CAPÍTULO 1



Olá pessoal!


Há um mês, quando descobri quem era minha amiga secreta, fiquei felicíssima! Afinal, ela era justamente a pessoa que tinha me trazido para este amigo secreto (um tanto inusitado para mim) e para ela também.


A satisfação de começar a cria-lo foi instigante e diferente.  Tive centenas de ideias para desenvolvê-lo, mas o tempo curto não me deixava ir muito além. Pensei até em mudar o tema no meio do caminho, entretanto, como estava muito focada nessa trama, sabia que não conseguiria pensar em outra coisa.


Então tive uma ideia: dividi a fic em três pequenos capítulos, como se eu tivesse escolhido dentro de uma long-fic, três capítulos que definissem bem o que é o enredo e para onde vai. Sim, como se fosse uma fic-trailer.


Assim, se minha amiga secreta, além de todas as outras que lerem gostarem da ideia, é só pedir que início o desenvolvimento de uma Long em cima dessa “palhinha”.  


Não preciso dizer (mas já tô dizendo, eu sei..kkk) que tive total influência de O Último Samurai. Eu adoro esse filme, e acho que se encaixa bem num pano de fundo para duas mulheres completamente opostas se apaixonarem.


Sobre os idiomas, como não queria ficar legendando tudo para não se tornar maçante, usei uma técnica em que nós entendemos o que a protagonista do capítulo fala, mas sua “antagonista” argumenta palavras simples no respectivo idioma nativo. Acho que vão gostar.


Preciso também agradecer a Anne W. G. M. por betar para mim!


Thanks Amore!


Bom, sem mais parágrafos... Essa fic é para você:


ANDYE G W









                                               CAPÍTULO 1


 


  Muitas são as lendas em torno do meu povo. Em nosso país somos conhecidos como místicos arcaicos, obstáculos do progresso. Os guerreiros do além-mar definem-nos simplesmente como selvagens, sem tempo para tentar entender nossos costumes e crenças. Entre os sábios, velhos e espiritualizados, ganhamos o nome Doragon o motte iru hito, ou Aqueles que Possuem o Dragão.


 


   Moramos aos pés da montanha mais soberana de todo o Japão, o Monte Fuji. Este monumento estupendo trouxe benefícios mágicos aos primeiros nativos de meu país. Trouxe conhecimento valoroso, sussurrado através de ventos tépidos e intuitivos, a magia essencial para que se vivesse em total sincronia com o clima, a tundra e com os animais que habitavam o monte.


 


  Logo, outros seres mágicos vieram fazer companhia aos seres humanos. Havia elfos, duendes, hipogrifos, dentro tantos outros. E então, dizem as escrituras, numa noite onde as estrelas caíam do céu, chegou ele, o colossal Dragão de Côri.


 


  Ele pousou no alto do Fuji, resfolegando seu hálito gelado sobre todo o pico e fazendo do monte o que ele é hoje.  O Dragão ainda vive lá, mas ninguém nunca ousou ou conseguiu chegar tão próximo do pico para atestar sobre sua aparência. As gravuras nas paredes do nosso templo o remontam muito alvo, com escamas translúcidas e chifres afiados.


 


  No mundo moderno, todo o Japão esqueceu como é importante preservar as raízes, o Monte e o Dragão de Côri.


 


  O imperador segue o exemplo dos trouxas, e deixa entrar ininterruptamente pelos nossos céus, caravanas completas de ingleses usurpadores. Querem transformar Fuji numa aberração temática, acabar com sua condição sagrada, fazendo qualquer bruxo de qualquer nacionalidade no direito de profanar o solo oriental mais puro.


 


  Nós, o povo de Côri, protegemos o país inteiro e mantemos a verdadeira mágica oriental viva. Isso ninguém vai nos tirar, por nenhuma ameaça estrangeira.


 


  No outono de 1762, os guerreiros do ocidente chegaram. Um pequeno esquadrão ergueu varinhas talhadas em terras longínquas, contra uma aldeia de sentinelas, muito longe do miolo de nosso acampamento central.


 


  Eles nos subestimaram e foram facilmente derrotados, massacrados pela própria arrogância. Mas trouxeram um deles vivos.


 


  Levaram o guerreiro já muito machucado para o salão de reuniões e lá o interrogaram por horas a fio. O ocidental, claro, não entendia nosso idioma, ou pelo menos se fazia de rogado. Logo, experimentou a ira dos Côri com torturas sequenciais pelas mãos do implacável guardião Kanu. Porém, não disse uma palavra sequer. Era apenas um comandante usurpador, movido pela ânsia de conquistas.


 


Por fim o largaram num quarto escuro, em minha casa.


 


Essa foi a primeira vez que tive contato com o guerreiro. Como senhora do lar onde ele estava hospedado, e em cárcere ao mesmo tempo, tinha como obrigação moral servi-lo com, no mínimo, suas necessidades básicas primais.


 


Lembro-me de abrir a porta do seu quarto e a luz pálida da manhã derramar-se sobre o aposento escuro, em seu corpo machucado, ainda vestindo a armadura. Foi um choque para eu ver o que vi.


 


Era um corpo delgado e delicado, um corpo de mulher. Ela estava totalmente desacordada e indefesa diante de meus olhos.


 


  - Cuide dela! – exigiu meu esposo em nosso idioma.


 


   Ele, um combatente nato, era ninguém menos que o General supremo dos Côri.


 


   Assenti com um aceno submisso de cabeça e esperei que partisse para começar minha tarefa. Trazia uma tina de água na mão e compressas secas para limpar o prisioneiro.


 


Entrei, fechei a porta atrás de mim e comecei a abrir as janelas para deixar o ambiente mais claro. Ela continuou sem se mover no chão.


 


Ajoelhei diante dela, fitei-a com apreensão por um longo e paciente tempo, para ter a certeza de que estava mesmo com todos os músculos fora de combate, e somente depois das precauções, iniciei meu serviço.


 


Molhei o pano na água, passando repetidas vezes em suas bochechas ensanguentadas e proferindo o mantra de cura tecidual que aprendera com minha avó, ainda muito jovem:


 


Moti caeri... moti caeri.


 


O elmo permanecia em sua cabeça. Era simples, completamente desprovido de adornos caprichados, e isso deve ter causado desprezo entre os guerreiros Côri; Para nossos homens, o momento da luta é o mais importante de suas vidas, de tal forma que os artesões passavam de meses a anos para preparar somente uma única armadura. Entrementes, apesar de singelo, o elmo ocidental era de um material extremamente resistente e compacto, não me deixava ver seus cabelos.


 


Terminei de limpar o rosto e forcei o elmo para cima, suavemente.


 


E tudo aconteceu muito rápido.


 


 Ela ergueu-se com a habilidade de um felino e jogou-me de costas no chão, fazendo a tina de água espatifar-se de um lado e seu elmo do outro.


 


Em cima de mim, apertou meus pulsos com firmeza, quase me machucando, e enganchou suas coxas de combate, entre meu tronco. Seu semblante aguçava-me, querendo provar o quão forte e feroz poderia ser.


 


Os cabelos dela caíram em cascatas ao redor do meu rosto. Fiquei pasma pela beleza selvagem que possuíam. Cada e todo fio levava uma nuance em combustão. Eram de um vermelho tão hipnotizante que chegavam a ser depravados. Nunca vi cabelos daquela cor, e minhas pupilas faiscaram em suas mechas de tal forma, que se não estivesse morrendo de medo de ser massacrada por mãos belicosas, estaria com certeza, me perdendo nos detalhes deles.


 


Nossos olhos se emparelharam em seguida. Ela tinha olhos de uma ocidental, olhos que veem tudo, mas não veem nada. Uma prova disso era a ignorância de seu povo em chegar mal preparado em nossas cercanias. A cor, o formato, a agressividade deles eram tão diferentes de mim e das mulheres de meu país.


 


“Que mulher antagônica... e brutal”. Pensei, temendo por minha vida.


 


- Who.. are... you? – rosnou algo em seu idioma. Eu não pude entender.


 


Arfei e tentei me desvencilhar de suas garras, ela me prendeu com mais potência contra o chão.


 


- Estou cuidando de você. – disse, mesmo sabendo que ela não entenderia.


 


- Who are you? – voltou a falar com mais força na voz.


 


A água que derramara da tina começara a esvair por debaixo dos meus cabelos, molhando eles e minhas costas. O líquido era tão gelado quanto à sensação de pânico que comecei a sentir. 


 


- Não posso te entender, não posso. – supliquei.


 


- WHO ARE YOU??? – ela gritou com um rugido.


 


Fechei os olhos, a guisa das lágrimas que se insinuavam a formigar pelos seus cantos. E, rapidamente, a porta se abriu e meu esposo surgiu, estuporando a ocidental para longe de mim.


 


Seu corpo voou com violência, sendo amparado pela parede de madeira e tombando, derrotado contra o assoalho. Ela deveria estar muito fraca mesmo, pois voltou ao estado de desacordada no mesmo instante.


 


- Não pode cuidar dela sem proteção. – disse ele, ainda parado na porta. – Pegue sua varinha e usei-a sempre que entrar aqui, Cho!


 


- Como você quiser, O-to. 


 

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Comentários (1)

  • MiSyroff

    Muito interessante! A lenda, os detalhes... Nossa, ficaram ótimos! Pena que não consigo desenvolver bem U.A. rs Mas me deu contade kkkkE curiosa em como elas vão se comunicar ;) 

    2013-01-09
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