Capítulo 5



       Gina  esperava não desfalecer. Havia  anos não experimentava um prazer tão intenso por o contato com um homem e, mesmo então, o sentimento havia sido unilateral. Fora louca por um homem que só a via como uma espécie de irmã adotiva, mas nem mesmo essa experiência havia sido intensa como o que sentia com Harry Potter.


      Devagar, ele a girou entre os braços. Os lábios iniciaram a viagem de volta, subindo de um ombro ao pescoço, passando dele ao queixo, do queixo ao lábio inferior e daí ao superior. Ele parecia testar seu sabor com a ponta da língua, e as mãos deslizavam por sua cintura mantendo seu corpo colado ao dele. Harry  era experiente, muito mais do que ela. Apesar de toda a capacitação profissional, nesse aspecto Gina  era uma noviça.


      Ele notava a falta de uma resposta sensual com curiosidade distante. Era evidente que a mulher se sentia atraída por ele, mas era como se não soubesse o que fazer.


      Harry  moveu as mãos dela até os botões de sua camisa sem interromper o contato entre os lábios. Gina  tremia e, rindo, ele guiou seus dedos até desabotoar a camisa e inseri-los pela abertura. Tentava tornar o beijo mais intimo e sensual, mas ela se mantinha tensa, embora o corpo desse  sinais de desejá-lo.


      — Não lute contra o que está sentindo...


      Gina  ouviu as palavras como se viessem de muito longe. Não entendia o que ele queria dizer, mas o corpo obedecia ao comando de um mestre. Os lábios se abriram para permitir o beijo, e ela foi sacudida por um suave tremor.


      Era como voar. Mais relaxada, acariciou o peito musculoso e suspirou. Harry  interrompeu o beijo para fitá-la, mas manteve os braços em torno de seu corpo como se relutasse em encerrar o momento de intimidade. Estava ofegante. Não queria que ela o visse tão vulnerável. Ainda havia muito que não sabia sobre ela, e não podia esquecer a desconfiança. Gina  parecia inocente, mas não podia esquecer a roupa que ela usava naquela noite e as acusações feitas por seu pai. Não devia confiar em alguém que conhecera fazia tão pouco tempo. Por outro lado, seu corpo parecia cantar de alegria pelo contato prolongado com o dela. Não tinha forças para deixá-la. Ainda não.


      — Por que fez isso? — ela perguntou com voz rouca.


      — Por que permitiu que eu fizesse?


      Desconfortável, ela fez o esforço necessário para afastar-se daquele corpo maravilhoso. Harry  soltou-a sem demonstrar relutância e abotoou a camisa. Não parecia estar perturbado com o que acabara de acontecer ali.


      — O café já deve estar pronto — disse, notando que ela permanecia imóvel.


      Gina  virou-se e, tensa, foi servir a bebida em xícaras que levou à mesa, onde também havia açúcar e creme.


      Enquanto Harry  adoçava o café, ela preparou dois sanduíches de presunto e notou que as mãos iam aos poucos recuperando a firmeza. Fora devastada por um beijo que nem parecia tê-lo afetado. Sentira a súbita rigidez no corpo másculo, mas sabia tudo sobre anatomia. Um homem não podia evitar a reação automática a certos estímulos, mesmo que impessoais.


      Saber disso tornava tudo ainda pior. Não sabia por que ele a beijara, mas não confiava em seus motivos. Harry  não gostava dela. Devia permanecer alerta. Amar um homem como aquele seria como conhecer o inferno em vida.


      Quando terminou de preparar os sanduíches, ela havia recuperado o controle e conseguiu servi-los com um sorriso frio.


      — Preciso ir arrumar a sala...


      Harry  segurou sua mão para impedi-la de escapar.


      — Sente-se, Gina.


      Ela obedeceu em silêncio.


      — Conversei com Neville  hoje à tarde. Seu pai foi transferido da prisão para um centro de reabilitação para alcoólatras. O tratamento está apenas começando, mas o prognóstico é bom. O terapeuta não revelou detalhes por razões óbvias, mas Neville  conseguiu apreender que seu pai foi incapaz de superar uma tragédia familiar. Agora que está sóbrio, ele tem se mostrado muito perturbado pelo que fez com você. Na verdade, ele nem se lembra do que fez. Só sabe que a espancou pelo relato dos policiais e da equipe do centro de reabilitação.


      — Isso é comum em casos de uso abusivo de álcool e drogas — ela respondeu, bebendo um pouco do café escaldante.


      — Não poderá ter nenhum contato com ele antes do fim do programa de tratamento, mas seu pai quer que você saiba que está muito arrependido por tudo.


      Gina respirou fundo. Sabia que ele lamentava o ocorrido, porque era um homem bom e amoroso. Como qualquer ser humano, ele tinha um limite de resistência que havia sido atingido por conta de uma tragédia familiar.


      — Meu pai não é o monstro que parece ser.


      — Já vi outros bêbados antes — Harry  afirmou com um sorriso apagado. — Meus irmãos, por exemplo. Draco  é o recordista de prejuízos causados ao Shea's Bar, em Victoria Road. Ele não bebe com frequência, mas quando está embriagado, todos notam.


      — Draco  não parece ser o tipo de homem capaz de beber e quebrar um bar!


      — Todos nós podemos perder o controle, dependendo do estímulo.


      Gina sorriu.


      — Também bebe e destrói bares?


      — Normalmente não. Um copo de vinho, eventualmente, mas não consumo bebidas mais fortes. Não gosto de álcool.


      — Nem eu.


      —Gina, eu...


      Pressentindo a aproximação de um momento difícil, ela decidiu reagir.


      — Escute, Harry, eu trabalho para você e...


      — Não! Por favor, não fuja de mim. Preciso saber... Já beijei garotas mais jovens do que você com o dobro de sua experiência. Por que se comporta como uma menina? É bonita, atraente... Deve ter tido ao menos um namorado.


      — Sim, eu tive... Mas sou antiquada.


      — Nos dias de hoje? E difícil acreditar...


      — Por quê? O principal motivo do movimento feminista é permitir que as mulheres possam fazer aquilo que desejarem. Não sou promíscua. Por que tenho de justificar uma escolha tão pessoal?


      Ele piscou. Nunca pensara na questão por esse ângulo, mas tinha de admitir que Gina estava certa.


      — Sempre pensei que a liberdade sexual fosse o ponto central do movimento.


      — Exatamente. Liberdade sexual significa poder escolher, e eu escolhi ser casta. Ficaria surpreso com o número de mulheres em minha turma que praticavam a abstinência.


      — Sua turma de ginásio?


      Gina  quase o corrigiu, mas achou melhor não destruir as ilusões de Harry sobre suas qualificações como doméstica.


      — Sim, de ginásio.


      Ele se levantou e, parado diante dela, segurou-a pelos ombros, colocando-a em pé.


      — Quer testar sua hipótese? — perguntou com tom rouco e provocante.


      — Sou sua empregada —Gina respondeu trêmula, tentando ganhar tempo.


      — E daí?


      — Não é sensato misturar negócios...


      — ...e prazer? — Ele a prendeu entre os braços. — Há muito não me sinto tão atraído por uma mulher. — Os lábios aproximavam-se dos dela. — A experiência me cansa. Você é... um desafio.


      — Obrigada, mas não quero ser — ela murmurou, tentando empurrá-lo.


      — Não sente nenhuma curiosidade pelo desconhecido?


      — Não quero tratar a questão como um jogo sofisticado.


      Harry  hesitou, mas só por um instante. Depois soltou-a e voltou ao seu lugar à mesa.


      — Está bem, Gina, faremos como você quer. Vou me sentar aqui e comer meus sanduíches, e fingiremos que ainda somos estranhos fisicamente.


      — Boa ideia. — Ela pegou a xícara de café para levá-la à pia. Depois, desculpou-se e saiu para ir ajeitar almofadas, livros e revistas na sala de estar.


      Cerca de quinze minutos mais tarde, quando retornou à cozinha, Harry  havia terminado de comer e se preparava para deixar o aposento.


      — Vou mudar de roupa e trabalhar no escritório. Onde está Draco?


      — Foi jantar na casa dos Parkinson. Ele disse que voltaria cedo.


      — O que significa que vai voltar tarde. Pansy  sempre encontra dezenas de desculpas para retê-lo na casa, conversando com o pai dela. Aquela garota é determinada, mas Draco também defende seu ponto de vista com firmeza. E ele não quer laços.


      — Estranho... Essa afirmação soa tão familiar!


      — Eu nunca disse que não queria laços. Disse que não queria me casar. É diferente.


      — Não olhe para mim. Não tenho tempo para relacionamentos.


      — É claro! Cozinhar e limpar exigem dedicação em tempo integral.


       Gina  corou. Harry  não tinha ideia de como era sua vida normal, e queria muito poder dizer a ele. Mas o homem era tão arrogante e preconceituoso, que sempre desistia de revelar a verdade. Não contaria nada. Ele acabaria descobrindo tudo em breve.


      Com as mãos na cintura, ela o encarou com ar ofendido.


      — O que há de errado em cuidar da casa? O que você e seu irmão fariam se não pudessem contratar alguém para cozinhar, limpar, lavar a roupa e desempenhar todas as tarefas que vocês dois são incapazes de cumprir? Teriam de se casar, ou aprender a cozinhar?


      — Eu poderia  aprender, se quisesse.


      — Você é o tipo de homem que faz uma mulher odiar a cozinha. Sua arrogância é exaustiva, sr. Potter!


      — E você é encantadora — ele riu. — Os sanduíches estavam ótimos. Obrigado. A propósito, gosto de como cozinha os alimentos e os serve, enfeitando os pratos de forma a torná-los mais atraentes.


      Era surpreendente! Nunca havia imaginado que ele pudesse notar tais detalhes.


      — Aprendi com uma nutricionista — respondeu sem pensar. — Um prato atraente é sempre consumido com mais prazer.


      — Ninguém pode decorar biscoitos, mas os seus são maravilhosos.


      — Obrigada. Se já terminou de comer, vou arrumar a cozinha antes de ir para a cama.


      — Já terminei. E não fique acordada até tarde, ou não terá disposição para preparar os biscoitos amanhã cedo.


      — Prometo ir dormir cedo — Gina  respondeu rindo.


      Harry  saiu para não deixá-la ver o brilho em seus olhos. Havia gostado muito do sabor daqueles lábios, mas sabia que beijá-la não fora uma atitude muito sensata. Tomaria precauções para não repetir o erro. Não precisava de complicações.


 


      Depois daquele dia, nada mais foi como antes entre Gina  e Harry. Ela se sentia perturbada quando estavam no mesmo aposento, e ele  não perdia uma oportunidade de provocá-la com olhares e sorrisos. Draco notou e começou a preocupar-se, temendo que o irmão a estivesse encorajando a acreditar no impossível. Sabia que Harry  jamais abriria mão de sua liberdade de homem solteiro.


      — O que está fazendo com ela não é certo — ele disse numa noite em que estavam sozinhos no escritório.


      — Por acaso flertar é crime?


      — No seu caso? Sim. Nós dois sabemos que nunca vai levá-la a sério.


      — Draco, aquela mulher é adulta, livre e capaz de tomar as próprias decisões.


      — E o que tem em mente? Seduzi-la? Ela já sofreu muito por causa do pai. O hematoma ainda nem desapareceu por completo, e as feridas emocionais continuam abertas. Não brinque com ela.


      — Não acha que de repente ficou muito sério? Há semanas você tem encorajado as investidas de Pansy Parkinson , e nós dois sabemos que só quer manter a opção de compra daquele touro reprodutor que o pai dela pensa em vender.


      — Pansy é quase uma criança! — Draco reagiu irritado. — Não tenho a menor intenção de seduzi-la, e não estou usando seu interesse por mim por causa de uma droga de touro!


      — Ela não é nenhuma criança. Você a está iludindo. Sabe muito bem que aquela garota é apaixonada por você.


      — Por mim? De onde tirou essa ideia? Talvez ela esteja encantada, mas é só isso!


      — Não vê como ela olha para você?


      O tom solene de Harry  provocou um  certo desconforto.


      — Estamos falando de Gina — Draco respondeu impaciente.


      — Já disse que ela é adulta.


      — E trabalha para nós. Não vou permitir que brinque com ela.


      — Está com ciúme?


      — Ah, então é isso! Quer competir por outra mulher! Outra vez?


      — Não se trata de competição! — Harry  reagiu furioso. — Eu jamais teria tomado conhecimento da verdade se você não houvesse começado com aquelas brincadeiras com Cho. E na minha frente! Acha que posso esquecer?


      — Um dia você descobriria tudo, e então teria sido tarde demais. Ela já o teria agarrado. Você é meu irmão, Harry! Não podia permitir que isso acontecesse.


      Draco tinha razão. Ele o salvara de um sofrimento ainda maior; mas a lembrança ainda provocava uma dor intensa.


      — Não tente se vingar em Gina. Ela já suportou tragédias demais. Deixe-a trabalhar em paz e cuidar da própria vida.


      — Eu a deixaria em paz, se ela não perdesse de vista a razão de sua presença nesta casa — Harry  disparou venenoso. — Que culpa tenho se a vejo olhando para mim cada vez que me viro? Nenhum homem pode resistir àqueles olhares de idolatria. Sou um ser humano!


 


      — Fale baixo.


      — Por quê? Acha que ela está ouvindo a conversa atrás da porta? E se estiver? É a verdade! Gina me quer! Até um cego pode ver!


      — Isso não é razão para tirar proveito dela. Não está tratando com seu tipo habitual de mulher.


      — É verdade. Gina não tem ambição, nem intelecto. Além disso, é tão inexperiente que nem parece real. Nunca pensei que beijar uma mulher pudesse ser tedioso, até conhecê-la — Harry  comentou com tom frio, tentando não demonstrar a atração que sentia pela criada. —   Ela é tão ingênua que chega a ser repugnante!


      Do lado de fora, Gina parecia uma estátua. Estava paralisada. A única parte móvel de seu corpo eram as mãos trêmulas segurando uma xícara de café. Fora oferecer a bebida a Harry  e acabara ouvindo palavras que preferia nunca ter escutado. Lutando contra as lágrimas, girou sobre os calcanhares e voltou à cozinha.


      Era horrível, vergonhoso, humilhante... mas passava mesmo muito tempo olhando para Harry Potter. Ele era bonito, sensual, atraente... Gostava de olhar para ele. E talvez estivesse um pouco encantada. Mas isso não dava a ele o direito de dizer coisas tão horríveis a seu respeito.


      Se não as houvesse escutado, jamais teria tomado conhecimento delas. Teria continuado encantada, suspirando por Harry  e deixando-o perceber e divertir-se com seus sentimentos. Como fora ingênua! Como uma adolescente, construíra castelos sobre um único beijo, acreditando em fantasias impossíveis e sonhando com o que jamais poderia ter. O primeiro homem olhava para ela depois de anos de isolamento, e apaixonava-se por ele sem ao menos saber quem era!


      Bem, Harry  não teria mais de incomodar-se, porque não voltaria a fazer papel de tola. De agora em diante, seria a mais perfeita empregada, polida, cortês, sempre pronta para servir... Mas nunca mais olharia para ele como antes. Felizmente ouvira a conversa entre os dois irmãos. Graças a ela, fora poupada de uma terrível humilhação. Não estava sempre dizendo às pessoas que a verdade, mesmo brutal, era sempre melhor que uma doce mentira? Era hora de seguir o próprio conselho.


 


      Quando Draco e Harry  se apresentaram para o café na manhã seguinte, Gina  serviu ovos, bacon e biscoitos com um sorriso frio e profissional.


      Harry estava quieto, mas Draco falava com entusiasmo sobre as tarefas do dia. Pensando bem, Harry  estava mais do que quieto. Ele nem olhava para ela.


      Os dois irmãos pretendiam mudar parte do gado para o celeiro mais próximo da casa, onde o veterinário poderia examinar os animais mais fracos, e o feno também seria levado para um celeiro mais alto, onde estaria protegido da chuva e do vento.


      — O que mais usam como alimento para o gado? — Gina  perguntou curiosa.


      — Além do feno? Temos uma ração balanceada sem adição de proteína animal — explicou Draco. — Somos quase reacionários nos nossos métodos de criação. Nada de hormônios, antibióticos, alimentos transgênicos ou proteína animal. Vendemos a carne produzida pelo Potter  Ranch com um atestado certificando sua origem orgânica, e muitos supermercados já estão comercializando o produto. Recentemente criamos um site para o rancho e expandimos nosso mercado através da Internet.


      — É surpreendente! Nunca pensei que existisse carne de grife!


      — Oh, mas existe! E contamos com um considerável aumento na margem de lucros para daqui a algum tempo. Com a atitude atual do mercado e todos os protestos contra os transgênicos, os antibióticos e tudo que vai contra a natureza, em breve o retorno justificará o investimento mais elevado.


      — É verdade. Hoje em dia os hospitais também ensinam nutrição, não só aos pacientes, mas à comunidade como um todo. O tipo de carne que produzem aqui terá um mercado garantido entre os cardíacos, diabéticos, hipertensos, enfim, pessoas que não hesitarão em pagar um pouco mais por um alimento mais saudável.


      Harry  estava ouvindo. Ele terminou a primeira xícara de café e serviu-se de mais um biscoito.


      — J.D. Langley foi o primeiro da abordagem orgânica nesta região — comentou. — Durante algum tempo, ele e os irmãos Tremayne tiveram brigas terríveis com outros produtores em diversos seminários. Depois começamos a tomar conhecimento dos desastres ocorridos em outros países, e de repente todos passaram a concordar com o posto de vista de Langley.


      — Que bom — Gina  opinou.


      — O que me faz lembrar... A sra. McGonnagal  disse que a despensa não foi aberta desde que você chegou aqui. Então... com que prepara estes biscoitos? — Draco quis saber.


      — Com óleo de oliva. Light, é claro.


      Harry olhou para o biscoito como se segurasse um monstro.


      — O quê?


      — Qual é o problema? O óleo de oliva é tão saudável, que a população do mediterrâneo o consome em abundância e sofre apenas uma pequena parcela dos problemas vasculares que temos aqui. É claro que o conteúdo de gordura ainda existe, mas trata-se de gordura vegetal, que é mais saudável. E até agora vocês nem haviam percebido que não estavam ingerindo aquelas toneladas de gordura animal da receita anterior!


      — É verdade — Harry  admitiu relutante.


      — Estamos envelhecendo — Draco refletiu. — Não  quero que artérias entupidas provoquem infartos e derrames.


      — Eu odiaria usar um marca-passo — confessou o outro irmão.


      — Pensando bem, óleo de oliva não é tão ruim como dizem por aí.


      Gina  suspirou com alívio exagerado.


     — Graças a Deus pelo bom senso! Já estava começando a temer um terrível castigo, como ser coberta por piche e penas!


      — Mas não vou abrir mão da manteiga — Harry  avisou, espalhando uma grossa camada do creme sobre o biscoito.


      — Nada é tão saboroso!


      Gina  achou melhor não revelar que eles não comiam manteiga, mas uma margarina light que reduzia os níveis de colesterol. Sorrindo, ela se limitou a servir-se de uma xícara de café.


 


      Draco e Harry  estavam no pasto, acompanhando a mudança do gado, quando um touro investiu contra Draco e acertou-o no ombro.


      Harry abandonou o trabalho para socorrer o irmão.


      — O ferimento é muito grave? — perguntou.


      — Acho que vou precisar de pontos. Leve-me para casa para que eu troque a camisa, e depois seguiremos para o consultório de Lou Coltrain.


      — Maldito touro! — Harry  resmungou enquanto o acomodava na caminhonete.


      Gina  varria a varanda quando eles chegaram.


      — O que aconteceu? — perguntou calma, notando a mancha de sangue na camisa de Leo. — Deixe-me ver.


      Desconcertado, Draco permitiu que ela removesse o tecido rasgado e sujo de seu ombro e lavasse a região com um pano limpo e molhado. Gina tocou a região em torno da ferida e assentiu.


      — Vai precisar de pontos. É melhor manter o pano úmido pressionado contra a região até chegar à cidade.


      — Preciso trocar de roupa.


      — Precisa de atendimento médico. É atendido por alguém em especial, ou costuma usar o pronto-socorro?


      — Lou Coltrain — Draco  respondeu com voz tensa, sentindo a dor aumentar com o tempo.


      — Vou telefonar para lá e avisar que está a caminho.


      Harry  encarou-a com expressão curiosa, mas levou o irmão de volta à caminhonete e partiu apressado.


 


      Duas horas mais tarde, depois de levar os pontos e tomar uma vacina antitetânica, Draco estava novamente na cozinha do rancho, onde Gina  o recebeu com café e uma fatia de torta de cereja. Ela também providenciou uma almofada para apoiar suas costas.


      — Acho que vou lá fora provocar aquele touro — Harry  brincou, referindo-se ao tratamento recebido pelo irmão.


      — Faça isso. Prometo recebê-lo com uma compressa de vinagre e chá de boldo — Gina  respondeu séria.


      Era como ser posto de castigo sem jantar. Harry não gostava do sentimento. Irritado, lançou um olhar impaciente para os dois e saiu batendo a porta, fazendo questão de expressar seu mau humor.

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