Não é uma opção.



Depois que levantei, vesti um roupa que havia deixado reservada para o dia de hoje, fui até o banheiro, escovei os dentes, lavei o rosto e prendi o cabelo.
Annie entrou sorridente no quarto.
- Pronta para o seu segundo primeiro dia?
- Quê? Ah, ahn, não sei. Não tem como eu só ir pra casa? Não quero ir pra esse lugar.
- Anna, ir para casa não é uma opção. E ir para a EBP também não. Não dá pra você ir para casa, mas a EBP é uma obrigação.
- EBP o quê?
- Escola de Bruxos Perdidos, não leu o folheto que eu coloquei no lado da sua cama?
- Que folheto?
Não havia folheto nenhum, mas, magicamente apareceu um em cima da cabeceira da cama.
- Desculpa, esqueci de colocar ele ali. - Disse Annie com as bochechas tão vermelhas que parecia que iam explodir.
Annie me explicou que o lugar para onde eu ia era no Colorado, nos Estados Unidos. Mais precisamente na cidade de Denver. Os trouxas também frequentariam aquele lugar pela manhã e pela tarde, como uma universidade, já os bruxos ficariam pela noite. Pegamos as minhas malas e levamos até um carro, era branco com prata e, aparentemente, luxuoso. Colocamos as malas no porta-malas e ainda sobrou espaço para 2 Annas. Sentei no banco do passageiro e Annie no motorista. Como num procedimento normal, Annie ligou o carro, colocou o freio de mão no lugar, engatou a primeira marcha e pisou fundo. Normal, só até aqui. Íamos tão rápido, que, como eu não estava praparada para acelerar tanto, afundei no banco e só o que eu via pela janela eram borrões de prédios, árvores, outros carros. Annie parecia não se incomodar com a pressão de acelerar tanto, na verdade, ela nem parecia estar guiando o carro, apenas pisando no acelerador.
- A-Annie, não seria, ahn, melhor se você só... só fosse, na velocidade que é per...
- Calma Anna. Os trouxas não vêem o carro, ele é invisível para eles, e tudo que tem dentro do carro também. E, como ele é mágico, sabe o caminho.
Eu estava olhando para Annie mas quando eu virei para a frente havia um enorme prédio e, por sinal, iríamos colidir com ele. Só tive tempo de colocar os braços na frente do rosto e gritar, enquanto Annie estava tranquila ouvindo um CD de rock no carro.
Atravessamos a parede e dentro dela havia um escritório, com várias pessoas, o carro atravessava todas, e elas nem pareciam perceber que havia um enorme carro esportivo no meio do escritório, que iria se chocar contra a parede.
- Anna, sério, você tá me assustando. Parece que vai ter um ataque cardíaco, sei lá. Não se estressa, é mágico e invisível. Ninguém vai ver, ninguém vai sentir. É como se fosse fantasma, fica calma. E depois de alguns passeios você vai se acostumar com a pressão.
Bem, parece que o carro mágico não é o meu forte. Fiquei enjoada, tonta e com pressão nos ouvidos até sair daquele veículo mágico incrívelmente... irritante.
Ficamos um tempo no carro e eu quase desmaiei quando ví que Annie estava dormindo, cara, quem em sã consiencia dorme ao volante?
Tudo bem, Anna. É um carro mágico. Enquanto Annie estiver pisando no acelerador tudo vai ficar bem. Respira, Anna. Eu pensei comigo mesma, tentando previnir mais dois anos e meio em coma no hospital, por algum ataque nervoso.
Acabei pegando no sono depois que consegui me convencer de que o carro é mágico, e nada daria errado. Dormi algumas horas na verdade, um sono não muito leve, não muito pesado.
Eu estava no carro, Annie dormindo ao volante no meu lado. Olhei para a janela. Nada e tudo. Não havia nada depois da janela. Nem chão. Nem estrada, nem prédios. Nada. Por outro lado era tudo azul. Em cima, em baixo e pelos lados. Tudo azul. Mas tons diferentes de azul. O azul de cima, naturalmente, era o céu. Mas, então se não havia terra, estávamos no meio d'água? Meu sangue gelou. Minha única reação foi acordar Annie.
- ANNIE. ACORDA! A GENTE VAI AFUNDAR.
Eu sabia que esse esforço seria em vão. Nem se o mundo estivesse acabando Annie iria acordar. Ela acordava quando ela quisesse, e se ela não quisesse não haveria força no mundo que faria ela acordar.
Pensei bem, eu acabei dormindo, não acabei? Então, provavelmente era apenas um sonho. Me aconcheguei no banco do carro mágico e fechei os olhos.
Acordei, e me sentei no banco. Annie já estava acordada, olhei para frente e havia uma praia. Mas eu via do ponto de alguém que está bem longe. No oceano. Olhei desesperadamente para a janela. Mar e céu. Só.
- Anna. Calma, o carro anda na água, no céu e na terra. É impossível sofrer algum acidente com ele. Calma, ok? E limpa essa baba no seu rosto, cruses.
Passei a mão rápidamente na bochecha, no queixo e na boca. Depois esfreguei o encosto do carro com a manga do casaco, limpando o que sobrou da baba ali.
- Desculpa, eu quase sempre durmo de boca aberta. Costume, eu acho. - Eu disse, não sei se minhas bochechas estavam mais vermelhas do que eu as sentia.
- Tudo bem, Anna. O carro nem é meu.
Minha boca se abriu em um grande "O" e Annie apenas riu. Como se fosse normal para ela andar por aí com um carro mágico, que foi provavelmente roubado, em uma velocidade insana e sobre a água.
- Se continuarmos com essa velocidade, logo vamos chegar à costa dos Estados Unidos, mais precisamente na Flórida. Depois a gente pega um avião e vai até Denver, onde você vai ficar.
- Tá. - Falei como se soubesse que lugares eram e do que a Annie tava falando.
Quando chegamos na praia o carro passou pela areia grossa e fomos para o asfalto. Annie dirigiu em linha reta até chegarmos em Washington.
- É aqui que fica o rei do mundo.- Annie disse com um tom sarcástico e quando viu minha cara de ahamseidoquevocêtáfalandocontinua decidiu explicar- É aqui onde o presidente dos Estados Unidos mora, Estados Unidos maior potência mundial... País mais rico, presidente é tipo o rei do mundo... Ah, esquece.
Annie continuou dirigindo até um aeroporto. Saímos do carro e ela me entregou as minhas três malas. Quando peguei a terceira alguém puxou uma das minhas malas. Virei rápidamente pronta para dar um murro na cara da pessoa que tava tentando roubar minha mala...
- Allynne! - Eu disse espantada segurando o punho que quase foi certeiro no nariz dela.
- Oi Anna. Pronta pra viajar? - Allynne segurou três passagens na frente dos meus olhos.
- Claro. Que horas a gente vai?
- Agora. O avião vai sair daqui a 30 minutos. E nós temos que nos adiantar. Tchau Annie.
- Hã? - Eu disse confusa. Haviam três passagens. E ao menos que as malas precisassem ficar em um assento, eramos em três.
- Eu não vou junto de avião Anna. Problemas com os céus. - Annie disse isso e teve um arrepio.
- Então, se, Annie, não, junto, avião, o quê? Quem? Quê?
- Anna!- Disse Luna feito louca correndo para me abraçar.
- Explicado. - Eu disse sorrindo.
Entreguei uma mala para Allynne e uma para Luna. Allynne havia me explicado que teríamos que dividir as malas entre nós, coisas do aeroporto, cada pessoa tinha um limite de malas com um limite de peso e blá blá blá...
- Tchau Annie. - Dissemos juntas.
- Tchau. A gente se vê depois.
Annie se virou e foi para o carro. Que nem mesmo dela era.

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