Parte IX



I can't steal you, no/ Eu não posso te roubar, não


Like you stole me/ Como você me roubou


 


Narcisa levou Pansy até seu quarto aquele dia e a menina disse que tinha sido apenas uma pequena indisposição. A mulher se desculpou pelo filho e nas duas semanas seguintes nada mais foi comentado.


A raiva que sentia de Draco e a vergonha que o mesmo a fizera passar na frente da Sra. Malfoy assombravam os pensamentos de Pansy, porém por incrível que pareça ela não podia dizer que não queria mais o garoto. Não, isso seria impossível... um sentimento tão forte como aquele que ela tinha por Draco não se acabava daquele jeito.


 


Outra coisa que rondava por sua mente era a carta que Narcisa havia comentado, a que ela acreditava ser de Hermione Granger. Isso seria possível? Ela tinha que descobrir. E se eles estivessem...


Namorando?


 


Não. A sangue-ruim gostava daquele ruivo traidor de sangue, todo mundo sabia disso. Definitivamente absurdo. Certo?


 


 


Pansy acordou naquele dia decidindo estender um pouco mais o tempo deitada. Ao olhar pela janela, a menina percebeu que o tempo do lado de fora estava nublado e úmido.


Ela tomou o café da manhã na companhia de Narcisa Malfoy e as duas discutiram sobre as notícias daquele dia do Profeta Diário. Um grupo de resistentes seguidores de Voldemort havia sido preso naquela madrugada.


Nos intervalos de suas falas, a bruxa dividia sua atenção com Narcisa e sua mente que se perguntava onde Draco estaria.


 


Ela ainda conseguia sentir o tapa que levara do louro, aquele que ele disse que dera na tentativa de fazê-la acordar. Ela sabia que o rapaz sequer fazia idéia do quanto aquilo havia machucado física e principalmente emocionalmente.


Entretanto sua memória sensorial lhe mandava lembranças mais fortes daquele beijo fantasioso. Ela havia se sentido tão acolhida, tão aquecida naqueles braços invernosos. Os lábios do menino haviam se moldado corretamente aos seus e não faziam a menina querer se afastar e perguntar o que estava acontecendo. Eles tinham sede de toque, pedindo sempre por mais.


 


A pergunta do paradeiro do menino foi respondida assim que ela se levantou da mesa para escrever uma carta a seus pais.


O rosto do menino continuava o mesmo desde que ela havia chegado e ela não podia deixar de pensar que tinha a ver com a carta.


 


-Bom dia mãe. –a voz do menino afastou seus pensamentos. –Bom dia Pansy. –o menino disse meio debochado.


Narcisa deu um olhar de aviso ao filho, mas logo falou carinhosamente:


-Dormiu demais amor?


Pansy olhou boquiaberta para Narcisa e se espantou ao perceber que uma pequena quantidade de raiva e mágoa a atingiu. Parecia que a mamãe e o filhinho haviam feito as pazes e tudo estava certo. Para eles pelo menos.


 


A menina se retirou logo do cômodo e começou a andar em direção ao quarto em que estava, porém algo a fez parar no meio do caminho.


Essa era uma ótima oportunidade para a menina achar a droga da carta.


Sem que fosse notada, a menina andou com sorrateiros passos até o quarto do menino.


Sua atenção foi atraída por uma grande quantidade de pergaminhos que estavam em cima da cama de Draco. Ela mexeu em todos, mas nada estava escrito em nenhum. Pansy então se apressou a procurar o que devia antes que o louro resolvesse voltar.


 De início, a menina abriu a armário de Malfoy e após uma rápida procura percebeu que os pergaminhos certos só podiam estar na mesinha de cabeceira que ela havia tentado abrir assim que chegara ali.


 


Estava quase desistindo quando abriu a última das quatro gavetinhas.


Lá estava.


Porém não era apenas uma carta. Eram seis ali dentro, todas em seus respectivos envelopes.


Pansy as coletou e uma dúvida surgiu: ela deveria ler ali mesmo com o risco de ser descoberta pelo menino ou levar as cartas, ler em seu quarto... e ser descoberta eventualmente?


Hesitação a atingiu violentamente. Ela já podia sentir a raiva de Draco caso ele descobrisse o que ela fizera.


Antes que pudesse pensar em qualquer outra coisa, passos vinham se aproximando. Sem muito tempo para pensar ela colocou as cartas em baixo de suas vestes e fechou a gavetinha rapidamente. Estava praticamente na porta quando Draco apareceu.


 


-O que você faz aqui? –a voz do rapaz tinha o mesmo tom rude que recebera na mesa de café da manhã.


-Eu...                                                                    


Pensa Pansy! Pensa sua inútil! –sua cabeça gritava desesperada.


 


-Então? –ele perguntou passando por ela e verificando rápida e disfarçadamente os pergaminhos em sua cama.


-Eu queria conversar... –ela disse finalmente. -... sobre o que aconteceu aquele dia.


 


Na verdade ela não queria conversar. Ela queria gritar, atirá-lo pela janela, azará-lo... tudo menos conversar.


 


-Pansy, você sabe que eu fiz aquilo pra te ajudar com o que sei lá que você estava tendo. –ele disse claramente resistindo para não rir.


-Porque você age como se eu não te conhecesse? –a menina disse desafiadoramente. –Sete anos Draco! Eu não te conheci ontem.


-Você não me conhece. –o menino contradisse. –Aliás, você conheceu o velho Draco. O que está aqui... –o menino fez que “não” com o dedo indicador.


-Sabia que isso soa como déficit mental?


Draco deu de ombros.


Novo Draco. Será que era o mesmo que ela havia pintado em sua mente? E a resposta é...


-Preciso que você saia do meu quarto. –ele disse sem dar qualquer atenção adicional à menina.


 


Pansy mordeu seu lábio de raiva e seu coração sangrou mais um pouco.


-Por que... por que você não me disse tudo isso antes? Me pouparia de tanta coisa, Draco! Você não faz idéia do quanto eu desperdicei... Eu poderia ter tido um relacionamento saudável ao invés... disso.


Draco a olhou parecendo levemente surpreso.


-Isso –o menino apontou dele para ela. – Nunca foi um relacionamento, Pansy. Você mesma me disse quando chegou aqui que já sabia. –Draco disse como se apontasse algo óbvio.


-Eu sei, mas... acho que eu esperava que fosse só uma impressão...


As palavras de Malfoy saíram secas:


-Não foi.


-É, não foi. - A menina deu um sorriso sem humor.


 


-E você não se arrepende? –sua voz saía quase inaudívelmente.


-Do que exatamente?


-De ter me roubado... –Draco a olhou de cenho franzido. -... quero dizer... tudo o que eu renunciei... todo esse tempo que eu não posso recuperar... você não se arrepende de ter tirado isso de mim?


O menino a encarou por curtos segundos antes de dar de ombros e dizer:


-Não.


Pansy bufou e deu uma risada nervosa.


-Você quebrou meu coração Draco. E você continua fazendo mais e mais.


O menino lhe deu uma expressão fácil de “não posso fazer nada”.


-Você quer POR FAVOR parar de fingir que não se importa?!        


-Sinto te dizer querida Pansy, mas eu não estou fingindo. – o menino disse com deboche. –Não mais.


 


Uma luz de brilho forte moradora do coração de Pansy, que se tornou fracamente acessa desde a primeira vez que eles se encontraram depois da Batalha de Hogwarts, voltou quase com potência total. Quase.


O que isso significava afinal?


Não demorou muito mais e sua resposta veio com a potência de fazer a tal luz finalmente encontrar escuridão.


-Eu me importava. Afinal, como você disse, se você não estivesse lá quem iria me ouvir?


Pansy apenas o encarou silenciosamente. Pelo menos externamente, pois dentro dela uma explosão acontecia. Como ele podia dizer aquilo tudo tão... calmo? Talvez fosse isso que a tivesse enfurecendo agora. Ela preferia que ele estivesse gritando, mostrando alguma coisa, porém era justo o oposto. Não havia nada ali. Como o próprio disse, não mais. Não para ela.


Tudo isso a machucava tanto... E mais ainda saber que todas essas palavras cortantes a faziam sangrar sim, mas não tinham nenhum efeito sobre o que ela sentia por ele.


Estúpida. Toda essa situação, ela mesma, a dor... Esta tão profunda que tomava sua respiração. Crucio.

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