CAPÍTULO DEZESSEIS



CAPÍTULO DEZESSEIS


 


Esperar não era algo fácil para Harry. Uma vez que ele tomava a decisão, agia.


Cada segundo sem Gina era como se fossem dias. Arrastados.


Finalmente, na quarta-feira, recebeu a mensagem que estivera esperando de Luna.


Ela está em casa.


Vinte minutos depois, ele bateu à porta de Gina.


Luna atendeu.


- Boa sorte. - desejou e foi embora de casa.


- Luna, quem é? - perguntou Gina da cozinha. Harry fechou a porta.


- Sou eu.


Ouviu um estrondo na cozinha.


- O que aconteceu?


- Não esperava que fosse você. Derrubei a caneca. - Cacos de louça espalhados por toda parte. E ela estava descalça.


- Fique aí. Vou limpar.


- Não. A cozinha é minha. Eu quebrei a caneca. Eu limpo.


- Eu estou de sapatos e você não.


- Pare de mandar em mim.


- Gina, deixe-me fazer isso por você. Não vai se machucar por causa de orgulho, vai? Não estou tirando sua independência. Estou apenas sendo sensato.


Ela assentiu.


Ele reuniu os cacos numa folha de jornal e jogou-os no lixo.


- Então? Como vai? - Harry perguntou.


- Bem, obrigada, e você?


- Morrendo de saudades de você.


- Vai se acostumar. Não sirvo para você.


- Muito pelo contrário. Desde que você desapareceu, minha secretária quer pedir demissão e os juizes da minha área têm vontade de me estrangular. Sou um homem melhor quando estou com você, Gina.


- Não. Estamos fazendo a coisa certa.


- Não, não estamos. Essa é a sua escolha, não a minha. Você nem mesmo discutiu o assunto comigo.


- É melhor para nós dois.


- Como pode pensar assim?


- Porque não me encaixo no seu mundo.


- Gina, conhecer você é gostar de você. Meu ambiente de trabalho pode ser obtuso, sim, lento em assimilar mudanças. É preciso dar tempo às pessoas para conhecerem você.


- Tempo? Como eles fizeram no baile? Até você agiu mal aquela noite. Contou apenas sobre o meu trabalho no museu, pois o outro não é bom o suficiente. O que prova que você se sente desconfortável com o nosso relacionamento.


- Então, por que convidei você para ir comigo? Não foi nada disso.


- Foi o que então?


- Gina, eles precisam de tempo para conhecer você. Estava tentando arranjar tempo para que conhecessem você e a amassem antes de ouvir falar em vendedora de mercado. Desse jeito, você não teria de enfrentar o preconceito logo de cara.


Ela queria acreditar nele. Mas estava muito assustada.


- Olha, não havia contado antes a você. Quando comecei a estudar Direito, tive um colapso nervoso. Precisei fazer terapia para superar. Embora meu pai e meu irmão sejam advogados, com eles é diferente. São da vara de família. Eu já sabia que não queria lidar com esses casos emotivos. Então escolhi direito comercial, pensando que seria um desafio. Mas odiei a arrogância dos estudantes que conheci. As mentiras, o modo como atropelavam os outros, ganância pura.


- Mas é isso o que eu faço. Combato os atropelamentos, a ganância.


- Você, Harry. Mas os outros, não. Os outros são como os estudantes que eu conheci. Eles pegam um caso mesmo que o cliente esteja errado. É tudo um show. O que importa é vencer. O que os motiva são os detalhes da argumentação e o fato de poderem provar como são espertos. Não quis fazer parte desse mundo e não quero agora. Especialmente depois do meu julgamento. Draco era completamente culpado. Mas se livrou. E eu saí com uma mancha em meu nome.


Ele procurou falar gentilmente.


- Diga-me, Gina, se eu lhe pedisse que escolhesse entre mim e seu trabalho, como você se sentiria?


- Você acha que estou lhe pedindo isso?


- Você disse que não pode lidar com o meu mundo. Desse modo, ou eu perco a mulher que amo, ou perco o trabalho que amo. Qualquer coisa que eu faça, estarei perdendo. Você está me dando um ultimato.


- Eu... não estou lhe dando um ultimato.


- Você nem sequer está me dando a chance de escolher, Gina. É tudo ou nada. Se eu lhe dissesse que a amava, mas não conseguiria lidar com a sua barraca de mercado, o que você faria?


Ela mordeu o lábio.


- Isso não é justo.


- Mas é exatamente o que disse a mim, sobre o meu trabalho. E espera que eu aceite isso, sem ao menos conversarmos a respeito. Isso é justo?


- Não vai dar certo entre nós, Harry. Vou arrastá-lo para baixo. E você vai acabar me odiando por eu ter atrapalhado a sua carreira.


- Eu jamais odiaria você, Gina.


- Iria me odiar, sim. Eu sei como é ter uma carreira destruída. Sei o que é fracassar, ver tudo aquilo que levou tanto tempo para construir virar pó. As pessoas virando as costas e desdenhando você. Eu jamais me perdoaria por colocar você numa situação assim. Sábado, por exemplo, eu não estava usando as roupas certas, não tenho uma ocupação respeitável aos olhos de seus colegas e ainda tenho uma mancha em meu nome. Mesmo que eu seja inocente, as pessoas pensam o que você também costumava pensar: que um bom advogado me livrou da encrenca.


Ela soluçou.


- Eu os escutei falando sobre mim, falavam alto, para eu ouvir cada palavra do que diziam. Eles pensam que sou uma criminosa.


- Gina, você não é uma criminosa. Foi uma fofoca idiota. Ignore isso.


- Se afetasse apenas a mim, eu poderia ignorar. Mas isso vai afetar você, Harry. Vai arruinar sua reputação. Irão desprezá-lo por minha causa. Advogados que tenham esposas mais aceitáveis serão promovidos na sua frente, mesmo que você seja melhor do que eles. É um mundo fechado. E eu sempre vou estar do lado de fora. E, se ficar comigo, estará também do lado de fora. Assim como fizeram com seu padrinho.


- Estava esperando você tocar nesse assunto. - Ela empalideceu.


- Quer dizer que você...?


- Eu sei cada palavra do que foi dito e por quem. Já tive uma conversinha com essas pessoas.


Harry não deixara se intimidar. Quando ele acabou sua admoestação, as três mulheres envolvidas estavam profundamente envergonhadas. Ele estava convicto de que jamais elas voltariam a atacar o caráter de alguém.


- Eu disse a elas que você foi completamente honesta no episódio do julgamento. E que, não encontrando o verdadeiro culpado, a justiça a deixara muito mal, assim como a imprensa havia passado uma impressão equivocada de você. E que, se eu ouvisse qualquer outra mentira sobre você elas teriam de encarar um processo por difamação. E não encontrariam quem as defendesse.


Gina arregalou os olhos mal acreditando no quanto ele a havia defendido.


- Mas elas nem me conhecem. Por que disseram aquilo?


- Digamos que você tenha colocado algumas mulheres fora da disputa. Que elas tenham ficado um pouco aborrecidas por você ter conseguido o que elas não conseguiram. Não ache que estou me pavoneando, por favor. Não estou dizendo que todas as mulheres querem beijar o chão que eu piso... mas algumas estavam de olho em mim. Parece que sou um solteiro cobiçado.


- O melhor peixe do prédio. Foi como elas disseram. Eu não poderia ter pescado um melhor...


- Gina, você não é interesseira. Você é tão independente. Ignore-as. Elas apenas não engoliram que eu não tivesse me interessado por alguma delas e tivesse dado como desculpa meu trabalho para mantê-las afastadas. Depois que você entrou na minha vida, sem ao menos se esforçar, elas não perdoaram...


- Quer dizer que elas estão com ciúmes? De mim?


- É claro. Imagina só. Elas passam o dia vestidas de preto. Monocromáticas. Linho e lã. Você entra com sapatos rosa-choque e uma echarpe super sensual de organza. Os homens calculavam quanto tempo levaria para despir você, e as mulheres ficaram frustradas por não terem a ousadia de se vestir assim.


Ele estendeu a mão e sorriu.


- Vamos nos sentar e eu vou lhe contar sobre Sirius.


Sentados no sofá, um pertinho do outro, Harry começou a explicar.


- Sirius é o melhor amigo do meu pai e também o melhor advogado de sua geração. Estiveram na faculdade juntos. Todos pensavam que ele conseguiria ser membro do Conselho de Advogados da Rainha bem jovem. E, um dia, Sirius entrou em um bar e escutou uma mulher cantando. Ele se apaixonou pela voz dela. Convidou-a para tomar um drinque e foi amor à primeira vista. Ela havia se diplomado na Real Academia de Música e ensinava piano. Mas todos os colegas de Sirius focalizaram o fato de ela cantar em bar, o que não era lá muito respeitável.


Do mesmo modo que uma vendedora de roupas usadas, pensou Gina.


- Ela usava roupas com cores berrantes e chapéus extravagantes. Todos preferiram olhá-la como uma desmiolada e Sirius como um tolo. Mas Sirius não se importou com o que pensavam. Ele se casou com Natasha e estão felizes até hoje.


Que lindo! Mas ele só se esquecera de mencionar uma coisa.


- Ele não conseguiu ser membro do Conselho de Advogados da Rainha.


O maior sonho de Harry.


- Ele não fez mais questão disso. Deu-se conta de que não era importante. Tomamos um drinque ontem. Ele me disse que estar no topo não é tudo. É possível ser um bom advogado sem ser membro do Conselho. E também disse que, se tivesse escolhido isso no lugar da minha madrinha, teria se arrependido pelo resto da vida.


- Mas essa foi a decisão dele. - Gina respirou fundo.


- Dela também. Sirius conversou com Natasha ao chegar em casa, e ela me telefonou para uma conversa de madrinha. Ela contou que já se sentira culpada por ter prejudicado Sirius, mas se deu conta de que os dois teriam ficado imensamente tristes se tivessem desistido um do outro. E ele faz diferença na vida das pessoas. Ser membro do Conselho não é lá grande coisa.


- O que você está dizendo? Você queria ser membro do Conselho!


- Ainda quero. Mas não a todo custo. Não a qualquer preço. Eu achava que Sirius poderia estar secretamente desapontado por não realizar seu pleno potencial, mas ele me disse duas coisas. Primeiro que não estava desapontado e nunca estivera. E a segunda: potencial não significa trabalho, mas a sua vida inteira.


Harry a olhou diretamente nos olhos.


- Nesses últimos três dias, eu tive uma vida pela metade. Fiquei arrasado sem você. E se o resto da minha vida tiver de ser assim, desisto da advocacia. Renuncio.


- Mas você trabalhou muito para chegar onde está.


- Costumava pensar que o trabalho era tudo. Mas agora encontrei você, Gina. Quero você na minha vida, para sempre. Como Sirius e Natasha. Quero uma vida plena, com você. Se eu tiver que abandonar a advocacia, vou me sentir muito mal, mas me sentirei pior sem você. Você vem em primeiro lugar. Eu te amo. Não importa o que aconteça no mundo lá fora, não importa as desgraças que eu ouça no tribunal, sei que há um mundo bom, porque você existe. Posso encarar qualquer coisa se puder voltar para casa e para você. Minha amiga, minha amante. Aquela que me ensinou que há mais vida além do trabalho.


Ele desistiria do trabalho dele por ela. Bem, se ele podia ser tão corajoso assim, ela também poderia.


- Você não terá de desistir de nada. No sábado, elas disseram que Sirius era um exemplo. Talvez estejam certas. Ele é um exemplo de como você pode ter uma parceira inadequada ao seu mundo e, ainda assim, realizar o trabalho que você ama, e ser bom nisso. Um exemplo de como ter tudo. Eu te amo. Senti muito a sua falta. Pensei que iria enlouquecer.


Eles se abraçaram. E se beijaram.


- Gina, você me fez passar por maus momentos.


- Sinto muito.


- Quero uma prova.


- Não posso dar.


- Por que não?


- Estamos no lugar errado.


Os olhos dele se encheram de desejo e ele a pegou nos braços. Seda, veludo e tudo.


- Para onde vamos?


Ele sabia onde era o quarto, mas decidiu deixar o controle na mão dela. Que fosse ela a estabelecer a paz.


- Primeira porta à direita.


Ele a carregou até o quarto e a colocou de pé.


- E agora?


- Deite-se.


Ela acendeu uma vela no candelabro estrelado. Colocou um CD que ele dera a ela e do qual ela tinha gostado. E começou a se despir, lentamente.


As peças, uma de cada vez, foram ao chão. Uma jaqueta em veludo vermelho. A saia longa combinando, descendo um pouco a cada acorde de violoncelo. O próximo foi um top de seda, também vermelho. Olhava direto para aqueles olhos esverdeados, cor de tempestade, que a emocionavam. E pôde ver como eles vibraram quando se depararam com o que ela estava usando: um sutiã tomara-que-caia, de renda negra combinando com as calcinhas e com as meias. Ela tirou os grampos que prendiam seus cabelos, deixando-os cair nos ombros.


- Gina, você está me matando...


- Quer provar?


A voz de Harry saiu repleta de desejo.


- Sim. Por favor. Agora.


Ele se aproximou e retirou o sutiã, deslizando as mãos pelas costas de Gina. Ele se ajoelhou e encheu-a de beijinhos e mordiscadas. Ela já ardia de desejo. Tirou as calcinhas e beijou-a diretamente onde ela mais desejava. Em seu sexo. Passeava com sua língua, chupando e lambendo, pressionando e liberando, apenas um pouquinho, para que ela pudesse respirar.


Quando ela achou que não iria mais agüentar, ele a levou ao orgasmo com uma última forte carícia de língua.


- Harry, eu te amo.


E, dessa vez, quando ele a penetrou ela abriu seu coração a ele, por inteiro.


- Eu também te amo, Gina.


 


 


 


Agradecimentos especiais:


 


Bianca: acho que o capitulo fala por si mesmo, então até mais, agora falta só o epílogo. Beijos.


 


Feh Potter: Não se preocupe que eu não vou parar as adaptações, no momento eu estou com seis romances on-line, sendo que Êxtase e essa estão acabando, mas a continuação de Êxtase já está com link, que será Cerimônia Mortal... que bom que gostou de Ronda Noturna, ela é excelente. Beijos.


 


issis: Penúltimo capitulo postado, espero que tenha gostado, agora só falta o epílogo. Beijos.


 


 


 

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