Singing a Silly Song
– Dá mesmo pra acreditar? Porque se dá, eu não consigo!
– To na mesma, Harry... Uma armadilha pro Malfoy, cara, foi brilhante!
– Isso sem falar naquela sua poção que ela salvou.
– Eh, Hermione, você perdeu o posto de ‘maior sabe-tudo’...
– Ei! – reclamou a bruxa – Eu não sou uma sabe-tudo!
= Ah, claro que não é... – disseram os outros dois em coro, rindo.
– E aí, como vai... – começou Fred.
– ...O nosso trio favorito? – continuou George.
Os gêmeos Weasley se aproximaram por trás, dando tapinhas nas costas de Harry e do irmão caçula. ...E completando as frases um do outro, como já se tornara costume.
– É um belo dia
– Pra passear por aí.
– Será que podemos ir junto
– Ou nós estamos interrompendo
– Algum assunto importante?
...
– Ced... Ced, acorda... Ced!
Cedwick ignorou a mão que sacudia levemente seu ombro e a voz que o chamava, enfiando-se ainda mais debaixo das cobertas. Nenhum sussurro conseguiria desperta-lo daquele sono profundo que mais lembrava uma breve hibernação. Mas a garota não desistiu.
– Muito bem, Cedwick Fox, eu realmente não queria ter que fazer isso, mas você está me obrigando.
Ela se apoiou na cabeceira da cama dele, agachou-se próxima à sua orelha e...
– GAAAH! – ele sentou-se num pulo, fazendo uma careta de sono ao ver a colega ao lado tentando conter as risadas – Pelos chapéus pontudos de Merlin! Que idéia foi essa de soprar no meu ouvido, Ene?!
– Você não quis acordar, eu tinha que fazer alguma coisa.
– E o que é que você tá fazendo no dormitório masculino?!
Selene deu de ombros.
– Você quer dizer, o que é que eu estou fazendo ou o que é que eu vim fazer?
– Os dois!
– Bem, eu só vim lhe acordar mesmo... Foi você quem pediu ontem, lembra? – ela largou-se confortavelmente no colchão macio do colega – Mas agora estou rindo da sua cara.
– Ora, sua... Ene, vem cá! Volte aqui, Selene Blite! Volte aqui e lute como um homem!
– Eu sou mulher, seu burro!
Ela riu, enquanto corria ao redor das camas dos outros alunos e pelo dormitório inteiro e ele saía correndo atrás dela. Pareciam duas crianças felizes brincando de pega-pega.
– Te peguei! – ele abriu um sorrisinho maroto quando conseguiu prensar Selene contra o espelho da parede – Tá pronta pro seu castigo?
– Calma, Ced... Você não está pensando em... Não! – ela se arrepiou toda quando sentiu a mão dele passear atrevida pelo seu pescoço – Kkkkk!! Cócegas não, Ced! Kkk!! Pára!! Isso é golpe baixo! Kkkkkkkk!!!
– Ei, olha o barulho!... – exclamou a voz de Sillas Wandon em meio a um bocejo.
Eles precisaram fazer muita força para conter o ímpeto de rir da careta de 'zumbi recém-saído da cova' de Sillas. Mas ele não fôra o único acordado pela algazarra do duo; agora um terço dos ocupantes restantes no dormitório enfiavam as cabeças debaixo dos travesseiros de penas ou soltavam resmungos sonolentos. Cedwick soltou Selene, agora ambos com um sorrisinho constrangido no rosto; pensando bem, enquanto ela já estava com a farda escolar completa (menos a capa), ele continuava descalço, descabelado e usando aquele pijama verde-escuro de algodão.
– Ops, acho que essa é minha deixa pra ir embora... – Selene afastou-se da parede e tentou desamassar um pouco a saia de pregas.
– Vai direto pro Salão?
– Vou passar no meu dormitório primeiro, ainda tenho que pegar a minha lista de natal. Te vejo na hora do almoço, no Salão Principal, ok?
– Ok.
Selene saiu pela porta negra em estilo gótico e entrou pela outra que ficava à direita, idêntica à primeira. O dormitório feminino da Sonserina era, na opinião dela, um dos lugares mais legais de Hogwarts. Decorado com as cores da Casa e repleto de uma beleza sutilmente fantasmagórica, era muito parecido com o dormitório masculino, mas ao invés de cabides ao lado das camas de ébano lustrado cada garota contava com duas gavetas embutidas na cabeceira e uma pequena prateleira e (assim como no dormitório masculino) uma porta do guarda-roupa que ocupava dois terços da parede lateral. O restante dessa mesma parede e o canto da que se unia a ela eram preenchidos por espelhos. Havia um lustre cristalino no teto, cujas velas que só eram acesas durante a noite possuíam bruxuleantes chamas verde-esmeralda. Mas o que Selene mais gostava ali eram as janelas, grandes e finas, indo desde o chão até o teto e ocupando o espaço da parede entre cada cama; o dormitório ficava logo abaixo das masmorras e, apesar disso, aquelas janelas góticas mostravam através do vidro enfeitiçado uma bela vista do Lago Negro e dos transeuntes que passeavam por lá do lado de fora, deixando a luz branca e nublada do inverno adentrar o recinto durante o dia.
A primeira gaveta de Selene fez um barulhinho rangido quando ela a abriu. Estava abarrotada com material escolar. Ela puxou alguns pergaminhos do fundo e os depositou sobre o edredom verde, procurando dentre eles qual seria a lista que procurava. Devia estar por ali em algum lugar... Achou.
A figura esbelta de Pansy Parkinson passou por ela trajando uma babylook com estampa de ursinho e um shortinho branco de pijama, quando Selene já estava com a lista nas mãos.
– Já está acordada, Blite?
– Estou, e pelo visto você também.
– Mais ou menos, Blite, mais ou menos...
Pansy andou até o espelho mais próximo com uma escova nas mãos e começou a pentear os já impecáveis cabelos cortados tipo chanel, cem vezes, como ela fazia todas as manhãs. Selene não entendia como alguém com um cabelo tão liso e cujo comprimento não chegava sequer aos ombros podia ser tão exagerada, mas depois de três anos e meio assistindo aquele ‘ritual’ ela acabara se acostumando.
– Ei, Parkinson...
– Que foi? – ela respondeu sem parar de se pentear.
– O que você acha que os Campeões Tribruxo vão ter que fazer no segundo desafio?
– Não faço idéia. Mas se quer saber, eu estou mais preocupada é com o tal Baile de Inverno. Não tenho nenhuma roupa que sirva numa ocasião assim, acho que vou ter que pedir à minha mãe que compre alguma coisa.
– Ah...
– Pera aí, Blite... – Pansy dirigiu-se até a janela que Selene olhava e apontou para o grupo de alunos usando cachecóis vermelho e dourados – Aqueles ali são os alunos que sentaram na sua mesa na aula de poções?
– São sim.
– Você pirou de vez? Se misturando com a Grifinória? Aquela gentinha não merece nem o ar que respira! Metade é sangue-ruim, um quarto deles é mestiço e o quarto restante é traidor do sangue!
– E você conseguiu essas estatísticas aonde, eu posso saber?
– Você não está pensando em chamar algum grifinório pra ir ao baile com você, está?
– Ainda não sei, talvez.
– Ih... o Draco não vai gostar disso...
– Que se dane o Draco, Parkinson! Eu não tenho nada a ver com ele!
– Que coisa feia de se dizer do namorando...
– Pela última vez: Não estamos namorando! E se você faz tanta questão, vê se fica com ele e se dane também!
Selene bateu a porta do dormitório e irrompeu para fora do Salão Comunal, sem se importar com a expressão mortificada de Pansy.
...
– E então, vão nos contar sobre o que estão falando...
– ...Ou é um assunto particular que não pode ser compartilhado conosco?
– A gente tava conversando sobre a aula de poções.
– Ah, tá bom, maninho. Mas o que foi que o velho Snape fez para a aula ficar interessante?
– Ele? Nada, como sempre. – Harry fitou o céu, pensativo – É que a gente se sentou na mesma mesa que o Ced e a Selene e eles...
– Selene? A tal “garota-serpente”?
– Ei, não precisam falar assim, até que ela é...
– Escamosa?
– Não, ela é...
– Venenosa? – sugeriu Fred.
– Nojenta? – agora quem falou foi George.
– Traiçoeira? – Fred.
– Sonserina? – George.
= Isso aí! – os dois.
– ...Ela é legal...
– Wow... George, acho que o Harry tá precisando refrescar as idéias.
– Que tal uma música pra animar?
– Legal, vai servir. E é um, é dois...
– Que história é essa de ‘música’? – indagaram Harry, Rony e Hermione ao mesmo tempo.
– ...é três, e é já!
E, para o terror dos ouvidos de Rony, os gêmeos começaram a cantar:
We are here now
And listen, griffindors
We’ve in chest a brave heart
And good ears behind the door
And listen, dear friends
About that cute girl,
Belong she our House?
I think no, and you still
Want to think as lab mouse?
So, rest a question: is she who, after all?
I know, a witch
Moreover, a doll?
…or a porcelain troll?
And don’t fool yourself
The grace is a fake
As we said, she’s not an elf
Is only a pretty snake!
– Aguamenti!
Ninguém pareceu ver de onde veio aquele feitiço. Viram apenas o imenso jato de água que atingiu os gêmeos Weasley por trás com a força de um torpedo, fazendo ambos caírem de cócoras no chão. E enquanto George se repunha de pé pingando como uma goteira e Fred dizia algo do gênero “Eu sei que a gente é fogo, mas assim já é demais!”, ninguém além de Hermione pareceu notar quando Harry saiu correndo sabe-se lá para onde.
E ele realmente precisou correr bastante para alcançar a garota de trança que agora apenas caminhava pela orla do Lago.
– Sabia que tinha sido você. – ela o ignorou e continuou andando – Ei! Selene, espera!
– Pare de me seguir, Potter.
– Como é que é?! Você de repente dá um banho no Fred e no George e não vai nem falar comigo?
– Ah, sim... Eu esqueci que você é ofidioglota.
– Hã?
– ...E é por ser ofidioglota que você entende o que eu digo, não é, Potter? Afinal de contas, “eu sou uma cobra”.
– Selene, eu...
– Eu ouvi a musiquinha que aqueles dois estavam cantando. Imagino que deve ter parecido muito engraçado, não é? E eu achei que pudéssemos ser amigos... – a voz dela estava trêmula ao falar; estava usando todas as forças que tinha para não deixar que as lágrimas escorressem – Não ligue, eu fui burra mesmo. Mas seria gentil da sua parte e da parte deles se me deixassem em paz!
– Você acha que pode se livrar de mim assim, de uma hora pra outra?
– Não acho, Potter, eu quero. E acredite, sempre arrumo um jeito de conseguir o que eu quero.
Ela saiu andando para longe dele, sem esperar por uma resposta. E Harry continuou ali, parado, pensando no que fazer. Mandar um bilhete pedindo desculpas depois? Correr atrás dela naquele momento mesmo? A única coisa sobre a qual tinha certeza absoluta era a vontade quase insana que sentia de matar Fred e George.
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