A Filha do Professor



No dia seguinte, Harry saiu da torre da Grifinória antes que qualquer um acordasse. Queria muito encontrar Emille antes do café da manhã para conversar antes que o salão principal ficasse lotado. Os corredores ainda estavam desertos e a manhã estava mais fria do que qualquer outra do ano. Harry andava apressado em direção ao salão principal quando de súbito teve uma idéia. Dirigiu-se para o corredor onde costumava encontrar Emille e seu coração deu um salto quando a viu exatamente como imaginou diante do velho quadro de paisagem.

_ Emille! Por favor, preciso muito falar com você. Olha, eu odeio brigas mas, é que o Draco me tira mesmo do sério...
_ Não precisa se preocupar com isso, Harry. Está tudo bem.
_ Mesmo? Bem, naquela confusão eu perdi você.
_ Você sabe, não gosto de tumultos, achei melhor ir embora na hora da briga.
_ Você gostou do passeio? Quero dizer, gostou de estarmos juntos ?
_ Claro que sim. Você é uma companhia maravilhosa. Harry corou e sentiu o coração disparar. Conversaram por alguns minutos no corredor e depois foram caminhando, desceram as escadas e acabaram chegando até a porta do castelo que dava para o jardim quase deserto. Estava muito frio e por isso se sentaram em banco de madeira que ficava abrigado sob uma marquis do castelo, quase ninguém passava por lá. Conversaram por horas, pareciam terem perdido a noção do tempo e quando Harry se deu conta já era quase hora do almoço.
_ Temos que ir Emille, acho que sem querer acabamos matando aula. Os dois deram risadas.
_ Sim, Harry, vamos. Até o momento Emille estava despreocupada mas de repente começou a acelerar o passo.
_ Emille, o que foi ?
_ Preciso correr, Harry, lembrei de uma coisa. Depois agente se encontra e desapareceu na porta de entrada do castelo. Harry ficou parado sem entender a atitude da garota. Hagrid chegou no mesmo momento e o garoto teve a impressão de que Emille estava fugindo dele.
_ Olá Harry!
_ Hagrid! Como vai?
_ Eu estou bem, muito trabalho por aqui. Mas, você não parece muito feliz. Ficou tanto tempo sozinho no banco da entrada do jardim, parecia pensativo. Alguma coisa o está incomodando?
_ Sozinho? Até você, Hagrid? E deu as costas para o amigo se dirigindo apressado para o castelo. Hagrid ficou um tempo parado pensando o que poderia ter dito que deixou Harry tão nervoso.

Harry estava feliz pois teve uma manhã maravilhosa mas, ao mesmo tempo estava um pouco preocupado pois, tinha perdido uma manhã inteira de aulas de Adivinhação e Poções. Não sabia como iria se explicar, principalmente, ao profº Quilmers.

O salão principal estava cheio e barulhento como sempre acontecia na hora do almoço mas, especialmente naquele dia o barulho das conversas estava mais alto. Os alunos estavam muito empolgados com a proximidade do campeonato de quadribol. As equipes combinavam jogadas e as torcidas se organizavam para fazer uma grande festa nos dias dos jogos. Harry se aproximou da mesa da Grifinória e rapidamente todos se viraram para ele.
_ Harry! Onde você estava ? Perguntou Hermione se levantando da mesa. _ A profª Sibila e o profº Quilmers perguntaram por você. A Sibila eu consegui enrolar mas ao profº Quilmers, não.
_ Tudo bem, Hermione, respondeu Harry sentando-se calmamente à mesa. _ Depois eu converso com eles.
_ Harry, é que o profº Quilmers pediu para você ir até a sala dele, disse Rony devorando uma enorme coxa de frango, gesto que parecia irritar Hermione que resolveu se sentar.
_ Depois do almoço eu vou lá, Ron.
_ É que ele quer que você vá à noite, depois do jantar.
_ Detenção ?
_ Acho que sim, por que o Malfoy...
_ RONY ! Fique quieto.
_ Hermione deixe o Rony falar. O que foi, Ron ? E sob o olhar duro de Hermione, Rony respondeu:
_ Nada, não, Harry.
_ Fala, Ron. Você is dizer alguma coisa sobre o Malfoy. O que é ?
_ Bem, é que ele contou ao profº Quilmers que...bom... que você estava matando aula. Um garoto da Sensorina viu você sentado no banco perto do jardim na hora da aula dele e contou a Malfoy.
_ Harry, não faça nada, se brigar com Malfoy novamente estará realmente encrencado. É melhor cumprir uma detenção com Quilmers do que com Snape.
_ Não se preocupe, Hermione. Aquele idiota do Malfoy não vai estragar meu dia. Hermione olhou para Rony e achou que alguma coisa no comportamento de Harry estava diferente. Ele não falou mais nada sobre Draco Malfoy o resto do dia. Assistiu às aulas de Tranfiguração e Herbologia com a turma da Sensorina mas, parecia estar com a cabeça nas nuvens. O próprio Draco que esperava uma reação de Harry para se fazer de vítima e cavar uma detenção para ele com Snape, estranhou o ar distante com que o garoto passou todo o resto do dia, parecia nem ouvir os professores e colegas. No jantar ele comeu pouco e continuava desligado. Hermione não suportou a ansiedade e perguntou já na sobremesa do jantar:
_ Harry, não que eu queira me intrometer na sua vida mas, onde você esteve por toda a manhã ?
_ Jura que não vai me dar um sermão?
_ Não, não vou dar sermão, pode falar.
_ Eu estava com a Emille.
_ Emille? Harry você matou aula por causa de uma...
_ Hermione, você prometeu, lembra?
_ Tudo bem, Harry. Mas quero que saiba que estou muito preocupada com você por não perceber o que há de errado com essa... garota. Dito isso Hermione se levantou da mesa deixando seu mousse de chocolate pela metade sem dar tempo para o amigo dar alguma resposta. Rony, que se manteve calado todo o tempo, fingiu estar prestando atenção à descrição de Neville sobre o sonho falso que relatou para a profª Sibila na aula de adivinhação para não ter que ouvir Harry falar sobre estranhos encontros com Emille Wells.

No fim do jantar todos se dirigiram para suas casas exceto Harry que foi direto para a sala do profº Quilmers depois de passar, discretamente, pela mesa da Corvinal à procura de Emille mas, não a encontrou. Lá fora caía uma chuva muito fina e o frio e o vento eram intensos por isso, muitos alunos e professores resolveram se recolher mais cedo. Os corredores estavam quase desertos e Harry chegou rapidamente na sala do profº Quilmers. A porta estava trancada e ele precisou bater à porta várias vezes. Harry ouviu alguns ruídos vindo de dentro da sala do profº e de repente a porta se abriu. O profº Quilmers parecia assustado, seu rosto estava um pouco vermelho e ele parecia surpreso ao ver Harry.
_ Boa noite, sr. Quilmers!
_ Harry ! Falou o professor um pouco desconcertado pela fresta da porta entreaberta.
_ Eu recebi o seu recado para vir aqui a essa hora.
_ Recado ? Ah, sim. Claro, claro. Eu pedi a sr. Weasley para lhe dizer para vir aqui mesmo. Bem, entre. O profº abriu a porta, a sala estava bem iluminada, tudo estava limpo porém, havia uma confusão de antigos livros e pergaminhos espalhados pelo chão, cadeiras e mesas. O profº retirou um grosso livro que estava sobre uma velha poltrona cor de vinho e mandou que Harry se sentasse nela, depois pediu licença e se retirou por uns instantes. Enquanto Quilmers não voltava, Harry observou o tipo de livros e pergaminhos que estavam espalhados próximos à sua poltrona. Eram livros muito antigos que em maioria continham, nas capas velhas e gastas, títulos desbotados relacionados à morte e magia avançada. Provavelmente o profº estivesse estudando melhor o assunto por causa do misterioso desaparecimento do Livro dos Mortos, pensou Harry.

Quilmers retornou, havia trocado roupa e parecia também ter passado água no rosto e cabelos, trazia nas mãos duas xícaras de chá muito escuro quase parecido com o café.
_ É um chá especial, Harry. É um bom energético, ajuda a espantar o sono e o cansaço e se tivesse assistido á minha aula hoje saberia de que é feito e como se prepara.
_ Ah, desculpe sr. Quilmers, disse Harry provando o chá que estava muito quente e queimou levemente a ponta sua língua. _ Eu tive um probleminha e... bem, eu ia procurá-lo para me explicar.
_ Eu tenho certeza que sim, Harry. O profº se sentou em uma poltrona de frente para Harry e entre os dois havia apenas uma pequena mesa redonda de centro já meio gasta com alguns livros sobre ela.
_ Mas, me diga, Harry. Por que não estava em minha aula hoje ?
Harry pensou em mil desculpas para dar, poderia dizer que esteve doente, que passou mal ou qualquer coisa do tipo mas, o profº Quilmers era um bom homem e ele não se sentia bem em mentir para pessoas assim. Por outro lado como explicar a um profº que não assistiu à aula porque estava com uma garota. Com muito jeito e bem devagar Harry foi introduzindo um breve relato de como conheceu Emille, o episódio da briga com Draco até o encontro com ela no corredor naquela manhã. Explicou a ele que se distraiu com a conversa com a garota e nem viu a hora passar.
_ Sei, sei. E qual é o nome dessa garota tão especial que lhe fez até esquecer da minha aula ? Perguntou o profº num tom amigável, quase sorrindo.
_ É Emille, professor. Quilmers, que iria tomar mais um gole de chá parou a xícara no ar e por uns segundos ficou calado e pensativo.
_ Emille. Esse é o nome da minha única filha. Quilmers parecia triste, a xícara permaneceu parada em sua mão e Harry não sabia o que dizer para quebrar o estranho silêncio quando o profº pareceu acordar de um transe e perguntou se levantando para apanhar um pote de açúcar em uma outra mesa mais adiante:
_ E de qual casa essa garota é?
_ Ela é da Corvinal.
_ Não me lembro de haver uma Emille nas turmas da Corvinal e dificilmente eu me esqueceria pois, como lhe disse esse é o nome da minha filha. Qual é o sobrenome dela?
_ Wells, Emille Wells!

Um baque surdo e repentino fez Harry estremecer na poltrona e a xícara do professor e o pote de açúcar se arrebentaram no chão. Respingos de chá voaram por todos os lados. Quilmers ficou paralisado e Harry se levantou e foi até ao professor.
_ Sr. Quilmers, o senhor está bem ?
Ele se manteve parado e imóvel feito uma estátua e sua palidez era assustadora.
_ Profº Quilmers, por favor! O senhor quer que eu chame alguém ? Professor ?!
Quilmers caiu de joelhos sobre os cacos da xícara e do pote de açúcar e tombou para o lado de olhos fechados. Harry correu para a porta e pediu por socorro e como não viu ninguém saiu pelo corredor à procura de alguém que pudesse ajudar. Não precisou correr muito e topou com Snape numa curva do corredor.
_ Qual o problema sr. Potter? Está fugindo de alguma coisa?
_ Profº Snape, o profº Quilmers desmaiou e está precisando de ajuda.
_ Desmaiou? Onde ele está?
Harry levou Snape até a sala de Quilmers. Ele o examinou rapidamente e ajoelhado ao lado de Quilmers, perguntou?
_ O que fez a ele, Potter?
_ Eu? Nada!
_ Bem, até onde eu fiquei sabendo ele iria lhe aplicar uma detenção hoje. Onde está a sua varinha ?
_ Minha varinha? Mas, eu não fiz nada. Nós estávamos conversando e ele desmaiou de repente.
_ “De repente”, Potter? Diga, o que fez...
Snape calou-se sentindo a mão de Quilmers agarrando seu joelho. Finalmente, para alívio de Harry, Quilmers abriu os olhos e tentava se levantar apoiando-se em Snape. Harry ajudou a levar o professor de volta á poltrona. Snape foi até à sua sala para pegar uma poção que segundo ele, traria Quilmers ao seu estado normal. Harry permaneceu junto a Quilmers que ficou em silêncio com os olhos fixos no chão ainda muito pálido. Cinco minutos depois Snape chegou com um pequeno frasco com um líquido verde. Quilmers tomou um gole da poção e pela sua cara Harry percebeu que o tal líquido deveria ser horrível e ele se recusou a beber mais. Aos poucos o professor foi recuperando a cor e os movimentos. Harry que já estava incomodado com o olhar desconfiado de Snape, perguntou:
_ Como se sente, professor?
_ Eu, eu estou melhor, Harry, obrigado!
_ O que houve profº Quilmers ? Perguntou Snape encarando Harry.
_ Tive um mal estar repentino, profº Snape mas, já estou melhor. Acho que não estou me alimentando muito bem, falta de tempo, sabe como é?
_ Eu imagino professor.
_ Profº Snape eu já estou realmente melhor, não precisa mais se preocupar. Já é tarde e eu não quero mais incomodá-lo.
_ Bem, se está se sentindo melhor podemos ir para que o senhor descanse melhor, disse Snape mais uma vez encarando Harry. Snape se dirigiu até à porta, Harry se levantou e foi junto mas, Quilmers o deteve.
_ Harry, por favor. Gostaria que ficasse mais um pouco, afinal ainda não terminei a sua...detenção. O garoto percebeu claramente que Quilmers ainda queria ficar mais um pouco com ele a sós.
_ Tem certeza disso, profº Quilmers ?
_ Claro, Severus. Potter ainda não terminou as tarefas que o impus e eu já estou melhor, não se preocupe.
_ Nesse caso, tenha uma boa noite!
_ Boa noite, profº Snape! E antes de sair Snape ainda deu uma última e severa encarada em Harry que fingiu não perceber. Depois que Snape saiu, Quilmers já se sentia melhor, tirou a varinha do bolso apontou para os cacos no chão e eles desapareceram. Pegou um pequeno frasco na gaveta da mesa e despejou um líquido transparente sobre os joelhos cortados pelos cacos.
_ Puxa, como isso arde !
_ Tudo bem, sr. Quilmers?
_ Sim Harry. Os cortes já vão melhorar. Novamente os dois estavam sentados frente a frente nas poltronas diante da velha mesinha. Quilmers ficou alguns minutos sentado com os cotovelos apoiados nos joelhos e a cabeça baixa entre as mãos, depois se ergueu e olhou para Harry:
_ Onde mesmo você disse que viu... a... Emille Wells pela primeira vez?
_ No Beco Diagonal, na Floreios e Borrões.
_ Emille adora livros, principalmente os antigos.
_ Então o senhor a conhece? Quilmers respirou fundo.
_ Emille Wells é minha filha, Harry.
_ Sua filha? Sim, agora eu me lembro ela disse que o pai dela era professor quando estivemos em Hogsmead. Mas, o senhor disse que não se lembra de nenhuma Emille na turma da Corvinal...
_ Harry, se não se importa eu gostaria de descansar agora. Harry percebeu que o professor não estava disposto a continuar aquela conversa e se levantou foi até á porta e disse:
_ Sua filha é uma garota maravilhosa, professor.
_ Sim, eu sei, obrigado! Respondeu o professor com os olhos cheios de lágrimas e Harry abriu a porta, deu boa noite a Quilmers e foi saindo quando o professor o chamou:
_ Harry! Gostaria de visitar Emille no próximo final de semana?
_ Ir até a casa de Emille? Mas, claro, isto é, se ela não se importar eu gostaria sim.
_ Ela parece gostar muito de você. Acho que vai fazer muito bem a vocês dois se encontrarem fora de Hogwarts e assim, você poderá...bem... saber um pouco mais sobre ela.
_ Eu adoraria. Boa noite, profº Quilmers!
_ Boa noite, Harry!

Quilmers não dormiu aquela noite, passou horas tomando chá, debruçado sobre seus antigos livros e pergaminhos até o amanhecer quando as velas nos castiçais já chegavam ao seu fim. Harry também não conseguiu dormir, realmente o chá que tomara com Quilmers era um energético poderoso, ficou pensando nos estranhos acontecimentos na sala do professor. Pena Rony estar dormindo profundamente, gostaria de dividir seus pensamentos com o amigo. Por que o professor reagiu de maneira tão estranha quando falou de Emille Wells? Harry percebeu que o desmaio do professor foi muito mais que “Um mal estar repentino” como ele havia dito a Snape e soube que o professor de poções era pai de Emille e ainda recebeu um convite para ir à casa dela no fim de semana. Por que ela nunca disse que Quilmers era seu pai? Harry precisava, mais uma vez, encontrar Emille urgentemente, até mesmo para saber se ela aprovará sua visita. A noite foi realmente longa e ele pode ver o dia amanhecer e acompanhar os primeiros movimentos no dormitório masculino.

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.