Capitulo 4



CAPÍTULO IV





No passado, Harry jamais tivera tempo ou inclinação para dormir até mais tarde. Por isso, surpreendeu-se ao abrir os olhos e enxergar o dia ensolarado. Verificou o relógio e pasmou. Onze e meia da manhã.


Onze e meia?


O chão estava mais duro que na noite anterior. As costas doíam; o pescoço havia endurecido. Harry podia sentir as cicatrizes dos tiros que levara. Sentou-se devagar, esfregando os olhos.


Não lhe ocorreu que Hermione já tinha se levantado, tomado banho e saído, sem que ele percebesse. De forma alguma. O sono de Harry era leve, como o de um gato. Qualquer movimento, durante o dia ou a noite, poderia despertá-lo. Tal qualidade lhe fora muito útil em várias tocaias e vigilâncias.


Infelizmente, o fato de a cama estar vazia indicou que ele havia deixado essa qualidade na Califórnia, junto com seu trabalho de policial. A porta do banheiro estava aberta, uma toalha molhada jazia no assoalho. Harry sentiu-se mal, como se houvesse perdido a pista de um perigoso suspeito.


Precipitou-se ao banheiro, agarrou a calça jeans e vestiu-a. Estava de joelhos, procurando o par de tênis embaixo da cama, quando Hermione adentrou o quarto. Pelo menos, ele pensava que fosse Hermione.


A expressão dos olhos era a mesma, mas todo o resto havia mudado.


Ela usava sandálias, um short bege e uma camiseta justa que moldava a curva dos seios. O boné e o rabo de cavalo davam um ar juvenil ao corpo escultural. Carregava também uma bolsa nova no ombro. Pelo que Harry pôde notar, cada peça de roupa levava o logotipo de Gator Getway.


— O que faz no chão? — ela perguntou, inocente. — Está me procurando?


— Muito engraçado — ele resmungou, levantando-se. — Eu procurava meus sapatos para, em seguida, ir atrás de você. Pensei que tivesse partido.


— Estava fazendo compras. — Hermione mostrou a sacola de plástico, onde encontravam-se o vestido e o par de tênis. — Este lugar é tão bonito à luz do dia! Parece a Disneylândia, mas há dezenas de jacarés em vez de Mickey Mouse. A loja de souvenir é imensa e aceitam cartão de crédito.


— Não aja como se tudo estivesse bem! — Harry vociferou. No fundo, sabia estar exagerando, mas não conseguia controlar o temperamento explosivo. — Enquanto passeava na pequena Disneylândia, não lhe ocorreu que eu podia estar preocupado com seu paradeiro?


— Não seja tolo. Como podia se preocupar, se estava dormindo?


— Pareço estar dormindo?


— Agora, não — Hermione retorquiu. — Mas vinte minutos atrás, quando saí, estava desmaiado. Você nem sequer se movia.


— Sou um policial. — Harry ofendeu-se. — Não desmaio quando durmo. Estou constantemente em alerta!


Hermione jogou a sacola no chão e cruzou os braços. Não sabia o que esperava dele àquela manhã, mas com certeza não previra tamanho exagero.


— Que ridículo. Todos precisam dormir, até os policias. Comecei a pensar que estivesse em coma.


— Se eu estava dormindo tão profundamente, é porque você me exauriu ontem à noite. — Harry calou-se ao assimilar o que havia dito. — Desculpe-me, eu não queria...


— Com licença. — Hermione passou por ele, ultrajada. — Preciso ligar para Adam. Só estava esperando que você acordasse. Sem ofensas, sr. Policial Sempre Alerta.


— Adam? — Harry espantou-se. — Seu irmão? Espere. Não ligue antes que eu... Esqueça. O que vai dizer a ele?


— O que há com você? — Hermione o fitou, como se ele fosse um alienígena. — Vou lhe dizer a verdade, claro. Saí para dar um passeio, me perdi e fiquei sem gasolina. Ele vai mandar alguém me buscar. Pensei bastante e resolvi não mencionar que passei a noite com você. Adam pode ter uma crise. É muito sensível quando se trata de mim.


E todos não o eram?, Harry perguntou-se. Sentiu-se culpado por ter estragado o bom humor de Hermione, porém, fora ela quem desaparecera.


— E se ele perguntar onde está, você vai responder o quê?


— Os empregados de meu irmão são eficientes — ela replicou, fria. — Garanto que me encontrarão cedo ou tarde. Se me der licença...


— Tenho uma idéia — Harry apressou-se. — Gator Getway não é um ponto turístico dos mais conhecidos. Se esperar que alguém a encontre, poderá ficar aqui para sempre.


— Eu sei — concordou, pensativa. Naquela manhã, ela havia desejado passear no carrossel do parque com Harry. Que desperdício de fantasia. — Não tem problema. Irei me ocupar para passar o tempo.


— Diga a seu irmão que está a caminho — Harry sugeriu. — Partiremos tão logo eu tome um banho. Chegará em casa duas vezes mais rápido.


Hermione o encarou com as mãos na cintura. Tentou fitá-lo nos olhos, em vez de apreciar a figura masculina à luz do dia. Com o tórax nu e os cabelos despenteados, Harry era a personificação da natureza em sua forma mais pura.


— E é evidente que você não possui segundas intenções, certo?


— Droga. — Harry respirou fundo e fitou o teto. Odiava aquele trabalho. Se contasse a verdade a Hermione, ela jamais perdoaria o irmão. Ou ele próprio. — Fizemos um acordo. Gasolina e gorjeta. Tenho muito tempo e aborrecimento investidos em você. No entanto, se quiser voltar...


— Ótimo. Rezo apenas para que você encontre a estrada que leva a Palm Beach. — Hermione estava prestes a chorar, mas não daria esse prazer a Harry. Aproximou-se do telefone e deteve-se, pasma. — Esse aparelho é diferente. Trata-se de um antigüidade?


Harry bufou. Caminhou até ela e, gentilmente, afastou-a.


— Eu disco, você fala. Afinal, tenho de fazer jus à minha recompensa.


Para Hermione, o telefonema correu bem, considerando que Adam era paranóico e hipersensível. Quando afirmou que estava bem, ele quis saber se fora raptada. Informou o problema do carro, e Adam perguntou-lhe se havia sido assaltada.


Como a situação piorasse a cada minuto, Hermione contentou-se em dizer-lhe que voltaria para casa, sã e salva. Desligou o telefone antes que ele tivesse um colapso.


— Certo — disse a Harry. — Tudo está sob controle. Não há problemas.


— Oh, sem dúvida — ele exclamou, sarcástico. — Pelo que me contou, imagino que seu irmão esteja tendo um ataque neste momento. Por acaso, serei recebido pelo FBI quando chegarmos à sua casa?


— Não creio — Hermione respondeu, duvidosa.


— Que bela manhã. — A expressão cínica de Harry percorreu o corpo sensual de Hermione. — Você parece uma turista típica. Já havia usado sandálias de plástico?


— Não. É a primeira vez. Estou tendo várias experiências novas desde ontem.


— Ei. — Harry segurou-a pelo queixo. — A ponta de seu nariz está rosada. Sente-se bem?


— É óbvio que sim. Por que não me sentiria bem? — Agora os olhos estavam marejados e Hermione não mais conseguiria reprimir as lágrimas. — Só porque me perdi na Flórida, não sabia colocar gasolina no carro, tampouco usar um telefone de disco, não significa que sou uma idiota. Sou igual a qualquer pessoa. Não é verdade?


Um repentina ternura suavizou a expressão de Harry. Meneou a cabeça e sorriu, traçando a curva dos lábios com os dedos.


— Hermione, vou ser honesto. Você não é, de maneira nenhuma, igual a qualquer pessoa.


— Então, você me acha uma idiota.


— Quieta. — Ele pressionou o dedo sobre os lábios rubros. --- Não me interrompa quando estou falando. Deixe-me termi­nar. Você não é idiota. É única. Imprevisível. É linda o bastante para arrasar o coração de um homem à primeira vista. Em resumo, garota, você é fantástica.


— Sou? — ela murmurou.


— É — Harry confirmou, sincero. A mente dizia-lhe que era hora de tomar outro banho frio. Mas o corpo clamava por algo mais.


Distraído, deslizou a ponta do dedo sobre os lábios carnudos, fascinado com a maciez da fina pele. Observou-a fechar os olhos e suspirar. Ele não devia fazer aquilo. Estava sendo pago para evitar que o mundo se aproximasse de Hermione Granger. Sem dúvida, Harry não realizava um bom trabalho. Alguém tinha de despedi-lo. Imediatamente.


Enquanto sua consciência discursava, ele prosseguia as carícias.


— Gosta disso?


— De sentir seu toque? — Os lindos olhos se arregalaram de medo. Ela não tinha tanta experiência a ponto de apavorar-se. — Gosto. E tão gentil quanto... um beijo.


— Meus beijos — ele disse com a voz rouca — não são gentis.


— Disso, eu não sei. — As palavras soaram sussurradas.


Houve uma súbita descarga elétrica entre ambos, O ar vibrava devido à perigosa energia. Hermione o fitava com intensidade ao roçar os lábios na ponta do dedo de Harry. Pelo menos uma vez na vida, queria esquecer as regras de bom comportamento. Não sabia o que era capaz de sentir, mas tinha certeza de que Harry representava as respostas a suas questões.


— Comporte-se — ele ordenou, devorando-a com os olhos. — Sabe muito bem que não deveria...


— Sei. — Ela deu um passo à frente. O coração batia tão acelerado que parecia saltar do peito. — Estou cansada de obedecer ordens. Nunca teve vontade de fazer algo proibido? Porque acredita que seja a única chance de viver algo novo e tenha medo de desperdiçar a oportunidade?


Harry fechou os olhos. Não adiantou. A imagem de Hermione estava impressa em suas retinas.


— Não mesmo.


— Mentiroso.


— Está brincando com fogo.


— Não. Estou apenas... dançando ao redor dele.


Após respirar fundo, Harry abriu os olhos. Uma nova chama envolveu seu coração. Hermione era linda demais, e ele temia sucumbir àquela beleza.


— Tire este boné idiota.


Ela o obedeceu, ofegante.


— De repente, resolveu ser cordata. — Harry sorriu. — Eu devia me afastar agora. — Roçou seu nariz no dela. — Mas não consigo.


— Nem eu — Hermione confessou.


Segurando-a pela nuca, Harry a beijou. Foi como se uma força estranha tivesse libertado o espírito selvagem que o alimentara a vida toda. O beijo tornou-se famélico. Desesperado, ele abandonou a gentileza para obter alguma satisfação física. Ela tinha sabor de mel, perfume de rosas e... tantas outras maravilhas do mundo.


Após superar o primeiro impacto, Hermione colou seu corpo ao dele. Frenética, acariciava os ombros, o peito musculoso e os cabelos a fim de aproximá-lo ainda mais. Seu corpo estremecia. O medo transformou-se em desejo. Harry descobriu, então, que somente uma experiência ele não havia vivido: o beijo de Hermione Granger.


De súbito, ergueu o rosto, na tentativa de se controlar. Segurou-a pelos ombros, mergulhando naqueles imensos olhos castanhos. Um homem podia afogar-se naqueles olhos.


— Eu lhe disse que nem sempre sou gentil.


— Gostei do beijo. — Hermione não sabia jogar. Além disso, o tremor pelo corpo a dominava. Mais uma vez, viu-se impelida pela urgente necessidade de querer... mais. — Como foi para você?


— Como foi? — Ninguém jamais lhe perguntara isso. Harry riu e baixou a cabeça, frustrado. — Não posso... Senti que... Droga. Não sei responder sem ofendê-la.


— Não ficarei ofendida — Hermione assegurou, ingênua. — Não se preocupe.


— Querida, se sabe o que é bom para você, tenho certeza de que irá me esbofetear. — De forma deliberada, ele recuou dois passos. — Isso tem de parar. Senti que estava a meio caminho do paraíso, o qual jamais pensei em visitar.


Hermione fez menção de se aproximar.


— Não se mova — Harry pediu, aflito. — Ou não serei responsável por meus atos. Você é como ambrosia para um homem faminto. Foi um erro e não me arrependo. Agora vou tomar um banho gelado. Com licença.


A porta do banheiro se fechou. Segundos depois, Harry a abriu.


— Por favor, não saia deste quarto. — A expressão do rosto se assemelhava à de um menino, uma combinação de ternura, confusão e desejo. — Fique aqui. Não aqui, no banheiro, mas perto de mim. Estou bancando o tolo, não?


Enfim, Hermione encontrou uma parede sólida para se apoiar. Seus joelhos não paravam de tremer. Os lábios estavam úmidos e inchados por causa do beijo.


— Sinto dizer que está balbuciando um pouco. Harry?


— Sim?


— Falei sério. Gostei muito do beijo.


Os olhos verdes transmitiam várias emoções: desejo, culpa, incerteza. Ele permaneceu calado, fitando-a até mortificar-se de calor, incômodo e fome da cabeça aos pés. Era uma tortura, e ele com certeza merecia.


— Vai ficar aqui?


— Não irei a lugar algum — Hermione prometeu. Segundos após a porta do banheiro se fechar, ela sussurrou: — Mas, com você, irei até o fim do mundo.





Gator Getway realmente parecia bem mais aprazível à luz do dia. Havia vários campistas instalados ao redor das árvores e espalhados na área verde, próxima à estrada. Atrás do hotel, havia uma lagoa de águas escuras, circundada por arbustos secos è cerca de arame farpado. Vários avisos estavam pregados nos mourões: Cuidado! Jacarés Carnívoros! Não se aproxime!


— Gostaria de ter uma máquina fotográfica — Hermione comentou, apreciando as carcaças enlameadas dos jacarés. — Adam nunca irá acreditar nisto.


— Ainda mais se formos devorados por esses animais famintos.


— Que horror!


Eles visitaram cada uma das três atrações do parque, que mostravam uma variedade de espécies de jacarés. Hermione quis investigar tudo, fascinada pela novidade. Era o mesmo que passear por um pequeno país, habitado por jacarés e crocodilos.


— Não acredito que estou na Flórida — Hermione não parava de dizer, parecendo a deslumbrada Dorothy, na Terra de Oz. — Não sabia que lugares como este existiam. Adam tem de ver isso. Quando penso em tudo que perdi, enfurnada em Palm Beach...


— Duvido que Adam compartilhe seu entusiasmo — Harry comentou, visualizando Adam Granger em seu terno alinhado e sapatos italianos. Era a primeira vez, desde o beijo, que se lembrava do homem e do inevitável fim daquela aventura com Hermione. — Imagino que ele seja... comedido demais.


Harry notou a mancha de barro na camiseta de Hermione, uma medalha digna de sua tentativa de pescar.


— Algumas pessoas não gostam de misturar recreação e sujeira. Estraga a diversão.


— Não consigo imaginar Adam divertindo-se. Quando não está trabalhando, não pára de se preocupar com o trabalho. Mesmo em casa, ele não saí da frente do computador. Você irá conhecê-lo quando chegarmos a Palm Beach. Garanto que ele estará pendurado no telefone ou entretido com números.


Harry não tinha a menor vontade de "conhecer" Adam. O fato traria à tona vários problemas. Adam ficaria furioso, Harry seria despedido e Hermione sofreria ao descobrir que ambos a ha­viam enganado.


O cenário não era promissor, mas Harry decidira atravessar o terreno de areia movediça. No tempo restrito que tinha com Hermione, ele evitaria pensar no inevitável. Mais alguns minutos, dizia a si mesmo. Depois, ligarei para Adam e colocarei um fim em tudo.


— Que tal passear no carrossel com um homem que sofre de náuseas? — ele a convidou, de repente. — Está disposta?


Hermione riu e observou o enorme carrossel.


— Pois você adivinhou meu pensamento. Veja como as en­grenagens parecem prestes a desmontar. Não creio que seja tão rápido a ponto de causar náuseas.


Quando o carrossel parou, Hermione sentou-se em um jacaré de plástico. Harry ficou parado, fitando o desenho do animal sor­ridente. Apelou para o que lhe restava de dignidade e agar­rou-se à barra de ferro, pronto para montar no brinquedo.


— Estou com medo — explicou-se.


— Que covarde. Não fique parado. Monte em algum bicho. Por que não experimenta o guaxinim?


— Sou alérgico a pêlos. — Harry cerrou os dentes quando o carrossel começou a girar. — Tarde demais.


---- Um policial tão valente com medo de um simples carrossel.


— Não estava brincando quando disse que enjôo facilmente. — Harry pulou no animal de plástico. — Rodar em círculos não é meu passatempo favorito.


— Vou ajudá-lo a superar o problema — Hermione ofereceu-se. — Mantenha a mente em outra coisa, oficial. Concentre-se.


Concentre-se, Harry repetiu em pensamento. Que excelente idéia, considerando que o objeto de seus pensamentos era uma bela morena, usando roupas leves e sedutoras. As mechas castanhas dos cabelos dançavam com a brisa em volta do rosto angelical. O sorriso largo revelava a entrega ao momento. Algo tão simples como passear de carrossel significava uma exube­rante viagem à herdeira de Palm Beach.


Hermione reparou em um menino que "pilotava" um avião em miniatura. Ele imitava o som do motor e ria de felicidade.


— Adoro observar crianças — ela disse a Harry. — São tão espontâneas. Deixam a imaginação fluir e não ligam para o que os outros pensam. — Hermione o encarou, pensativa. — Não seria maravilhoso se todos nós pudéssemos seguir nossos impulsos?


— Não, se você for um bandido — Harry argumentou.


— Pare de agir como policial. Estou falando de pessoas boas, Harry. Se voltássemos a ser crianças, poderíamos aproveitar cada coisa simples que o mundo tem a oferecer. Você não acharia... — ela riu quando o boné voou ao vento — divertido?


— Acredita que devamos seguir nossos impulsos sem ligar para o que os outros possam pensar de nós?


— Acredito. — Hermione suspirou. — Em um mundo perfeito, claro. A consciência de Harry voltou a discursar. Não devia fazê-lo, mas nada o impediria.


— Só por um instante, vamos fingir que o mundo é perfeito. — Inclinou-se e envolveu os lábios de Hermione com os dele. O beijo foi voraz, tal qual a última refeição de um condenado.


Provou-a em total desespero, estimulando a erótica experiência. Sentiu-se subitamente inebriado, uma sensação que já havia vivido. Estava também assustado, um sentimento que nunca vivera. Ficou zonzo, zangado consigo mesmo e ansioso para experimentar mais. O desejo parecia incomensurável. Tentou imaginar-se sozinho, sem a existência de Hermione. Não conseguiu. Contudo, sabia que o final estava próximo. Sua pele queimava como se estivesse em contato com labaredas. O mundo girava e girava...


Quando o beijo terminou, Hermione o encarou, sabendo que seu sonho se tornara realidade. Harry havia perdido a inocência, mas não o charme. Ele conhecia as mazelas do mundo e, ao mesmo tempo, conseguia demonstrar força e carinho.


Sentada no jacaré, Hermione percebeu-se completamente seduzida. Harry não planejara o beijo; ele o fizera a despeito da própria moral. E parecia tão surpreso quanto ela.


— O passeio acabou — avisou o adolescente que operava o carrossel. — Já faz um tempo. — Ele sorriu, matreiro. — Por que não pedem um quarto no hotel?


O passeio acabou, Harry pensou. Que garoto perspicaz.


— Oh, meu Deus. — Ruborizada, Hermione baixou o rosto. — Esse deve ser um dos perigos de ceder a impulsos.


— Um deles, com certeza — Harry murmurou. O outro relacionava-se ao desejo ardente, mas ele não pretendia ceder a este.


Ao descerem do carrossel, Harry notou o sorriso malicioso do adolescente.


— Por menos do que isso, eu o prenderia, garoto.


Hermione puxou-o pelo braço.


— Não pode prender as pessoas por causa de um sorriso.


— Sei disso. Aonde que ir agora, chefe?


— Aquela mesa de piquenique sob a árvore. — Hermione endireitou os ombros. — Tenho uma proposta a lhe fazer. Ela surgiu de repente, como uma visão.


— Oh, meu Deus — Harry parodiou-a, temendo o pior. — Não ouse. Do jeito que estou, é bem provável que eu aceite.


— Não é esse tipo de proposta. Que espécie de mulher pensa que sou? — Ela sorriu, maravilhada. — Adorei dizer isso. Sempre esperei por essa oportunidade.


— Eis a resposta: meiga, emotiva, sensual. Inexperiente, mas muito dadivosa. Bonita, lábios macios... — Espantado, Harry percebeu que aquele tema não podia surgir entre o guarda-costas e sua protegida. -— Devo ter batido a cabeça — ele resmungou. — Podemos ficar alguns minutos em silêncio para que eu organize meus pensamentos?


-- Você fica em silêncio. — Hermione o arrastou até a mesa e sentou-se no banco. — Eu falo. Acomode-se e não se assuste. Trata-se de uma proposta de negócios... mais ou menos.


Ele a observou, desconfiado. Hermione estava animada e excitada ao extremo. Sabia que ela gostara do beijo, mas aquela atitude ia além de um passeio no carrossel.


— Se seu irmão estivesse aqui, ele apreciaria essa proposta? — arriscou, temeroso.


— Se Adam estivesse aqui, ele teria desmaiado quando você me beijou. Aliás, meu irmão não vai saber dessa proposta. Pare de se preocupar com Adam, Harry.


— Você não entende, Hermione. Não posso parar de pensar em Adam...


— Adam — Julie o interrompeu — não está aqui. Eu estou. Por que tanto interesse nele? Meu irmão não tem nada a ver conosco.


— Está errada. — Foi tudo que Harry pôde dizer.


— Tem razão — Hermione concedeu. — Não fui justa. É claro que me preocupo com Adam. Por isso, vou ligar para ele agora e contar-lhe que não voltarei para casa.



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