O Vidro que Sumiu



Capítulo 2 - O Vidro que Sumiu


:: POV Autoras::


 


– Eu leio – Falou Marlene


Capitulo 2 “O vidro que sumiu”




QUASE DEZ ANOS HAVIA se passado desde o dia em que os Dursley acordaram e encontraram o sobrinho no batente da porta, mas a Rua dos Alfeneiros não mudara praticamente nada. O sol nascia para os mesmos jardins cuidados e iluminava o número quatro de bronze à porta de entrada dos Dursley, e penetrava sorrateiro à sala de estar que continuava quase igual ao que fora na noite em que o Sr. Dursley ouvira a funesta notícia sobre as corujas.


– Hey, mais respeito com as corujas! – Resmungou Remus – Elas tem mais cérebro que você! – Ele completou e a sala explodiu em risadas


Somente as fotografias sobre o console da lareira mostravam o tempo que já passara. Dez anos antes havia uma porção de fotografias de uma coisa que parecia uma grande bola de brincar na praia, usando diferentes chapéus coloridos, mas Duda Dursley não era mais bebê, e agora as fotografias mostravam um menino grande e louro na primeira bicicleta, no carrossel de uma feira, brincando com o computador do pai, recebendo um beijo e um abraço da mãe.


A sala não continha nenhuma indicação de que havia outro menino na casa.


– Ainda bem que meu afilhado saiu de lá! – Sirius gritou


– Na verdade... – começou Hermione, mas Harry sacudiu a cabeça em sentido negativo e olhou para Marlene


– Continue, Marlene


– Só Lene, por favor – ela sorriu gentilmente e continuou a leitura.


No entanto Harry Potter continuava lá, no momento adormecido, mas não por muito tempo. Sua Tia Petúnia acordara e foi sua voz aguda que produziu o primeiro ruído do dia.


— Acorde! Levante-se! Agora!


– Que amor de pessoa! – James debochou


– Você nem faz ideia... – Lily comentou emburrada por seu filho ter que aturar os gritos de sua irmã.


Harry acordou assustado.


A tia bateu à porta outra vez.


— Acorde! — gritou.


Harry ouviu-a caminhar em direção à cozinha e em seguida uma frigideira bater no fogão. Virou-se de costa e tentou se lembrar do sonho em que estava. Era um sonho gostoso. Havia uma motocicleta. Tinha a estranha sensação que já vira esse sonho antes.


– Ele lembra da minha motocicleta! – Sirius subiu na mesa, conjurou um óculos de sol e uma gravata de borboleta e começou a fazer uma dança estranha, que parecia que ele estava imitando um cowboy[¹]. Todos (menos Snape) começaram a gargalhar, achando a dancinha ridícula, até que Sirius fez uma pose e desceu da mesa. Dorcas olhou para ele e perguntou:


– Que dança é essa, Sirius?


– Ahh, foi uma coisa que eu inventei. – Ele respondeu um pouco corado


“Oh-oh... Sirius corando? O mundo tá acabando...” Lene pensou antes de continuar a ler.


A tia voltara a porta.


— Você já se levantou? — perguntou.


— Quase — respondeu Harry.


— Bem, ande depressa, quero que você tome conta do bacon. E não se atreva a deixá-lo queimar. Quero tudo perfeito no armário no aniversário de Duda.


– Harry Potter... – Lily estava vermelha, e não parecia ser de vergonha – Você tinha que cozinhar para àqueles imprestáveis? – Ela sibilou a última parte e James a abraçou, prevendo a fúria da ruiva (que ele já tinha enfrentado muitas vezes, diga-se de passagem).


– Er... Nem sempre mãe... Só as vezes.


– Harry, não minta pra mim! – Ela ralhou, apesar de estar quase transbordando de felicidade por ser chamada de ‘mãe


– Tudo bem... Eu tinha que cozinhar sempre que Petúnia pedia. Geralmente ela só pedia no café da manhã.


– Quantos anos você tinha quando começou a cozinhar? – Neville perguntou um pouco surpreso


– Acho que 5 anos...


Silêncio na sala enquanto todos tentavam processar essa informação.


Antes que mais alguém desse um ataque de raiva e resolvesse matar os Dursley[²], Lene continuou a leitura.


Harry gemeu.


— Que foi que você disse? — perguntou a tia com rispidez.


— Nada, nada...


O aniversário de Duda... como podia ter esquecido?


– Harry, isso foi sarcasmo, não foi? – Os gêmeos perguntaram


– Sim.


– E por quê você nunca usou esse sarcasmo nesses 7 anos?!


– Porque eu estava muito preocupado tentando derrotar Voldemort. – Harry respondeu despreocupado, como se derrotar o Lord das Trevas fosse uma coisa banal.


– NÃO DIGA ESSE NOME!! – Berraram falaram Frank, Alice e Dorcas juntos, enquanto os outros bruxos rolavam os olhos (incluindo Snape).


– Relaxa, gente. Voldemort está morto. – Rony disse e os do passado ficaram em choque. “Voldemort... morto?” era o que todos pensavam, e Harry suspirou.


– Gente, é uma longa história e eu tenho certeza que deve explicar nos outros livros. Mas eu vou resumir: Alguns meses atrás eu e Voldemort duelamos e ele perdeu.


– Isso aí é o resumo do resumo do resumo, né Harry? – Gina falou sarcasticamente e ele corou. James olhou o filho, achando estranha a reação dele, e depois de um tempo ele entendeu. Era uma das “maldições” dos Potter. Ele olhou para Sirius, que sorria, e viu que seu amigo/irmão pensava o mesmo.


Harry levantou-se devagar e começou a procurar as meias. Encontrou-as debaixo da cama e depois de retirar uma aranha de um pé, calçou-as. Harry estava acostumado com aranhas, porque o armário sob a escada vivia cheio delas e era ali que ele dormia.


– O QUÊ??! MEU FILHO/AFILHADO/“SOBRINHO” DORME EM UM ARMÁRIO DEBAIXO DE UMA ESCADA??! – Gritaram James, Lily, Sirius e Remus (para espanto de todos do presente que tiveram aula com ele).


– Quantos quartos tinham na casa? – Luna perguntou


– Tinham 4. O quarto da Petúnia e do Válter, o primeiro quarto do Duda, o segundo quarto do Duda (onde ele guardava tudo que não cabia no primeiro quarto) e o quarto de hóspedes. – Harry respondeu temendo a reação de Lily (que já estava escarlate e tinha os olhos marejados), mas foi salvo por Rony, que mantinha os olhos fixos no livro.


– Aranhas... Aranhas... Aranhas... – Ele começou a balbuciar, e todos que sabiam de sua aracnofobia começaram a rir.


– Qual o problema dele? – Perguntou Alice


– Ele tem medo de aranha! – Gina respondeu ainda rindo, e os outros bruxos começaram a rir também.


Quando todos se acalmaram e pararam de rir, Lene voltou a ler


Já vestido saiu para o corredor que levava à cozinha. A mesa quase desaparecera tantos eram os presentes de aniversário de Duda. Pelo que via, Duda ganhara o novo computador que queria, para não falar na segunda televisão e na bicicleta de corrida. Para o quê exatamente, Duda queria uma bicicleta de corrida era um mistério para Harry, porque Duda era muito gordo e detestava fazer exercícios, a não ser, é claro, que envolvessem bater em alguém. O saco de pancadas preferido de Duda era


“Que não seja o Harry. Que não seja Harry.” Todos pensavam, principalmente Lily, James, Sirius, Remus, Gina, Rony e Hermione.


Harry, mas nem sempre Duda conseguia pegá-lo. Harry não parecia, mas era muito rápido.


Talvez fosse porque vivia num armário escuro, mas Harry sempre fora pequeno e muito magro para a idade.


– Não, é porque você é filho do veado! – Sirius começou a rir


– É cervo! C-E-R-V-O!! Qual a dificuldade de entender isso? – James perguntou emburrado


– Todas, James querido. – Lily falou e piscou para ele.


– Peraê! Volta tudo! – Exclamou Dorcas – Lílian Nunca-Sairei-Com-O-Potter Evans chamou James de “querido”? E piscou? FUJAM PARA AS COLINAS! O MUNDO VAI ACABAR!!


Todos riram, menos Severo, que permanecia sentado na ponta do sofá mais distante de todos.


Parecia ainda menor e mais magro do que realmente era porque só lhe davam para vestir as roupas velhas de Duda e Duda era quatro vezes maior do que ele.


– Quatro? – Perguntaram “inocentemente” os gêmeos – Da última vez que nós vimos ele era quase 8 vezes maior!


Harry tinha um rosto magro, joelhos ossudos, cabelos negros e olhos muito verdes.


– Uma perfeita combinação do veado e do lírio! – Remus e Sirius exclamaram, e o rosto de Lily ficou da cor de seus cabelos. Os outros riram da reação da ruiva, enquanto ela escondia o rosto no peito de James.


Usava óculos redondos, remendados com fita adesiva, por causa das muitas vezes que Duda lhe socara no nariz.


*Rosnados e maldições contra os Dursley*


A única coisa que Harry gostava em sua aparência era uma cicatriz fininha na testa que tinha a forma de um raio. Existia desde que se entendia por gente e a primeira pergunta que se lembrava de ter feito à Tia Petúnia era como a arranjara.


— No desastre de carro em que seus pais morreram — respondera ela — E não faça perguntas!


– Aquela PIRANHA falou para MEU FILHO que eu e o James morremos em um acidente de CARRO??! – Lily berrou e aparatou, junto com James.


– Eles podem aparatar? – Luna perguntou


– Sim, nós já fizemos nossos N.I.E.M.s – Alice respondeu sorrindo. Ela vira os sorrisos e olhares que Luna e Neville trocaram enquanto estavam juntos, e ficara muito feliz ao ver seu filho com uma garota que parecia certa pra ele.


– A questão não é se eles podem aparatar ou não, e sim para onde eles foram! – Harry berrou desesperado. Ele perdeu os pais uma vez, não podia perder eles de novo.


– Harry... Harry, calma! – Gina falou, mas ele não pareceu ouvir. Então ela sacou a varinha e disparou um feitiço


– Immobilus!


– GINA!! – Hermione já ia disparar o contra-feitiço, mas Rony tirou a varinha de sua mão


– Mione, relaxa... Ele só vai ficar assim até os pais dele chegarem.


–x—


*Cinco minutos depois...


– Oi gente, voltamos! – James estava com um sorriso maior do que a cara, e Lily tentava disfarçar um sorriso


– TAVAM SE PEGANDO!! – Gritaram os pervertidos Lene, Sirius, Dorcas, Fred e Jorge


– Quê?! Claro que não! A gente só mostrou algumas azarações muito legais à Petúnia e o namorado-porco dela – A ruiva respondeu com um sorriso cruel, depois ela reparou no Harry imóvel no meio da sala – MAS QUE PORRA QUE FIZERAM COM MEU FILHO?!!! Relaxare!


– Ginevra Weasley! – Harry disse – Como você pôde lançar um feitiço em mim?!


– Com uma varinha, né? Agora sentem o rabo no sofá pra eu continuar lendo. – Lene falou/ordenou


Não faça perguntas, está era a primeira regra para levar uma vida tranqüila com os Dursley.


Tio Válter entrou na cozinha quando Harry estava virando o bacon.


— Penteie o cabelo — mandou, a guisa de bom-dia.


– Que sujeito amável – comentou Dorcas com ironia


Mais ou menos uma vez por semana, Tio Válter espiava por cima do jornal e gritava que Harry precisava cortar os cabelos. Harry deve ter feito mais cortes que o resto dos meninos de sua classe somados, mas não fazia diferença, seus cabelos simplesmente cresciam daquele jeito, para todo lado.


– Maldição Potter – cantarolaram Sirius e James juntos.


– “Maldição Potter”? – Rony perguntou


– Sim. Essa é uma das “maldições” dos Potter... Na verdade não são maldições, e sim surperstições. – Remus explicou.


– E quais são as outras maldições?


– Potter’s e suas ruivas – James e Harry falaram ao mesmo tempo, enquanto Lily e Gina coravam.


– Aaah, que lindo! Mas eu posso continuar? – Lene peruntou mal-humorada e todos assentiram


Harry estava fritando os ovos na altura em que Duda chegou à cozinha com a mãe. Duda se parecia muito com o Tio Válter. Tinha um rosto grande e rosado, pescoço curto, olhos azuis pequenos e aguados e cabelos louros muito espessos e assentados na cabeça enorme e densa. Tia Petúnia dizia com freqüência que Duda parecia um anjinho. Harry dizia com freqüência que Duda parecia um “porco de peruca”.


Os gêmeos estavam com cara de cachorrinho abandonado


– Harry... – começou Fred


– ... por que você nunca... – completou Jorge


– ... mostrou esse lado maroto...


– ... para nós?


Todos riram, até mesmo Snape, pensando no quanto aquilo era ridículo.


Harry pôs os pratos de ovos com bacon na mesa, o que foi porque não havia muito espaço. Entrementes, Duda contava os presentes. Ficou desapontado.


— Trinta e seis — disse, erguendo os olhos para o pai e a mãe — Dois a menos do que no ano passado.


– ‘Mimado pra cacete’, nesse caso, é eufemismo! – Hermione comentou irritada e os outros concordaram


— Querido, você não contou o presente de Tia Guida, e aqui está um grandão do papai e da mamãe, está vendo?


— Está bem, então são trinta e sete — respondeu Duda ficando vermelho.


Harry, percebendo que Duda estava preparando um acesso de raiva começou a engolir seu bacon o mais depressa possível, caso o primo virasse a mesa.


– Ele já tinha feito isso antes? – Perguntou Frank


– Duas vezes. Uma quando ele não ganhou uma mesa de pingue-pongue e a outra quando ele queria comer sorvete de chocolate de sobremesa, mas só tinha de morango. – Harry falou dando de ombros.


Tia Petúnia obviamente também sentiu o perigo, porque na hora disse:


— E vamos comprar mais dois presentes para você hoje. Que tal fofinho? Mais dois presentes, está bem assim?


Duda pensou um instante. Pareceu um esforço enorme. Finalmente respondeu hesitante:


— Então vou ficar com trinta... trinta...


— Trinta e nove, anjinho — disse Tia Petúnia.


– Além de mimado é burro! Pelas meias rosas listradas de Merlin! – Snape (finalmente) disse alguma coisa, e, para sua surpresa, todos riram.


— Ah — Duda largou-se na cadeira e agarrou o pacote mais próximo — Então, está bem.


Tio Válter deu uma risadinha.


— O baixinho quer tudo a que tem direito, igualzinho ao pai. É isso ai, garoto! — e arrepiou os cabelos de Duda com os dedos.


Naquele instante o telefone tocou e Tia Petúnia foi atendê-lo, enquanto Harry e Tio Válter assistiam Duda desembrulhar a bicicleta de corrida, a câmara de filmar, um aeromodelo com controle remoto, dezesseis jogos de computador e um gravador de vídeos. Estava rasgando a embalagem de um relógio de ouro quando Tia Petúnia voltou do telefone parecendo ao mesmo tempo zangada e preocupada.


— Más noticias, Válter. A Sra. Figg fraturou a perna. Não pode ficar com ele — e indicou Harry com a cabeça.


– Por que eles falam de você como se não estivesse presente? – Alice perguntou e Harry deu de ombros de novo. Nem ele entendia isso.


Duda boquiabriu-se de horror, mas o coração de Harry deu um salto.


Todo ano, no aniversário de Duda, os pais dele o levavam para passar o dia com um amiguinho em parques de aventuras, lanchonetes ou no cinema. Todo ano deixavam Harry com a Sra. Figg, uma velha maluca que morava ali perto. Harry detestava o lugar. A casa inteira cheirava a repolho e a Sra. Figg lhe mostrava fotografias de todos os gatos que já tivera.


– ARGHHHH! GATOS NÃO!! – Sirius gritou e todos que sabiam de sua condição animaga riram.


— E agora? — perguntou Tia Petúnia, olhando furiosa para Harry como se ele tivesse planejado tudo.


Harry sabia que devia sentir pena da Sra. Figg que quebrara a perna, mas não era fácil quando lembrava que ia passar um ano sem ter que olhar para o Tobias, o Néris, Seu Patinhas e o Pompom outra vez.


— Poderíamos ligar para a Guida — sugeriu Tio Válter.


— Não diga bobagem, Válter, ela detesta o menino.


– Guida é aquela que você transformou em... – Neville começou, mas Harry o interrompeu


– Sim, é essa mesma! Mas não fale agora, provavelmente vai aparecer no terceiro livro! – Ele sorriu a ver a cara de ansiedade dos bruxos do passado.


Com freqüência, os Dursley falavam de Harry assim, como se ele não estivesse presente, ou melhor, como se ele fosse alguma coisa muito desprezível que não conseguisse entendê-los, como uma lesma.


– LESMA É TEU C...


– JAMES POTTER! Olha lá o quê você vai falar! – Lily o repreendeu


– Mas eu ia falar cotovelo, meu amor – Ele falou fazendo uma cara fofa e ela rolou os olhos. Enquanto isso, o Harry ria, feliz por ver os pais juntos.


— E aquela sua amiga, como é mesmo o nome dela, Ivone?


— Está passando férias em Majorca — respondeu Petúnia, com rispidez.


— Vocês podiam me deixar aqui — arriscou Harry esperançoso (ele poderia assistir ao que quisesse na televisão para variar e, quem sabe, até dar uma voltinha no computador de Duda).


Lily começou a chorar ao ver o que seu filho tinha que fazer para se divertir. James a abraçou, e acariciou os cabelos ruivos que tanto amava. Ele também queria chorar, mas tinha que se manter forte – por sua futura namorada/esposa e por seu filho.


Lene pigarreou e voltou a ler.


Tia Petúnia parecia que tinha engolido um limão.


– Pena que não engoliu... – Sirius resmungou


— E quando voltarmos, encontrar a casa destruída? — rosnou.


— Não vou explodir a casa — prometeu Harry, mas os tios não estavam mais escutando.


— Talvez pudéssemos levá-lo ao zoológico — disse Tia Petúnia lentamente — E deixá-lo no carro.


— O carro é novo. Não vou deixá-lo sentado no carro sozinho.


– Tudo bem, ele é filho do James, mas isso não quer dizer que ele vá destruir tudo que vê pelo caminho! – Remus comentou em um tom divertido e todos riram, até mesmo Lily, que secava as lágrimas do rosto.


Duda começou a chorar alto. Na realidade não estava chorando, fazia anos que não chorava de verdade, mas sabia que se fizesse cara de choro e gritasse a mãe lhe daria o que quisesse.


— Dudinha, querido, não chore, mamãe não vai deixar ele estragar o seu dia! — exclamou abraçando-o.


— Não... quero... que... ele... vá! — Duda berrou entre grandes soluços fingidos — Ele sempre estraga tudo! — e lançou um riso maldoso por entre os braços da mãe.


– FILHO DUMA SENHORA QUE PRESTA SERVIÇOS SEXUAIS PARA SE SUSTENTAR!! – Todos gritaram, menos Snape e Harry.


Naquele instante a campainha tocou.


— Ah, meu Deus, são eles chegando! — disse Tia Petúnia nervosa.


Um minuto depois, o melhor amigo de Duda, Pedro, entrou acompanhado da mãe. Pedro era um menino magricela, com cara de rato. Em geral era quem segurava por trás os garotos enquanto Duda batia neles. Na mesma hora Duda parou de fingir que estava chorando.


– Pfff... Se esse garoto fosse mesmo o melhor amigo do Porquinho Jr., ele ia fingir que estava chorando também! – James reclamou e os outros começaram a rir do “Porquinho Jr.” – Sirius já fez isso um monte de vezes, né não Almofadinhas?


– Com certeza, Pontas! – Sirius respondeu enquanto Remus rolava os olhos.


“Com tanta gente em Hogwarts... Por que eu tinha que ser amigo e aturar justo esses dois?” ele pensava.


Meia hora depois, Harry, que não conseguia acreditar em sua sorte,


– Ninguém acredita! – Gritaram todos do presente, menos Harry, que ficou emburrado.


estava sentado no banco traseiro do carro dos Dursley, com Pedro e Duda a caminho do jardim zoológico, pela primeira vez na vida. O tio e a tia não tinham conseguido pensar no que fazer com ele, mas antes de saírem, Tio Válter puxara Harry para o lado.


— Estou-lhe avisando — disse, aproximando a cara grande e vermelha de Harry — Estou-lhe avisando, moleque, a primeira gracinha que fizer, a primeira, vai ficar preso naquele armário até o Natal.


– Filho da p...


– JAMES POTTER E SIRIUS BLACK!! Parem de falar palavrões! – Lily reclamou (de novo).


– Cadê a liberdade de expressão nessa bosta?! – Sirius perguntou, fingindo que estava indignado.


Lene achou melhor continuar, antes que Lily pudesse responder.


— Não vou fazer nada — disse Harry — Juro...


Mas Tio Válter não acreditou nele.


– Por que será, hein?? – Rony perguntou ‘inocentemente’ e outros bruxoos do presente assentiram


Ninguém nunca acreditava. O problema era que sempre aconteciam coisas estranhas à volta de Harry e simplesmente não adiantava dizer aos Dursley que não era sua culpa.


 


* * *


 


Uma vez Tia Petúnia, cansada de ver Harry voltar do barbeiro como se não tivesse estado lá, apanhara uma tesoura de cozinha e cortara o cabelo dele tão curto que o deixara quase careca, exceto por uma franja, que ela deixou, para esconder “aquela cicatriz horrorosa”.


*Xingamentos à Tia Petúnia*


Duda morrera de rir de Harry, que passou à noite acordado imaginando como que seria a escola no dia seguinte, onde já riam dele por causa das roupas folgadas e dos óculos emendados com fita adesiva. Na manhã seguinte, porém, quando se levantou os cabelos estavam exatamente como eram antes de Tia Petúnia cortá-los. Tinham-no deixado preso uma semana no armário por causa disso, apesar de sua tentativa de explicar que não saberia explicar como é que os cabelos tinham crescido tão depressa.


– Isso é magia acidental e ela sabe disso! Não podia culpá-lo! – Lily falou


Outra vez, Tia Petúnia tentara obrigá-lo a vestir um macacão velho de Duda (marrom com pompons cor de laranja). Quanto mais tentava enfiá-lo pela cabeça dele, tanto menor o macacão ficava, até que finalmente parecia feito para um fantochinho de dedo, e com certeza não ia servir para o Harry. Tia Petúnia concluiu que devia ter encolhido na lavagem e Harry, para seu grande alivio, não foi castigado.


– MÁHQUÊ? Ele realizou acidentalmente um feitiço que eu só aprendi no segundo ano?!!! – Hermione bufou e os outros olharam para ela como se ela fosse uma anormal


– Segundo? Eu só aprendi isso no quinto! – Sirius, Fred e Jorge exclamaram


Por outro lado, ele se metera numa grande encrenca quando o encontraram no telhado da cozinha da escola. A turma de Duda o estava perseguindo, como sempre, e tanto para surpresa de Harry quanto dos outros, ele apareceu sentado na chaminé. Os Dursley receberam uma carta muito zangada da diretora de Harry, contando que Harry andara escalando os prédios da escola. Mas só o que tentara fazer (conforme gritou para Tio Válter através da porta trancada do armário) fora saltar para trás das grandes latas de lixo da porta da cozinha. Harry supunha que o vento devia tê-lo apanhado na hora em que saltou.


– Isso é impossível! Ele aparatou com menos de onze anos? Acho que nem Dumbleodoreseria capaz de fazer isso!! – Dorcas exclamou e os bruxos do presente ficaram tristes à menção de Dumbledore


– HÁ! Meu filho é FODA!! – James gritou e todos riram


Mas hoje nada ia dar errado.


– Pobre iludido... – Os gêmeos murmuraram


Valia até a pena estar em companhia de Duda e Pedro para passar o dia em outro lugar que não fosse à escola, o armário, ou a sala com cheiro de repolho da Sra. Figg.


 


* * *


 


Enquanto dirigia, Tio Válter se queixava à Tia Petúnia. Ele gostava de se queixar de tudo: das pessoas no trabalho, de Harry, do conselho, de Harry, do banco e de Harry eram seus dois assuntos preferidos. Esta manhã eram as motocicletas.


– QUAL O PRECONCEITO DELE COM AS MOTOCICLETAS??!!! – Sirius berrou


– Se você me deixar ler, talvez a gente descubra! – Lene respondeu, e Sirius, para espanto geral, ficou quieto.


—... roncando pelas ruas como loucos, os arruaceiros — disse, quando uma moto emparelhou com eles.


— Tive um sonho com uma motocicleta — falou Harry, lembrando-se de repente — Ela voava.


– Harry, aprenda uma coisa – Lily começou – Nunca fale algo “fora do normal” para trouxas. Principalmente se for a minha irmã e o porco dela!


– E aí Harry? Feliz? Sua primeira bronca! – Rony cochichou para Harry, e ele apenas sorriu.


Tio Válter quase bateu no carro da frente. Virou-se para trás e gritou com Harry, seu rosto parecendo uma beterraba gigante e bigoduda:


— MOTOCICLETAS NÃO VOAM!


Duda e Pedro deram risadinhas.


— Sei que não voam — respondeu Harry — Foi só um sonho.


– Não foi um sonho, foi uma lembrança!


– Hermione, você tá parecendo a Professora McGonagall! – Rony reclamou e Hermione corou


Mas desejou que não tivesse dito nada. Se havia uma coisa que os Dursley detestavam mais do que as suas perguntas, era quando falava de coisas que faziam o que não deviam, não interessava se era sonho ou desenho animado, pareciam pensar que ele poderia arranjar idéias perigosas.


– Harry, você pode nos mostrar alguns desenhos animados? – James, Sirius e os gêmeos perguntaram com sorrisos marotos.


– Err... Depois. Lene, continue por favor.


Era um Sábado muito ensolarado e o zôo estava cheio de famílias. Os Dursley compraram grandes sorvetes de chocolate para Duda e Pedro à entrada e, então, porque a mulher sorridente na carrocinha perguntara o que Harry ia querer antes que pudessem afastá-lo depressa dali, eles lhe compraram um picolé barato de limão. Não era ruim, Harry pensou lambendo-o enquanto observavam um gorila que coçava a cabeça e se parecia demais com Duda, exceto pelos cabelos que não eram louros.


A sala explodiu em risadas novamente.


Harry passou a melhor manhã que já tivera em muito tempo. Cuidou de andar um pouco afastado dos Dursley, de modo que Duda e Pedro, que ali pela hora do almoço estavam começando a se chatear com os bichos, não recaíssem no seu passatempo favorito de bater no primo.


*Mais rosnados e maldições contra os Dursley*


Almoçaram no restaurante do zôo e quando Duda teve um acesso de raiva porque seu sorvetão não era bastante grande, Tio Válter comprou-lhe outro e deixou Harry terminar o primeiro. Depois Harry achou que devia ter adivinhado que estava bom demais para durar muito tempo.


Terminado o almoço foram visitar o alojamento dos répteis.


Era fresco e escuro ali, com quadrados iluminados ao longo das paredes. Por trás dos vidros, rastejavam e deslizavam em pedaços de pau e em pedras todos os tipos de cobras e lagartos. Duda e Pedro queriam ver as enormes cobras venenosas e as grossas pítons que esmagavam um homem. Duda logo encontrou a maior cobra que havia. Poderia dar duas voltas no carro de Tio Válter e amassá-lo até reduzi-lo ao tamanho de uma lata de lixo, mas naquela hora ela não estava disposta a fazer nada. Na realidade, estava dormindo a sono solto.


Duda parou, o nariz comprimido contra o vidro, observando as espirais marrons e reluzentes.


— Faz ela se mexer — choramingou para o pai.


– Que menino chato! – Luna resmungou


Tio Válter bateu no vidro, mas a cobra não se mexeu.


— Faz outra vez — mandou Duda.


Tio Válter bateu no vidro com os nós dos dedos, mas a cobra continuou dormindo.


— Que chato! — queixou-se Duda.


E saiu arrastando os pés.


– Aí que nosso grande herói entra em ação! – Os gêmeos falaram como se fossem locutores de rádio, provocando muitas risadas na sala.


Harry veio se postar na frente do tanque e estudou a cobra com atenção. Não se admiraria se a própria cobra morresse de tédio. Não tinha companhia a não ser aquela gente idiota que batucava no vidro, tentando incomodá-la o dia inteiro. Era pior do que ter um armário por quarto, onde a única visita era a Tia Petúnia esmurrando a porta para acordá-lo, mas ao menos ele podia visitar o resto da casa.


A cobra inesperadamente abriu os olhos, que pareciam contas. Devagarinho, muito devagarinho, levantou a cabeça até seus olhos chegarem ao nível dos de Harry.


E piscou.


– What... – Remus começou


– The... – Sirius completou


– Hell? – James terminou


Harry arregalou os olhos. E olhou depressa a toda volta para ver se havia alguém olhando. Não havia. E retribuiu o olhar da cobra, piscando também.


A cobra acenou com a cabeça na direção de Tio Válter e de Duda, depois levantou os olhos para o teto. Lançou um olhar a Harry que dizia com todas as letras:


“Isso é o que me acontece o tempo todo”.


– Filho... Você é ofidioglota? – Lily perguntou e Harry assentiu


– Mas... Você é da Grifinória, não é? Por favor, diz que é! – Sirius perguntou, já de joelhos, rezando para que seu afilhado não fosse sonserino


– Sirius, calma. Ele é o maior grifinório de todos os tempos! – Gina respondeu sorrindo.


– GRAÇAS À MERLIN! – Sirius gritou e se sentou no sofá


— Eu sei — murmurou Harry pelo vidro, embora não tivesse muita certeza se a cobra poderia ouvi-lo — Deve ser bem chato.


A cobra concordou com um aceno de cabeça enfático.


— Mas de onde é que você veio? — perguntou Harry.


A cobra apontou com o rabo uma placa próxima ao vidro.


Harry espiou.


— “Boa Constrictor, Brasil”, era bom lá?


A jibóia apontou novamente a placa com o rabo e Harry leu:


— “Este espécime nasceu em cativeiro”. Ah, entendo, então você nunca esteve no Brasil?


– Coitada! – Luna e Alice falaram


A cobra sacudiu a cabeça, mas um grito ensurdecedor atrás de Harry fez os dois pularem:


— DUDA! SR. DURSLEY! VENHAM VER ESSA COBRA! VOCÊS NÃO VÃO ACREDITAR NO QUE ESTÁ FAZENDO!


– Fofoqueiro... – resmungaram todos


Duda veio bamboleando até onde o amigo estava o mais depressa que pôde.


— Cai fora — falou dando um soco nas costelas de Harry.


Apanhado de surpresa, Harry caiu com força no chão de concreto.


*Xingamentos ao Porquinho Jr.


O que se passou em seguida aconteceu tão depressa que ninguém viu como foi: num segundo, Pedro e Duda estavam encostados no vidro, no segundo seguinte, estavam saltando para trás soltando uivos de terror.


Todos começaram a rir, imaginando a cena (hilária).


Harry sentou-se e parou de respirar: o vidro da frente do tanque da jibóia tinha sumido. A grande cobra se desenrolou depressa e escorregou pelo chão, as pessoas no alojamento dos répteis gritaram e começaram a correr para as saídas. Quando a cobra passou rápido por ele, Harry poderia jurar que uma voz baixa e sibilante tinha dito:


“Brasil, aqui vou eu... obrigado, amigo”.


– De nada – Harry respondeu ao livro


O zelador do alojamento dos répteis ficou em estado de choque.


— Mas o vidro — ele não parava de repetir — Para onde foi o vidro?


– Foi pro Japão, ‘cê não viu não? – Dorcas falou sarcasticamente


O diretor do zôo em pessoa preparou uma xícara de chá forte para Tia Petúnia enquanto se desculpava mil vezes.


Pedro e Duda só conseguiam balbuciar. Pelo que Harry vira, a cobra não fizera nada a não ser fingir abocanhar os calcanhares deles quando passou, mas quando chegaram finalmente ao carro do Tio Válter, Duda estava contando que a cobra quase lhe arrancara a perna a dentadas, enquanto Pedro jurava que a cobra tentara apertá-lo até matar.


– Nem um pouco exagerado esse aí – Gina falou com cara de ¬¬’ e todos concordaram.


Mas o pior de tudo, pelo menos para Harry, foi Pedro ter se acalmado o suficiente para perguntar:


— Harry estava conversando com ela, não estava, Harry?


– Sempre tem um idiota pra estragar tudo! – Os do presente reclamaram


Tio Válter esperou até Pedro estar longe da casa para brigar com Harry. Estava tão zangado que mal podia falar. Conseguiu apenas dizer:


— Vá... armário... Harry... sem comida — antes de desmontar em uma cadeira e Tia Petúnia ter que correr para lhe servir uma boa dose de conhaque.


– EU VOU TRANSFORMAR O VÁLTER EM MOSQUITO E ESMAGAR ELE COM MEU SAPATOOO!! – Lily gritou, assustando todo mundo, e James teve que agarrá-la pela cintura para impedir que ela aparatasse novamente.


– Lene, PELOAMORDEMERLIN!, continua a ler esse troço! – Frank disse


Muito mais tarde, deitado no seu armário, Harry desejou ter um relógio. Não sabia que horas eram e não tinha certeza se os Dursley já estariam dormindo. Até que estivessem, ele não poderia se arriscar a ir escondido até a cozinha buscar alguma coisa para comer.


Vivia com os Dursley havia quase dez anos, dez infelizes anos, desde que se lembrava, desde que era bebê e seus pais tinham morrido naquele acidente de carro. Não conseguia se lembrar de ter estado no carro quando os pais morreram. Às vezes, quando forçava a memória durante longas horas em seu armário, lembrava-se de uma estranha visão: um lampejo ofuscante de luz verde e uma queimadura na testa. Isto, supunha ele, era o acidente, embora não conseguisse lembrar de onde vinha toda aquela luz verde.


Não conseguia lembrar nada dos pais. A tia e o tio nunca falavam neles e naturalmente tinham-no proibido de fazer perguntas. E não havia fotografias deles na casa.


– Como assim a Petúnia NUNCA te mostrou uma foto minha? Ou minha mãe? Por que Dumbleodore não deu você para que meus pais criassem? – Lily enterrou o rosto nas mãos e começou a chorar de novo, sendo consolada por James.


Quando era mais novo Harry sonhara muitas vezes com um parente desconhecido que vinha levá-lo embora, mas isto nunca acontecera, os Dursley eram sua única família.


– Mas... Isso tá errado! Eles não eram sua única família! Tinham os meus pais, os pais de Lily... – James começou a falar, mas Lene continuou a leitura.


Ainda assim, ele achava (ou talvez fosse só uma esperança) que estranhos na rua o conheciam. E eram estranhos muito estranhos.


– Claro, eles eram bruxos, né? – Hermione perguntou ironicamente e Harry mostrou a língua pra ela


– Eu não sabia, okay?


Um homenzinho de cartola roxa se curvara para ele uma vez quando estava fazendo compras com Tia Petúnia e Duda. Depois de perguntar a Harry, furiosa, se ele conhecia o homem, Tia Petúnia tinha empurrado os meninos depressa para fora da loja sem comprar nada. Uma velha amalucada toda vestida de verde uma vez acenara alegremente para ele no ônibus. Um careca com um longo casaco púrpura, chegara a apertar sua mão na rua um dia desses e em seguida se afastara sem dizer nada. A coisa mais estranha nessas pessoas era a maneira com que pareciam desaparecer no instante em que Harry tentava vê-los melhor.


Na escola Harry não tinha ninguém. Todos sabiam que a turma de Duda odiava aquele estranho Harry Potter com suas roupas velhas e folgadas e os óculos remendados, e ninguém gostava de contrariar a turma do Duda.


– Acabou, minha gente! Quem lê o próximo? – Lene perguntou


– Aaah cara, já são 12:30! Eu tô com fome! – Rony e Sirius reclamaram e todos rolaram os olhos.


– Vamos almoçar, depois a gente continua – Dorcas sugeriu e os famintos Rony e Sirius saíram correndo para a cozinha.


–x—


[¹] = Gangnam Style. Nesse caso, Sirius Style x)


Tive essa ideia maluca graças à Bidi, que falou que ia colocar o Sirius dançando "Festa do Estica e Puxa"


Para quem não entendeu, aí vai uma básica explicação:


http://osprofanos.com/wp-content/uploads/2012/09/psy-gangnam-style-2.jpg


"Ehhhh sexy Lene!


Oppan Sirius Style!" x)

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