Capítulo 2



Capítulo II



O sonho me afetou mais do que eu queria. De repente, Remus Lupin assumiu para mim uma importância muito maior nos livros de “Harry Potter”. Até então a minha personagem preferida era Ron Weasley, o ruivinho simpático, engraçado, amigo, corajoso e pessimista… mas depois de escrever a minha primeira fanfic e de ter aquele sonho mirabolante, Lupin tinha atingido um patamar muito mais alto… alto demais para uma personagem de ficção. Não era apenas a minha personagem preferida; era alguém que mexia comigo de um modo tão estranho que, se eu não soubesse que ele era apenas fruto da imaginação de uma tal de Joanne Kathleen Rowling, diria que estava irremediavelmente apaixonada por ele! Que loucura, não?

Acabei de reler “O Cálice de Fogo” e recomecei “A Ordem da Fénix”… e ali estava ele: ainda jovem, mas com ar doente e cansado, vários cabelos brancos, roupas remendadas, voz rouca e suave, sorriso simpático… O meu coração disparou quando percebi que conseguia vê-lo nitidamente… a ele, assim como a Harry (com uns enormes olhos verdes brilhando por detrás dos óculos redondos), Moody (assustador!) e Tonks (estranhíssima!)… Bom… nitidamente mesmo era só ele. Porquê? Que efeito estranho era aquele que ele exercia sobre mim? Era como se o fato dele ser um bruxo pudesse fazer o encantamento de passar da fantasia para o mundo real, ou me puxar para dentro da ficção.

Eu não entendia. Era como se eu estivesse sonhando de novo, entrando dentro do livro, vendo a cena acontecer perante os meus olhos: a Guarda Avançada, indo buscar Harry para levá-lo para o Largo Grimmauld.

Aquilo nunca havia acontecido comigo antes. Fazia cerca de dois anos que eu costumava brincar que Harry Potter era tão bom feiticeiro que sempre mudava a minha vida quando eu lia os livros… mas não imaginava que fosse chegar a tanto!

Na verdade, quando eu era criança, sonhava entrar nos livros que lia, como o Bastian de “História Sem Fim”, o meu filme preferido, que me marcou como nenhum outro e me fez prometer a mim mesma jamais deixar de acreditar na existência de um mundo paralelo, o mundo da fantasia, dos nossos sonhos… um mundo que sumiria se nós deixássemos de sonhar.

Sonhar? Mas claro, só podia ser mais um sonho! Esfreguei os olhos… e a cena do livro desapareceu da minha frente… ou melhor, estava lá, sim, mas apenas impressa na página aberta de “Harry Potter e a Ordem da Fénix”… Tentei ler de novo, mas senti um estranho arrepio na espinha. Fechei o livro com violência; aquilo estava me fazendo mal. Eu não tinha mais idade para me deixar levar pelo mundo da fantasia.

Decidi que, pelo menos por uns dias, não leria mais “Harry Potter”… e foi nesse preciso momento que, na minha frente, surgiu, me olhando com um ar profundamente triste, Remus Lupin, de novo!

– Não! – Gritei, fechando os olhos com força. Coloquei as mãos na cabeça e comecei a chorar, descontrolada. – Eu não posso estar louca! Eu não posso estar louca! – Soluçava.

A medo, ergui a cabeça e abri os olhos. Ele não estava mais lá.

Suspirei, tentando me recompor. Sabia que tudo aquilo não passava de uma crise de stress provocava por uma época de provas na faculdade.

Já uma vez havia parado de estudar, por causa de uma crise de stress, misturada com uma depressão, que haviam me impedido de continuar fazendo um curso que, na verdade, eu nem gostava… Mas eu não ia deixar que isso me acontecesse de novo. Não. Muitos dos meus sonhos e objetivos para a vida passavam por terminar a faculdade o mais rápido possível e, para isso, não poderia exagerar no estudo. Tinha que ter um escape, para não me deixar levar pelo stress. Não havia outra saída: o meu escape era “Harry Potter”… Por mais perigoso que fosse deixar me levar pela fantasia, eu tinha que arriscar. Era isso ou mais uma crise de stress que podia me esgotar de novo.

A fantasia sempre havia me salvado, desde menina. Filha única, eu imaginava irmãs ou amigas, para brincar e conversar comigo. Gostava de assistir novelas e me imaginar na pele de certas personagens, de representar sozinha, no quarto… e quando entrei em depressão, fui salva por uma mudança de vida, que passou por um curso de interpretação de dois anos, seguido de uma incursão pelo mundo do teatro, uma participação em televisão e outra em cinema.

Eu me entregava de corpo e alma às personagens que interpretava; vivia-os como se fosse vida real e recebia rasgados elogios falando de grande talento e profissionalismo da minha parte. Aí, eu era realmente feliz. Aqueles mergulhos na fantasia eram melhores do que terapia para mim!

Acontece que tudo tem um fim. Tudo que é bom dura pouco e eu não podia ficar esperando que mais um convite de trabalho com atriz caísse do céu. Voltei para a faculdade, num novo curso. Desse, eu gostava. Esqueci todo aquele mundo de fantasia… mas agora… agora ele era necessário de novo. Ele me chamava com a voz de Remus Lupin, querendo me absorver com mais força do que nunca.

Não tinha outro jeito. Aquele mundo sempre fora a minha prisão e a minha salvação. Não podia mais fugir.

Fechei os olhos e dei por mim num outro quarto. Sabia que era o quarto da Mary Hallow das minhas fics. Estava deitada na cama, sem roupa. Do meu lado, ali estava ele, de novo.

– Remus… - Murmurei, deixando que ele envolvesse a minha boca com um beijo e o meu corpo com um abraço doce e quente. Deixei que todas as minhas resistências me abandonassem e entrei naquele mundo.

Eu não era mais a Maria, estudante de tradução; era Mary Hallow, professora de Adivinhação… e noiva de Remus Lupin.

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