Princesa Prometida



Princesa Prometida


A terça-feira passou normalmente para os dois meninos que estavam sentindo falta de Remo, que só chegaria no outro dia. Como Sirius não podia ir, devido à detenção, Tiago não iria acompanhá-lo dessa vez, não podendo, portanto, entrar na passagem do Salgueiro Lutador.


Sirius, entretanto, sentia ainda mais falta do amigo, pois sabia que ele, sendo mais racional, poderia ajudá-lo no seu dilema chamado Debussy. Durante todo o dia, Tiago não deixou de pensar no que o moreno havia lhe contado: as palavras de Sirius ainda ecoavam em sua cabeça. Era muito estranho pensar em um Sirius Black apaixonado. Realmente, para ele chegar ao ponto de assumir isso, a coisa era realmente séria.


Para Sirius, as horas estavam demorando muito a passar. Cada aula parecia ter o dobro do tempo, cada minuto parecia uma hora, e cada hora, um ano. Ele só se acalmou um pouco quando entrou no Salão Principal, na hora do almoço, e enxergou Claire, sentada à mesa da Sonserina. Foi a primeira vez que ele reparou que a menina se sentava ao lado de seu irmão, Regulus. Uma pontada de ciúme e raiva percorreu suas veias. Mas tudo passou quando ela ergueu a cabeça e o encarou.


Tudo pareceu mais devagar, ela levantou os olhos e, quando viu que ele a encarava, um sorriso foi se espalhando por seu rosto até chegar aos olhos. Ele retribuiu o sorriso, também radiante. Eram audíveis os sussurros e suspiros de suas admiradoras quando viram um sorriso tão aberto e sincero nos lábios do moreno, mas ele não percebeu. Claire acenou-lhe com a mão, e ele respondeu assentindo com a cabeça. A sensação daquele instante foi indescritível para ambos: um minuto interminável, apesar de rápido, ou um minuto rápido, apesar de interminável.


Ele se sentou ao lado de Tiago e Lílian. Todos na mesa perceberam a repentina mudança de humor do maroto. Pela manhã, Sirius reclamava de tudo, estava de mau humor... Mas, depois de ver Claire, na hora do almoço, ele havia voltado a ser o velho Almofadinhas de sempre, brincando com todos, rindo e fazendo com que todos rissem. Tiago não deixou de notar a mudança do amigo, mas ele também era o único a saber o motivo. De qualquer forma, era bom tê-lo de volta.


Quando o relógio marcou quinze para as seis, Sirius já estava na porta da sala da Professora McGonagall. Ele ia bater quando uma voz o chamou atrás de si.


– Sirius?


Ele reconheceria aquela voz em qualquer lugar. Era ela. Virou-se sorrindo e encontrou Claire, com o mesmo sorriso no rosto. Ela estava com uma blusa branca e um casaco lilás, tinha os cabelos presos em um rabo de cavalo, bem alto, e usava um delicado colar de prata com um coração de cristal na ponta. Estava realmente linda.


– Oi, Claire! Tudo bem? – ele perguntou ainda extasiado.


– Tudo ótimo, e você? Chegou bem cedo hoje, não? – ela riu.


– Estou muito bem, obrigado. Me desculpe, acabei me adiantando. – Sirius colocou uma das mãos na nuca, tentando se desculpar.


– Sem problemas. – ela respondeu, entrando na frente dele – Espere só eu abrir a porta.


Os dois entraram na sala. Claire primeiro, e Sirius logo atrás. Ele sentia o perfume floral dela e, a cada segundo, sentia-se mais encantado por aquela menina. Ela não fazia força nenhuma para ser linda daquele jeito, e ainda assim, não era arrogante nem convencida. Muito pelo contrário, era uma menina doce e amável.


Sentaram-se à mesa que havia na sala. Sirius queria muito conversar com ela, mas não podia falar com Claire da mesma forma que falava com todas as outras garotas, fazendo-as caírem aos seus pés. Às vezes, o silêncio era melhor.


Ele cumpriu o trabalho, mas desta vez acabou catalogando todos os livros. Aquele era seu último dia com Claire, estava muito desapontado. Precisava, urgentemente, arrumar outra forma de se encontrar com ela. Assim pensando, terminou toda a limpeza, olhou no relógio, eram nove horas, ainda. Então, veio-lhe uma ideia.


– Claire... – ele disse, cauteloso – Você quer... ir a um lugar comigo? Sério, não me entenda mal, é que é um lugar realmente lindo, mas poucos conhecem. Nem sairemos da escola. Por favor. – ele acrescentou, por fim, fazendo com que ela se derretesse.


– Eu não sei, Sirius. Pode não ser uma boa ideia. – Ela disse, com um turbilhão de pensamentos passando pela mente, nenhum deles dizia que ela devia ir, mas isso se chocava com a imagem do garoto à sua frente, que a hipnotizava.


            – Por favor. – Disse ele, olhando profundamente nos olhos da menina. – Venha comigo.


Ela parou por alguns segundos, como se pesasse a proposta. Por fim, virou-se pra ele sorrindo.


– Ok. Vamos. – Disse, sorridente, sem pensar nas consequências.


Ele sorriu e andou até ela. Pegou sua mão, e os dois saíram da sala. Claire se assustou com o toque dele, mas, por fim, acostumou-se com a mão de Sirius na sua, sentia uma segurança que a fazia sorrir.


– Onde estamos indo? – ela perguntou intrigada.


– No lugar mais lindo do castelo.


Quando chegaram a um corredor bem vazio, Sirius parou.


– Chegamos. Entre aqui. – ele disse apontando uma porta.


Aparentemente, era só mais uma sala com algumas poltronas, mas, se alguém chegasse à janela, veria uma bela sacada que dava vista para todo o terreno de Hogwarts. De um lado, havia o lago, do outro, a Floresta Proibida. Viam-se as montanhas azuladas ao fundo e aquele céu muito estrelado.


Claire ficou abismada com a beleza do lugar. Parecia um cantinho que era mais encantado que todo o resto do castelo. A menina olhou para o céu estrelado daquela noite e estava admirando as estrelas quando sentiu que Sirius a abraçou por trás.


– Aquela é a constelação de Cão Maior. – Disse ele, baixo, apontando para uma das inúmeras constelações no céu. – E...


– Aquela é Sirius. – Ela disse, apontando para a estrela antes que o garoto pudesse continuar – A estrela mais brilhante e bonita do céu.


O garoto pegou a mão de Claire que ainda estava estendida apontando para a sua estrela, e a virou para que ficasse de frente para ele. Quando a menina deu por si, uma lágrima de emoção escorria-lhe pela face. O lugar era perfeito, tudo estava lindo, e ela tinha a companhia de quem mais queria... Pena é que tudo tem um porém. Claire baixou o rosto para que o menino não visse que ela chorava. Sirius virou a face dela lentamente, e olhou em seus olhos. Enxugou a lágrima delicadamente e se aproximou.


Os lábios dos dois se tocaram suavemente. Ele passou a mão pelos cabelos negros da menina, enquanto ela acariciava seu rosto. O momento era mágico, parecia uma tela, com o mais belo dos cenários. Sirius soltou-a depois de alguns segundos para ver que ela sorria.


– Eu... amo você. – Ele sussurrou.


Eles se beijaram novamente, mas desta vez ela parou.


– Eu não deveria estar fazendo isto, Sirius. Eu não podia ter-me apaixonado por você, tão facilmente, mas foi algo que não pude controlar. Não podemos ficar juntos, mesmo que eu te ame com todas as minhas forças. – Ela disse rápido, como se soubesse que não conseguiria falar tudo aquilo se demorasse.


– Por que não, Claire? – ele sentiu uma pontada de desespero. Tudo estava tão perfeito!


– Porque... porque... Eu não queria, Sirius... Juro que não, mas... – ela dizia soluçando - Eu vou me casar. – Ela respondeu em prantos.


A garota apoiou-se no peito de Sirius, que parecia ter acabado de levar um banho de água fria. Ela não podia estar casando, podia? Ela era a primeira menina pela qual ele havia se apaixonado de verdade! Aquilo era muito injusto para ser real.


– Me desculpe, Sirius. Por favor. Eu não devia ter me apaixonado por você, mas foi desde o primeiro momento que te vi. Eu não queria que tivesse acontecido. Depois que tivemos esses dias juntos, eu vi que você era tudo o que eu queria pra minha vida. Tudo o que eu sempre sonhei pra mim... eu te amo, mas é errado. Tudo é errado, por minha culpa! – ela disse ainda chorando.


– Você o ama, Claire? – ele perguntou quase desesperando-se com as lágrimas já marejando. Não tinha coragem de olhar nos olhos da menina, assim como ela não conseguia encará-lo.


– Não, Sirius. Eu não o amo. Foi tudo arranjado pelos meus pais. Eu o conheci este ano. Eu amo você mais que já amei qualquer outro. – Suas palavras abrandaram um pouco o coração do moreno.


– Quem é ele, Claire? Termine com ele, ficaremos juntos. Eu nunca amei outra garota como eu amo você! – ele já chorava.


– Ele é... seu irmão, Sirius. Estou prometida a Regulus Arcturus Black. – Concluiu ela, chorando ainda mais.


Desta vez, Sirius teve que se segurar na sacada para não cair. Claire Debussy, a menina que ele amava, ia casar com seu irmão? Era muito ruim para ser verdade. Sirius não sabia do casamento, pois havia saído de casa e, certamente, sua família não diria mais nada a ele. Não tinha palavras para descrever o que estava sentindo.


– Sirius? Você está bem? – ela perguntou, ao  perceber que ele estava quieto demais.


– Não, Claire. Você quer que eu esteja bem vendo que a menina que eu amo vai se casar com o meu irmão, e que eu vou ter de ficar de braços cruzados?!?! Claire, se você não o ama, não se case com ele, por favor! Fique comigo! – ele dizia abraçando a menina – Você disse que queria ter coragem de dizer “não” ao que seus pais impunham a você, faça isso agora. Faça isso por mim, por nós! Não fica com ele!


– Eu não estou com ele, Sirius. Iríamos casar depois que saíssemos de Hogwarts, mas, depois que te conheci, tudo ficou complicado, em uma semana o que eu mais queria era distância de Regulus. – Ela disse, para alívio do outro, que sentia a garota abraçá-lo mais forte – Nem conversar nós conversamos. Ele nunca me encostou um dedo. É estranho, mas somos noivos sem nunca nos termos beijado, sem nunca termos sentido nada um pelo outro. Eu não o amo! – ela disse exasperada.


– Claire, só peço uma coisa: não me deixe até decidir o que quer. Por favor, eu te amo, mas, se depois de pensar, você decidir que é melhor ficar com ele, eu não vou te impedir. Eu só quero que você seja feliz. Só isso. – Disse ele, olhando nos olhos verdes da morena.


– Eu não preciso pensar em quem eu quero. Eu amo você. Este casamento está cancelado, sem nem mesmo começar. Se eu for entrar para a família Black, é bom que meus pais saibam que vai ser por outros meios. Amanhã, eu lhes mando uma coruja. Não importa o que eles façam, desde que você esteja sempre comigo. Eu amo você, Sirius.


Os dois se beijaram com todo o amor que estavam sentindo. Eram a prova viva de que o amor não escolhe a quem amar, e que este pode ser o maior dos paradoxos.


– Eu amo você, Claire. Mais que tudo no mundo. Obrigado por ser minha. Minha Prometida.


Eles sorriram e olharam para as estrelas, que pareciam sorrir de volta para o amor dos dois.

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