Hermione




Hermione


 


  Encostada ao balcão, ela esperou que o rapaz de touca preta atendesse a uma senhora que adquiria uma revista de crochê e costura. Observou-o discretamente manusear as notas e finalizar a compra. A senhora lhe disse qualquer coisa relacionada à sua constelação de sardas ao qual seu rosto contraiu num rubor discreto.
 


 Quando chegou a vez de Hermione ela era a única cliente ali.
 


— Ah, oi! — cumprimentou.
 


— Tudo bem? — ele perguntou, informal.
 


  Usava uma camiseta ambígua com o símbolo de alguma banda de heavy metal e um blusão de moletom. Nada de aliança nos dedos, embora ela não compreendesse porque seus olhos focaram com tanta indiscrição aquela parte do corpo dele.
 


— Eu reservei seu mangá. — deu uma espichada nas costas para alcançar embaixo do balcão, sem tirar os pés do lugar.
 


  Hermione deparou-se com a edição novíssima de Monster que seria sua a seguir. Estava embalada cuidadosamente num saquinho transparente.
 


— Obrigada. — começou a tirar o dinheiro da carteira, então parou lembrando-se de algo — Deixa eu perguntar: Não era você ontem de manhã na travessa com Whith Tall?
 


— Eu? — ele ficou meio desorientado por ser abordado de outra forma, diferente da costumeira e “profissional” entre eles.
 


— Isso. De bicicleta, pedalando rápido. — reforçou sua memória.
 


— Sim... Sim! Eu estava vindo para o trabalho. — respondeu coçando nervosamente atrás da nuca.
 


— Imaginei mesmo. Pelo jeito que você surgiu na frente do ônibus, poderia jurar que quisesse, er... você sabe? Seu pedacinho particular no céu.
 


— Na verdade foi o ônibus que surgiu na minha frente. — riu.
 


  Uma risadinha rouca e gostosa, fazendo seu pomo-de-adão subir e descer. O corriqueiro frio do outro dia trespassou pela barriga dela numa ondulação sutil.
 


— Às vezes tenho a impressão que o processo de seleção para contratar motorista em Londres incluiu ter tendências sociopatas.
 


Ele concordou completamente com uma aceno factual.
 


— Você tá sempre pegando ônibus?
 


— Pois é. Estou economizando, então nada de carros. Despesa com a faculdade vem pesada todo mês.
 


— Oh, faz o que? — de repente o tal Rony da touca de lã, de ombros pendentes e cabeça baixa, transformou-se num carinha mais espontâneo.
 


  Hermione apoiou um braço no balcão e sem perceberem seus braços se roçaram na disputa pela madeira estreita. Uma coisa qualquer, já que vestiam grossos agasalhos.
 


— Eu estudo medicina. Estou no terceiro período. Entrar na universidade não foi uma tarefa fácil, nem permanecer nela. As matérias são extensas e um tanto densas, mais todos os detalhes da vida pessoal, você sabe, família, parentes, noivo — quase não citou a última palavra — e eu estou perto de endoidar. O pior de tudo que é eu amo medicina.
 


— E no meio de tudo isso você compra mangás, compulsivamente? — ela percebeu ser uma provocação bem humorada do estilo ao qual dois colegas se instigariam.
 


  Achou divertido.
 


— Certo. Você descobriu meu ponto fraco. — fez uma voz soturna — Depois de Sailor Moon ficou difícil de ser uma pessoa normal.
 


— Achei que sua iniciação tivesse começado com Sakura Card Captor, como a maioria das garotas.
 


— Não, não. CLAMP só me interessou muito tempo depois. E tem aquele traço da dualidade, sabe?!
 


— Humrum. — Rony anuiu — No geral, os animes e os mangás foram a febre mais severa que acometeu pessoas da nossa época. Você tem vinte e poucos, não?
 


— Vinte e três e envelhecendo. — fez uma expressão de cansaço.
 


— Rony, preciso ir ao banheiro, pode atender aquela mulher? — o outro atendente veio dos confins da banca para cortar abruptamente o diálogo deles.
 


  Hermione teve o impulso de subjuga-lo numa voadora direto no peito, mas tudo o que fez foi desencostar do balcão e guardar a revista. Apoiou o dinheiro diante de Rony, a seu ver rígido e ligeiramente aborrecido. Mas não parecia ser com ela, já que abriu um tímido sorriso e lhe saudou num:
 


— Te vejo semana que vem. — foi se encaminhando para o outro cliente.
 


  Ele lembrava-se da rotina dela, refletiu.
 


— Até.
 


  No caminho de volta para casa, Hermione Granger, uma garota esperta e com certa malícia para identificar admiradores inconvenientes, descobriu que estivera num pequeno inquérito, na banca. Ele lhe perguntou sobre seu destino ao utilizar o transporta público, conseguiu a resposta de onde sua fascinação pelos mangás se iniciara e ainda obteve a informação precisa sobre sua idade.
 


  Córmaco, seu noivo, ficaria chocado em quanto a reservada e desconfiada Hermione fora inocente na conversa de um desconhecido. Ele era um louro alto e de ombros muito largos, federado em rúgbi desde o colégio. Também estava no término do curso de Comércio Exterior o que o tornava poliglota e muitíssimo diplomático. Além disso, era lindo e rico. Sobretudo, tratava-a com um amor extremo, o que só reforçava a inveja das primas, sobrinhas, tias e toda a sorte de parentes abelhudos que uma pessoa poderia ter.
 


  E ela entregando pontos turísticos de sua profissão, nascimento e gostos, ao garoto do jornal. Rony (que poderia ser até mesmo um apelido e não uma abreviação de nome) fazia o tipo perfeito de algum lunático de vinte e tantos anos. Sem contar a touca muito suspeita.
 


  Imprudentemente ela adorou o interrogatório e as finalidades escusas, torcendo para que fosse por algo duvidoso a intenção das perguntas, muito aquém do que a robótica simpatia de um funcionário entediado.

                                                    *** 


Dos comentários anteriores...


Neuzimar de Faria: Oi, Neuzi! Leitora do meu coração!!! Sim, a leitura pode ficar um pouco confusa para quem não está familiarizado ao tema o que se encaixa na proposta de uma fic curtinha. Diálogos rápidos e as impressões desse casalzinho antagônico se descobrindo com alguns sentimentos suspeitos... kkk. Esteja à vontade para comentar, como sempre. Bjs!!!


Willi: Tava sentindo falta dos seus comentários, confesso! Sim, veio de um sonho surtado meu...kkkk. Eu faço pesquisa para acrescentar trechos, cenários, momentos em muitas fics minhas, mas Entre Otakus tá tudo aqui no cabeção mesmo. Vem dos meus gostos pessoais, como, por exemplo, o lance do Digmon do qual revi dia desses e quase cai pra trás de tão chato... rsrs. Pequei na bendita regra dos quinze anos, aquela que diz que se nós gostamos muito de algo antes dos quinze é melhor não rever porque provavelmente acharemos uma droga no futuro. Continue acompanhando porque sei que curte bastante também esses lances japoneses. Bjs!


Tati: Eu já tô partindo pra abreviação, assim ignoro as milhões de consoantes ~ assovia. Vai fazendo sua listinha sim e comece justamente por Monster que vem a ser uma das melhores histórias de suspense da face da Terra! Sem exageros, vai na fé! Bjs! 


 

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Comentários (3)

  • Andye

    Tadinho do Ron, meu. Reservar esse mangá não saiu nada barato pra ele, o pobre. E pelo que percebo, o coleguinha de trabalho é mesmo um abelhudo shsuashuasuah ~~~~>

    2014-02-16
  • Neuzimar de Faria

    "Eu reservei seu mangá." kkkkkkkk Se ela soubesse o quanto custou a ele aquele mangá, cairia de quatro por ele de vez. rsrsrsrs Mas, vai indo bem esse início de relacionamento. Só quero saber o que ela vai fazer quando realmente perceber que seu interesse por ele está fugindo ao seu controle. Aguardando o próximo capítulo. Até! 

    2013-12-02
  • Tati Hufflepuff

    Acho que já temos intimidade pra que vc não precise usar meu nick cheio de consoantes! auahuahuahauahuahuah Fique a vontade pra chamar só de Tati, sou eu mesma :)Adorei o capítulo! Hermione toda se querendo pro Rony, Rony todo interessado na Hermione... Córmaco vai rodar bonito!! Louca pelos próximos, com mais citações de animes pra minha listinha!PS: SAILOR MOOOOOOOON!!! Clássico dos clássicos! Tb foi com ele que comecei a cutir animes láááá na Tv manchete! Até festa de Sailor Moon com direito a roupinha dela eu tive... Muito amor pra um anime só <3 

    2013-12-02
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