Expectativas e detalhes

Expectativas e detalhes



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Como eu novamente me perdi em divagações (e ando notando que tenho um dom para isso), não vi Rony se levantar. Neste exato momento, porém, ele está colocando suas luvas, e -sorrio internamente- não está mais verde. Pelo contrário, ele parece estar.. determinado. Ou melhor, determinantemente resignado. Parece que ele finalmente entendeu que ele terá de mostrar que é bom, e não o espírito de algum jogador falecido do Chudley Cannons (porque só um goleiro morto para ter jogado bem pelo Chudley. Aqueles pobres coitados realmente não tem sorte. Até hoje eu tenho repentinas crises de riso ao lembrar do atual lema deles,"Vamos só cruzar os dedos e esperar pelo melhor". Pobre Ron, não é a toa que ele seja tão inseguro em relação ao esporte).¹


-Obrigada – eu quase pulo. Não que Rony seja um ingrato, mas realmente não o imaginei me agradecendo. Na verdade, eu meio que achava mais provável receber uma azaração.


Não que eu esteja reclamando.


Assinto para ele. Era isso ou, "ah, de nada! Quando precisar".


-Você seria uma ótima capitã, sabia? - Novamente, sou pega de surpresa. Irei ter de acrescentar um ano a idade mental do meu irmão se ele continuar assim. Talvez ele chegue a 10 agora.


-É claro que sim.


Ele sorri – Modéstia nunca foi seu ponto forte, não é?


-Não. Sabe como é, eu faço mais o estilo realista. - comento descuidadamente, e rimos.


-Eu sei. Você sempre teve um ego do tamanho de um campo de Quadribol. - comenta.


-Pelo menos eu tenho um.


-Idiota.


-Pateta.


-Exibida.


-Transtornado bipolar.


-Maluca egocêntrica.


Logo estamos gargalhando, e eu fico surpresa ao notar o quanto é bom estar conversando e brincando assim com Rony. Preciso conviver mais com ele – noto surpresa. Se bem que, se tudo der certo, talvez logo eu venha a passar mais tempo com o Trio. Não posso evitar sorrir. E ignorar o meu coração, que está querendo dançar uma conga assustadoramente agitada.


-Mas sério, Gina,- ele chama a minha atenção- obrigado.


Sorrio para ele.


-É que, bem, por mais que você seja um idiota, um tapado, um ser de inteligência duvidosa... -quase rio ao ver a expressão dele- você é meu irmão. E sabe Rony, eu te conheço. E eu sabia que essa sua cabeça oca parecia ainda não ter compreendido alguns conceitos relacionados a isso – faço um gesto abrangendo o nós, o vestiário, o barulho da torcida lá fora- e que precisava urgentemente entender. Mas agora acho que posso considerar meu trabalho cumprido. - termino triunfante, dando de ombros, o que faz Rony rir.


-Muito confiante, não acha? -pergunta debochado.


Não me dou ao trabalho de responder. Simplesmente reviro os olhos. Não há tempo que mude o fato de que Rony é Rony.


E por mais que eu implique com isso, não acho que queira realmente que ele mude.


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Já estamos no campo. A partida começará dentro de minutos. E eu estou tentando não pensar muito nisso. Até porque, na verdade, é muito mais a expectativa do que o jogo em si que me deixa nervosa. E não sou a única.


O resto do time também está visivelmente angustiado. Demelza está olhando fixamente para o chão, e murmurando algo que soa como "passa por baixo, gira, passa... Não, não!". Dino está tentando manter a pose de "estou nem aí". Sem o menor êxito, que eu deixe claro. O resto do time está variando entre nervoso e destemido. E, hmm – observo rapidamente os jogadores, espalhados por uma pequena área do campo- os nervos parecem estar ganhando.


E Rony... Bem, por mais que ele não pareça mais estar a ponto de vomitar, está visivelmente nervoso. Não o culpo. Por mais confiante e equilibrada que seja uma pessoa, não adianta. A expectativa -ou os urros e vaias de praticamente três quartos da escola- tem o poder de acabar com os nervos e a calma de qualquer um.


Chamo o meu irmão. Uma súbita inspiração me ocorreu.


-E Rony – ele se inclina um pouco para poder me escutar melhor- não se esqueça de que você tem de ganhar pela Hermione.


Ele me encara completamente confuso. Não que isso seja uma novidade.


-Claro que sim, Rony! Ou você quer vê-la triste, e pensando que McLaggen é um goleiro melhor? Porque sabe, ele convidou ela para sair de novo esses dias, e ela me disse que acha que ele é um goleiro muito bom...


Rony aparentemente não notou a falta de coerência do meu argumento (e é nessas horas que eu abençoo a cabeça quente Weasley), porque saiu pisando duro de perto de mim, com a cara de quem quer bater em alguma coisa- ou em alguém. Não me sinto nem um pouco culpada, na verdade. Fiz isso pelo bem da Grifinória. Mais tarde eu posso contar a ele que posso ter aumentado e inventado algumascoisinhas... Mas por enquanto.. Bem, eu não tenho culpa se ele me interpretou mal e não me deixou acabar de falar, tenho?


Ao olhar novamente para ele, não consigo evitar o pressentimento de que meu irmãozinho jogará muito bem hoje.


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Madame Hooch está nos passando as instruções finais. "Eu quero um jogo limpo, ouviram?", "E qualquer problema, vocês, por favor, desçam das vassouras. Eu não quero ninguém aqui com a cabeça aberta porque passou mal e continuou a mais de trinta metros de altura", "Sim, sim, eu sei que Potter faz isso a todo momento, mas não se deixem levar pelas loucuras daquele garoto. Eu simplesmente não sei como ele ainda não conseguiu se matar. Mas seja o que for, não o imitem. Podem ter certeza, não será nada saudável para vocês. Potter, pelo menos, parece saber os riscos que assume","E, ressaltando, EU QUERO UM JOGO LIMPO. Vocês estão aqui para honrar as suas casas, e não para disputar quem consegue colocar mais pessoas na enfermaria." ,"Lembrem-se de que vocês são bruxos, e não babuínos loucos armados de um pedaço de madeira encantado". Com esse último e espirituoso comentário, ela nos manda assumir nossas posições para o início da partida.


Bem, e pode até não parecer, mas eu concordo com ela. Quadribol é um jogo, e não uma luta (embora muitas vezes pareça). Exceto, talvez (talvez? Que eufemismo), quando jogamos com algumas cobrinhas nojentas e traiçoeiras, que atendem pelo nome de jogadores sonserinos. Aí sim, posso dar razão aos apelos de Madame Hooch. Jogo limpo e Grifinória/Sonserina definitivamente não combinam. Luta livre nas alturas seria um nome um pouco mais adequado. Por mais que queiramos fazer um jogo limpo, eles não deixam. E aí tudo desanda. Todo jogo é a mesma coisa, embora em alguns até estejamos mais moderados.


Mas não se deixe iludir, isso não costuma acontecer com muita frequência.


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Nestes momentos que antecedem o início da partida – provavelmente os de maior expectativa-, estou observando Cho (e ela me encara friamente. Assim como eu a encaro. Meus dedos estão formigando com a vontade de pegar logo o pomo e acabar com essa pose de princesa dela. Humpft, só se for a princesa do drama, isso sim), quando, de repente, ouço um comentário aparentemente normal de Luna.


"- E a partida será iniciada! Acho que o fato de ser uma final está afetando muito as pessoas... Todos estão visivelmente nervosos..."


Normal até .


- "E, sabe, eu só fui notar agora que a Gina está com a Firebolt do Harry.. Talvez seja por isso que Cho esteja parecendo estar tão nervosa. Acho que desde que eles terminaram, Cho nunca jogou contra Harry. Mas agora ela vai jogar com a Gina... E eu acho que ele estará muito bem representado. Confesso que nunca imaginei ver Harry emprestando sua vassoura, e acho que foi um gesto muito bonito da parte dele. Gina realmente tem sorte. Porque, sabe, ..."– ela, felizmente, é impedida de continuar com sua natural e bruta demonstração de sinceridade e honestidade por uma irritada prof. McGonnagal, dizendo alguma coisa sobre ela estar ali para narrar o jogo, e somente o jogo.


Mas era tarde. Um murmúrio generalizado já havia tomado o estádio. Afinal, a vida de Harry é como Copa Mundial de Quadribol: Todo mundo sabe, todo mundo opina, todo mundo se interessa, todo mundo quer participar (Não que eu seja a favor disso, deixo absolutamente claro).


Cho está me encarando ainda mais friamente agora. Parece que o Polo Norte baixou naquela menina! Sorrio debochadamente para ela, e isso parece a irritar ainda mais (e é tão bom fazer isso). Como diria o meu querido professor de poções: Ho ho! E será que ela acha mesmo que está me intimidando com esse olhar? Há. Aquilo ali é fichinha perto da minha mãe irritada, pode crer. E eu já vi muito a minha mãe irritada. Cho está parecendo simplesmente... idiota.


Eu estava a ponto de fazer algum comentário espirituoso direcionado a ela (certamente engraçado, lhe garanto), quando sou interrompida por Madame Hooch.


-Então, vamos começar logo essa partida! -anuncia do nada. Eu quase pulo.


E então, lança o pomo no ar, enquanto anuncia o início um tanto quanto repentino (pelo menos para mim) da partida.


O estádio vibra, enquanto nos erguemos.


Ouço vagamente Luna anunciar o início da partida, com Cho (pelo menos a parte relacionada a xingar ela) já muito longe dos meus pensamentos.


O pomo é meu objetivo, e é nele que eu devo manter a minha concentração.


Depois que eu já o tiver seguro em mãos, eu posso aceitar alegremente ter uma conversinha com ela.


¹: Não é a minha imaginação pirando não. Realmente, o lema do Chudley é aquele. kk. Está no Quadribol através dos séculos, se não me engano.


Então, quiser me dizer o que está achando, eu agradeço muito mesmo!


boa leitura. Bjos, tefa.

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