Partidas



 


O Sol iluminava fracamente uma clareira aberto em meio a uma floresta temperada, nada além de um poço antigo quebrava a monotonia da paisagem de mato baixo e pedregulhos largados a esmo pelo chão. Dentro do poço uma criatura pequenina de orelhas como as de um morcego e nariz de tomatão escalava as paredes internas, seu esforço para alcançar a borda era visível. Enquanto subia pelas brechas falava para si mesma:

- Winky vai aparecer! Winky ficou todos estes anos todos esquecida, mas agora vai aparecer na história do menino bruxo, aquele homem mal, o Kloves, não pode me impedir.

A elfa doméstica finalmente chegou ao fim de seu caminho, podia finalmente sentir o ar fresco nos pulmões, se ergueu a borda do poço e olhou triunfante para o alto, neste exato momento a terra foi sacudida por um tremor muito forte e pobre criatura caiu novamente no túnel escuro. A área externa da pequena construção acabou por desabar devido aos fortes solavancos causados pelo sismo e tapar a abertura do buraco. A amiga de Dobby nunca terá a oportunidade de ser reconhecida, pobre coitada.

A milhares de quilômetros dali Runpert, Harrycliffe e Hemmaione finalmente desembarcaram no Brasil. Os três estavam completamente perdidos e desorientados, desembarcaram no Porto de Santos com o objetivo de chegar na escola de Macumba e Catimbó de Itaquera, mas lendo o jornal bruxo brasileiro "O Despacho Matutino" descobriram que a escola havia sido fechada devido a uma greve prolongada, seguida de uma inundação e de denúncias de roubo de verba, apenas depois de averiguado todos os casos a escola voltaria a reabrir.

- E agora Runpert? Nós pensávamos que o velho porco poderia ter deixado alguma instrução com o diretor da escola aqui da África...

- Brasil, Hemmaione! Nós estamos no Brasil.

- Que seja Harrycliffe, o caso é que nós não temos para onde ir!

- É ainda pior gente! 

- O que foi Runpert? - Hemmaionne e Harrycliffe chegaram mais perto do ruivo. 

- Olhem essa notícia! Estamos ainda mais perdidos. 

Os três baixaram os olhos em direção a publicação e começaram a ler silenciosamente a coluna social do jornal: 

Parece que o Brasil está mesmo na rota das grandes celebridades Bruxas. Depois da mundialmente conhecida Hilary Watson, revendedora Avon britânica e do grande conhecedor das Artes das Treva Severino Esneipe, é a vez do grande Lord Voldemort. Os assuntos que trazem tão distinta personalidade a nosso país ainda são desconhecidos, mas com certeza devemos esperar algum grande anúncio em breve. Lembrem-se, vocês leram na coluna da Keytelyne Carollynne primeiro.

O grupo ficou em quieto por alguns segundos, apreendendo a gravidade da notícia, até que Runpert quebrou o silêncio. 

- Temos que pensar gente! Hemmaione você trouxe a tenda de acampamento que disse que tinha? 

- Trouxe sim Runpert! 

- Muito bem, não poderemos aparecer em público depois dessa, teremos que acampar em lugares ermos! Harrycliffe você ainda tem aquele mapa do brasil que ganhou de brinde ao comprar aquele sabonete líquido de açaí na Natura?

- Sim Runpert! 

- Ótimo! 

- Espera Runpert, quer dizer que não vamos ficar em um hotel? E o Copacabana Palace? E Maksoud Plaza? 

- Hemmaione, nós estamos falidos e fugindo, não podemos ser vistos! Você é uma celebridade, decadente, mas é, se entrarmos em um hotel estará em todos os jornais. Graças a Merlin a TV Bruxa desistiu de filmar a nossa busca. Contrataram a Hebe Camargo e acabaram por ficar sem dinheiro para filmar uma jornada internacional. 

Hemmaione começou a chorar dizendo que queria ir pra casa. 

- Você não tem mais casa, pelo menos enquanto não tivermos terminado isso. 

A muito contragosto Hemmaione deu as mãos a Harrycliffe e Runpert para poderem desaparatar em um local mais seguro.

- Caraca Maluco! Que coisa doida véi, Zé Pequeno vem ver isso aqui mano! 

O trio havia desaparatado bem no meio de uma favela, quando a sensação de ter o corpo comprimido por um cano passou e eles abriram os olhos viram quatro homens com fuzis AR-15 os cercando com olhares espantados. 

- Harrycliffe nos tire daqui agora! 

- Foi mal Hemmaione! 

Deram-se as mãos para desaparecer mais uma vez. Reapareceram em um descampado cercado de árvores. 

- Onde estamos Harrycliffe? 

- Floresta da Tijuca Maione! Área é de acesso proibido, acho que estamos seguros aqui. 

Enquanto os rapazes levantavam os feitiços de defesa em volta do acampamento, Hemmaione retirava a tenda da sua bolsa, na verdade ela tirou um tubo prateado de sua bolsinha, tinha o tamanho exato de uma lata de spray para cabelo. 

- Hemmaione, você vai retocar o cabelo agora? 

- Ai amiga, me empresta! Aqueles cabelos que arrepiam aqui atrás da cabeça estão ficando rebeldes de novo. 

- Isso não é spray de cabelo, hunf! É a tenda. 

Hemmaione retirou a tampa do tubo e o que parecia ser um rolo de tecido branco saltou do interior do objeto, tocou o chão e começou a desembrulhar. A capa foi abrindo e abrindo até que terminou como uma réplica do Taj Mahal, embora menor que o original ainda era enorme. 

- Arrasou Maione, boa escolha colega! 

- Quero ver é voltar para o tubo depois... hahaha! 

Harrycliffe e Hemmaione entraram alegres na tenda, seguidos por Runpert que não sabia o que pensar daquilo. O ruivo acabou por aprovar, não faria mal um pouco de conforto durante o tempo inderteminado que duraria a sua experiência nômade. 

A tenda era ainda maior por dentro, tinha três banheiros, quatro quartos, cozinha, sala-de-estar, sala-de-jantar, jardim de inverno e um terraço com gazebo.

- Só falta agora um bom jantar. Onde é que fica Cozinha Maione?

- Que cozinha Runpert.

- A cozinha Hemmaione, o lugar em que fazemos as nossas refeições.

- Eu pensei que fazíamos isso na sala de jantar. - Runpert lhe deu uma olhada feia.

- Rupert, tenho que dizer uma coisa, eu gastei o dinheiro todo na tenda e não comprei comida, pensei que você ia trazer da sua casa. Sua mãe produz toneladas de comida por dia você devia ter trazido.

- Você o que Hemmaione!? Eu não acredito que você não trouxe comida, como nós vamos sobreviver?

- Estamos numa floresta Runpert, quem sabe se nós caçarmos uns javalis ou uns bufalos podemos fazer um churrasco.

- Cala a Boca Harrycliffe!

Ao ver a cara de ódio e ouvir a voz imperativa e forte de Runpert Harrycliffe não lhe respondeu, apenas fez uma cara abobalhada e quase deixou cair baba admirando o rosto feroz do amigo.

- Ai Meu Merlin, preciso de um banho frio!

A discussão continuou a tarde inteira e aumentou a noite quando Runpert percebeu que Hemmaione havia carregado os ármarios do quarto dela com produtos de beleza e roupas de marca. No dia seguinte, após Runpert ter conseguido colher alguns cajus e mangas para o café-da-manhã a conversa correu de uma maneira mais calma, não adiantava discutir sobre o erro já cometido.

- Eu já tenho a solução para o problema! Nós teremos que arranjar um emprego.

- O Quê?

Hemmaionne e Harrycliffe cuspiram o suco em cima da mesa quando Runpert lhes falou sobre o trabalho.

- Exatamente isso que vcs ouviram e nem venham dizer que querem ser vendedores da Daslu! Toda semana a Policia Federal do Brasil baixa naquela loja e os vendedores constrangidos aparecem no Jornal Nacional, precisamos de empregos em que não prestem atenção na gente. Quer dizer, a Hemmaione não vai trabalhar pq é famosa e deve ter algum fã que pode reconhecer ela ou podem tira uma foto e postar no EGO já que eles amam celebridades de segundo escalão.

Embora muito ofendida Hemmaione não falou nada pois estava adorando não ter que trabalhar. 

- Mas nem pense que você vai ficar aqui lendo a Faces, suas obrigações será cozinhar, lavar e limpar. Harrycliffe você vai comigo para o Saara, li no jornal que estavam precisando de vendedores em uma loja de roupas de jeans fabricadas em Touritama. 

Runpert e Harrycliffe conseguiram o emprego enfeitiçando os outros candidatos e por terem uma escolaridade que ia além da 5ª série. Runpert ficou encarregado de cuidar do estoque enquanto Harrycliffe assumiu a função de vendedor. O atendimento de sua primeira cliente não podia ser mais desastroso. 

- Bom dia Moço, vocês têm colete de jeans? 

- Colete jeans? Você está em 1994? 

- Não entendi. 

- Olha minha filha, eu preciso do dinheiro desse trabalho, mas se você quer andar por aí out of fashion eu lavo minhas mãos. 

- O moço está tirando uma com a minha cara? 

- Claro que não, só estou com pena de você, qual o próximo passo? Uma saia jeans, ou pior, um daqueles pavorosos shorts-saia que eram sucesso em 1997? 

- O senhor está dizendo que eu estou fora de moda? 

- Eu não disse nada querida, o espelho é que deve gritar isso para você dia após dia e você não escuta. 

A mulher saiu da loja indignada e praguejando contra Harrycliffe. A próxima cliente não foi diferente, após o pedido inicial Harrycliffe não resistiu e usou o alto-falante da loja. 

- Gente para um pouco, alguém acredita que essa pessoa me pediu para ver um conjunto de jaqueta e bermuda jeans com lavagens em estrias brancas? Eu sei, nem eu que escutei acreditei nisso, mas esperar o quê de alguém que acabou de sair da Loja Mirelle´s né?

Assim foi durante a tarde com Harrycliffe rejeitando e humilhando cada um dos clientes que entrava na loja, ao fim do dia, como não poderia deixar de ser, foi demitido.

Embora chateado com a atitude do amigo Runpert estava demasiado cansado para iniciar uma discussão, tudo o que ele queria depois de passar a tarde carregando pesados fardos de jeans era um bom jantar e uma noite de sono. 

A dupla aparatou na porta da tenda e entrou, encontraram Mione sentada em uma poltrona soprando as unhas das mãos recém pintadas. 

- Vocês chegaram, que bom! Como foi o primeiro dia? 

- Eu trabalhei como um escravo carregando sacolas pesadas e não podia usar magia porque tinham muitos trouxas junto comigo. O Harrycliffe foi despedido por, além de não conseguir vender uma única peça, fazer a loja perder uma enorme quantidade de clientes que ele ofendeu. 

- Você tinha que ver amiga, era o horror! Uma mulher queria ver um bolerinho jeans com aplicações em strass. Eu tive que vomitar nela. 

- Eu te entendo Harrycliffe, se fosse eu tinha lançado um Avada Kedrava imediatamente nessa fulana. 

- Podemos acabar com essa conversa? Eu estou cansado e com fome! O que temos pro jantar Hemmaione? 

- Que jantar? 

- O jantar que você preparou para nós ué. Eu deixei minhas últimas moedas para você compara algo para nós comermos enquanto meu salário não sai. 

- Ai Runpert, eu estava indo no Mercado disfarçada de muçulmana para ninguém me ver, mas no meio do caminho parei em uma lotérica e resolvi tirar a sorte, gastei o dinheiro todo em raspadinhas. Infelizmente nenhuma delas estava premiada. 

Runpert estava furioso, mas a fome era maior ele acabou por conseguir achar um coelho na floresta e fazer um ensopado.

A rotina acabou por ficar estabelecida assim. Runpert continuava a trabalhar na loja de jeans, Harrycliffe não conseguia parar em um emprego e nas duas últimas semanas acabou por inventar uma desculpa de que havia dementadores que o seguiam e o afetavam demasiado, por isso, por mais que quisesse, não poderia sair para trabalhar.

Hemmaione continuava preguiçosa e fazia no máximo alguns sanduíches para o Runpert quando ele voltava para o trabalho. 

Depois de alguns meses sem nenhum avanço na busca pelas Warncruz e tendo que aguentar a preguiça e futilidade dos amigos Runpert já não aguentava mais. Acabou por explodir suas frustrações ao voltar de um dia particularmente carregado no trabalho. 

- Como assim não tem água gelada Hemmaione? 

- Tem sim Runp, olha aí a garrafa com água na geladeira. 

O recipiente continha um filete de água, um pouco mais que um gole. 

- Quem foi que usou esse truque safado de deixar dois dedos d'água na garrafa para não precisar encher de volta? 

- Ora, quem você pensa que nós somos Runpert? - Harrycliffe fez uma cara de grande indignação. 

- Um bando de vagabundos parasitas e idiotas que não querem nada com a vida! Pra mim chega já deu! 

- Como assim Parasitas? 

- Isso que vocês ouviram! 

Harrycliffe puxou a varinha ao mesmo tempo que Runpert. 

- Eu não quero machucar você Harrycliffe, mas se me atacar eu vou revidar. 

- Eu nunca imaginei que um dia chegaríamos a isso Runpert, retire o que você disse! 

- Não retiro e reforço o que eu disse, os dois não valem a pena, estou me matando para conseguir resolver tudo e vocês passam o dia todo sentados coçando os pés. 

- Isso não é verdade! 

- É verdade sim Hemmaione, eu sou o único que não foi afetado pelo feitiço de Voldemort, mas mesmo assim me esforço para tentar acabar com ele. 

- Se é tão ruim assim para você, porquê continua aqui? 

Ao ouvir essas palavras gritadas por Harrycliffe Runpert baixou a varinha e sua expressão de fúria mudou para uma de extrema dor.

- Os dois não fazem ideia de porquê eu luto para que tudo volte ao normal? - Runpert inspirou pesadamente. - Realmente não tenho mais nada para fazer aqui. - Falou isso e se dirigiu a saída da tenda, estava arrasado e trêmulo.

- Não Runpert, não foi isso que o Harrycliffe quis dizer, é claro que nós sabemos..., não Runpert, volta! 

Hemmaione seguiu Runpert até a clareira na floresta, mas só teve tempo de vê-lo lhe dar uma última olhada triste e desaparatar. Ainda em lágrimas a bruxa voltou para a tenda procurando por Harrycliffe, mas ele já tinha se trancado muito silencioso no quarto. A bruxa nunca imaginou que, depois de conseguir se livrar de Lilá, a responsável pela separação definitiva do rapaz que amava seria ela própria. O que seria deles agora que estavam sozinhos?


O Sol iluminava fracamente uma clareira aberto em meio a uma floresta temperada, nada além de um poço antigo quebrava a monotonia da paisagem de mato baixo e pedregulhos largados a esmo pelo chão. Dentro do poço uma criatura pequenina de orelhas como as de um morcego e nariz de tomatão escalava as paredes internas, seu esforço para alcançar a borda era visível. Enquanto subia pelas brechas falava para si mesma:


- Winky vai aparecer! Winky ficou todos estes anos todos esquecida, mas agora vai aparecer na história do menino bruxo, aquele homem mal, o Kloves, não pode me impedir.


A elfa doméstica finalmente chegou ao fim de seu caminho, podia finalmente sentir o ar fresco nos pulmões, se ergueu a borda do poço e olhou triunfante para o alto, neste exato momento a terra foi sacudida por um tremor muito forte e pobre criatura caiu novamente no túnel escuro. A área externa da pequena construção acabou por desabar devido aos fortes solavancos causados pelo sismo e tapar a abertura do buraco. A amiga de Dobby nunca terá a oportunidade de ser reconhecida, pobre coitada.




A milhares de quilômetros dali Runpert, Harrycliffe e Hemmaione finalmente desembarcaram no Brasil. Os três estavam completamente perdidos e desorientados, desembarcaram no Porto de Santos com o objetivo de chegar na escola de Macumba e Catimbó de Itaquera, mas lendo o jornal bruxo brasileiro "O Despacho Matutino" descobriram que a escola havia sido fechada devido a uma greve prolongada, seguida de uma inundação e de denúncias de roubo de verba, apenas depois de averiguado todos os casos a escola voltaria a reabrir.


- E agora Runpert? Nós pensávamos que o velho porco poderia ter deixado alguma instrução com o diretor da escola aqui da África...


- Brasil, Hemmaione! Nós estamos no Brasil.


- Que seja Harrycliffe, o caso é que nós não temos para onde ir!


- É ainda pior gente! 


- O que foi Runpert? - Hemmaionne e Harrycliffe chegaram mais perto do ruivo. 


- Olhem essa notícia! Estamos ainda mais perdidos. 


Os três baixaram os olhos em direção a publicação e começaram a ler silenciosamente a coluna social do jornal: 




Parece que o Brasil está mesmo na rota das grandes celebridades Bruxas. Depois da mundialmente conhecida Hilary Watson, revendedora Avon britânica e do grande conhecedor das Artes das Treva Severino Esneipe, é a vez do grande Lord Voldemort. Os assuntos que trazem tão distinta personalidade a nosso país ainda são desconhecidos, mas com certeza devemos esperar algum grande anúncio em breve. Lembrem-se, vocês leram na coluna da Keytelyne Carollynne primeiro.




O grupo ficou em quieto por alguns segundos, apreendendo a gravidade da notícia, até que Runpert quebrou o silêncio. 


- Temos que pensar gente! Hemmaione você trouxe a tenda de acampamento que disse que tinha? 


- Trouxe sim Runpert! 


- Muito bem, não poderemos aparecer em público depois dessa, teremos que acampar em lugares ermos! Harrycliffe você ainda tem aquele mapa do brasil que ganhou de brinde ao comprar aquele sabonete líquido de açaí na Natura?


- Sim Runpert! 


- Ótimo! 


- Espera Runpert, quer dizer que não vamos ficar em um hotel? E o Copacabana Palace? E Maksoud Plaza? 


- Hemmaione, nós estamos falidos e fugindo, não podemos ser vistos! Você é uma celebridade, decadente, mas é, se entrarmos em um hotel estará em todos os jornais. Graças a Merlin a TV Bruxa desistiu de filmar a nossa busca. Contrataram a Hebe Camargo e acabaram por ficar sem dinheiro para filmar uma jornada internacional. 


Hemmaione começou a chorar dizendo que queria ir pra casa. 


- Você não tem mais casa, pelo menos enquanto não tivermos terminado isso. 


A muito contragosto Hemmaione deu as mãos a Harrycliffe e Runpert para poderem desaparatar em um local mais seguro.


- Caraca Maluco! Que coisa doida véi, Zé Pequeno vem ver isso aqui mano! 


O trio havia desaparatado bem no meio de uma favela, quando a sensação de ter o corpo comprimido por um cano passou e eles abriram os olhos viram quatro homens com fuzis AR-15 os cercando com olhares espantados. 


- Harrycliffe nos tire daqui agora! 


- Foi mal Hemmaione! 


Deram-se as mãos para desaparecer mais uma vez. Reapareceram em um descampado cercado de árvores. 


- Onde estamos Harrycliffe? 


- Floresta da Tijuca Maione! Área é de acesso proibido, acho que estamos seguros aqui. 


Enquanto os rapazes levantavam os feitiços de defesa em volta do acampamento, Hemmaione retirava a tenda da sua bolsa, na verdade ela tirou um tubo prateado de sua bolsinha, tinha o tamanho exato de uma lata de spray para cabelo. 


- Hemmaione, você vai retocar o cabelo agora? 


- Ai amiga, me empresta! Aqueles cabelos que arrepiam aqui atrás da cabeça estão ficando rebeldes de novo. 


- Isso não é spray de cabelo, hunf! É a tenda. 


Hemmaione retirou a tampa do tubo e o que parecia ser um rolo de tecido branco saltou do interior do objeto, tocou o chão e começou a desembrulhar. A capa foi abrindo e abrindo até que terminou como uma réplica do Taj Mahal, embora menor que o original ainda era enorme. 


- Arrasou Maione, boa escolha colega! 


- Quero ver é voltar para o tubo depois... hahaha! 


Harrycliffe e Hemmaione entraram alegres na tenda, seguidos por Runpert que não sabia o que pensar daquilo. O ruivo acabou por aprovar, não faria mal um pouco de conforto durante o tempo inderteminado que duraria a sua experiência nômade. 


A tenda era ainda maior por dentro, tinha três banheiros, quatro quartos, cozinha, sala-de-estar, sala-de-jantar, jardim de inverno e um terraço com gazebo.


- Só falta agora um bom jantar. Onde é que fica Cozinha Maione?


- Que cozinha Runpert.


- A cozinha Hemmaione, o lugar em que fazemos as nossas refeições.


- Eu pensei que fazíamos isso na sala de jantar. - Runpert lhe deu uma olhada feia.


- Rupert, tenho que dizer uma coisa, eu gastei o dinheiro todo na tenda e não comprei comida, pensei que você ia trazer da sua casa. Sua mãe produz toneladas de comida por dia você devia ter trazido.


- Você o que Hemmaione!? Eu não acredito que você não trouxe comida, como nós vamos sobreviver?


- Estamos numa floresta Runpert, quem sabe se nós caçarmos uns javalis ou uns bufalos podemos fazer um churrasco.


- Cala a Boca Harrycliffe!


Ao ver a cara de ódio e ouvir a voz imperativa e forte de Runpert Harrycliffe não lhe respondeu, apenas fez uma cara abobalhada e quase deixou cair baba admirando o rosto feroz do amigo.


- Ai Meu Merlin, preciso de um banho frio!


A discussão continuou a tarde inteira e aumentou a noite quando Runpert percebeu que Hemmaione havia carregado os ármarios do quarto dela com produtos de beleza e roupas de marca. No dia seguinte, após Runpert ter conseguido colher alguns cajus e mangas para o café-da-manhã a conversa correu de uma maneira mais calma, não adiantava discutir sobre o erro já cometido.


- Eu já tenho a solução para o problema! Nós teremos que arranjar um emprego.


- O Quê?


Hemmaionne e Harrycliffe cuspiram o suco em cima da mesa quando Runpert lhes falou sobre o trabalho.


- Exatamente isso que vcs ouviram e nem venham dizer que querem ser vendedores da Daslu! Toda semana a Policia Federal do Brasil baixa naquela loja e os vendedores constrangidos aparecem no Jornal Nacional, precisamos de empregos em que não prestem atenção na gente. Quer dizer, a Hemmaione não vai trabalhar pq é famosa e deve ter algum fã que pode reconhecer ela ou podem tira uma foto e postar no EGO já que eles amam celebridades de segundo escalão.


Embora muito ofendida Hemmaione não falou nada pois estava adorando não ter que trabalhar. 


- Mas nem pense que você vai ficar aqui lendo a Faces, suas obrigações será cozinhar, lavar e limpar. Harrycliffe você vai comigo para o Saara, li no jornal que estavam precisando de vendedores em uma loja de roupas de jeans fabricadas em Touritama. 




Runpert e Harrycliffe conseguiram o emprego enfeitiçando os outros candidatos e por terem uma escolaridade que ia além da 5ª série. Runpert ficou encarregado de cuidar do estoque enquanto Harrycliffe assumiu a função de vendedor. O atendimento de sua primeira cliente não podia ser mais desastroso. 


- Bom dia Moço, vocês têm colete de jeans? 


- Colete jeans? Você está em 1994? 


- Não entendi. 


- Olha minha filha, eu preciso do dinheiro desse trabalho, mas se você quer andar por aí out of fashion eu lavo minhas mãos. 


- O moço está tirando uma com a minha cara? 


- Claro que não, só estou com pena de você, qual o próximo passo? Uma saia jeans, ou pior, um daqueles pavorosos shorts-saia que eram sucesso em 1997? 


- O senhor está dizendo que eu estou fora de moda? 


- Eu não disse nada querida, o espelho é que deve gritar isso para você dia após dia e você não escuta. 


A mulher saiu da loja indignada e praguejando contra Harrycliffe. A próxima cliente não foi diferente, após o pedido inicial Harrycliffe não resistiu e usou o alto-falante da loja. 


- Gente para um pouco, alguém acredita que essa pessoa me pediu para ver um conjunto de jaqueta e bermuda jeans com lavagens em estrias brancas? Eu sei, nem eu que escutei acreditei nisso, mas esperar o quê de alguém que acabou de sair da Loja Mirelle´s né?


Assim foi durante a tarde com Harrycliffe rejeitando e humilhando cada um dos clientes que entrava na loja, ao fim do dia, como não poderia deixar de ser, foi demitido.


Embora chateado com a atitude do amigo Runpert estava demasiado cansado para iniciar uma discussão, tudo o que ele queria depois de passar a tarde carregando pesados fardos de jeans era um bom jantar e uma noite de sono. 


A dupla aparatou na porta da tenda e entrou, encontraram Mione sentada em uma poltrona soprando as unhas das mãos recém pintadas. 


- Vocês chegaram, que bom! Como foi o primeiro dia? 


- Eu trabalhei como um escravo carregando sacolas pesadas e não podia usar magia porque tinham muitos trouxas junto comigo. O Harrycliffe foi despedido por, além de não conseguir vender uma única peça, fazer a loja perder uma enorme quantidade de clientes que ele ofendeu. 


- Você tinha que ver amiga, era o horror! Uma mulher queria ver um bolerinho jeans com aplicações em strass. Eu tive que vomitar nela. 


- Eu te entendo Harrycliffe, se fosse eu tinha lançado um Avada Kedrava imediatamente nessa fulana. 


- Podemos acabar com essa conversa? Eu estou cansado e com fome! O que temos pro jantar Hemmaione? 


- Que jantar? 


- O jantar que você preparou para nós ué. Eu deixei minhas últimas moedas para você compara algo para nós comermos enquanto meu salário não sai. 


- Ai Runpert, eu estava indo no Mercado disfarçada de muçulmana para ninguém me ver, mas no meio do caminho parei em uma lotérica e resolvi tirar a sorte, gastei o dinheiro todo em raspadinhas. Infelizmente nenhuma delas estava premiada. 


Runpert estava furioso, mas a fome era maior ele acabou por conseguir achar um coelho na floresta e fazer um ensopado.




A rotina acabou por ficar estabelecida assim. Runpert continuava a trabalhar na loja de jeans, Harrycliffe não conseguia parar em um emprego e nas duas últimas semanas acabou por inventar uma desculpa de que havia dementadores que o seguiam e o afetavam demasiado, por isso, por mais que quisesse, não poderia sair para trabalhar.


Hemmaione continuava preguiçosa e fazia no máximo alguns sanduíches para o Runpert quando ele voltava para o trabalho. 


Depois de alguns meses sem nenhum avanço na busca pelas Warncruz e tendo que aguentar a preguiça e futilidade dos amigos Runpert já não aguentava mais. Acabou por explodir suas frustrações ao voltar de um dia particularmente carregado no trabalho. 


- Como assim não tem água gelada Hemmaione? 


- Tem sim Runp, olha aí a garrafa com água na geladeira. 


O recipiente continha um filete de água, um pouco mais que um gole. 


- Quem foi que usou esse truque safado de deixar dois dedos d'água na garrafa para não precisar encher de volta? 


- Ora, quem você pensa que nós somos Runpert? - Harrycliffe fez uma cara de grande indignação. 


- Um bando de vagabundos parasitas e idiotas que não querem nada com a vida! Pra mim chega já deu! 


- Como assim Parasitas? 


- Isso que vocês ouviram! 


Harrycliffe puxou a varinha ao mesmo tempo que Runpert. 


- Eu não quero machucar você Harrycliffe, mas se me atacar eu vou revidar. 


- Eu nunca imaginei que um dia chegaríamos a isso Runpert, retire o que você disse! 


- Não retiro e reforço o que eu disse, os dois não valem a pena, estou me matando para conseguir resolver tudo e vocês passam o dia todo sentados coçando os pés. 


- Isso não é verdade! 


- É verdade sim Hemmaione, eu sou o único que não foi afetado pelo feitiço de Voldemort, mas mesmo assim me esforço para tentar acabar com ele. 


- Se é tão ruim assim para você, porquê continua aqui? 


Ao ouvir essas palavras gritadas por Harrycliffe Runpert baixou a varinha e sua expressão de fúria mudou para uma de extrema dor.


- Os dois não fazem ideia de porquê eu luto para que tudo volte ao normal? - Runpert inspirou pesadamente. - Realmente não tenho mais nada para fazer aqui. - Falou isso e se dirigiu a saída da tenda, estava arrasado e trêmulo.


- Não Runpert, não foi isso que o Harrycliffe quis dizer, é claro que nós sabemos..., não Runpert, volta! 


Hemmaione seguiu Runpert até a clareira na floresta, mas só teve tempo de vê-lo lhe dar uma última olhada triste e desaparatar. Ainda em lágrimas a bruxa voltou para a tenda procurando por Harrycliffe, mas ele já tinha se trancado muito silencioso no quarto. A bruxa nunca imaginou que, depois de conseguir se livrar de Lilá, a responsável pela separação definitiva do rapaz que amava seria ela própria. O que seria deles agora que estavam sozinhos?



 

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