Quebrando a Regra



Harry suspirou e seguiu Sirius até a Sala Comunal. Não sabia o que ele tinha escutado, mas ia esperar o que era; não podia entregar o jogo.


- Que história é essa de ataque à Hogwarts, Granger? Que papo estranho foi aquele teu com a Gina, se vocês não estudaram aqui antes?


Harry não falou nada. Não havia o que dizer, fora descoberto. Pensou na conversa que teve com Dumbledore na última semana, e depois lembrou-se de Gina. Era hora de agir.


- Sirius, aqui não é o lugar mais apropriado para termos esta conversa. Por favor, vá buscar o Mapa do Maroto, que eu também tenho que pegar algumas coisas.


- Como você sabe do Mapa? - Sirius estava boquiaberto.


- Aqui não, Sirius.


Quando desceram, Sirius viu Harry pegar a Capa da Invisibilidade.


- Você pegou a Capa de Tiago? - estranhou.


- Não. Essa Capa é minha. Vamos?


Um nervoso Harry levou um atabalhoado Sirius lentamente até a Sala Precisa, que os esperava com uma mesa com cadeiras confortáveis e um pouco de comida e bebida. "Até a sala sabe que vai ser uma longa conversa!" - pensou Harry, fechando a porta depois que o outro passou.


- Então, Granger, que história é essa? - perguntou Sirius depois de sentar-se à mesa.


- O que você acha que é, Sirius? - tentava ganhar tempo.


- Eu não sei, Granger! Se eu soubesse, não tava aqui, né? - irritou-se.


- Então vamos ao início, certo? E o início, desde que eu me lembro, é que o meu nome não é Granger. - Sirius não entendia. - Meu nome é Harry Tiago Potter.


Sirius não moveu um músculo. Parecia que tinha levado um Petrificus Totalis.


- Talvez isso o ajude a perceber a semelhança. - e desfez o feitiço que Dumbledore havia posto em seus olhos, devolvendo o verde à íris.


- Não... Isso não é possível! - balbuciou, confuso.


- Essa Capa da Invisibilidade foi uma das coisas que meu pai me deixou de herança. E isso, - e tirou o seu Mapa do Maroto do bolso. - eu ganhei quando estudei em Hogwarts. - e entregou o Mapa a Sirius, que comparava ao outro pergaminho que jazia na mesa, ao seu lado.


Depois de um silêncio pesado, Sirius falou:


- Se o que você diz é verdade, o que está fazendo aqui?


- Sirius, não posso passar às explicações até que você acredite em mim.


- Eu sei que você é um bruxo poderoso, Gran... Harry! E que poderia ter feito uma cópia do Mapa do Maroto, ou ter uma Capa da Invisibilidade. Elas são raras, mas existe mais de uma no mundo, não é?


- Você sabe que eu não poderia, nem se quisesse, ter feito uma cópia do Mapa. E se eu tivesse feito uma cópia, como eu saberia que vocês fizeram esse Mapa depois de terem conhecido toda a propriedade como animagos? E como eu saberia que você, Tiago e Pettygrew se tornaram animagos pra acompanhar Remo quando ele se transforma?


- Eu ainda não acredito. - disse, fracamente.


- Como eu saberia, Sirius, que sua prima Andrômeda casou com Ted Tonks e foi banida da Tapeçaria Black? Ou que na porta da sua casa no Largo Grimmauld tem um porta-guarda-chuva de perna de trasgo?


- Como você pode saber da Tapeçaria? Ou do que tem na minha casa? Só puros-sangue entram lá...


- No meu tempo, Sirius, a casa virou sede para a Ordem da Fênix, e eu passei uma parte das férias na sua casa, ajudando a limpá-la de feitiços e armadilhas...


- Eu acredito em você. - disse por fim. - Agora me deixe pensar um pouco, tá? Foi muita informação... - levantou-se e começou a caminhar pela sala.


- Pra você estar aqui, deve ter acontecido algo muito grave... - falou mais si, que para Harry. Seguiu dizendo frases desconexas, até que se virou para Harry, preocupado. - Você disse que recebeu a Capa como herança? Isso quer dizer que, no seu tempo, Tiago está...


- Morto. Sim, é isso. - disse, sem emoção.


- Isso é um absurdo! Como isso aconteceu?


- Tiago e Lily foram assassinados por Voldemort quando eu tinha pouco mais de um ano, e quando ele tentou me matar, o feitiço de alguma forma ricocheteou e quase o matou, então. E eu fiquei com esta cicatriz na testa. - e mostrou a Sirius.


Sirius desabou na cadeira. Isso não podia acontecer... Ele tinha que fazer algo para mudar esse destino.


- Sirius, eu não devia ter lhe dito nada disso. Eu e Gina viemos para cá para proteger meus pais, e não podíamos nos intrometer no decorrer do tempo.


- Vieram protegê-los? Você não disse que eles só iam... - não conseguia dizer. - ... quando você tivesse mais de um ano?


- Nós não somos os únicos intrusos no seu tempo. Há mais dois aqui, que resolveram destruir meus pais para que eu não nasça e não mate Voldemort.


- Você matou Voldemort? - surpreendeu-se.


- Matei. Há quatro anos... Quer dizer, há quatro anos na minha época. - odiava lembrar-se de que, por mais nobre que fosse a intenção, havia matado alguém.


Sirius apenas recebeu a informação. Parecia que tinham aberto sua caixa craniana e jogado o conteúdo de pelo menos cinco livros do calibre de “Hogwarts: Uma História”... Depois de outra longa pausa, perguntou:


- E eu, Harry? O que você tem a dizer de mim?


- Você é meu padrinho, Sirius. - sorriu.


- Sério? - sorriu também.


- Sério. - confirmou. - Olhe, Sirius, eu não tinha o direito de ter te contado nada disso, mas o fiz por 3 motivos: primeiro, eu confio em você. Segundo, quero tentar salvar meus pais do que o tempo os reserva.


- E o terceiro motivo deve ser a Gina!


- É... é ela, sim. - não adiantava negar.


- Então, o que faremos? - falou, quando viu que Harry havia se calado. Ele sabia que não devia pedir mais detalhes a Harry, então só lhe restava acatar as decisões.


- A primeira coisa a fazer é afastar Pettygrew.


- Mas Pedro é nosso amigo! Não é o melhor do mundo, mas é um maroto.


- Sirius, ele é um comensal. - falou, sombriamente.


- Não pode ser!


- Porque eu mentiria sobre isso? - Não queria contar a ele que por culpa do Pettygrew, seus pais morreram. Conhecia Sirius bem demais para saber que ele provavelmente o mataria quando voltasse do recesso. - Ele é um espião, e devemos ser cautelosos. Ele não deve perceber que está sendo afastado. Além do mais, Tiago e Remo não sabem o que ele vai ser, e não quero envolver mais ninguém nisso, além de você, que eu sei que se soubesse que eu voltaria, me faria jurar que te contaria tudo para me ajudar...- Sirius sorriu.


- É bem verdade, mesmo... Então?


- Sirius, Gina foi hoje lá no dormitório porque acabou de descobrir como os tais comensais vão entrar na escola para atacar Tiago e Lily...


- Mas você não a deixou falar muito, não é? - e deu um sorrisinho maroto.


- Eu não sei do que você está falando. - gaguejou Harry, completamente vermelho.


- Eu não sou surdo! Ainda bem que ela te empurrou, porque eu já não estava mais aguentando aquela gemedeira do lado da minha cama... - gargalhou.


- Sirius! - Harry estava roxo! - Nós não...


- Eu sei que vocês "não"... Vocês "quase"! - estava quase chorando de rir, e Harry passou de roxo a mortalmente pálido.


- Eu não acredito que você estava escutando tudo... - não adiantava mais negar.


- Dê-se por feliz! Se tivesse lua, era provável que eu também tivesse assistido tudo!


- Você não se atreva a falar isso pra ninguém! Se Gina sonhar com uma história dessas, vou morrer antes mesmo de nascer!


- E eu não quero que isso aconteça com o meu querido afilhado, não é mesmo? - e deu umas palmadinhas nas costas de Harry. - Agora voltando: eles vão entrar por onde?


- Por um portal que estava quebrado, que liga a escola à Borgin & Burkes, aquela loja de artigos das trevas na Travessa do Tranco.


- É esse portal que a Gina quer destruir?


- Você escutou tudo mesmo, hein? É esse sim. Foi por ele que houve um grande ataque a Hogwarts, quando eu estava no sexto ano. O irmão dela, Gui, foi mortalmente ferido, e morreu dois anos depois da invasão.


- E o que quer que eu faça?


- Quero que você me ajude a proteger o casal, mas que também me ajude a proteger Gina. Eu não estou dando conta de seguir e vigiar os três.


- Eu achei que ela tinha vindo para ajudar, também... - perguntou, intrigado.


- E veio. Mas o que ela não sabe, é que também corre perigo.


Sirius sentiu que ele não ia entrar em detalhes, e sabia que mais uma vez não devia pedí-los.


- Eles estão correndo perigo agora?


- Acredito que não. O portal ainda não foi consertado; eu tenho vigiado a escola o tempo todo com o Mapa do Maroto, e não percebi movimentação dos que estudam aqui e que serão comensais por lá. Ele deve estar sendo consertado do lado da loja... Acho que estamos livres de maiores preocupações até o fim do recesso...


- Ótimo! Porque eu estou morrendo de sono, e preciso me acostumar com essa história toda...


- Sirius, você tem que me prometer que não vai falar nada disso a ninguém!


- Eu prometo, Harry... Não quero mexer ainda mais com esse novo futuro...


Voltaram ao dormitório, silenciosos e imersos em seus próprios pensamentos. Devia ser quase quatro da manhã, e Harry percebeu como estava cansado.


- Desculpa, Sirius, por te meter nessa loucura. - disse, antes de entrarem no quarto.


- Um dia ainda vamos rir muito disso tudo, afilhado! - e o puxou para um abraço.


* * * * * * * * *


Gina estava feliz. Tivera uma maravilhosa noite de sono, como ainda não havia tido, desde que voltara à Hogwarts. Aconchegou-se mais ao "travesseiro", e percebeu que estava dormindo abraçada a alguém. Seu coração quase parou, e ela ficou tensa, de repente. Abriu os olhos e viu Harry, sorrindo.


- Pensei que você não ia acordar mais... - disse vagarosamente, passando as mãos pelos cabelos dela.


- Que horas são? - fez menção de se levantar, mas ele gentilmente a segurou.


- Perto de meio-dia.


- Harry! Está muito tarde! Oh, Merlin! O que as pessoas vão pensar quando souberem que eu dormi com você?


- Mas você não dormiu comigo... Pelo menos, não no sentido que as pessoas pensarão. - e riu da cara de desespero dela.


- Cadê os outros três que dormem aqui?


- Levantaram há horas, Gina. - ela estava arrasada. - Olhe, eu disse aos garotos que você tinha recebido a notícia que o seu irmão havia morrido, e que estava inconsolável. E garanti a eles que não havia acontecido nada entre nós.


- Obrigada Harry. - sua expressão se suavizou, ao lembrar-se de Gui. - Obrigada por ontem também, tá?


- Você está se referindo à qual parte da noite? - não podia deixar de fazer essa pergunta, mesmo em tom de brincadeira.


- Você é impossível, Harry Potter! - desvencilhou-se dele e se levantou.


- Gina... sobre o que aconteceu ontem à noite...


- Qual parte da noite? - devolveu na mesma moeda.


- A parte em que nós... Você sabe...


Gina adorava ver Harry envergonhado! Mesmo que fosse com algo que também a deixasse envergonhada, ela nunca perderia a chance de vê-lo mais constrangido.


- A parte em que você me agarrou? - e virou-se. Não queria que ele a visse sorrindo.


- Sim. - levantou-se e foi até ela. - Eu só queria te dizer que -


- Harry, eu não quero falar sobre isso... - cortou, intimidada com a perigosa proximidade dele.


- Mas eu preciso falar disso... - falou baixinho, segurando a cintura dela, e puxando o corpo dela para o dele.


- Por favor, Harry, eu não posso... - suplicou, pouco antes de ele beijá-la.


Antes que ele pudesse aprofundar o beijo, Gina o empurrou mais uma vez. Seu olhar era de pura dor, e, sem falar nada, foi em direção à porta.


- Será que você nunca vai me perdoar, Gina?


O estrondo da porta foi a sua resposta.


* * * * * * * * *


Harry e Sirius se aproximaram muito, neste recesso. Sempre que podiam, estavam fazendo planos e esquemas para cuidar dos três. Gina sentia-se um pouco deixada de lado por Harry, agora que ele tinha esta amizade tão estreita com o padrinho.


Depois que souberam do que acontecera ao irmão de Gina, as garotas não fizeram perguntas a ela sobre a fatídica noite em que ela dormira no outro dormitório. Contudo, a percebiam estranha, desatenta.


Gina estava muito triste. Descobrira que o que sentira por Harry antes não era uma paixãozinha à toa. Pior, não o tinha esquecido, e agora estava sofrendo. O que acontecera entre eles mexeu muito com ela. Mal podia ficar no mesmo espaço que ele, pois estava sempre se lembrando do que quase acontecera e sentia-se envergonhada cada vez que constatava que queria muito que "quase acontecesse" de novo... Ou mais.


Harry afastara-se dela. Sabia que ela estava sofrendo, mas, pra ele, não era nada perto do que ele estava sofrendo. Cada vez que se aproximavam, era necessário muito esforço da parte dele para não agarrá-la, independente de onde estivessem. Ele sabia que mexia com ela, e que ela gostara tanto quanto ele do que havia acontecido, mas se ela era cabeça-dura o suficiente para não conseguir relevar o passado, ele não podia fazer nada.


Alice e Frank agora estavam ficando. Lily e Tiago eram só chamegos, e Gina ficou meio sozinha. Acabou se aproximando de Remo, que também se sentia meio por fora, agora que os casais estavam formados e Harry e Sirius estavam amicíssimos. Remo era gentil e atencioso, e Gina gostava da sua companhia.


Aproveitaram o recesso para desopilar um pouco, afinal os NIEMs estavam aí, e não teriam mais oportunidades para jogar despreocupadamente Snap Explosivo, por exemplo. Ao fim do feriadão riam despreocupadamente, esperando o retorno dos alunos para o dia seguinte.


Devagar, cada um começou a se despedir e a subir, até restarem apenas Harry e Sirius.


- Eu pensava que eles não iam subir nunca... - reclamou Sirius. - Toma, guarde isso! - e entregou um espelho a Harry. - Use se precisar falar comigo.


Dèja vu. Estava revivendo um momento! "É incrível" - pensou, com um sorriso. O que mais este tempo agora alterado o reservava?


* * * * * * * * *


Gente, desculpa a demora, e o tamanho do capítulo... O 12 quase acabou comigo... Deu um bom trabalho, mas valeu a pena!


Obrigada pelos comments e vou ver se posto o 14 até amanhã.


p.s. Acho simplesmente ridícula a versão wileriana para James, mas, como comecei a escrever a fic com Tiago (respeitando a oferta de shippers do F&B), tive que cometer o sacrilégio de pôr Harry Tiago Potter nela... Me perdoem!


bjos a todos. =D

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