito e um sorriso com uma leve ponta de sátira desviasse um pouco o canto de sua boca.

- Um parecer razoável diria apenas: nervosa e insegura.

Ela pôs as mãos no rosto. – Nem meu sorriso escondeu?

- Dos outros sim. Aparentar frieza quando não a tem é um ato corajoso, às vezes somente o esforço de manter as emoções impassíveis vale mais que mostrá-las.

- Se eu comentasse que isso é a sua cara, o que faria comigo? – ela perguntou com mais um sorriso estampado no rosto.

- Não quer mesmo que eu responda, quer, Srta. Gamp? – Severo desafiou.

Marylin somente sorriu, e entrelaçando seu braço ao dele, seguiram para o elevador que dava acesso aos andares mais inferiores. Na despedia entre as diferentes entradas do público e dos palestrantes, Severo apertou mais forte as mãos da moça e deu-lhe um suave beijo na testa. Obteve um sorriso nervoso dela antes de dar-lhe as costas e desaparecer pela porta à direita da passagem para o auditório.

Ao passar pela entrada, um dos bruxos postado ao lado da entrada entregou-lhe a programação da palestra. Severo acomodou-se numa das poltronas do final do corredor central, ficavam mais próxima à saída, e ele evitaria a aglomeração pós ministração. Abriu o cartão com a programação e leu atentamente as linhas escritas, só então se deu conta do tema da palestra: viagens no tempo. Mais abaixo no cronograma aparecia o nome de três bruxos e os respectivos assuntos de sua ministração. O de Marylin vinha logo abaixo do primeiro nome, com o subtítulo embaixo do tema da sua própria explanação: viagens no tempo - reductio ad absurdum.

Seu subconsciente remexeu-se desconfortavelmente. Severo não vinha mais pensando no verdadeiro motivo de sua aproximação com Marylin há um bom tempo. Na verdade, todas as razões haviam sido deixadas de lado quando se deu conta que a companhia dela realmente o agradava. E além do mais, não se viam há tanto tempo, que hoje, nesse momento, ele não havia parado pra pensar se essa era uma oportunidade de remexer nesse assunto.

O primeiro palestrante iniciou sua preleção, e os olhos de Severo ainda focalizavam as três letras abaixo do nome de Marylin. A imagem dela pairava na sua cabeça, e seus pés somente pisaram em solo firme quando à voz dela invadiu seus ouvidos e o arrancou do passado. Cada palavra que ouviu na voz magicamente amplificada dela sacudiu sua memória e derrubou as certezas que ele havia instaurado dentro de si no instante que a conheceu.

- Viagem no tempo deve ser proibida porque o tempo é apenas empiricamente real e não existe independentemente entre as próprias coisas. O que as pessoas realmente vêem quando voltam ao passado utilizando um vira-tempo é simplesmente uma projeção do que nosso próprio subconsciente guardou sobre os momentos vividos. Alguém alguma vez voltou no tempo para um lugar onde não tenha estado...?

As palavras dela morriam sobre sua mente, quando uma nova imagem a invadia e ele tentava afastá-la, procurando dar total atenção a cada frase que ela dizia, todas para convencer a platéia da inutilidade de viagens no tempo.

- ... não podemos pensar num tempo uniforme e linear e separado das coisas, mas num tempo entrópico, que se degrada com o tempo, tendendo ao fim do próprio tempo, ou seja, a deixar de existir quando o próprio tempo se afasta.

Alguns murmúrios foram ouvidos no fim dessa explanação, Severo pôde captá-los enquanto sua mente remetia ao primeiro encontro deles e a sensação que se instaurara no seu interior ao se deparar com os olhos brilhantes de Marylin.

- Poderia ser pensado que todo exemplo de viagem no tempo gera um número infinito de universos alternativos, que violam a idéia de que um universo alternativo, pode gerar conseqüências perturbadoras para a metafísica de identidade. Que significado há se existe um número infinito de cada pessoa, todas encarando um universo ligeiramente diferente?

Os aplausos despertaram-no automaticamente para o tempo de se levantar e sair da sala. A noite ainda teria mais apresentações, mas ele não conseguiria ouvir, não hoje, não dela, não sobre passado. Desceu para o Átrio e, assim que pôs os pés no piso que permitia aparatações e viagens de Flu, escolheu a lareira mais próxima.

O frio nas masmorras, tão familiar para si próprio, parecia penetrar em seus ossos nesta noite. Por que um engano o deixava tão vulnerável? Por que se fingia tão forte, e quando cometia um simples deslize, seu espírito o condenava a fraqueza com tamanha intensidade? Quantas vezes já tinha se enganado com relação a isso? E por que, em todas as vezes que fracassava, se sentia um inútil?

Uma garrafa de Ogden o acompanhou em cada uma de suas divagações sobre o passado e o presente que se entrelaçavam em cada uma de suas doloridas memórias. A noite chegou e se foi, somente suas obrigações como mestre o levaram de volta a sua rotina habitual, mas agora, um tormento engavetado meses atrás voltava a sua mente: na turma que tinha pela frente, uma cadeira vazia o lembraria que a dúvida que o atormentava ainda o perduraria por um bom tempo. E só podia esperar.




O fim do ano letivo se aproximava, e quando tudo pareceu calmaria para Severo, um vento arrasador de maus fluídos arrastou-o para um buraco de mau humor, no mínimo, três vezes pior que seu habitual. Num único dia, três corujas importunaram-no somente no café da manhã, a primeira de Marylin Gamp com uma carta extremamente irritante e chorosa, a segunda de uma colunista do Profeta Diário, afirmando tê-lo visto aos “amassos” com uma bruxa em pleno Ministério da Magia e pedindo-lhe autorização para publicar o fato no jornal, e a terceira e última, que o fez perder totalmente o apetite, era de Lúcio Malfoy, dizendo que faria uma visita cordial a escola mais no final da tarde.

Sair do Salão Principal no meio do café da manhã lhe causaria ainda mais transtorno, por dar motivo de especulações entre os outros professores. Foi no instante que já pensava que a alternativa das especulações era mesmo melhor do que ouvir aquela barulheira irritante de alunos, que finalmente uma notícia agradável o alcançou. Um elfo doméstico trazia um pequeno bilhete e entregou-lhe discretamente.

Estão prontas, se começarmos agora, ainda hoje ressuscitaremos os alunos.

Papoula.


Sua saída do Salão sequer atraiu o olhar de algum dos professores, certamente cada um havia sido avisado pela vice-diretora que as mandrágoras estavam maduras e que o mestre em Poções seria o professor responsável em auxiliar a medibruxa.

Durante o dia inteiro ele se ocupou com o Tônico Restaurador, sempre auxiliado pela atenta enfermeira. A austera senhora quase bateu palmas quando Snape anunciou que a poção somente precisava de mais uma hora cozinhando e o ponto estaria perfeito.

Madame Pomfrey ficou eufórica e solicitou a Snape que chamasse mais alguns professores para ajudá-los. Cada aluno precisaria estar em companhia de algum adulto para que ela pudesse entoar os feitiços de verificação das funções vitais todos de uma única vez, evitando assim que algum deles sofresse um colapso por atraso no atendimento quando o Tônico fizesse efeito.

Ele deixou a ala hospitalar em direção à sala dos professores, mas no primeiro corredor que dobrou, ouviu a voz magicamente amplificada de Minerva McGonagall.

- Todos os alunos voltem imediatamente aos dormitórios de suas Casas. Todos os professores voltem à sala dos professores. Imediatamente, por favor.

Severo apressou ainda mais o passo para alcançar a sala dos professores. Mais uma petrificação era o mais leve que poderia ter acontecido depois de tanto tempo sem nenhum ataque. A porta da sala dos professores foi batida pelo menos outras dez vezes depois que o fizera, e com mais intensidade.

O olhar de Minerva revelava o quanto de pesar havia na revelação que estava prestes a fazer. Severo não conseguiu antecipar o que ela falaria, aquela expressão sombria que se espalhava pelo rosto da velha bruxa ele não lembrava ter visto algum dia.

- Aconteceu. Uma aluna foi levada pelo monstro para a Câmara.

Snape agarrou com força o espaldar da cadeira mais a sua frente e viu seus colegas de trabalho terem reações muito piores que a sua. Nenhum deles estava preparado para o que tinha acontecido há anos atrás.

- Como você pode ter certeza? – inquiriu.

- O herdeiro de Slytherin deixou outra mensagem. Logo abaixo da primeira. O esqueleto dela jazerá na Câmara para sempre.

Severo ouviu o choro de Flitiwick e os soluços de Madame Hooch ao seu lado. As reações pioravam a cada palavra que saía da boca da vice-diretora. Se o fato se consumasse, o próximo passo de cada um deles seria...

- Lamento muito, cochilei, que foi que perdi?

Snape conseguiu sentir as vibrações de todos os olhares odiosos lançados para Lockhart, inclusive o seu próprio.

- O homem de que precisávamos! Em pessoa! Uma menina foi seqüestrada pelo monstro, Lockhart. Levada para a Câmara Secreta. Chegou finalmente a sua vez.

Snape percebeu com satisfação o efeito das palavras sobre o patético professor. Seus companheiros de trabalho também perceberam onde ele queria chegar e todos puderam vingar-se por terem passado o ano letivo em companhia tão funesta.

Logo após a resolução da vice-diretora de manter Lockhart afastado, Snape providenciou, sem muito esforço, que os alunos de sua Casa permanecessem em seus dormitórios. Bastava uma simples recomendação com uma carranca mais séria, e tudo ficava sob controle. Precisava voltar à ala hospitalar, o Tônico já devia estar quase no ponto de ser ministrado.

Severo, Madame Hooch, Sprout, Flitwick, Filch e Vector reuniram-se na ala hospitalar poucos minutos depois. Um silêncio pesava sobre o ar, fazendo-os até suspender a respiração nos instantes em que Papoula passava as precauções para com os alunos. A medibruxa chamou Severo um pouco mais afastado dos outros.

- Severo, sua Casa é a única que não tem nenhum aluno aqui, isso automaticamente o transforma no único Diretor de Casa sem obrigações. Não desmerecendo os outros funcionários, mas a Casa de Grifinória está sem sua diretora e acho que deva confiar essa tarefa a você. Cuidaria da menina Granger?

Severo assentiu sem argumentar, o comentário da medibruxa sobre a direção das Casas parecia plausível. Embora a coincidência de que sempre era ele quem acabava ao lado de Hermione Granger quando ela se encontrava em uma situação delicada o incomodasse. Mais que diabos! Isso nunca vai parar?

Seria simples se todas as vezes que precisasse tocar em alguém ela estivesse petrificada. Essa idéia só funcionaria na teoria. Quantas e quantas vezes, principalmente na adolescência, teve o desejo de que todas as pessoas com quem tivesse que se explicar, ou naqueles momentos embaraçosos em que sua timidez o levava a uma coloração tomate, fossem estátuas? Perdera a conta.

Mas tocar numa pessoa petrificada... uma pessoa que sorriu pra você, que tagarelou por horas e que o deixou uma semana inteira irritado por tantas perguntas... isso era completamente surreal. O dia que a encontrou petrificada nunca esqueceria, qualquer aluno que fosse, ali no chão, daquela forma, o deixaria profundamente impressionado, mesmo obstante que no curso de sua vida tivesse visto horrores dos mais variados níveis, mas não ver o brilho que...

- Moi stenr! Thverr stenr um atra eka hórna!

O sussurro do encantamento cortou o extenso silêncio da enfermaria. Severo apanhou a delicada taça com o Tônico, no breve instante que línguas de fogo vindas do feitiço lançado pela enfermeira brilharam sobre os rostos dos alunos petrificados devolvendo-lhes a forma humana o tempo suficiente para que o líquido fosse ingerido por seu organismo.

O silêncio tornou-se mais mortal ainda nos cinco minutos de espera, cada qual dando atenção ao seu devido paciente. Quando muito lentamente Severo pôde apreciar a cor voltar à face da garota, os olhos dela se fecharam com a pouca luminosidade da enfermaria, mas ainda assim incômoda a sua visão não-habituada. Suas mãos agarraram cada um dos pulsos dela, e ele pôde sentir seus batimentos cardíacos voltarem. Afastou uma mecha de cabelo do pescoço, para verificar também ali a pressão sanguínea. Um pequeno sorriso escapou de seus lábios quando pousou a mão sobre sua testa e sentiu o calor da vida voltando.

Papoula lhe sorriu de longe, enquanto examinava Colin mais atentamente por ser o mais novo. Ao voltar seu olhar ao rosto de Hermione Granger, Severo se deparou com o par de olhos cor de mel encarando-o, a confusão estampada neles.

- Bem vinda de volta, Srta. Granger. Mais uma vez. – A voz calma que ele sempre usava quando a necessidade assim ditava.

- Eu... acaboou... professor? – A voz rouca, saída forçada, doía sua garganta.

- Acabou, Srta. Granger. Está tudo bem agora, com você e seus colegas. – Snape apontou as camas dispostas ao lado da dela onde cada ocupante parecia conversar o mesmo com seu ressuscitador. Após uma olhada longa aos demais alunos, Hermione voltou a olhar para o professor a sua frente.

- Eu... sempre estarei de... volta enquanto estiver por perto... professor? – A voz ainda trêmula não afetou a sinceridade das palavras dela. O mestre de Poções não pôde segurar a pequena barreira que caiu diante de tanta fragilidade; as palavras escorregaram da sua língua antes que a razão o impedisse.

- Sempre.




N/A:

Final da temporada Câmara Secreta! Próximo capítulo em Prisioneiro de Azkaban!
E se não deu para a galerinha perceber, aquele foi o motivo do Severo ter voltado para a luz.
A passagem onde insinuo que a cadeira vazia de Hermione o incomodava, realmente consta no livro: página 223 de Câmara Secreta, quarto parágrafo.
E o fato de ser ele a preparar o Tônico de Mandrágoras, e não a enfermeira, também consta no livro: página 126, os dois últimos parágrafos, e a resposta do Severo no primeiro parágrafo da página 127.

N/A-02:

Não vai adiantar pedir desculpas, melhor descrever um pouquinho da minha luta nesse último mês:

Primeiro: Intenso problema de saúde.
Segundo: Primeiro tratamento para o problema acima.
Terceiro: Aprovada na Faculdade.
Quarto: Trocentos documentos para providenciar.
Quinto: Inicio das aulas e o desespero de toda iniciante!
Sexto: Novos exames e a notícia de uma cirurgia inevitável. (O lado bom é que ela vai me deixar de molho... então! Tempo de sobra pra fic!)

Agora os agradecimentos necessários:

Aos leitores maravilhosos, que mesmo após tanto tempo sem atualização não desistiram da minha fic.
À FerPorcel como sempre, beta-maravilha.
À Clau Snape pela força com sites contendo as informações necessárias e pelas maravilhosas dicas no mundo de fics e na vida real, valeu por tudo amiga!
À Andy – Antoine Dimanche – pela capa idealizada que estamos construindo juntas para a fic. Obrigada, linda!
E a todo Esquadrão da Madrugada: Shey, MagaLud, Nanda, Gaby, Roxane, Mia Teixeira, Pri, Clau, Fer, Bia, BatestAzazis, Andy e Sandy. Que trocamos risos, idéias, e até lições pro resto da vida!

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