Dois



2.


 Caminhei até a entrada onde um guarda enorme e mau encarado se postou em minha frente.


- O que quer? – disse com a voz grossa e poderosa, peguei o cartão e indaguei se devia entregá-lo mesmo a ele que poderia bem ser um oficial trouxa da segurança arquitetônica, isso me colocaria em uma encrenca da boa. Antes que eu pudesse pensar ele havia pegado o cartão da minha mão.


- Mas o que você pensa que está fazendo – briguei imediatamente me recuando para minha insignificância tamanha ao tamanho do homem, que daria uns três de mim facilmente. Ele olhou bem para meu rosto e saiu de lado, abriu caminho e me deixou passar. – Obrigado, este aqui é o Batscenter?


Ele me indicou uma porta que havia um letreiro escrito “Apenas lixo”, acostumado a discrição que nós bruxos tinham não me assustei com o letreiro. Fui-me até lá, percebendo enquanto eu caminhava que o lugar era um amontoado de cubículos onde jovens trabalhavam arduamente. Parecia ser uma agencia comum.


Chegando na porta puxei a maçaneta e no mesmo instante o cheiro de podridão atingiu minhas narinas me fazendo quase vomitar, entrei e fechei. E percebi que o lado de dentro o cheiro era pior ainda. Lumus, e o que vi me assombra até hoje, estava no meio de um deposito de lixo infestado de ratos e outras criaturas nefastas e nojentas, sem pensar duas vezes abri a porta e saí.


Não costumo me assustar com facilidade, mas o que estava me aconteceu era muito estranho. Estava no meio de um corredor negro que havia uma única porta dupla a frente como entrada, olhando para os dois lados do corredor, me perguntei onde eu estava, ao invés de sair pela porta em frente caminhei pela minha esquerda onde se via metros a frente uma proteção de metal.


Um homem velho quase me atingiu ao sair de uma porta, que fechou rapidamente e me lançou um olhar furtivo, que me pareceu por um minuto conter uma fúria jovial. Mesmo que ele devia ter uns setenta anos. Abri a boca para perguntar onde poderia encontrar Lynch.


- Encontre o que quer que seja por si mesmo – respondeu secamente, e saiu com seu balde e vassoura de minha presença e em pouco tempo sumiu na curva do corredor abaixo, e eu continuei até a grade à frente ainda surpreso com a hospitalidade do Batscenter.


Meus olhos vislumbravam a coisa mais incrível que eu já vira em toda a minha vida. Estava diante de uma sacada que na verdade era uma passarela que dava vista para um enorme estádio de Quadribol, ele era no meio de uma caverna gigantesca e havia enormes fissuras na rocha onde havia arquibancadas, o que se via no fundo era a escuridão total e acima o teto irregular de uma caverna. De súbito o lugar todo se iluminou, mas ainda assim uma parte do fundo ainda ficou na escuridão e o som de algo cortando o ar surgiu.


Pude ver saindo de uma abertura figuras vestidas em trajes negros com o morcego vermelho estampado no peito do uniforme, me debrucei ante a borda e olhei o jeito que aqueles jogadores voavam, havia treze e traziam as goles e logo os balaços foram soltos em seguida. Consegui discernir o apanhador, não era de todo ruim, mas deixava de prestar atenção ao pomo em muitos razantes.


- Fascinantes não são? – a voz esganiçada me fez virar assustado, percebi que não havia nada no corredor até que senti puxões insistentes em minha perna esquerda. Agarrada a ela estava uma criaturinha do tamanho de um buldogue, de focinho achatado e orelhas grandes e caídas. Estava cara a focinho com um morcego, e não era um morcego qualquer, era a mascote Barny. A sensação dos BallyCastle Bats.


- Pensei que só conseguisse falar o anuncio da cerveja – disse um pouco assustado com a forma que Barny se movia, ela se afastou e levantou vôo e pousou em cima da borda ficando ainda mais baixa do que eu.


- Nunca viu aqueles desenhos onde nos morcegos falamos pelos cotovelos, então sou exatamente igual – animada ela apontou com uma asinha para o time. – Ainda estão meio abalados com a perda.


- De Stromword? – Barny consentiu tristemente. – O que acha que aconteceu com ele, eu não acho que alguém como ele se mataria? – só depois percebi que conversava normalmente com um morcego, esquisito, mas fazer o quê?


- Ninguém achava, ele ficou muito estranho depois que recebeu uma visita de Lynch em sua casa. Lynch nunca fez isso e depois Julius ficou estranho, esquisito. – contou Barny com sua voz esganiçada soando misteriosa.


- Barny quem está com você ai? – soou a voz de uma mulher pelo corredor, ao me virar vi que ela caminhava para cima de nós e ao se aproximar Barny voou e pousou sobre minha cabeça e ficou ali. – Barny pare com isso está na hora de ir pra cama.


Era uma mulher não tão bonita e atraente como a da lanchonete da adorável senhora, mas tinha seu estilo. Usava um vestido longo apertado na cintura e um chapéu cônico pequeno no topo da cabeça, mechas ruivas caíam sobre seus olhos. Como eu disse ela tinha estilo e isso era bom.


- Desculpe por Barny, mas acho que não devia estar aqui senhor...


- Mafing, Jhon Mafing. Tenho uma hora marcada com o senhor Lynch – respondi cordialmente tentado equilibrar-me, Barny era um tanto pesada e não soltava minha cabeça.


- Oh, você deve ser o novo apanhador – o oh dela saiu um pouco sem interesse, e pareceu que toda a simpatia por mim acabou naquele minuto, ela focou Barny e disse numa voz cheia de autoridade – Vamos, agora Barny.


Barny soltou meus cabelos e voou para o colo da moça, me lançou um olhar tristonho e deu um tchau com sua asinha. Retribui, sem esperar pela despedida que Barny faria, a mulher virou às costas e saiu rapidamente corredor acima sumindo após virar a curva para a direita.


A porta dupla em frente à de onde eu saí se abriu momentos depois e Lynch saiu sem olhar na minha direção, seguiu pela curva que Barny e a treinadora haviam tomado. 


Talvez movido pela curiosidade eu o segui, gritando para que me notasse, sem muito sucesso. O lugar era entrecortado por outros corredores, mas toda vez que eu cortava uma esquina Lynch acabava de cortar outra, parecia que eu estava envolvido numa perseguição inútil.


Corri para tentar antecipar mais uma curva, quando dei por mim, bati com o rosto numa parede e voltando com a inércia atingi o chão. Meu nariz doía e podia ver estrelas diante de meu rosto me contornando como se eu fosse algum astro.


Olhei para frente tentando encontrar a tal parede, talvez eu entrei em algum beco sem saída e bati com o rosto em uma parede pintada, pois o corredor estava perfeitamente normal. Como naquele desenho em que um coyote perseguia um pássaro. Mas ao me levantar eu fiquei um pouco desconfortável, com a cena que se desenrolava em minha frente.


Tocava com meus dedos uma espécie de parede invisível, mas ao ser tocada ela oscilava e eu podia ver que na verdade era nela que eu havia batido e era ela que não me deixava me adiantar corredor adentro. Pude ver o velho faxineiro, bati na parede e tentei me fazer ouvir, mas parecia que minha voz também parava na parede. O velho sumiu em seguida.


Levei minhas mãos a cabeça, tentando descobrir o que eu faria em seguida. Talvez aquela parte do corredor fosse protegida por magia pra não deixar desconhecidos atravessar. Ao olhar ao lado percebi uma placa que dizia o que tinha nesse corredor à frente. “Sala de estudos de táticas” - táticas no Quadribol eram guardadas a sete chaves, talvez até por oito. Havia outras coisas sem importância e claro o dormitório de Barny.


Parecia que os BallyCastle Bats davam um sigilo e segurança a estas duas coisa, resolvi então voltar e ver se ainda treinavam na arena lá na frente.


Ao me virar, houve uma explosão de claridade por todo o corredor. Alguns poderiam nem perceber se fosse algo comum, mas ao perceber a cor verde brilhante que tomou conta das paredes brancas, meu coração saltou.


Caminhei com meu coração a mil, de volta a parede magica. Que eu esteje errado, que eu esteje errado, eu repetia para mim tentando apagar as imagens terríveis de minha mente. Novamente nesse dia caí batendo de costas no chão. Aparecendo subitamente e batendo na parede surgiu Lynch, seu rosto preocupado e terrivelmente abalado. Os olhos saltados e os cabelos desgrenhados que me fez perceber que ele estava abalado.


Puxou a varinha e a apontou para mim, tentei falar alguma coisa, mas o que veio em seguida me assustou tanto que resolvi correr. O bruxo levantou a varinha em direção ao teto, um barulho ensurdecedor precedeu o movimento e ele gritou em minha direção.


- Peguem ele! Ele matou Barny e a doutora! Peguem esse filho de Dementador! – imediatamente percebi que ele olhava para trás enquanto falava, então só tinha uma resposta. Estava mandando todos para cima de mim.


Sem pensar duas vezes, corri de volta onde eu não deveria saido. Podia sentir meus nervos a flor da pele e tudo ficou mais terrível a cada passada. Dos inúmeros corredores vinham bruxos empunhando suas varinhas, tentei aparatar, mas não sai do lugar.


Na altura da minha cabeça se abriu um buraco na parede, os infelizes estavam amaldiçoando pra matar. Corri com todas as minhas forças, tentando tapar todos as saídas de corredores á frente com escudos, os bruxos se chocavam contra a parede invisível e momentos depois as explodiam com magias mais fortes.


- Eu não fiz nada, eu juro – gritei para eles, mas não me ouviram e nem ouviriam, estavam sedentos de alguém para colocar no maldito cadafalso e me verem balançando.


Podia ver a passarela que dava para o campo cavernoso, os gritos as minhas costas chamavam as atenções do time. Uma vassoura se aproximou da grade, estava a poucos metros de mim. Vi ele praguejar e tentar sair em alta velocidade, mas já era tarde.


Saltei sobre a grade, ao tentar sair em velocidade para meu terrível temor, estava totalmente a mercê da gravidade quando meus dedos agarraram a capa preta do jogador. Ele perdeu o controle da vassoura, dando uma guinada violenta em direção as paredes cheias de fissuras e pontas perigosas.


Feitiços cortavam o ar, eu gritava mais do que Cris Tucker em a Hora do Rush, posso dizer que nunca senti tanto medo em minha vida.


Os outros jogadores vendo seu parceiro indo em direção a parede voaram em nossa direção, algo segurou minha perna. Olhei e era um dos jogadores que voava abaixo de mim numa tentativa de me fazer soltar o amigo. Ele me puxou com tanta força que soltei a capa e cai diretamente sobre sua vassoura o tirando também do controle, estiquei a mão, mas não adiantou o rapaz foi tirado da sua vassoura e caiu abismo abaixo sumindo na escuridão.


Joguei meu corpo contra o cabo da vassoura velha e nojenta e acelerei, das grades eles tentavam inutilmente me acertar, percebi que o único modo de sair dali seria enfrentando-os. Pude ver os olhares nervosos deles ao me verem mudando bruscamente de direção e voando na direção deles, me levantei da vassoura e no momento que ela bateu contra a grade cortando os rostos dos homens com pedaços de madeira e ferro, saltei. Enquanto eles se recuperavam do choque tratei de me por a correr e quando Lynch virou no corredor eu entrei pela porta por onde entrei nessa confusão.


Me virei rapidamente e joguei um encanto sobre a fechadura que minha velha mãezinha havia me ensinado para escapar dos valentões da escola, me trancando no próprio armário ao invés deles me jogarem lá após rasgarem minha cueca, não era muito corajoso porém funcionava. Então o cheiro de podre me bateu com uma força que o mundo girou e me tonteou me deixando aterrorizado com a idéia de desmaiar com a cara no lixo podre, gosmento e malcheiroso, mas não foi a única coisa que me apavorou naquele momento.

CONTINUA...

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