Lembranças



- Pequeno-almoço! - Chamou a Tia Petúnia fazendo com que Harry se sobressaltasse.


Levantou-se, vestiu os seus jeans habituais e uma camisa do Duddley que mais parecia um vestido.


Desceu as escadas e lembrou-se da Ordem à espera dele para irem para a casa do Sirius.


Entrou na cozinha.



- Bom dia. - Cumprimentou, mas ninguém respondeu, o que Harry nem se importou, pois mesmo que o tenham feito, muito provavelmente nem ia reparar.


No seu prato estava uma salsicha, uma fatia de pão e um copo de leite.
Olhou pelo canto do olho para o prato de Duddley que continha 5 salsichas, 4 fatias de pão e 2 copos de leite.


Pensou que a tia Petúnia já se havia esquecido do gritador de Tonks e de repente lembrou-se que de certeza que ela lhe iria enviar outro.


Olhou para a janela…mas não viu nada. Apesar de…concentrando-se melhor, conseguia ouvir um barulho, olhou.


Lá vinha ele: O tão esperado gritador…



-NÃO TONKS, NÃO PRECISO QUE AVISES OS MEUS TIOS DESTA VEZ, OK? -deu-se conta de gritar, fazendo uma figura muito cómica -EU HOJE ESTOU SEM FOME! DEIXEM-ME EM PAZ! Quando precisar de ajuda…eu peço!



Os seus tios e primo olharam para a janela e viram que a coruja com o respectivo gritador, voltavam para trás.


Apesar de, passado um minuto, essa coruja ter voltado, desta vez com uma carta normal.



"Tu é que sabes Harry…mas escusado será dizer de novo que se precisares de ajuda ou de alguma coisa, é só avisar.


Fica bem,


Tonks."



-Tens a certeza que eu preciso de avisar? -murmurou Harry - Não me parece…


-Mas agora temos espias, é? -perguntou meio a gritar o tio Vernon.


-E se ao menos fossem espias com classe…até dava um certo gozo! - murmurou a Tia Petúnia imaginando-se uma estrela famosa.


-Que é que disses-te mãe? -perguntou Duddley


-Hã…estava só a dizer que os vizinhos ainda podem reparar! Com tanta coruja a vaguear por aí!


Duddley franziu o sobrolho - Ah, ok… -Levantou-se - Adeus mãe, adeus pai, adeus…hã…criatura, hã…coisa.


-Adeus Duddley! Diverte-te! -exclamaram os pais.



Olharam todos para Harry.



-Que foi? - Perguntou este muito sinceramente.


-Que é que se diz quando o meu adorado e excelentíssimo filho vai sair? - Perguntou Vernon quase em cima de Harry.


-Ah! Adeus porc…hã…leitã…hã…insignificante! - Mas reparando na cara dos tios, acrescentou: -Insignificante primo. É insignificante como primo, mas é uma MARAVILHA, como amigo. Não é "Big D"?


-Está melhor. Vai lá então, filho. - Afirmou Vernon


Duddley saiu.


-Adeus e nunca mais voltes! - Murmurou Harry o mais baixo que conseguiu.





Foi para o seu quarto. Faltavam apenas duas semanas, mais ou menos, para os seus anos.


Deitou-se na cama a ver uma revista de Quidditch, mas depressa a pôs de parte.


A equipa estava desfeita. Sem o Fred e o George como beaters e o Wood como keeper, a equipa não valia nada. Não que estivesse contra algum membro da equipa, a Angelina, a Katie e a Alicia eram óptimas, mas o seu amigo, Ron, e os dois novos beaters, não eram lá muito bons.


Lembrou-se da música que os Slytherin cantavam a gozar com Ron.


Passou-lhe pela cabeça o Draco e o seu pai. Que raiva que tinha deles! E DO Voldemort, embora o sentimento de raiva para com este mudasse de sentido. Talvez para ódio, seja a definição mais concreta. E depois a Umbridge. Ai como a odiava! Olhou para a mão onde ainda tinha a cicatriz do texto que ela lhe ordenou a escrever com aquela pena preta que escrevia com o próprio sangue da pessoa. O SEU sangue.


Lembrou-se do Kreacher. Se aquele elfo-doméstico estúpido, deficiente, anormal…ai, nem sei! Não tivesse mentido, Harry não teria ido tentar salvar o seu padrinho. E neste momento, ele poderia ainda estar vivo.


Foi a vez de Neville lhe passar pela cabeça. Neste momento poderia não ser o famoso Harry Potter, mas sim o famoso Neville Longbottom. E estranhamente, isso não lhe soava lá muito bem.


Como ele se devia sentir tão mal quanto Harry. Os pais no hospital, malucos. Com uma mãe que nem sabe o que dar ao filho, que lhe dá um papel de pastilha elástica como se tivesse a dar uma óptima prenda.


E para Neville era. Por mais insignificante que pudesse ser.



«Ao menos ele pode ver os pais, tem os pais vivos e sempre tem a esperança de eles ficarem bons - pensou - Eu não, eu já não tenho esperanças.»



Ia a fechar os olhos quando uma coruja entrou no quarto.


Era uma coruja vulgar como as da Torre das Corujas, em Hogwarts.


Trazia uma foto, que não vinha assinada e que apenas dizia:



"É a única coisa adequada que eu tenho a dar-te.


Além disso, fica melhor contigo do que comigo."



A foto tinha uma rapariga ruiva, em primeiro plano, onde ao seu lado se encontrava um rapaz com óculos e cabelos pretos desalinhados, por onde passava a mão. Rapaz e rapariga esses, que eram os seus pais. Ao lado deles encontrava-se Lupin a ler e por fim, na ponta, o seu padrinho Sirius que parecia estar a levantar-se bastante zangado.


Harry não percebeu o motivo. Olhou novamente. Estavam todos sentados na relva. E pelo aspecto das suas feições deviam estar no 6ºano, mais ou menos.



«De quem será esta foto? Quem a terá tirado?» -pensou Harry - «Provavelmente de Dumbledore…ou de Lupin! Mas não, que estupidez, Lupin estava na foto! Quem é que a ia tirar, assim? E pensando bem, Dumbledore não se ia por a tirar fotos a todos os alunos de Hogwarts!
Mas…falta um membro do grupo! Peter! Deve ter sido ele! Traidor…fazia - -se de santinho e amiguinho e depois…ai que nervos!»


Depois de jantar, Harry deixou-se cair na cama exausto.


Não fisicamente, mas sim psicologicamente…





O escuro que Harry viu de início passou para uma luz branca ofuscante…

Harry fechou os olhos, quando os abriu pode ver onde se encontrava.


Estava num corredor cumprido e pouco iluminado.


Harry reconheceu-o como o de casa de Sirius. E quando este pensamento lhe passou pela cabeça, ficou todo excitado: estava novamente na casa do padrinho!


Embora a casa lhe parecesse mais nova e limpa…


Mas, será que…será que Sirius também estaria ali?


Parou de pensar por uns momentos quando ouviu vozes.


Correu para o local de onde vinham. Se bem se lembrava, estava a dirigir-se para a entrada. E era de facto. Estancou a meio do corredor.


Na porta estavam 4 pessoas, embora 3 delas já se encontrarem fora da casa.
Uma delas Harry reconheceu de imediato como sendo o seu padrinho: um rapaz alto, elegante, cabelo preto…e pelo aspecto devia ter uns 15 anos.


Os que já estavam lá fora eram Lupin e…os seus pais!


Tal como os vira na foto que recebera, e também com idades por volta dos 15 anos.



-Ei, obrigado pela visita, pessoal! - Agradeceu Sirius.


-De nada. Aliás, o prazer foi nosso. - Declarou Lily.


-E temos que aproveitar quando os cotas não estão cá, não é? - Perguntou James com um sorriso para o amigo.


-Podes crer! Se os meus pais estão cá, eu nunca vos posso ver. -aprontou Sirius cabisbaixo. - Pior são as férias…nunca vos vejo…não posso receber cartas…


-Não é preciso termos as pessoas ao nosso lado para gostarmos delas - explicou Lily - Quantas vezes tenho de te dizer que o oposto da solidão não é estarmos juntos, é a intimidade. Ou seja, é gostarmos de alguém e trazer essa pessoa sempre connosco na nossa alma!


-Lily, e quantas vezes tenho eu de te dizer que andas a ler esses livros desse muggle em excesso? - Perguntou Sirius - Hã? Não achas?


-Mas neste caso, ela tem razão. - Defendeu James.


-E o Richard Bach é um muggle especial.


-Tipo aquela frase. - Lembrou-se Sirius - Como é que ela era mesmo? Ah! "Os laços que te ligam à tua verdadeira família não são de sangue, são"…


-…"São de prazer e de respeito mútuos." - Completou Lily.


-O que não se compara nada com a tua família, não é? - Perguntou James.


-A minha família é um lixo!


- Isso eu não posso negar…


- Nem mesmo eu…



O sonho voltou a tornar-se negro, e Harry abriu os olhos.


Estava novamente a fixar o seu tecto, embora escuro devido às persianas estarem fechadas. Virou-se para o lado. Viu uma figura alta, magra, de cabelos compridos e negros…



-Sirius…? És mesmo tu? - Sirius sorriu-lhe - Sirius! Voltas-te! - O padrinho voltou a sorrir e Harry levantou-se para abraçá-lo.



Esticou os braços e quando estava quase a tocar-lhe, Sirius dissipou-se.



-Sirius…? Sirius?? - Harry deixou-se cair novamente na cama, afinal, não fora real.







-Despacha-te! - Chamava histericamente a tia Petúnia.



Mas Harry não se apressou nem um segundo.


Sentou-se e começou a comer o seu pequeno-(minúsculo)-almoço.



-Despacha-te! - Continuava a insistir histericamente a Petúnia. - Rápido! Não vês que vamos sair?


-Eu não quero ir. - Respondeu Harry mal-humorado.


-E quem disse que tu vais, hã? - Perguntou o tio Vernon ao chegar à cozinha, todo engravatado, com o seu menino, igualmente engravatado.


-Sendo assim, ainda bem. - Afirmou Harry, levantando-se.


-Nós só estamos com pressa que acabes de comer, para evitar deixar-te sozinho cá em baixo. - Explicou a tia.


-Estejam descansados. - E dito isto foi-se enfiar no quarto.



Sentou-se na sua secretária a ouvir o carro dos Dursley a partir. Ficara a sós.



-Shi, como se eu quisesse tocar nas coisas imundas deles! - Murmurou.



Achou que era o momento oportuno para pensar no sonho:


O seu padrinho também se dava mal com a família. Tal como Harry se dava mal com os tios e o primo.


Não o deixavam ter correspondências com os amigos, o que igualmente se passava entre Harry e os tios.


E o que a sua mãe disse a Sirius:



«"-O oposto da solidão não é estarmos juntos, é a intimidade." Ou seja, é gostarmos de alguém e trazer essa pessoa sempre connosco na nossa alma.»



-Talvez eles queiram dizer que eu não estou só. Que eles estão comigo, olham por mim e que enquanto eu continuar a gostar e a pensar neles, eles também irão continuar a amar-me. É isso. Eles tiveram como que a lembrar-me de que não devo desistir. De que não estou só! - Olhou para a janela e completou: -Obrigado pai, obrigado mãe. E obrigado a ti também, Sirius.



Mas parou de proclamar os seus agradecimentos, devido a um estrondo que ouviu mesmo atrás de si, fazendo-o saltar da cadeira.


Olhou para trás e ficou boquiaberto com o coração aos saltos.




~*~

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.