Marry Christmas (parte II)



O dia passou rápido e logo a noite encobriu Hogwarts com um manto de escuridão. Ficou frio. Harry reabriu os olhos e sentou-se na cama silenciosamente, verificando se os colegas no dormitório permaneciam adormecidos. Rony soltou um ronco particularmente alto e se virou de lado, chupando o dedo. Não foi percebida nenhuma outra menção de movimento. Harry calçou os sapatos e levantou-se sem fazer barulho. Vestiu o casaco vermelho e apanhou a capa. Poucos instantes depois, o retrato da Mulher Gorda lhe abria passagem, e ele se afastou do Salão Comunal, sem se dar conta de que alguém saíra atrás dele. Neville seguia quase correndo, esgueirando-se pelos corredores como a sombra de um gato (um gato sonolento e um tanto desastrado). Chegando próximo à primeira escada a partir do Salão, Harry jogou a capa de invisibilidade sobre si e desapareceu na penumbra, despistando qualquer olhar.
O bruxo avançou pelos degraus, por mais corredores e escadarias. A essa altura ninguém mais iria vê-lo e o som dos passos ecoava abafado pelas paredes. Chegou aos jardins. Tudo era iluminado por um luar brando e azul. Uma coruja branca passou voando à distância (talvez fosse Edwiges, dando um passeio fora do corujal) e, sentada na borda da fonte, estava uma garota de cabelos negros presos numa longa trança.
– Chegou faz muito tempo?
– Uns minutos. – Selene sorriu – E o que vai dizer se alguém te vir aqui?
Ele abriu os braços, pondo mais à vista o pijama por baixo do casaco.
– Eu sou sonâmbulo.
Ela riu.
– E você?
Selene tirou a varinha do bolso e brincou com ela, balançando-a no ar.
– Tenho treinado azarações pra confundir. Se alguém me vir, vão pensar que sou a Dama Cinzenta.
– Você é meio doidinha, viu...
– Só um pouquinho. – riu de novo.
– E o que tinha pra me mostrar?
– Você gosta de plantas, né?
– Gosto, mas...
– Então me siga.
Ela mal terminou de falar e levantou-se, andando rápido como se estivesse com pressa. Acompanhou-a por um bom tempo, se afastando do castelo. Um arrepio percorreu-lhe a espinha quando percebeu que passaram pela cabana de Hagrid e iam lentamente percorrendo uma trilha na orla das árvores.
– Quer que eu entre na floresta?! Não, não! Não mesmo!
– Ei, aonde foi a tão famosa coragem grifinória?
– Ficou lá em cima da minha cama!
– Já vim aqui antes, esse caminho é seguro. – viu-o olhar em volta, desconfiado – Não confia em mim?
Não que não confiasse, mas... entrar na Floresta Proibida sem nenhum motivo claro... definitivamente não queria fazer isso. Desde cedo a intuição dissera que aquele encontro noturno era uma má idéia, mesmo essa não sendo a primeira vez que eles faziam isso.
– Vem.
Hesitou um pouco, e acabou aceitando a mão que a bruxa lhe estendia. Depois disso era difícil calcular o quanto andou, afundando cada vez mais na mata. A partir daquela área não havia neve, pois os flocos eram bloqueados pelas copas das árvores altas e não alcançava o chão, e a trilha serpeava num ziguezague irregular, passando sob raízes velhas e casualmente se perdendo no mato escuro. Ao longe, avistou um clarão.
Já acostumado com o breu da floresta, a luz lhe pareceu forte demais e ele trincou os olhos. Mas bastou pisar uns passos a mais e todo o cansaço da caminhada evaporou. Um perfume doce pairava no ar.
Campanula Lumini, também chamadas de estrela-da-meia-noite. Só desabrocham uma vez por ano.
A tentação o venceu e ele se abaixou para ver mais de perto. Eram flores. Uma clareira aberta repleta de flores em forma de sino, cujas pétalas delicadas irradiavam um lume belo e confortante.
Olhou em volta. Um jardim oculto se abrindo em pleno inverno, era simplesmente magnífico. Ao seu lado estava Selene. Ela sorria.
– Feliz natal.
– Feliz natal...
Ainda tonto com aquele presente inusitado, abraçou a garota. E no momento em que seus lábios se tocaram fechou os olhos, se esquecendo por um instante de todo o resto, resto que parecia sem valor frente ao beijo imerso naquele lago de luz florescida.

Na manhã seguinte, de volta ao Salão Comunal grifinório, dois estudantes discutiam enquanto iam descendo as escadas do dormitório.
– Ele saiu com a Selene de madrugada e se embrenhou na Floresta? Fala sério!
– Estou falando sério, Rony!
– Tava era sonhando, isso sim!
– Não foi sonho. No começo pensei que ele estivesse me seguindo, mas aí eu pus a capa e ele passou por mim direto, acho que nem tinha me notado sair na frente.
– E você saiu por quê, Harry?
– Já disse que eu precisava ir no banheiro!
RONK-Fiiiiuuu
O ruivo se virou, olhando para a poltrona onde Neville roncava, dormindo de pijama com o casaco por cima e os pés sujos de pólen brilhante.
– Acredita em mim agora? – Harry perguntou.

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