Chapter 1



Seis da manhã. O som estridente do despertador
invadia seus ouvidos, antes acostumados ao
silêncio. Draco remexeu-se cansadamente na
cama, esperando que aquela máquina parasse
aquele insuportável barulho. Barulho que o
angustiava. Barulho que o forçava a acordar. E ele
não queria mais acordar.


Puxou o próprio travesseiro sobre a orelha,
tentando abafar o som, resmugando algo sem
nexo. Espreguiçou-se entediantemente, afastando
o grosso endredon que o cobria na noite fria. De
maneira inconsciente levou sua mão até o lado
oposto da cama, como se procurasse algo
importante.


Ela não estava lá. Esquecera-se daquele pequeno
detalhe.


Sentiu o pedaço do lençol ao lado ainda gelado,
denunciando que ele realmente estava sozinho.
Olhou por todos os lados, apenas para confirmar
aquilo que ele já sabia por todas as manhãs,
estreitando os olhos ao ver que o apartamento
estava aparentemente vazio.


Fúria. Esse pequeno sentimento tomou conta de
si.

Ouviu o irritante barulho retornar após alguns
minutos de silêncio, e isso fora o ápice para
descontrolar-se. Observando furiosamente o
pequeno cômodo em que o objeto permanecia,
espichou-se a fim de pegá-lo, lançando-o
fortemente contra a parede, quando o alcançou.
Ouviu o som de algo se espatifar e ir de encontro
ao chão, rolando até perto de si, não dando a
mínima para aquele momento de desespero.

Draco Malfoy, antes conhecido por sua habitual
frieza e autocontrole, demonstrava com pequenos
gestos toda a fúria contida em si por todos os anos
de sua vida, até aquele dia, enfim. Tinha certeza
absoluta de que as coisas apenas piorariam dali
para frente.

Porque ele não queria acreditar que o que
acontecia era real.

Cansado. Era como se sentia. Durante poucos
meses tivera o que chamavam de felicidade
momentânea. Ao lado dela. Mas ela não estava
mais lá. Hermione Granger não estava mais com ele. E
isso o cansava sempre.
Passou as mãos exasperadamente pelos
desgrenhados cabelos loiros, sentando melhor
na própria cama.

Acreditara no que ela lhe dissera tempos atrás.
Dissera-lhe que sentia exatamente o mesmo que
ele sentia por ela. Amor. Era isso que sentia por
ela. Seria mesmo isso que ela sentia por ele? Não
sabia, afinal, os atos da garota poucos dias atrás
não demonstravam exatamente aquilo. E pensar
que ela também o amava era quase algo
inimaginável.

Fazia parte de um sonho completamente utópico,
por parte dele.

Olhou para o espelho que permanecia em frente a
sua cama, observando-se nele. Mantinha uma
expressão aborrecida, culpa das várias noites que
passara acordado, esperando-a. Esperando
secretamente que ela voltasse para ele. Voltasse
para seu Draco.

Mas ela não voltou.
Hermione Granger mudara totalmente seu jeito de ser,
confessava. Antes, vivia apenas para a empresa de
sua família, sem se importar com absolutamente
nada que pudesse acontecer com o mundo ou com
os outros, que não fossem ele. Chegara ao
extremo de não demitir alguém que considerava
inútil apenas porque a garota lhe pedira. Hermione 
dissera que ele deveria dar uma segunda chance à
moça em questão, e que com certeza ela se
acostumaria ao trabalho. Dito e feito.

Apenas por ela.

Draco não sabia exatamente o que o forçava a
fazer tudo o que aquela garota mandava, mas era
algo incômodo. Incômodo porque agora já se
acostumara e não sabia fazer coisa alguma sem
ela. Não conseguia explicar ou entender o tipo de
poder que ela exercia sobre si, mas precisava dela.
O que poderia fazer, afinal? Ela não estava mais
lá, e quanto a isso, não poderia fazer
absolutamente nada.

Hermione era seu inferno.

Seria estranho se dissesse que sentia falta dela? Seria errado?

Não. Estaria mentindo se dissesse o contrário. Se
houvesse tido pelo menos uma única e pequena
chance de revelar isto a ela… Mas para quê? Ela
já sabia de tudo aquilo. Hermione sabia que ele a
amava. E ele não entendia o que a levara a ir
embora. Deixá-lo como se não fosse ou
representasse absolutamente nada para ela ou na
vida dela.

Levantou-se vagarosamente de sua cama,
permanecendo em pé algum tempo, encarando o
chão, sujo pelos restos do objeto quebrado.
Ajoelhou-se. Buscou algumas das peças de seu
antigo despertador, juntando todas em sua mão.
Não. Não queria remontá-lo. Tinha certeza de que
se visse outro não hesitaria em lançá-lo, assim
como fizera àquele.

Murmurou algo incompreensível, apenas
visualizando o que se tornara. Via no que Hermione 
lhe transformara. Draco nunca havia se
enfurecido a ponto de lançar algum objeto contra
a parede. Nunca. A lembrança forte da garota fê-lo
virar-se para o cômodo em que o relógio antes
tocava.
Arrastou-se de joelhos até lá, mantendo os frios
olhos cinzas estreitados.

Abriu a primeira gaveta. Uma chave. Pegou-a.
Hesitou momentos antes de encaixá-la na
fechadura da última gaveta, completando a ação
sem mais demoras. Tão logo foi aberta, revelou
um único objeto dentro de si. Ainda estava lá. A
foto que ela lhe dera permanecia da mesma
maneira que deixara.

Pegou-a calmamente, observando os traços
delicados de Hermione, que sorria, enquanto ele a
abraçava seriamente. Acariciou a face da foto
como se acariciasse a garota, dando um meio
sorriso com a lembrança daquele dia. Mesmo
contando a todos que não queria mais vê-la,
guardava aquela lembrança.

Desmanchou o sorriso.

Era a única maneira que tinha de poder sempre
vê-la, mesmo que soubesse que aquele rosto
nunca sairia de seus pensamentos. Olhou para o
travesseiro sobre sua cama, ao lado do seu.
Travesseiro em que ela costumava deitar-se
sempre que o visitava, o que era frequente.
Puxou-o inconscientemente de encontro a seu
corpo, levando-o em direção a seu rosto e
inalando fortemente o perfume fraco que ele ainda
continha. O perfume dela. O mesmo perfume que
o inebriava noites seguidas.

Mas o cheiro era fraco porque ela não estava mais
lá para repô-lo. E chegaria um dia em que ele não
poderia mais dormir sentindo o cheiro de Hermione.

Largou o objeto com tais pensamentos.

Em apenas dez dias, todo aquele turbilhão de
sentimentos haviam o atingido. Em dez dias ela
conseguira fazer o que nenhuma outra conseguira.
Havia o fascinado. Draco amara-a como nunca
antes havia amado outra mulher. E há exatamente
dez dias ela havia ido embora, mesmo que ele
sentisse que havia sido há muito mais tempo.

Sentia-se estranhamente despedaçado por dentro,
tentando a todo custo não transpassar tal
sentimentos para as pessoas que o rodeavam. Em
vão. Atendia ao telefone todas as manhãs. Era sua mãe. Queria saber como estava e ele sempre
desligava antes de dar qualquer resposta. Aturava
seu pai dando-lhe lição de moral, ao
dizer sobre como esquecer uma mulher. Draco 
sabia muito sobre o assunto.

Mas Draco não queria esquecer Hermione.

Queria apenas esquecer o passado e levar aquilo
como uma evolução e um bom tempo que passara.

Olhou-se novamente no espelho, observando os
próprios olhos, que se estreitaram ao visualizarem
sua figura. A quem queria enganar? Estava
acabado sem ela. As pessoas não poderiam
entender que ele queria apenas ficar sozinho?

Escutou o barulho do telefone vindo da sala,
suspirando pesadamente. Não acreditava que sua
mãe ligara para ele às seis da manhã. Mas a ideia
de que poderia ser outra pessoa não deixou sua
cabeça. A pessoa que mais esperava naqueles dias
poderia finalmente estar ligando para ele.

Caminhou a passos longos até o local, colando o
telefone na orelha antes que o mesmo parasse de tocar. Não pronunciou nada, apenas a espera de
algum sinal de vida. Sinal que veio logo.

- Draco? – ele ouviu a voz delicada e
preocupada de sua mãe, girando os olhos logo que
a identificou. – É você?

Sem dificuldade, ele desligou o aparelho,
olhando-o raivosamente.

- Quem mais poderia ser? – murmurou com raiva,
saindo dali para seu quarto.

Deveria desistir daquilo. Hermione não ligaria para
ele simplesmente porque ela não o amava. Ela
não queria mais nada com ele. Ela desistira dele.

Sentou-se novamente na cama, arrancando um
vaso de outro cômodo e atirando-o ainda com
mais força na parede. Sentiu alguns cacos
atingirem rapidamente a sua pele, mas não se
importou. Ele não se importava com mais nada. E
o que o fazia piorar ainda mais era saber que a
veria novamente.Tinha certeza de que a veria. Era
amiga de sua família, e mais cedo ou mais tarde
seria chamada para algum jantar, como uma tentativa de sua mãe de juntarem-nos novamente.

Mas ele sabia que isso não aconteceria. Não. Ele
não queria mais vê-la, como afirmava antes.

Porque Draco sabia que se a visse novamente
tentaria retornar ao passado. Tentaria conversar
com ela, perguntaria o motivo que a levou a ir
embora.

E ele não queria mais sofrer.

Sentiu algo quente escorrer por seu braço, não
precisando olhar para saber que era sangue.
Sentira a dor de ter o braço alcançado por um dos
cacos do vaso que quebrara.

Apertou o punho fortemente.

Draco Malfoy sabia que se a visse novamente,
encantar-se-ia com a inocente mulher,
esquecendo-se de tudo o que prometera que faria,
caso a encontrasse. Esqueceria de ser frio e
indomável. Diria o que sentira nos momentos que
passaram afastados. Diria que se importava com ela.

E tinha certeza de que diria que sentia
terrivelmente falta daquela garota doce.

Mas nada seria igual ao que fora antes e ele sabia
que os dois não voltariam. Porque da mesma
maneira que ela não era mais a mesma, ele
também não era mais o mesmo. E isso Draco 
não poderia perdoar. Nunca perdoaria o que
aquela garota fizera a ele. No que ela o
transformara.

Não mais.


 

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