O Chamado para a dor



-CAPITULO UM-



O chamado para a Dor.



De certa maneira – a mais inexplicável possível – os Jardins de Hogwarts davam a Harry uma sensação de conforto, como se pudesse sentir seu pai, ali ao seu lado, apenas o Tiago Potter da época dos Marotos... O lago de águas escuras e misteriosas, o maldito salgueiro lutador, o gramado orvalhado daquela bela manhã de domingo e... Draco Malfoy perambulando sozinho e sem rumo pelas margens do lago. O garoto franzia levemente as sobrancelhas, em protesto aos fortes raios de sol que se despedia do final de verão. Malfoy aparentemente não notou que estava sendo observado por Harry, que estava sentado (e também sozinho) a uns quinze metros dele, embaixo de uma copa de carvalho. Draco aparentava uma rara serenidade mesclada de tristeza. Agora, cabisbaixo, Malfoy parou de andar e sentou-se as margens do lago. Os olhos acinzentados marejavam de lágrimas. Ele escondeu o rosto entre os joelhos, apoiando a testa nos braços cruzados. Draco precisava de respostas – o mais rápido possível. Já havia se decidido, colocaria um ponto final na história antes que ele perdesse o controle sob a situação. A noite anterior o deixou muito embaraçado, ainda que ninguém soubesse do ocorrido, e mesmo que nada de mais tenha acontecido, ele não deveria ter se deixado seduzir-se em um primeiro momento. "Oh Deus! Aqueles olhos...".



A depressão foi impiedosa com os dois. Harry e Draco, mesmo vivendo realidades opostas, sofriam do mesmo problema: descobriram sentimentos confusos, alheios ao que se passava ao seu redor – descobriram muito mais: um sentimento bem diferente do ódio ou desprezo por seu rival.



Harry recordou-se dos momentos da noite anterior. Fora um sábado agitado, muitos alunos já lotavam a biblioteca da Madame Pince, em busca de livros, especificamente que tratassem sobre Quadribol – isso porque todas as casas estavam precisando de jogadores. Harry estava sentindo-se sozinho e a presença de Rony ou da Mione não melhorava as coisas. Queria um instante para pensar e a nova temporada de Quadribol o deixava nervoso. Saiu andando por entre uma das prateleiras de livros, buscando exemplares do Pasquim – até as revistas do pai de Luna o ajudaria a melhorar sua passageira crise emocional. Harry ficou muito frágil com a morte de Sírius e pequenos empecilhos se tornaram ara ele coisas estúpidas, não merecedoras de atenção. Harry avistou um curioso exemplar chamado "O Manual de boa conduta para Aurores". Quando o puxou da instante, o lugar vago pelo livro deu visão a Harry de um belo par de olhos de alguém que estava do outro lado do corredor. Harry ficou nas pontas dos pés, querendo saber de quem era aqueles olhos cinzas que tanto o encantou. Foi uma tarefa impossível, porque a pessoa dona dos olhos estava a uma altura que só podia-se ver os olhos. O coração de Harry disparou quando a pessoa do outro lado começou a fitá-lo também. Era estranha a maneira confortante que ele recebia o olhar. Sentiu que aquele alguém era muito especial, que também havia passado por maus momentos e ele sentiu o desejo de conhecer quem era.



Draco, do outro lado da prateleira, buscava um livro com feitiços para animar, no momento em que foi puxar um grosso livro, alguém do outro lado da prateleira o puxou rapidamente. Quando Malfoy foi protestar, indagando que tinha visto o livro primeiro, percebeu que um par de olhos verdes e estranhamente vivos, que o encarou através do pequeno espaço entre os livros. Notou muitas coisas escondidas no olhar tímido que se encontrava ao oposto da estante. Uma sensação maravilhosa apossou o coração de Draco e o acordou para o inevitável – que um dia ele encontraria uma pessoa que com aquele tipo de olhar, seria capaz de cicatrizar suas mais densas feridas. Vagarosamente, começou a caminhar para a ponta da prateleira, a fim de ver quem era o dono dos olhos verdes. A pessoa do outro lado também acompanhava ansiosamente os seus passos.



Ambos sorriam com o olhar, e agora caminhavam depressa em direção ao fim do corredor. Os fundos da biblioteca estava escuro e deserto, e eles corriam cada vez mais, em busca daqueles olhos mágicos que eram capazes de explicar o todo sentido de tudo que eles sofriam ou os perturbava. Para Harry e Draco, aqueles pares de olhos desconhecidos, eram da pessoa que os ajudaria a superar tudo... Faltava menos de um metro para o grande encontro – "Como ainda não haviam se conhecido?" Cada um deles se perguntava. Aquele era o momento, ambos viraram e...



Potter? – Draco perguntou incrédulo, chocado ao ver de quem era os lindos olhos verdes.

Oh, meu Deus. – Harry disse embaraçado, mas tentando recuperar a postura rapidamente. – Era você o tempo todo...

Do que você esta falando? – Draco perguntou na defensiva. Estava dando uma de desentendido. Foi o melhor plano que elaborou instantaneamente.

Nada... bom – Harry ficou vermelho por agir como estúpido, precisava concertar a situação – Acho melhor eu ir embora.

Esta foi a melhor idéia que você já teve. – Draco respondeu grosseiramente. Tinha ficado desapontado.

Os dois se deram às costas e caminharam em direções opostas. Harry pressentiu que a história não acabaria daquela maneira. Nunca havia sentido algo assim por Cho Chang, e Draco conseguiu revirar em seu coração, antigos sentimentos há muito tempo adormecidos. Nenhum deles tinha conseguido dormir muito bem à noite. Se perguntavam se o outro tinha sentido aquele momento mágico do qual tinham vivenciado. Agora, ali nas margens do lago, ao observar o Draco, Harry ficou viajando, imaginando como deveria ter ocorrido o encontro no fim do corredor... Isso não ajudava em muita coisa. Que diabos iriam fazer se não desprezassem um ao outro? Qual a reação que ele deveria esperar por parte de Draco. Harry viu que estava indo longe demais. Eles apenas se confundiram, ouve apenas um mal entendido era ridículo misturar as coisas – principalmente pelo rumo que Harry estava a conduzindo.



Mas Harry não poderia deixar de cogitar. O rosto de Malfoy a sua frente – na verdade a poucos metros – o inspirava em muitos aspectos, ficou com os pensamentos tão longe que mal percebeu a aproximação do garoto, que se sentiu ameaçado por Harry estar olhando-o tão demoradamente e sem disfarçar o foco.



Harry quase gritou de susto ao dar com Draco parado em sua frente, naquele instante.



Que diabos você estava me olhando? – Draco perguntou nervoso – perdeu alguma coisa em mim?

Cale essa boca – Harry disse tateando o bolso da calça buscando a varinha, pressentindo um confronto. – Qual o motivo para que eu o olhasse?

Ontem...- Draco ia dizendo, mas parou ao perceber que seria errado mencionar o episódio da biblioteca.

Não vai terminar? – Harry disse demonstrando querer abrir o jogo – Bem que você ficou curioso para saber quem era do outro lado, hein? – Harry pirraçou.

Não seja tolo, Potter! Não coloque palavras na minha boca! – Draco disse na defensiva.

Vou é calar sua boca com uma azaração! – Harry ameaçou, apontando a varinha para o rosto do Sonserino.

Sentindo as coisas esquentarem, Draco soltou entre um resmungo: "e porque não deixa a varinha de lado e brigamos no punho?".



No momento em que disse isso, sentiu suas pernas fraquejarem com a rápida investida de Harry sobre o seu peito. Caiu no chão gramado, batendo violentamente a cabeça no queixo de Harry. Os dois rolaram no chão, debatendo-se. Infelizmente não havia ninguém por perto para separar a briga, já que estavam afastados do castelo. Draco nocauteou Harry rapidamente, deixando o garoto estirado no gramado de barriga para cima. O dominou sentando na virilha do Harry e abriu os braços dele segurando-o pelas mãos. Harry ficou imóvel, quando abriu os olhos, a imagem a sua frente entrou em foco, na armação dos óculos tortos. Viu Draco encima de si, ofegante pela briga, com os cabelos empapados de suor. Sentindo que ia perder suas forças, Draco posicionou-se mais firmemente sobre o colo do inimigo.



Não me amole mais – Draco vociferou entre os dentes.

Saia de cima de mim, ou vai se arrepender – Harry disse desesperado, pressentindo que o pior estava para acontecer...

Arre! – Draco gritou, saltando do colo de Harry para o gramado – O que você pensa que esta fazendo? – disse incrédulo, olhando para o volume formado na frente da calça de Harry.

Você... – Harry gaguejou – eu... Eu disse para você sair de cima de mim – ele corou, levantou-se e tentou esconder sua excitação precoce.

Seu imundo! – Draco falou com desprezo e virou a costa, correndo em direção ao castelo.

Harry, desencorajado de insistir alguma coisa com Draco, só voltou para o castelo quando chegou à hora do jantar. Culpou-se por ter alimentado uma espécie de sentimento em relação ao Malfoy. Isso não tinha futuro. Estava condenado a sofrer de um amor proibido. Jamais poderia suportar o Chamado para a Dor – Depressão.



Quando chegou na torre da Gryffindor, ele foi extremamente grosso com Rony e Mione que ficaram preocupados ao ver o rosto de Harry manchado de lágrimas. Ele se isolou no dormitório e demorou muito para pegar no sono.



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