Último capítulo



Capítulo XII

*¨*And I won't tell 'em your name
E eu não direi a eles seu nome. *¨*

Seus olhos ainda estavam nebulosos devido a grande quantidade de luz ao qual a sala fora tomada, mas não restavam dúvidas: era Hermione quem estava logo à frente.
Nenhum dos três teve palavras, nem forças, para pronunciar nada. Tornara-se difícil transformar em palavras tudo o que estavam sentindo; um misto de dúvida, esperança e medo. Nada poderia explicar o que aquele momento significava.
Jonathan foi o primeiro a caminhar em direção à pessoa à sua frente. Seus passos foram lentos, quase eternos, porém, seguros. Sua visão mirava o olhar bondoso e úmido de sua mãe e, estando a centímetros do rosto dela, ele a abraçou. Abraçou como se fosse perdê-la ali, naquele momento. Abraçou-a como se nada mais no mundo importasse. Nunca pôde sentir um carinho de mãe... Aquele sentimento era indescritível.
Hermione jamais esperou tanto por alguma coisa, como por sentir o toque seu filho. Jonathan sempre fora um menino forte ao seu ponto de vista, mas ali, em seus braços, um sentimento de proteção maternal a tomou. Era tão pequeno, tão indefeso, tão seu. Era seu filho, sua parte em vida... Nada poderia separá-la dele naquele segundo. Segundo este que parecia eterno, mas, ao mesmo tempo, tão curto. Queria ter passado toda uma vida com ele amparando suas lágrimas, ouvindo seu sorriso, vendo-o dormir todas as noites, sentindo suas pequenas mãos nas suas. Era muito bom ser mãe. Era muito bom ser mãe de Jonathan.
O abraço não durou mais que alguns segundos. Hermione queria poder parar o tempo, mas sabia que não podia se esquecer do que viera fazer. Soltou os braços de seu filho, que a enlaçava, e voltou-se para Rony e Draco.
Rony jamais lhe parecera tão confuso como naquele instante. Amava-o e conhecia-o muito bem para saber que ele estava temeroso de que tudo aquilo fosse um sonho. Hermione mesmo se perguntava se aquilo podia ser real. Se tudo não passava de um último sofrimento penoso ao qual vinha passando há anos.
"Não pode ser. É... é impossível!", Rony pensava com sua alma pesada.
- Eu sei que é impossível, mas milagrosamente é real.
- Hermione, é você? – disse Malfoy com um brilho encantador no olhar.
Hermione podia sentir que a felicidade de Draco Malfoy não era fingimento, assim como suas lágrimas que rolavam de seus olhos cinzentos, mas o ódio que sentia por ele a fazia esquecer até de sua razão. Hermione foi violentamente em direção ao bruxo e puxou-lhe a varinha de Rony, que Draco portava, ameaçando-o com ela.
- Meu filho pode não ter magia, mas eu tenho! Eu juro por tudo que amo neste mundo que eu lhe matarei se encostar um dedo no Jonathan ou no meu marido!
Esgueirando-se na parede suja de azulejo atrás de si, Draco sentou-se derrotado no chão. Malfoy tomou a mão de Hermione em suas próprias mãos. Ela pôde sentir as lágrimas dele molharem as costas de suas mãos enquanto ele chorava e balbuciava palavras quase incompreensíveis.
Hermione estava cansada. Cansada de lutar por anos em favor de seu amor por Rony e por seu filho. Cansada de buscar um bem, em um mundo que só exige o pior das pessoas. Cansada de "ser", quando o que mais queria era "estar": ser a mulher a quem eles amam e estar onde quem ela mais ama está.
Livrou sua mão de Malfoy, deixando-o ajoelhado no escuro com seus "demônios". Sempre sentira ódio daquele bruxo, mas agora o único sentimento que seu coração conseguia forjar era piedade. Sentia pena pela falta de lucidez que ele sentia. Malfoy vivia em uma vida fantasiosa, onde tudo o que precisara (e sonhara) estava acontecendo.
Rony ainda a olhava fascinado e atordoado. Hermione voltou-se para ele e pensou por um instante como poderia amar tanto alguém, como amava Rony. Ele sempre fora sua razão de viver, sua alma gêmea. Zelá-lo em todos os momentos de sua vida era tudo o que ela podia fazer, além de amá-lo como se não houvesse a certeza do amanhã.
Caminhou em direção a ele, ainda sendo vigiada pelos olhos ansiosos e incrédulos de Rony. Tocou-lhe suavemente as mãos em seu rosto. Sentiu-o, sentiu-o como há anos não sentia. Sua pele tão áspera, suas pupilas tão úmidas, seu olhar tão sincero... Hermione sempre o amou.
Rony a abraçou pela cintura, erguendo-a com força do chão, tomando consciência da presença de Hermione ali. A mulher a quem sempre amou, a mãe de seu filho, a dona vitalícia de seu coração.
- Mione... – dizia entre beijos fortes e desesperados que dava na esposa – Eu te amo... Senti tanto sua falta, meu amor... Eu te amo... Amo, amo muito...
- Também te amo, Rony. Nunca quis te perder. – disse ela, olhando fundo naqueles olhos profundos que tanto amava.
- Perder? Eu sempre fui seu.
Há quantos anos desejava um beijo dele? Uma eternidade! Um beijo único, o único beijo que já experimentara na vida. Sentiu os lábios de seu amado tocar os seus com intensidade... com medo de perder novamente. Beijou-o como se o tempo tivesse parado. Sua mente estava vazia no momento, aquele contato íntimo e verdadeiro tomava-lhe a mente e o corpo.
Nada era maior do que o amor que sentiam um pelo outro. Rony amava Hermione mais do que a si mesmo. Hermione amava Rony como se ele fosse uma extensão de si. Juntos eram um só ser. Um amor tão grande que não podia ser medido ou explicado. Um amor além da vida e da morte.
Neste instante, Hermione sentiu ser separada de Rony abruptamente. Demorou alguns segundos para entender o que estava havendo. Olhou ao redor e viu Draco Malfoy empurrando Rony e caindo sobre ele enquanto o acertava com socos e chutes.
Rony foi pego de surpresa, mas logo tomou consciência do que estava acontecendo. Instintivamente começou a se defender como podia.
- Larga meu pai! – Jona gritou indo em direção a briga.
Em meio a golpes, Jonathan fora empurrado para longe, caindo violentamente há alguns metros de distancia no chão. Hermione esquecera de tentar separar a briga dos dois bruxos e foi até Jona para ajudá-lo.
- Jonathan! – Rony gritou pouco antes de sentir o corpo de Draco ser lançado sobre o seu novamente. O impulso foi tão forte, que ambos foram abruptamente ao encontro de uma das paredes velhas e rachadas da casa.
Um ligeiro tremor prévio foi sentido pouco antes de parte do teto cair. Hermione só pensou no momento em proteger seu filho com seu próprio corpo. Sentiu diversos pedaços de pedra e concreto cair sobre suas cabeças. O pó branco, vindo da queda parcial da laje, cobriu todo o seu corpo. Demorou alguns minutos até que toda a poeira clara se assentasse e tudo voltasse ao foco novamente.
Hermione procurou com os olhos por seu marido, por entre os enormes pedaços do teto caídos no chão e foi quando uma visão chocante dominou seu olhar e de Jonathan: Rony estava caído, inerte, sob um longo e pesado pedaço de concreto.
- Paai! – Jona gritou indo em direção ao bruxo.
Hermione correu até Rony, sendo acompanhada por seu filho.
Sempre desejara morrer antes de Rony, pois sabia que não suportaria vê-lo agonizante. E ali estava ele, caído sem forças no chão.
- Pai, fala comigo! – gritava Jona, desesperado – Pai... Paai!
O coração de Jonathan quase parou quando viu os olhos de Rony tremerem antes de abrirem ligeiramente. Sangue cobria quase todo o corpo de Rony que estava para fora do concreto.
- Jonathan...
- Pai, eu e a mamãe vamos te tirar daí debaixo. – dizia quase aos prantos.
- Eu partirei... Partirei e irei com sua mãe...
- Não, Rony. – Mione aproximou-se ainda mais do rosto do marido, que falava quase aos sussurros – Você vai viver para cuidar de nosso filho e eu continuarei a cuidar de vocês em silêncio.
- Eu tô morrendo...
- Não, não está, pai! – Jonathan chorava.
- Eu não tenho medo... Não dói mais... Eu sempre vou estar contigo, Jonathan... Meu filho... Meu orgulho.
Um silêncio dominou o lugar por segundos. Não se ouvia mais a respiração dolorosa de Rony. Nada se ouvia.
Os pingos das primeiras lágrimas de Jonathan começaram a tocar o chão empoeirado. O rosto sujo do garoto ganhou mais caminhos de lágrimas conforme sua mente assimilava o que havia acontecido.
Jonathan se aconchegou nos braços de sua mãe, as lágrimas queimavam em seus olhos. Jona produzia soluços abafados pelas vestes de Hermione enquanto ela não acreditava que aquilo era o fim. Não, não podia ser, pois não fora assim que vira em seu julgamento. Ela assistira a uma cena em que Malfoy estava com o corpo de Jonathan ao seu lado... Jamais soubera da morte de Rony. Teria impedido. Teria lutado. Teria até matado, mas não deixaria seu amor perder a vida desta forma!
Aqueles olhos tão sinceros estariam fechados para sempre a partir daquele momento. O corpo de Rony jazia ali, ainda quente, ainda sangrando, porém, morto. Morto.

As lágrimas quentes de Jona molhavam as vestes de Mione. A pouca claridade que ainda entrava pela porta aberta foi se esvaecendo conforme Hermione ia fechando seus olhos. O som surdo do choro de Jona quase abafou uma respiração ofegante a alguns metros deles.
Hermione abriu seus olhos quando sentiu seu filho sair de seus braços rapidamente.
Jonathan odiava mais do que tudo no universo aquele bruxo loiro que agonizava com a perna presa debaixo de um imenso pedaço de teto. Correu em direção a ele, escapando dos braços de sua mãe. Queria vê-lo sofrer, queria acabar com aquela dor, queria matá-lo...
Abaixou-se rapidamente e pegou um enorme pedaço de pedra. Todo seu corpo e mente fora tomado por um ódio incontrolável... Uma loucura mortal que o impelia e governava no momento.
- Nãooo! – gritou Mione segundos antes de Jona levantar seus braços com a pedra em mãos, em posição de ataque.
Morte a quem matou seu pai... Era tentador, mas não era a solução. Não era o correto. Jona parou o braço no ar, poucos centímetros de distancia do rosto pálido de Malfoy. Deixou-se cair no chão - cansado demais para lutar, cansado demais para se quer viver - apenas olhou-o profundamente deitado ao seu lado.
Odiava aquele bruxo do fundo de sua alma. Desejava a morte dele como uma necessidade para viver. Malfoy acabara com sua vida quando tirara Rony, seu pai, de seu lado. Jamais o perdoaria por ter feito sua mãe sofrer. Malfoy a caluniou de uma maneira que Jonathan jamais perdoaria.
- Eu te odeio. – disse convicto, pouco antes de baixar os olhos, sentindo as lágrimas molharem seu peito.
- Perfeito, filho.
Tanto Hermione, quanto Jonathan, levantaram seus olhos e encararam o loiro, que ainda sangrando e ainda deitado, estava bem desperto, embora falasse sem muita força na voz.
- Perfeito, Jonathan. – disse mais uma vez em um sussurro.
- O que você quer dizer com isso, hein? – Jona perguntou entre os dentes.
- O amor não cura, meu filho. – Malfoy parecia recobrar a firmeza na voz arrastada aos poucos – O ódio sim.
Hermione não entendia o que Draco estava dizendo, mas por alguma razão seu coração lhe alertava que era preciso ouvir o que ele tinha para falar. Ela presumiu que Jonathan responderia torto para Malfoy e, por isso, resolveu falar antes dele.
- O ódio nunca curou nada neste mundo, Malfoy.
- Maldições... – disse com um pouco de dificuldade após parecer sentir uma dor no abdômen - ... O ódio cura maldições... – e, se recobrando novamente, completou - ... Maldições como a Forcius Envecti.
- A Maldição Debilitante. – Hermione completou.
- Filho. – Malfoy virou o rosto tentando encontrar os olhos de Jona, que voltaram a encarar o chão - Eu te amaldiçoei por amor...
- Por amor? – Jona o encarou furioso – Eu já desconfiava que tivesse sido você a me amaldiçoar, mas sua desculpa para isso é dizer que foi por amor? Invente algo melhor, seu desgraçado...
Hermione segurou a mão de Jonathan no ar, pouco antes do que parecia ser uma intenção de soco.
- Eu amo e sempre amei nossa família, filho. Nunca quis te perder, ou pior, perder Hermione.
- Você nunca me teve, Malfoy!
- Meu amor... – Draco encarou Hermione parecendo não se importar com o que ela havia acabado de dizer – Infelizmente eu mesmo, que sempre estudei as Artes das Trevas, não sabia que uma Maldição lançada por amor só se curaria por ódio... – Malfoy parou de falar e começou um acesso de uma tosse aparentemente dolorida.
- O que você quer dizer com isso? – Mione perguntou.
- Jonathan, meu filho, - Draco começou a falar encarando o garoto – a última coisa que eu queria é que você me odiasse.
- Mas odeio!
- Seu ódio por mim é a sua salvação.
Draco se contorceu por um instante, tateando suas vestes. Parecia estar procurando algo. Depois de alguns segundos, ele retirou do bolso esquerdo um frasco escuro. Hermione por um instante pareceu receosa, mas algo dizia para ela confiar nele apesar de tudo.
- Aqui, filho – Malfoy voltou a falar com dificuldade colocando o frasco nas mãos de Jona – é a Poção Habilitante.
Um filme passou pela mente de Hermione. Ela se lembrou do dia em que morreu: tomara metade desta mesma poção para salvar a vida de seu filho, mas, por fim de nada adiantou. O que afinal ele estava querendo com aquilo, Hermione não sabia.
- De que me interessa esta porcaria? – Jona perguntou bruto, quase jogando o frasco escuro no chão.
- Aquele dia em que você entrou na minha Penseira, Jonathan, eu propositalmente fiz você sair dela em um momento em que pudesse entender que eu era seu pai, mas o que você não viu foi que poucos minutos depois eu amaldiçoei sua mãe e por conseqüência você nasceu sem poderes mágicos... – Draco parou novamente devido a um acesso de tosse, voltando logo depois a falar - ... Meu maior arrependimento em vida foi ter machucado minha família. Nunca me perdoei pelo que fiz a Hermione e a você, meu filho. Poucos anos depois da morte de sua mãe, eu soube que havia uma cura para sua Maldição através de uma transmissão de poderes mágicos.
- Então há uma maneira de eu ter poderes como qualquer bruxo?
- Infelizmente eu já fiz isto uma vez e não deu certo. – disse Hermione ao filho. O mais triste para ela foi ver um leve sorriso desaparecer do rosto do garoto.
- Você transmitiu seus poderes para mim, mãe?
- Quando você nasceu, Jona. Eu faria tudo de novo se pudesse voltar no tempo. – Hermione inclinou a cabeça de Jonathan em seus ombros – Desculpa, filho, mas não deu certo.
Uma derradeira esperança foi embora tão rápido quanto chegou. Jona pensou por um segundo que poderia levar uma vida ligeiramente igual à de qualquer bruxo, mas se enganou. Nascera condenado a tristeza... Não tinha direito a ser feliz!
- O ódio cura, Hermione. – Draco falou, atraindo a atenção dos dois novamente. – Uma maldição lançada por amor, só se cura por ódio. – virando-se para Jona falou – Dê-me este frasco, filho.
Após tomar em suas mãos o frasco escuro que antes estava no seu bolso e abri-lo, ergueu um pouco a cabeça e virou em um só gole um pouco do aparente líquido que continha lá dentro.
Malfoy deitou sua cabeça no chão e tapou o frasco novamente.
- Beba isto, filho.
- Por que eu deveria confiar em você?
- Porque você me odeia.
Jonathan segurou o frasco em suas mãos e buscou com o olhar um conselho de sua mãe.
Hermione não sabia o que fazer. Tudo o que Draco Malfoy dizia parecia fazer sentido, mas como podia confiar em alguém que a amaldiçoara no passado? Como confiar em um louco que pensava que Jonathan era seu filho? O pior dilema era confiar às cegas a vida de seu filho a Draco Malfoy. Apesar de tudo, mais uma vez Hermione estava sentindo um aperto no coração que a impulsionava a acreditar que era verdade.
Jona notou o olhar de sua mãe e percebeu que a decisão era sua. Concluiu que não tinha muito a perder afinal.
- Hermione, meu amor, obrigada por me dar uma razão de vida. – Draco disse no momento em que Jona tomou o resto do líquido que estava dentro do frasco em sua mão.

Jonathan sentiu sua garganta arder e seus lábios secarem. O lugar pareceu girar, deixando-o totalmente tonto. De seus olhos escorriam lágrimas involuntárias e o ar parecia estar se esvaindo de seus pulmões. Não conseguia respirar.
Procurou por sua mãe, mas não se via mais naquela sala anterior. Jogou seu tronco para o lado, deixando-se cair no chão. Pensou por um momento em coisas que deveria ter feito em vida... Sempre quis voar com seu pai, mas nunca fez isso. Deveria aprender a pedir desculpas a Alicia, mas nunca se desculpara com ela. Gostaria de ter presenciado o casamento de seus Tios Gina e Harry, mas não presenciaria. Pensou ser o fim.
Com os olhos fechados, sentiu uma forte rajada de ar ser inspirada em seus pulmões, como se estivesse saindo do fundo do mar indo de encontro ao oxigênio. Abriu os olhos rapidamente e visualizou o rosto bondoso de sua mãe. Ela o enlaçava em seu colo, como se cuidasse de um bebê. Instintivamente Jonathan olhou ao redor e viu o corpo de Draco Malfoy no exato lugar onde estivera, porém mais pálido e completamente inerte.
- Bem vindo à vida, filho! – disse Hermione deixando as lágrimas escorrerem por seu rosto.
Enfim, Jonathan estava a salvo. Aquela tortura havia acabado e Jonathan tinha seus poderes mágicos como todo mundo. Hermione não conseguia exprimir a felicidade que sentia de ver seu filho, pela primeira vez, são e salvo; livre daquela terrível Maldição que contava os dias de vida dele.
Abraçou-o forte. Queria gravar este momento em seu coração. A dor de uma vida inteira estava sendo sanada ali, naquele instante de tanta perda. Sempre soube que seu filho era forte, mas agora tinha certeza! Jonathan nascera para vencer e não para perder. Era um Granger Weasley de sangue e coração. Um futuro brilhante o aguardava e Hermione estaria sempre abençoando cada passo que ele desse.
Às vezes, quando tudo parece estar arruinado, na verdade é o momento certo para que tudo se arrume nos seus devidos lugares. E as pessoas que parecem ser as vilãs, são as que se doam em pró da sobrevivência de outras. Isto se chama vida! Pena que sempre vemos o lado ruim das coisas.


Abriu os olhos com a claridade do dia. Estava em um lindo jardim. Não, mais que um simples jardim, era um campo enorme repleto de flores e pássaros. A grama, ao qual estava, era amplamente verde e ao sentar seu corpo no chão viu que a grama cobria todo o lugar como um manto sagrado. Uma brisa suave batia em seu rosto, cariciando sua pele de forma gentil.
As folhas das enormes árvores dançavam no ritmo do vento e do canto dos pássaros. Um céu limpo e extremamente azul estava sobre sua cabeça e raios de sol iluminavam seus cabelos, deixando-os com uma tonalidade mais clara.
Ouvia o barulho de água e a alguns metros pôde avistar uma enorme cachoeira, que derramava suas águas em um lago límpido. Mesmo de longe, podia-se ver peixes de todas as cores nadando no lago.
O perfume das flores se misturava com o odor de chão molhado após uma recente chuva de verão. Borboletas coloridas rodearam seu corpo em um "pega-pega" natural. Ao longe se avistava um nítido arco-íris repleto de cores que alegravam ainda mais o ambiente.
- Enfim acordou, Sra Weasley.
Hermione levou um susto, pois estava completamente entorpecia pela paisagem. Levantou-se do chão e encarou a senhora baixinha de cabelos alaranjados.
- Estava esperando seu retorno.
- Onde estou, Sra Fielding? – Hermione perguntou a sua Guardiã Superiora. Rapidamente se lembrou que a última vez que vira Elaine Fielding ela estava transformada em uma porca.
- Na Terra da Luz.
Hermione não estava entendendo. O que, afinal, ela estava fazendo ali? Como fora parar na Terra da Luz se desobedecera a restritas ordens superiores?
- Desculpe, mas não estou entendendo...
- É normal, Sra Weasley. – Elaine virou-se e caminhou alguns passos – Venha comigo. Vamos dar uma volta e no caminho eu lhe explico tudo.
Sua cabeça ainda rodava. Apesar do lugar onde se encontrava ser lindo ela não conseguia mais desfruta-lo. Estava extremamente confusa. Queria respostas. Queria saber de seu filho.
- E o Jonathan? Como ele está? – perguntou alarmada.
- Ele está vivo se é o que quer saber.
Elaine Fielding parou de andar para vislumbrar um casal de pássaros que cantavam alegremente em uma árvore de caule grosso. Hermione já estava começando a se irritar, pois não estava agüentando de tanta curiosidade e preocupação.
- Olhe só estes pássaros, Sra Weasley. – disse Fielding, cortando o raciocínio de Hermione – Eles nasceram para voar e cantar. Eles desempenham bem a função deles, não? É o destino.
- Já lhe disse uma vez que não acredito em destino.
- Você estava predestinada a isso também. – disse encarando-a com um sorrisinho maroto.
- O que você está tentando dizer, Sra Fielding?
- Todos nós nascemos com uma tarefa a cumprir. Com uma vida já programada. Tem pessoas que nascem com o dom do canto, outras viram excelentes médicos, outros jogam quadribol muito bem... Enfim, cada um tem o seu destino.
- Você quer dizer que não temos escolhas em vida? Que fazemos o que nascemos para fazer? – Hermione perguntou descrédula – Bobagem!
- Não, eu não falei isso.
Como não? Hermione nunca fora com a cara de sua Superiora Baixinha, mas agora estava demais! Esperaria mais uns segundos para que ela lhe explicasse tudo, ou sairia dali... Como pudesse.
- A vida, Sra Weasley, é como uma estrada. Existem diversos caminhos para se chegar a um mesmo final. Suas escolham determinam se você chegará no lugar que deseja mais facilmente, ou mais devagar. – completou após conseguir fazer uma borboleta pousar em seu dedo - Existem escolhas, é claro, mas todas levam a um mesmo destino.
Hermione parou seu olhar em uma flor ao longe, estava pensativa. "Se afinal existe destino, qual seria o meu?".
- O de ser mãe de Jonathan. – disse Fielding parecendo ler seus pensamentos – De ser esposa de Rony. De morrer por seu filho e até de ficar confusa, como está agora.
- Será que a senhora podia ser mais clara?
- Tudo o que aconteceu com você em vida, e também após a morte, era algo que já fora programado. Você nasceu para ter um filho amaldiçoado e para lutar além da morte pela cura desta maldição. Quando você viu o Jonathan morto em seu julgamento, era exatamente para você pensar o que pensou: que Malfoy iria matá-lo e a partir disto você desistir de ser uma Estrela. Já estava certo que você voltaria ao mundo dos vivos no intuito de salvar sua família e com isso "colaborar" com o curso do Destino, já que o destino de Draco Malfoy era mesmo o de salvar Jonathan.
- Malfoy... – Hermione enfim se deu conta que Draco havia dado sua vida por Jona. - ... ele morreu por Jonathan.
- Exato.
- O que houve com ele?
- Draco Malfoy está passando por um julgamento neste exato momento. Ele deve ser punido por ter lançado uma maldição em Jonathan, mas também deve ser compensado por ter salvado a vida dele. Fique tranqüila, ele terá uma sentença justa.
Hermione jamais pensara que Malfoy fosse capaz disto... Pensava se ele se quer tinha coração. E agora ela acabara de descobrir que ele nascera para doar sua vida a alguém. Era difícil de acreditar, mas de certa forma se sentia grata a ele.
- Draco Malfoy estava no seu destino, Sra Weasley. – continuou a Guardiã Chefe – Não na maneira que ele pensava estar, mas ele teve um papel importante na sua vida.
- Ele enlouqueceu. – disse Hermione para si mesma.
- Ele foi criado por um pai rigoroso e uma mãe relapsa. Nunca teve quem realmente se importasse com ele, que fizesse algo de coração por ele. Até o dia em que você testemunhou a favor dele. Para Draco Malfoy o que você fez foi muito mais do que libertá-lo da prisão, mas sim, libertá-lo de sua amargura.
- Ele criou uma ilusão.
- Exato, mas que para ele era uma realidade. Quando ele disse que amava você e Jonathan, ele não estava mentindo. Ele realmente acreditava no seu amor... Apesar dele nunca ter existido.
Hermione lembrou-se da sensação de confiança que sentiu quando Malfoy deu o antídoto a Jonathan. Ele estava com um olhar sincero, realmente preocupado com o que estava acontecendo com seu filho.
Neste momento, os olhos de Hermione foram cobertos por um breu. Não estava enxergando nada.
- Adivinha quem é. – disse a voz animada das mãos que tapavam seus olhos.
É claro que Hermione já sabia quem era.
- Vai ser difícil adivinhar, sabe.
- Sabe!!!!! – disse Jaqueline soltando as mãos dos olhos de Hermione. – Você estragou tudo de novo!
- Desculpa...
Hermione se sentiu muito feliz por reencontrar os amigos novamente. Enquanto os dois ainda brigavam, ela os abraçou forte, fazendo com que eles se calassem.
- Que bom ver vocês de novo!
- Fico feliz que não esteja chateada conosco.
- E por que eu estaria?
- É que nós sempre soubemos que podíamos doar nossos poderes a você, sabe.
- Mas resolvemos esconder isso, já que se você soubesse desde o início que poderia voltar a sentir e a ser visível aos vivos você estaria sem controle.
Encostando-se em uma árvore, Hermione parou para raciocinar um pouco. Eles tinham razão. Se, naquele momento perturbador em que estava passando, ela soubesse que poderia pegar os poderes de Jaqueline e Sabe ela já teria voltado a vida há muito tempo. Não teria sido bom voltar a vida, mesmo que por algumas horas, e alterar o dia-a-dia de sua família. Fora melhor do jeito que as coisas rumaram.
- Não tem problema nenhum. – disse ela sinceramente.
- Vocês, sem dúvida, foram a Legião Aprendiz que mais me deu trabalho nestas minhas 450 quimeras no Limbo. – Fielding completou olhando brava para Sabe – O Sr Bowt até me transformou em uma porca!
- Pode me chamar de Sabe, chefinha.
- Sr Bowt, não me chame de chefinha! – disse ela provocando um leve risinho nos lábios de Hermione e Jaqueline.
– Hãm-hãm... como eu estava dizendo... – continuou Fielding - Vocês me deram muito trabalho, mas sem dúvida foram a Legião que mais se esforçou para proteger os vivos que estavam cuidando. E não há como contestar que vocês são os Guardiões de Sonhos mais unidos de todo o Limbo. Mas temo em dizer que vocês terão que se separar...
- Nos separarmos?
- Como?
- Mas qual o motivo?
Os três perguntaram ao mesmo tempo.
- A Sra Weasley já fez o que tinha que fazer na Terra, agora ela precisa cumprir o seu derradeiro destino: virar uma Estrela.
Hermione não queria isso, queria continuar cuidando de Jonathan e trabalhando junto de Sabe e Jaqueline. Começou a sentir sua birra por Fielding crescendo dentro de si.
- Como assim? Não quero ser uma Estrela! Quero continuar zelando meu filho!
- E continuará. – Fielding disse em um tom de voz que fez Hermione se calar por uns instantes. – Sra Weasley, assim que se tornar uma Estrela você pertencerá ao Universo e terá toda uma eternidade e infinidade para cuidar de seu filho. A senhora continuará olhando por Jonathan, protegendo-o e assistindo cada passo que ele der em sua vida. – Após uma breve pausa, Fielding voltou a falar – Não se preocupe, pois seu filho continuará tendo dois Guardiões de Sonhos...
Elaine Fielding olhou para Jaque e Sabe, que estavam ouvindo o discurso de sua superiora sem prestar muita atenção.
- É de vocês dois que eu estou falando. – disse ela ligeiramente braba.
- Nós? Nós continuaremos sendo Guardiões de Sonhos?
- Mesmo tendo fugido, desacatado diversas ordens divinas e transformado nossa superiora numa porca, sabe? Apesar de tudo isso nós teremos nossos cargos de volta?
- Vocês não terão seus cargos de volta. – disse Fielding – A partir de hoje vocês não pertencem mais a 14° Legião Aprendiz, pois vocês JÁ são Guardiões de Sonhos.
Hermione viu seus amigos pularem em cima de Elaine Fielding (que quase sumiu, devido a sua altura) em agradecimento. Sabe chegou a dar um beijo no rosto de sua Superiora o que, na opinião de Hermione, fez com que ela perdesse ligeiramente a compostura.
- Você ouviu, amiga? Fomos promovidos! – disse Jaque abraçando Hermione.
- Meus parabéns, vocês merecem. – Hermione estava feliz por seus amigos. Seu maior medo sempre fora que eles saíssem prejudicados após colaborarem com ela. Mas o que mais a deixava pensativa neste momento era ter que se transformar em Estrela.
- O que você tem, amiga? Algum problema, sabe?
- Não pensem que não estou feliz por vocês, pois estou. E muito. Mas virar uma Estrela parece ser uma coisa muito solitária. Sei que é uma dádiva, que muitos queriam estar no meu lugar, mas não quero existir sozinha.
Hermione caminhou uns dois passos ficando assim de costas para Sabe e Jaqueline. Fielding se aproximou devagar e parou bem ao seu lado.
- Você já viu alguma vez uma estrela sozinha?
A pergunta pegou Hermione de surpresa. Ela olhou para baixo, encarando Fielding.
- Não me lembro.
- Às vezes podemos até pensar que uma estrela está sozinha, mas pode ter certeza que não. O brilho de cada nova estrela demora a chegar a Terra. Algumas vezes alguém olha para um céu limpo sem nem saber que ali, exatamente ali, existe uma Estrela de luz radiante e forte, mas que acabara de nascer. – Fielding pegou nas mãos de Hermione e a fez se virar de frente para ela – Você nunca será uma Estrela solitária. Além de ter uma Constelação inteira de companhia, você terá um acompanhante muito especial.
Elaine Fielding parou de falar e desviou seu olhar para o lado. Olhando ao longe, Hermione viu que o "sol" começara a se pôr e que no encontro dele com a última colina verdejante havia uma silhueta.
Não reconheceu de início, mas conforme a pessoa caminhava para mais perto e o "sol" se punha atrás da colina, Hermione pôde ver um ruivo vindo em sua direção.
Seus olhos não mais a obedeciam, suas pernas tinham vontade própria... Todo o seu corpo parecia impulsionado a ir de encontro a Rony. Hermione apertou os passos, sendo imitada por seu marido, até que a necessidade de estar perto dele cresceu a um ponto que não pode controlar, então correu.
Conforme a distancia entre os dois diminuía, a ansiedade aumentava. Sentia necessidade de senti-lo, tocá-lo, de abraçá-lo. Acelerou a corrida sentindo o vento roçando em seu rosto. Ansiava pelo contato de Rony e, estando a centímetros de distancia, ela pulou em seus braços.
Hermione pôde sentir o abraço forte de Rony assim que ele a levantou do chão em seus braços. Ele a rodeou em seu colo antes de parar e soltá-la. Ela não se importava com nada mais... Rony estava ali... Ele era seu amor... E o que mais podia importar?
- Senti tanto sua falta! – disse ela beijando com intensidade seu marido.
Um beijo longo, sem preocupações, sem medo, sem tristeza e com amor. O amor que sentiam um pelo outro era tudo o que fez com que eles continuassem a existir a cada dia.
Queria abraçá-lo, senti-lo, saber que jamais o perderia novamente. Ele era tudo o que Hermione sempre desejara... Ele era seu amor além da vida. Seu amor além da morte. Seu amor para eternidade.
Brilhariam no céu juntos! Nasceram para estarem juntos! Nada poderia contestar isto! Desde a época de escola, as brigas, os ciúmes, tudo era indício de romance entre eles.
- Eu te amo, Hermione!
- Também te amo, Rony!
Rony e Hermione estariam agora literalmente escritos nas estrelas.


Há semanas notara que o céu estava ficando a cada noite mais bonito. Adorava a noite. Passava o dia ansiando a noite chegar. Eram as estrelas que ele buscava. Eram elas que o encantava e, de certa forma, o protegia.
Sentado na escadaria da entrada de Hogwarts, Jonathan Weasley assistia as primeiras estrelas da noite começarem a lançar seu brilho sobre a Terra. Cada uma das estrelas parecia observá-lo assim como ele fazia com elas.
Desde que perdera seu pai e vira sua mãe, não era mais um garoto ríspido. Era feliz por saber que tivera pais que o amaram tanto, que tinha amigos verdadeiros, que tinha poderes mágicos novamente... Era bom saber que, apesar de tudo, existia sim felicidade.
Ainda se pegava às vezes perguntando onde seus pais estariam? Sentia a falta deles, mas por algum motivo olhar as estrelas o fazia se sentir protegido. Olhar o céu estrelado fazia com que ele se lembrasse de Rony e Hermione.
- Sabia que te encontraria aqui fora, Jona.
- Eu já estou entrando, Alicia.
- Vamos logo, cara, pois eu apostei com a Alicia como ela não ganha de você no xadrez. – dizia Daniel. Após se aproximar mais um pouco do amigo ele completou – Ela me garantiu que nestas férias treinou muito e que agora está craque.
Jonathan deu um leve sorrisinho. "Daniel e Alicia nunca mudarão.", pensava ele, "Ela sempre mentindo e o outro sempre acreditando".
- Ok, vamos jogar um pouco então. – disse entrando no castelo.
O garoto ainda lançou um último olhar para o céu, desejando boa-noite para seus pais onde quer que eles estivessem.

De todas as dores do mundo, a maior é a Saudade. Ela é aquela que nos faz querer sempre lembrar de alguém e ao mesmo tempo não querer. Saudade da presença, e até da ausência consentida.
Saudade da pele, do cheiro, dos beijos. O choro dolorido de quem perdeu alguém que almejava ter para sempre. O arrependimento por palavras ditas, ou pior, por palavras não ditas.
Cada dia vivido é mais um dia de saudade. Às vezes não percebemos, mas sentimos saudade de épocas, datas, situações, pessoas, objetos e tudo mais que tivemos apreço um dia.
Viver de saudade é ruim, mas viver sem ter do que sentir falta é pior ainda.
Existe realmente uma dor chamada Saudade, mas é uma dor bem-vinda pois faz com que pessoas estejam sempre em nossas lembranças.
Viva cada dia com sua saudade preferida e faça dela algo maior. Cada vez que lembramos de alguém, é uma certeza de que esta pessoa jamais será esquecida.

´¯`•.¸¸» Fim «¸¸.•´¯`

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