Lembranças e aconselhamentos

Lembranças e aconselhamentos



Quando meu pai, anos atrás, me perguntou o que eu gostaria de ser quando crescer, eu nem sequer exitei ao responder. Mulher de Harry Potter e professora de Hogwarts.


Lembro que ele não me repreendeu, ou, de alguma forma, quis colocar meus pés no chão, principalmente em relação ao meu primeiro sonho – o segundo, logo eu me daria conta, definitivamente não era para mim. Ele simplesmente sorriu, e me disse que eram ótimos planos - e isso é uma das coisas que eu amo nele. Ele nunca criticou ou menosprezou qualquer sonho meu, -nosso, na verdade. Enquanto mamãe é realista, papai sempre foi mais, de certa forma, sonhador. Ele não repreendeu Fred e Jorge ao, lá pelos 12, expressarem o desejo de abrir uma loja de logros. Apenas disse que desde que eles mantivessem os produtos bem longe dele, tudo bem.


E até hoje não vi papai sofrer um único efeito causado por um pó na comida, uma bala, ou alguma outra coisa aparentemente banal. O que sem dúvidas é um grande feito, já que os gêmeos usam em praticamente qualquer coisa viva as suas brincadeiras.


Todos dizem que a menina é geralmente a princesinha do papai. Eu não posso discordar. Sempre fui- e acho que sempre serei- a pequena princesa Gin dele. Mas também não posso concordar completamente. Papai sempre tratou igualmente todos os filhos (por mais difícil que isso possa parecer). Eu tinha um lugar especial, é claro, mas não só com papai. Caçula e única menina, mesmo meus irmãos sempre foram mais cuidadosos e delicados comigo. Mas, se por um lado, eu era a princesa, os meus irmãos eram os príncipes do meu pai. Isso sempre esteve claro. Fosse nos carinhos, nos cuidados, fosse nas repreensões e avisos, era – é - visível o amor deles com os filhos. Mostrado de uma forma um pouco diferente, claro, afinal, a menina sou eu. (Dãh, Gina).


E o modo como ele sempre nos incentivou, nos apoiou, é uma prova disso. Papai nos fazia acreditar que podíamos voar. E Molly Weasley sempre entrou em ação para ajudar a refreá-lo nessas horas. E eu não estou colocando isso de uma forma ruim. Mamãe sempre nos manteve com os pés no chão, evitando que voássemos completamente. Os pés no chão, e a cabeça no ar. Uma boa mistura. Sonhadores, e ao mesmo tempo conscientes. "Se você voar demais, pode acabar se perdendo nas nuvens" – é o que mamãe diz. "Quem simplesmente vive, convive com o mundo. Quem sonha, sabe que pode fazer um mundo só seu"- é o que papai diz. Completos opostos, mas que formam uma mistura perfeita. É assim que vejo meus pais. Opostos, mas que se completam de uma maneira surpreendente. Um completando, um complementando o outro. Imaginá-los um sem o outro parece simplesmente... errado. Completamente errado.


Assim como me imaginar gostando de outra pessoa como gosto de Harry.


De qualquer forma, papai, naquele dia, pareceu ter me dito "Sim Gina, você pode ficar com Harry". Ele me fez acreditar que poderia ser verdade. Ele me fez acreditar que era possível. Porém, com 9 ou 10 anos, eu parei para me questionar. E se eu não quisesse ficar com Harry? E se ele não fosse como eu esperava?. Afinal, eu pensei, em dúvida, ele pode ser um menino cheio e chato.


E ah, como eu estava enganada. Harry era muito mais do que eu esperava. Harry é muito mais do que eu poderia sequer imaginar naquela época. E, uma coisa engraçada (ou seria uma mais uma pegadinha do destino?) foi o fato de que, mesmo sem saber quem era aquele menino de cabelos muito pretos, vestes enormes, óculos redondos e olhos verde vivo, mesmo sem remotamente imaginar quem ele era, ele mexeu comigo.


Não de uma forma que eu dissesse "Nossa, tô completamente apaixonada por ele". Não, eu era uma criança. E, como criança, eu senti algo diferente ao olhar para ele. Eu soube que... bem, eu não sei direito o que eu soube na época, mas eu tinha certeza de que aquele menino era a causa. Não soube imediatamente o que aquilo queria dizer -e nem poderia-, mas mesmo assim, aquele menino


de cabelos pretos e olhos verde vivo, me fez sentir, aos 10 anos de idade, de uma forma que até hoje nem eu sei se posso descrever direito. De uma forma que até hoje me sinto.


Ele parecia completamente perdido. Ele parecia ser uma criança triste. E eu, com toda a minha experiência de vida – note que isso foi uma ironia, por favor- senti vontade de protegê-lo. Mesmo sem conhecer aquele menino -que poderia ser qualquer um- eu senti uma imensa vontade de protegê-lo. Eu sentia vontade de ir até ele e abraça-lo, e, aos dezanos, a minha vontade era tirar aquela tristeza escondida nos olhos dele. E ao mesmo tempo que desejava, de alguma forma, fazer aquele menino feliz, eu queria que ele olhasse para mim. Eu queria falar com ele. Eu queria que ele sorrisse para mim, assim como sorriu para a minha mãe. Eu sentia como se precisasse disso. E isso- foi o que pensei na época- não faz o menor sentido.


E se você me perguntasse se hoje em dia faz, eu sinceramente não saberia responder.


Para mim, de certa forma, sempre foi natural. E coisas naturais não precisam de explicações lógicas e precisas.


Elas simplesmente são assim.


xxxXxxx


Sou despertada bruscamente das minhas divagações com a entrada de Rony no vestiário. Ele está parecendo estar meio verde. Ao que parece, ele precisa do constante apoio de Hermione para se sentir bem. Será que eu devo chamá-la aqui? Me pergunto em dúvida. Porque hoje eu preciso de Rony bem. Definitivamente, eu preciso de Rony muito bem.


Porque uma crise de autoestima do meu irmão não é algo que eu precise na final do campeonato. Ainda mais quando precisamos vencer por uma margem de 300 pontos. Ou seja, eu só posso apanhar o pomo quando estivermos ganhando por 150 pontos de vantagem sobre Corvinal. Uma tarefa já não tão simples, e que se tornará muitíssimo mais complicada se o meu irmãozinho estiver dando um ataque.


Merlim me disse "Desce e pena". Só pode ser.


Suspiro. Rony se sentou amuado em um canto e nem me deu oi. Ele parece estar realmente mal. Meu lado irmã, imediatamente alerta, está me mandando ir consolá-lo e botá-lo para cima.


Meu lado jogadora do time concorda plenamente.


xxxXxxx


- Hey.


- Hey- ele responde sem me olhar. E realmente,ele está meio verde.


- Rony, o que houve? - Pergunta idiota, eu sei. Está claro o que houve. Mas eu quero fazê-lo falar, ou simplesmente olhar para mim. O que não acontece. Suspiro. Eu amo meu irmão, mas ele definitivamente me cansa.


-Ah Ron, por favor, não me diga que você está tendo outra daquelas suas crises de confiança – falo cansada. Que se dane quem disse temos que ir com calma. Se eu for assim com Rony, acabaremos depois da final do ano seguinte.


Ele não me responde. Como se precisasse.


-Rony, por favor, vamos lá. Temos uma final agora, precisamos de você. Você é muito importante.- e parece que isso não foi uma coisa boa de se falar, por que ele pareceu ter ficado ainda mais verde.


-É isso mesmo Gina- ele me olha- todo mundo me diz isso. E eu nem sei se eu sou bom o bastante para ser tão importante. Tem dias que eu estou pior que um saco de bosta de dragão! E agora é a final.


Suspiro novamente. Rony é um ótimo jogador, mas tem a autoestima de um Elfo doméstico. Basta que uma pessoa diga que ele é péssimo, que ele ignora solenemente as trinta que o elogiaram. Isso, junto com uma insegurança imensa, faz com que seja muito fácil manipulá-lo. A música do Rei é um bom exemplo. Como resultado, ele tem uma atuação geralmente muito abaixo do seu potencial e constantes crises de "eu sou pior que um saco de bosta de dragão".


Mas isso não importa agora. Porque ele sem dúvidas já deveria saber que o Quadribol nem sempre é um piquenique. Na verdade, acho que ele está mais para aquelas lutas que só terminam com a morte. Ou, no caso, com a captura do pomo.


- Rony, por favor, me escuta- começo- Me escuta, por um minuto, e eu prometo que depois você poderá voltar a sua lamentaçãozinha idiota, e eu não vou estar nem aí – ele me olha, e eu respiro fundo antes de falar - Olha, eu te entendo. Entendo porque você está nervoso, entendo porque você está com medo. Eu também estou. -ele me olha incrédulo. Eu decido não esclarecer que só porque eu não estou dando um piti não quer dizer que eu não esteja nervosa- É claro que eu estou. Eu tenho medo de decepcionar. Tenho muito medo de decepcionar. A Grifinória, o time, você, o Harry. Todos nós nos sentimos assim. Como dizem, é mais fácil julgar. E todos nos julgam, todos acham que sabem. E nós sabemos que é assim. Sabemos que a responsabilidade sempre será nossa. Sempre. Sabemos que sempre seremos os culpados, os responsáveis. E que, se um dia perdermos porque estávamos com cinco jogadores a menos, porque o outro time era melhor, porque precisássemos ganhar por, sei lá, novecentos e noventa e nove pontos de vantagem, a responsabilidade será nossa. Nós sabemos disso, Rony. Nós aceitamos isso. Sabemos que é assim. Você consegue imaginar se não jogássemos todas as vezes que estamos sendo pressionados, desacreditados? Mas nós jogamos. Nós sempre jogamos. E a gente pode estar mais nervoso do que o Snape ameaçado com um Shampoo – ele ri levemente- mas sempre entramos em campo. Sempre procuramos dar o nosso melhor.


Paro, enquanto tento encontrar as palavras certas.


-E não pense que eu estou tentando fazer um daqueles discursinhos – paro e me dou conta de que eu estou fazendo um discursinho. - Hmm, quero dizer, é, pode até ser um discursinho, mas não sobre como você é importante e de como temos uma memória a preservar – esclareço- Que se foda isso. Nós somos nós, e como mamãe diria:"Águas passadas não movem moinho". Nós somos pessoas normais, com dúvidas e apreensões normais. Ninguém aqui é um super-herói ou algo do tipo - paro e então acrescento- O Harry não vai jogar hoje – sorrimos da brincadeira, embora concordando silenciosamente que, se alguém merece o título de herói, é Harry- E nós não queremos milagres. Não queremos coisas impossíveis. Queremos o que podemos dar. Queremos o nosso melhor.


Rony me olha fixamente, e está claro que ele ainda não pegou bem o conceito da coisa. Mas eu não desisto fácil. Não mesmo (e Harry está aí para comprovar isso. Se bem que ele começou a gostar de mim justo quando eu estava fazendo de tudo possível para esquecê-lo. Vá entender – Não que eu esteja reclamando).


- Vamos lá Rony. Eu quero que você me diga se, por acaso, sabe do que vai me adiantar ficar aqui, deprimida? Do quevai me adiantar meter na cabeça que eu sou péssima e vou perder? - ele só me olha, e não fala nada- Não vai me adiantar em nada. Nada – enfatizo - Nadinha de nada - bem,


para não deixar nenhuma dúvida - Absolutamente nada- para me certificar. E causar impacto.


Rony me olha atentamente.


-Então, se você está com medo de decepcionar as pessoas, se você está com medo de perder, me faça um favor. Levante essa sua bunda mole daí, entre naquele campo e faça o seu melhor. Se você está com medo da reação das pessoas se você perder, simplesmente jogue, jogue, jogue. Jogue como você nunca jogou. Jogue como você joga em casa, comigo e Harry. Jogue como você sabe que pode jogar. E pelo amor de Merlim, lembre-se que, antes de tudo, você quis entrar nesse time porque gosta de jogar. Porque sempre prazer em jogar. De que você quis entrar paramostrar as pessoas que você sabe jogar, para mostrar que sabe jogar bem, o que, me desculpe, você não tem feito tão bem como pode. Por favor, Rony, você já fez o mais difícil! Você já entrou no time. Você já mostrou que é ótimo no que faz. Do que mais você precisa?


Paro para retomar o ar. Acho que na minha ânsia de enfiar algumas coisas na cabeça do meu irmão, acabei esquecendo de respirar. Mas não se preocupe, eu tenho um fôlego muito bom. Puxei isso da mamãe. Posso ficar mais de dez minutos gritando numa boa. Não que eu esteja, quer dizer, gritando. Estou falando intensamente.


-Por favor Ron, se lembre de alguma dessas coisas. Você não está aqui á toa. Você pode. E por mais que relute em aceitar, você sabe disso. Simplesmente não se acha bom o bastante, não confia em si o bastante para fazê-lo. Mas hoje, quando você entrar em campo, lembre-se que, se você não quer decepcionar, tem de se esforçar. Tem de dar o seu melhor. Tem de fazer o que sabe. E isso definitivamente não incluiu ficar se auto depreciando aí pelos cantos. -enfatizo (Rony precisa de tratamento de choque), e ele fica só me olhando. Ainda não esboçou nenhuma reação. Rezo para que ele esteja tentando assimilar, e eu não esteja falando tudo à toa – Porque se você fizer isso, Rony, se você der o seu melhor, se você realmente se esforçar, se fizer o seu máximo, não irá ter decepcionado ninguém. - Noto imediatamente o quanto isso deve ter soado clichê, e me repreendo mentalmente.


Paro de falar e me levanto. O barulho lá fora está ensurdecedor. Aperto a Firebolt na mão e desejo veementemente que ela me faça jogar como Harry. Não que eu não seja boa, porque eu sei que sou. Eu sou uma ótima jogadora (e modesta, devo acrescentar) mas sou melhor jogando como artilheira. E Harry, bem, Harry parece nem precisar de uma vassoura. Até hoje fico embasbacada com aqueles mergulhos e fintas espetaculares que ele faz. Sem dúvidas, ele é o melhor apanhador da escola. Ele é um dos melhores jogadores que eu já vi na vida (E o mais engraçado é que ele parece não ter a mínima consciência disso). Eu simplesmente amo o ver voar. É como ver um pássaro voar, tão natural quanto o dia e a noite. O modo como ele parece se livrar de todos os problemas, e ser livre lá em cima, como se fosse o ar, e não uma pessoa voando a mais de trinta metros de altura em um pedaço encantado de madeira. Ele é natural. E faz coisas incríveis como se fossem a coisa mais normal do mundo (bem, a não ser que você considere normal um menino de onze anos que nunca sequer chegou perto de uma vassoura montar em uma -da escola, devo enfatizar. Elas são péssimas- e conseguir pegar um lembrol, depois de um mergulho de mais de quinze metros, a poucos centímetros do chão e sequer se arranhar). Muitas pessoas poderiam dizer que ele deve se achar por jogar tão bem, que deve ser arrogante, mas elas não entendem que voar é tão natural para ele quanto respirar. E você não se acha melhor do que os outros por respirar. É uma coisa natural, que vem sem esforço. Espontaneamente,instintivamente. Você respira. Respira. Respira. Assim é o voar para Harry. Porque ele seria arrogante por simplesmente respirar? É natural. É certo.


E eu poderia ficar mais dez horas falando dele, mas não quero que você me julgue ainda mais maluca. E quer dizer, eu digo isso porque eu já aceitei há muito tempo que não sou normal. Afinal, quantas garotas normais que você conhece se sentem como eu me senti aos dez anos de idade? E, ao contrário da grande maioria das vezes, ir vendo esse sentimento se intensificando, ano após ano, por mais que nunca tenha parecido ser correspondido? Quantas garotas normais que você conhece julgam ter encontrado o, argh -não gostaria de usar esse termo. É tão... Cho. E clichê-amor da sua vida, tão cedo? E não falo de uma paixão intensa, do tipo "aimeudeus, eu te amo. Vamos casar?". Não. É de um sentimento intenso, sim, muito intenso, mas de uma intensidade mais... calma. Como amor de mãe (eu estoumesmo fazendo essa comparação? Nossa, eu sou mais estranha do que pensava). Você por acaso fica dizendo enlouquecido dizendo a sua mãe que a ama a cada momento do dia, a sufocando? Você fica desesperadamente tentando provar o seu amor a ela? Não. Você sabe que a ama, e não precisa ficar falando isso toda hora para ter certeza. Você sabe. Você sabe que ela é uma das pessoas mais importantes da sua vida, e não precisa estar constantemente tentando provar isso. Você sabe que faria muitas coisas por ela, e que não precisa ficar afirmando isso. Você faria, e ponto.


É assim que eu me sinto em relação a Harry. E como eu já havia dito, isso sempre foi natural. O que eu sinto por Harry é simplesmente o que eu sinto por ele, e é absolutamente certo para mim. Acho que meio como respirar (essa analogia já está ficando tão batida...).


Eu não acho que você se pergunte porque respira.


Mas agora, por favor, chega disso. Não quero que ninguém aqui morra por excesso de açúcar na corrente sanguínea. Ou por excesso de clichês melosos.


E sinceramente? Considero a segunda opção pior.


Então, me perdoe se meus pensamentos inconscientemente soam clichê. Por favor. Às vezes fica impossível controlar a mente de uma garota completamente apaixonada.


E isso também foi clichê.


N/a: Eaí? (eu super ansiosa aqui). Por favor, se você quiser, puder, tiver vontade, por favor, dê a sua opinião. Fale tudo o que gostou, o que não gostou, o que achou. Eu sei que não mereço, mas se você puder fazer isso...


bj.



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