Aconteceu



George.


 


Dois meses se passaram, e fui notando que Hermione ficava estranha quando me via. Eu não entendia o que podia estar acontecendo, pois, se fosse TPM, ela avisaria e não passaria de mais de um mês. Quando nos beijávamos, não parecia mais aquele entusiasmo de sempre, era um beijo quase que frio. E isso me torturava. Mas eu esperaria ela vir falar comigo.


Certa noite, cheguei em casa, aparatando do lado de fora. Entrei silenciosamente na casa, e eu consegui ouvir vozes na sala. A voz dela, e de Gina.


- Hermione, está tudo bem com você e George?


- Na verdade, Gina, eu não sei.


- Como assim?


- Eu... Eu não sinto mais vontade em beijá-lo, quando eu o vejo não sinto mais a mesma coisa de antes, eu não sei... Mas eu não sei se deixei de amá-lo. Eu sei que sentir, eu sinto algo por ele.


- Hermione, você não o ama mais?


Quando eu ouvi aquilo, os meus olhos se encheram de lágrimas. Enxuguei-as, e aparatei a alguns centímetros de onde eu estava, para que elas percebessem minha presença. Hermione se levantou e veio até a cozinha, onde me encontrou, com um sorriso um tanto falso. Ela sorriu, beijou-me levemente nos lábios e me carregou pela mão até a sala, onde Gina já estava de pé. Abracei minha irmã, com muita vontade de desabar em lágrimas, e perguntei se ela estava bem, e se queria ficar para o jantar. Ela disse que não, pois iria jantar com Harry, Rony e Lavender. Me despedi dela, e assim que ela aparatou, me joguei no sofá, e suspirei, frustrado.


- Amor, aconteceu alguma coisa? – Ela me perguntou.


- Aconteceu, Hermione.


- Me conte, quem saiba eu possa ajudar.


Suspirei, pensando nas palavras certas.


- Eu sei que não devia, mas eu escutei um pedaço da sua conversa com Gina, agora a pouco. Eu havia aparatado lá fora, e entrado silencioso, e acabei escutando. Hermione, eu quero que você me diga sinceramente: você ainda me ama?


Ela arregalou os olhos, e tentou encontrar palavras.


- George, eu... Eu... Não quis dizer aquilo.


- Hermione, seja sincera.


- E-Eu não sei, eu...


- Você o que? Eu errei em alguma coisa? Tem algo que eu não saiba?


- Não, você é maravilhoso, é que...


- Anda, Hermione, me conta, você está apaixonada por outro?


- Não é isso, eu... – Ela hesitou. Olhei no fundo dos seus olhos castanhos.


- Tem algo que eu não saiba? – Perguntei novamente, encarando-a, e já chorando. A perspectiva de ela ter outro me agoniava.


- George, é melhor conversamos outra hora. De cabeça fria. Vou começar a preparar o jantar.


- Hoje eu não vou passar a noite aqui, vou passar na casa dos meus pais. Só por hoje.


E aparatei, na cozinha dos meus pais, fazendo com que eles saltassem com o susto. E pelo visto, eu havia interrompido um beijo de cinema. Argh.


- Georginho, o que houve filho? – Minha mãe perguntou, ao me ver chorando. – Algo com a Hermione?


- Mãe, estou angustiado, e-ela não me ama mais, m-meu casamento está ruindo, mãe.


- Você ouviu ela dizer isso claramente, filho? – Meu pai perguntou.


- N-Não, mas e-ela hesitou demais, ah. – E desabei a chorar. Minha mãe me abraçou, deixando-me chorar nos ombros dela, enquanto meu pai ia preparar algo para que eu bebesse.


 


Hermione.


 


Eu sabia que não devia ter contado para Gina ali em casa. Ou melhor, nem ter contado. Droga! Mas que estou me sentindo diferente em relação a ele, estou sentindo. Quando ele disse que havia ouvido, eu fiquei totalmente sem reação. Tentei dizer-lhe que não era nada daquilo do que ele havia entendido, mas não consegui dizer, e ele pensou que tinha certeza no que havia pensado. Isso está confuso? Se está... Mas e agora, o que eu vou fazer?


Desamparada, aparatei na casa de Harry e Gina, e encontrei os dois se arrumando para sair. Os dois procuraram de todas as formas me ajudar a entender tudo isso e a me sentir melhor. Mas não dava para me sentir melhor quando eu sabia que o homem que eu amo (amo?) estava naquelas condições. Estava tudo muito tenso. Harry me convidou para jantar com eles, Rony e Lavender, mas eu realmente não queria ver aquela coisa mesquinha na minha frente, não enquanto meu emocional estava abalado daquela maneira. Aquela coisinha ainda achava que eu havia me casado com George para esquecer Rony, e achava que ela havia roubado Rony de mim. Não há como algo ser roubado de você se nunca te pertenceu, não é? E além do mais, nunca fui exatamente apaixonada pelo Rony. Acho que eu sempre busquei no Rony, o que eu vejo em George. Mas está tudo tão confuso... Porque chego a sentir nojo de George? E porque logo o George?


Recusei o convite, e voltei desconsolada para casa. Entrei no quarto, e olhei ao redor. Havia o cheiro dele ali. Aquilo me deixou pior ainda. Resolvi tomar um banho. Liguei a torneira, e nem esperei a banheira encher. Me despi e me deitei na banheira, enquanto esta enchia de água fria. Coloquei um óleo perfumado na água. Tinha cheiro de rosas. Droga, rosas também me faziam lembrar dele. Como tudo naquela casa, como tudo em meu corpo lembrava o dele. Mas ao mesmo tempo que eu me lembrava dele, eu sentia uma espécie de nojo, sentia saudade, e não sentia vontade de abraçá-lo e de beijá-lo. Mas o que está acontecendo comigo, ó Merlin?


 


No dia seguinte, ele não voltou para casa. Eu estava sentindo uma necessidade de esquecer tudo aquilo, então resolvi sair um pouco. Fui em um bar chamado Vôo do Hipogrifo, e sentei-me no banco em frente ao balcão, sozinha. Pedi uma dose de uísque de fogo, e assim que coloquei o primeiro gole na boca, e pus goela abaixo, aquilo me enjoou profundamente. Paguei a conta rapidamente, só para ir no banheiro do bar e vomitar. Limpei minha boca, olhei meu reflexo. Havia duas olheiras bem fundas abaixo dos meus olhos, indicando o tempo em que eu passei acordada chorando e tentando pensar antes de dormir. Meus cabelos não estavam lá muito impecáveis como eu gostava de deixá-los. Com um aceno da varinha, arrumei-os em um coque informal, lavei o rosto e saí rua afora. Andei sem olhar onde eu estava indo, e me peguei diante da loja dele. Olhei para cima e vi a luz do apartamento acesa. Ele estava lá. Continuei andando, e esbarrei em uma pessoa. Olhei para cima, e vi Draco Malfoy.


- Granger, é você? – Ele perguntou. Alto. Loiro. Olhos cinzas. Mas seu cabelo agora estava meio rebelde, não aquele estilo lambido que conservava, e ainda se vestia de preto, mas estava usando mais cores... Estava usando azul. Azul como os olhos dele.


- Sim, Malfoy. – Ele sorriu. E não era um sorriso sarcástico, muito menos malicioso.


- Granger, você parece mal.


- E desde quando você se importa?


- Desde quando eu me livrei da prisão que meu pai me prendia e resolvi ser eu mesmo. Eu sempre quis ser seu amigo, Granger.


- E como você quer que eu acredite nisso?


- Que tal tomar alguma coisa comigo? Eu pago.


- Não, Malfoy, obrigada. Estou numa semana ruim e estou pensando seriamente em ir pra casa.


- Semana ruim? Justamente motivo para beber um bom uísque de fogo ou uma cerveja amanteigada, que seja.


- Já tentei beber hoje e me senti muito mal. Recuso.


- Vamos, Granger, me deixe tentar conquistar sua confiança. Eu mudei, juro. Tá vendo esses livros no meu braço? São do curso de curandeiro. Vamos lá, eu pago um suco de abóbora pra você e você me conta o que fez da vida e se quiser, o que está te aflingindo.


De tanto ele insistir, eu aceitei. Fomos para o Caldeirão Furado. E Malfoy se mostrou uma pessoa mudada, aparentemente. Era o contrário, uma pessoa inteligente, divertida, e até simpática. Totalmente diferente daquele rapaz arrogante. Ele conseguiu até arrancar alguns meios sorrisos de meus lábios. Mas no fim das contas, eu não contei o que me aflingia.


 


George.


 


Não sei porque exatamente não voltei para casa, e fiquei no meu antigo apartamento. Da janela, observei-a sair do Vôo do Hipogrifo e caminhar desconsolada, até esbarrar em Malfoy, trocar algumas palavras com ele e sair para o Caldeirão Furado. Saí da janela, e esmurrei a parede. Pequenos cortes se materializaram em minha mão, e em vez de curá-los com um feitiço, apenas envolvi-os em uma atadura caseira. Me joguei no meu sofá meio velho, cheirando a mofo, com a cabeça apoiada nas mãos. Pensando nela. Eu tinha que conversar com ela. Estava na hora já. Mas como? O que dizer? Como dizer?


 


Domingo, era almoço de família. Eu temia que ela aparecesse. Mas ela não apareceu. Todo mundo presente notou que eu estava triste, até a pequena Victoire, de quase quatro anos.


- Tio, porque você tá triste? Cadê a tia Mione? – Ela me perguntou com sua vozinha fina e delicada, com seu jeito manso. – Machucou sua mão, tio? Deixa eu dar um beijinho que já vai passar.


Ela beijou de leve a minha mão, e eu sorri. “Crianças” pensei “ Se fosse tudo tão fácil quanto elas pensam”. Estava do lado de fora da casa, apoiado na cerca e perdido no horizonte, quando Gui chegou ao meu lado.


- Hermione? – Ele perguntou.


Fiz que sim com a cabeça. Gui, desde pequeno, sabia quando eu estava mal, quase tão bem quanto Fred. Gui sempre tinha a coisa certa a se dizer, na hora certa de ser dita.


- O que houve?


- Nós brigamos.


- Por qual razão?


- Ouvi ela dizer que sentia até nojo de mim, que não sabia mais se me amava.


Ele ficou em silêncio por alguns segundos.


- E vocês já conversaram?


- Ainda não.


- Procure ela, converse com ela.


- Não sei não, cara.


- Manda uma carta para ela. Pergunte se ela esfriou a cabeça, e está pronta para conversar. Se a resposta for positiva, leve ela para sair. Conversem. Se acertem. Ou você acha que em cinco anos de casado, eu e Fleur nunca brigamos? Nossa primeira briga foi até antes do que um ano de casado. E olha como estamos hoje.


Ele deu dois tapas em meu ombro, e saiu.


Esperei mais uns dois, três dias, e enfim enviei a carta. Agora, era só esperar.

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.