CAPÍTULO TRÊS



CAPÍTULO TRÊS

O primeiro telefonema foi atrasado. Gina esteve a ponto de gritar quando Harry disse "Nós nos atrasamos no metrô e não havia sinal para te ligar".
- Oh. - respirou aliviada.
- Estamos na entrada do Aquarium. Vou colocar Daisy para falar.
Dois segundos depois, Daisy tagarelava ao telefone.
- Vamos ver os tubarões e poderemos também passear de barco porque está fazendo sol. E vamos almoçar espaguete. E o tio Harry acha as minhas piadas engraçadas de verdade.
Gina riu. Daisy conhecia três piadas e sempre se enganava no clímax. E gostava de ficar repetindo cada uma muitas vezes.
- Estou feliz que esteja se divertindo.
- Tio Harry é legal. - Daisy segredou. - Ele tem um sorriso adorável. E o que é sensual?
Gina ficou chocada.
- Porquê?
- Porque escutei uma moça dizer que é o que o tio Harry é.
Impagável. Gina teria adorado ver a expressão de Harry naquele momento.
Aquela era uma excelente descrição de Harry Potter. Quando não estava censurando, ele era delicioso.
- Então, o que é isso, tia? -perguntou Daisy impaciente porque Gina não respondia.
- Pergunte a seu tio Harry. Divirta-se bastante, querida. Logo mais nos falamos.
Mas, antes que ela pudesse desligar, Harry estava ao telefone novamente.
- Ligo para você em uma hora. Mas, se não conseguir sinal, então ligo assim que puder. Isso não significa que vou me evadir.
Gina podia ouvir a voz fina de Daisy:
- O que é eva... evadir...?
- Você vai descobrir que a palavra favorita dela é "por que". - disse Gina.
- É claro. Ela é sobrinha de um advogado. - Harry parecia mais divertido do que intimidado. - E ela nunca pára de falar.
- Ela só tem quatro anos. Não a censure. - Repentinamente, o tom divertido desapareceu.
- Conversaremos sobre isso mais tarde.
Gina se esforçou para se concentrar na barraca. Conversar com os clientes sobre roupas antigas, discutir cores, texturas e cortes, geralmente essas coisas a absorviam. Mas hoje, ela permanecia pensando em Harry. Em como ele ficava bem naqueles jeans. Em seu sorriso, no calor inesperado de seus olhos.
E ele havia admitido que estivera errado.
Ela não conseguia se lembrar da última vez que vira um homem admitir seu erro. Com certeza não fora Draco.
Procurou afastar seus pensamentos. Estavam indo por um caminho assustador.
O segundo telefonema ocorreu duas horas depois.
- Tivemos de voltar e entrar na fila para ver os tubarões quatro vezes. Mas eu tirei fotografias com meu celular, para provar onde estivemos.
- Confio em você. - disse ela. Considerando a história deles, essas eram as últimas palavras que ela deveria ter dito. Mas ela quis dizer. Harry tinha suas falhas, mas também era um homem íntegro.
- Então, ainda preciso ligar de hora em hora?
- Sim. - Porque, quando não estava censurando, ele tinha uma voz maravilhosa. Refinada, alinhada. Mortalmente sexy. E ela estava gostando de ouvir.
- Agora vamos almoçar o espaguete e tomar sorvete depois.
- Não a deixe beber refrigerante. Água mineral gasosa com suco de laranja é adequado. Estou falando de suco, e não daquela bebida artificial açucarada. Isso absolutamente não.
- Penso exatamente da mesma forma. Achei que eu que fosse austero, repressor. Mas você pode facilmente me derrotar, Gina Weasley.
- Ah, sim.
- Humm. Ainda vamos conversar sobre isso mais tarde. - Novamente passou o telefone a Daisy, que estava radiante por ter visto os tubarões.
- Voltamos a nos falar logo mais, querida. Divirta-se. - Embora isso a aborrecesse, ela tinha de admitir que Daisy estava se divertindo muito mais com seu tio do que se tivesse ficado o dia todo nos fundos da barraca, mesmo que deixasse a menina fazer pulseiras de contas a tarde toda.
Mas o que realmente a surpreendia era a idéia de que Harry Potter podia ser divertido. Luna sempre dissera que ele era um tédio só, e nunca parava de resmungar. O pouco que Gina o conhecera vira que ele sempre usava um tom exasperado ou levemente aborrecido ao falar com Luna. Como se sua irmã caçula fosse um transtorno.
No entanto, agora ele usava um tom divertido, e não se importava em escutar as piadas de Daisy repetidamente... talvez ela estivesse enganada. Ou talvez não. E definitivamente Harry Potter tinha tendências controladoras. Não fazia o seu tipo, em absoluto.
O terceiro telefonema de Harry foi um pouco melancólico.
- Estamos numa loja de brinquedos. - Ele parecia ter perdido o controle da situação.
- Isso não é bom. Deixe-me adivinhar. Ela o convenceu a comprar algo cor-de-rosa e brilhante?
- Asas de fada com luzes que piscam. E uma coroa.
- Ela não vai tirar isso nem para ir para a cama, hoje. - disse Gina.
- Não tem importância. Nós tiramos depois que ela adormecer.
Sem dúvida um tio indulgente. Gina reprimiu a emoção por efeito da imagem dos dois cuidando juntos de uma criança. Eles não estavam juntos nem nunca estariam. Além do mais, não via por que Harry devia ficar por perto depois que ela terminasse o trabalho. Ela era perfeitamente capaz de cuidar de Daisy. Por que a estava fiscalizando?
- Você é vegetariana? - perguntou ele.
- Por quê?
- Porque vou fazer o jantar.
Novamente Gina se beliscou. E doeu, portanto não estava sonhando. Mas talvez tivesse escutado mal.
- Vai fazer o jantar?
- Não se surpreenda. Sou perfeitamente capaz de cozinhar.
Não era bem isso o que a surpreendera. Ele era um Potter, praticamente perfeito de todas as formas. Claro que ele podia cozinhar. E o faria muito bem.
- Eu não esperava que você cozinhasse para mim.
- Vou fazer o jantar para Daisy e para mim. Posso muito bem cozinhar para três. Então, você é vegetariana?
- Não inteiramente. Eu como peixe.
- Ok. Fale com Daisy agora.
Quando Gina estacionou seu velho carro depauperado perto do prédio de Luna, não sabia o que esperar. Harry já estaria em casa? Ele não havia telefonado depois da loja de brinquedos. Será que a havia induzido a uma falsa sensação de segurança, oferecendo-se para cozinhar o jantar e agora desaparecera com Daisy? Uma sensação de pavor perpassou-lhe a espinha. Não queria ser tomada por tola novamente. Havia muita coisa em jogo. Alguma coisa muito mais valorosa do que sua reputação, sua conta bancária, seu apartamento e sua carreira.
Mas quando abriu a porta da frente, sentiu cheiro de limão e gengibre. Harry desenhava com sua sobrinha, estatelado no chão da sala. Como ela já esperava, a menina trajava as asas de fada e a coroa. Ele levantou os olhos e sorriu. O coração de Gina quase parou.
Não. Havia muita coisa errada nesse quadro. Harry não era seu marido, cuidando da filha deles, esperando a esposa voltar do trabalho. E aquele não era um olhar que secretamente dissesse que iria cumprimentá-la apropriadamente mais tarde, em privacidade. Daisy era sua afilhada, não sua filha. E Gina não queria mais se casar de forma alguma. Nunca mais depois de Draco.
- Oi. Como foi seu dia? - ele perguntou. Surreal. Ele até falava como um adorável marido.
- Bem, obrigada. - Mentira, ela havia ficado apreensiva o dia todo. E preocupada em ter a coisa certa. Quando não se está acostumada a crianças pequenas, isso pode ter um peso esmagador. - E o dia de vocês?
Daisy deu um pulo e correu para os braços entendidos de Gina.
- O aquário estava muito legal e o tubarão era enorme. Olha as minhas asas, tia Gina. Elas brilham de verdade! E piscam! Estou fazendo um desenho para você. Desenhei o meu nome. Um "Da" grande de Daisy.
- De. - corrigiu Harry.
- Da. - disse Gina com firmeza. - Hoje em dia eles aprendem o alfabeto por meio de sons fonéticos. - O olhar dela o desafiava a discutir; mas ele não ligou e inclinou-se novamente sobre o desenho.
- O tio Harry me comprou um estojo de contas brilhantes. Vou fazer pulseiras para a sua barraca, como a mamãe faz.
Harry pareceu interessado.
- Você vende a bijouteria de Luna? - Gina suspirou:
- Sim, e antes que me pergunte ela tem um livro com os desenhos, e as pessoas podem encomendar a peça que desejam. E eu sempre mantive a contabilidade de Luna em separado. - E, colocando Daisy no chão, acrescentou: - Posso ver suas contas, lindinha?
- Eu vou fazer uma pulseira para o tio Harry com um coração e uma borboleta.
Gina não ousou olhar para Harry.
- Será que ele vai gostar de uma pulseira cor-de-rosa?
- Tá bom, eu faço uma azul, porque ele é um menino. - disse Daisy.
- Ah, mas eleja está crescido. - Gina não resistiu à idéia de constranger Harry. Sem chance de ele usar uma pulseira, pois tinha um jeito muito convencional para isso. Ele merecia ver a si mesmo como de fato era. Ansioso e todo certinho. - Você pode fazer uma pulseira para ele com as minhas contas, se quiser.
- Oba! - Daisy exultou.
Gina arriscou um olhar para Harry. Não havia expressão alguma em seu rosto.
- Vamos fazê-la enquanto o tio Harry prepara o jantar.
- Não precisa medir o meu pulso? - perguntou Harry enquanto ela cortava um pedaço de elástico.
Ficaria melhor se o fizesse, mas ela não tinha idéia do que podia acontecer caso se aproximasse tanto dele.
- Não há necessidade. Eu tenho uma idéia do tamanho.
- Ok, conheço meu lugar. Estarei na cozinha se precisar de qualquer coisa, Daisy. - Ele passou a mão pelos cabelos da sua sobrinha.
Estaria querendo dizer que ela não era capaz de tomar conta de Daisy sozinha? Ele já havia partido antes que ela pudesse formular uma resposta inteligente, e Daisy clamava por enfiar as contas. Ela decidiu deixar passar, para ser justa, pelo fato de ter provocado o constrangimento oferecendo-se para ajudar Daisy a fazer uma pulseira para ele, e por ter se concentrado na garotinha.
Harry havia esperado que Gina se atrasasse, mas ela fora pontual. Falara sobre contabilidades separadas para as bijouterias de Luna. Prático e eficiente. Mas isso não parecia combinar bem com a idéia que ele fazia das amigas de Luna, do tipo que tomava decisões no balançar de um pêndulo ou por meio das cartas de um taro. Por outro lado, Gina fora acusada de negociar mercadorias roubadas. Portanto, talvez tivesse sido Luna a insistir em ter uma contabilidade separada. Ah, que inferno. O que havia com Gina Weasley que fazia seus preconceitos ruírem?
Uma vez que as batatas estavam cozinhando, Harry recostou-se no batente da porta e ficou olhando Gina e sua sobrinha. Daisy havia selecionado as contas em montinhos de cores diferentes, e Gina encorajava a menina a contar enquanto ela enfiava as contas no elástico.
Hum. Novamente não era isso o que havia esperado. Ela brincava com a garotinha e a ensinava ao mesmo tempo. Tornava o ensino lúdico. Uma atitude encantadora e responsável, ao mesmo tempo.
Quando a pulseira ficou pronta, Gina a colocou sobre o estojo que ele havia comprado. O estojo continha contas com letras, além de figuras brilhantes: furtivamente, ele tentava introduzir brinquedos educativos, sem que Luna percebesse.
Para a sua surpresa, Gina incentivava Daisy a pegar as contas com as letras de seu nome.
- "Da" de Daisy. - dizia a garotinha. - Um "Da" grande.
- Essas são as maiúsculas. Lembra-se do que vem depois?
- "A" de ave. Mas não encontro.
- Eu vou ajudar porque essa é muito difícil. - Gina deu a Daisy a letra A. - E depois?
- Ih, como o guincho de um ratinho, i i i. - E Daisy encontrou-a rapidamente. - E depois Si, como faz a cobra, sss sss sss... o nome da mamãe começa com a letra "L".
- Muito bem. - Gina encorajou a menina. - E a última?
- Essa aqui. - disse Daisy, pegando um Y. - D AIS Y - disse a menina orgulhosamente.
- Não sabia que ela podia ler. - falou Harry.
Gina surpreendeu-se. Estava tão concentrada na menina que nem reparou que ele olhava.
- Ela tem quatro anos. E é brilhante.
- Claro que é. Ela é uma Potter.
- Tio Harry, eu fiz a sua pulseira. Vai ter que usar.
Ele achou que Gina esperava que ele rejeitasse o presente. Ha, ha. Ele não era assim tão insensível. Por sua sobrinha, usaria. Ele sorriu e estendeu o pulso.
- Quer colocar para mim, princesa?
- Oh, sim! - radiante, Daisy escorregou a pulseira pela mão de Harry. - Olha só, ficou direitinho! Ficou lindo.
Harry abriu um sorriso e afagou os cabelos da menina.
- Claro que sim. Você fez para mim. - E olhou na direção de Gina. - O jantar sai em dez minutos.
O jantar estava fabuloso. Salmão na chapa com limão e gengibre, o de Daisy era simples, observou Gina, com batatas cozidas, vagens e minicenouras.
Daisy torceu o nariz aos legumes. Gina estava a ponto de repreendê-la quando Harry se adiantou:
- Mas isso é comida de princesa, quanto mais você comer, mais sua coroa vai brilhar.
- Como você sabe?
- Eu sei tudo. Pergunte à sua mãe quando ela chegar.
Gina fez uma careta. Já havia escutado Luna descrever Harry como o sabe-tudo. Mas havia muito mais sobre Harry do que julgava saber. Ele podia rir de si mesmo. Não seria capaz disso se fosse o cara limitado e repressor que Luna descrevia. Então, se ele não era o ultraconservador irmão mais velho de Luna... estava ficando muito perigoso.
Gina estava consciente do quão atraente ele era. Naquela manhã, no mercado, todos os olhos femininos estiveram focalizados nele, inclusive os dela. Reprimiu um arrepio. Não aconteceria nada entre eles. Daisy era o motivo de ela estar ali no final de semana.
Após o jantar, Gina perguntou:
- Bem, er... você quer dar banho em Daisy enquanto eu lavo a louça, já que fez o jantar?
Um vislumbre de ansiedade passou no rosto de Harry.
- Eu nunca dei banho nela.
Naquela manhã, ela teria achado que era por ele não se importar, mas agora se questionava se não seria por Luna não deixar, tentando provar ao irmão que era perfeitamente capaz de cuidar de sua filha.
Ela ia se oferecer para darem juntos o banho. Mas desistiu. Especialmente depois de Janey ter mencionado a camiseta molhada. Se Daisy atirasse água nele e ele retirasse a camiseta...
Uh, sentiu seu rosto pegar fogo. Esperou que ele não notasse o rubor em sua face, e disse bem calmamente:
- Não é difícil. Verifique a temperatura da água antes de deixá-la entrar.
- As crianças têm a pele mais fina e mais sensível do que os adultos. Sei disso.
Os olhos dele encararam os dela e lhe disseram que ele jamais faria qualquer coisa que pudesse machucar Daisy.
Por um segundo, Gina avaliou o que seria ter esse homem a seu lado. Saber que estaria protegida o tempo todo. E então rechaçou os pensamentos. Ela não precisava de proteção. Estava indo bem por conta própria.
- Daisy irá lhe mostrar as bolhas. - E desapareceu na cozinha.
Ela acabava de limpar tudo quando ouviu uma voz de tenor. Daisy ensinara a Harry sua canção favorita: "Cinco patinhos nadando na lagoa". Ele parava de cantar para deixar a criança dizer quantos patinhos restavam. Ele a ensinava ao mesmo tempo em que se divertiam. E, pelas risadinhas, Gina poderia apostar que Daisy estava se divertindo muito. Era claro que a criança adorava seu tio. Então, por que ela não perceberia isso antes?
As palavras de Harry ecoavam em sua mente: "Luna exagerava um bocado em ser a pobre menina rica incompreendida pela família." Ele estava inteiramente certo. Ela mordeu o lábio. Havia interpretado muito mal Harry Potter. Daisy não só estava segura com ele, como feliz. O que significava que Gina não era nem um pouco necessária ali.
Ela não foi ao encontro de Daisy e Harry no banheiro. Em vez disso, sentou-se com seus livros de contabilidade. Colocá-los em ordem exigiria concentração e ela não teria tempo para pensar, nem para se sentir rejeitada ou infeliz.
Estava absorta em sua contabilidade quando ele entrou na sala:
- Ela quer que você conte a história. Parece que rapazes não sabem fazer a voz da princesa muito bem. Pode ser?
- Claro. - Então ele poderia ir embora.
Mas não foi. Quando Gina retornou à sala, ele estava lá folheando o livro de desenhos de Luna.
- Ela é mesmo muito boa nisso. Não os tinha visto antes.
Por quê? Será que ele achava que Luna era negligente com relação às suas bijouterias? Ou Luna se recusara a mostrar a ele?
- Coloquei água para ferver. Gostaria de tomar um café, ou algum de seus chás de fruta?
Aquilo era surreal. Por que Harry estava se mostrando tão simpático?
- Talvez tenhamos nos enganado um sobre o outro. Luna mantém sua vida... - ele fez uma pausa parecendo procurar as palavras certas - Um pouco compartimentada. - terminou ele. - E você aparenta cansaço.
- Estou bem, obrigada. Preciso terminar a contabilidade.
- Não achei que você... bem...
Que ela não tivesse noção de negócios? Ela percebeu logo. Claro que ele a via como uma cabeça de vento.
- Fazer a contabilidade diária facilita manter o controle e economiza muito tempo na hora de preencher formulários para o pagamento dos impostos. Ou está pensando em acrescentar sonegação à minha lista de crimes?
Graciosamente, ele estremeceu.
- Não foi isso o que eu quis dizer. É que as pessoas muito criativas geralmente não têm tino para os negócios. Minha irmã, por exemplo, não tem.
Oh! Então ele não a estava criticando pessoalmente.
- Eu fiz o curso básico de economia. - Ele estranhou.
- Que escolha estranha para alguém que planejou fazer artes.
- Não escolhi artes inicialmente. - As palavras saíram sem ela se dar conta. - A faculdade que havia escolhido não era para mim, então eu a abandonei.
De forma alguma iria contar-lhe que tivera um colapso nervoso. E o quão infeliz se sentira tentando tornar-se uma pessoa que não era, seguindo um sonho que não era dela. Ele já a havia julgado instável. Se soubesse sobre seu colapso nervoso, iria julgá-la inadequada para ser amiga da irmã dele.
- Felizmente minha família me encorajou a seguir meu sonho e eu me dediquei à faculdade de artes, onde conheci sua irmã.
A família de Luna não acreditava que ela teria persistência para cursar a faculdade e ela teve de lutar de todas as maneiras para fazer o que desejava. Gina a havia apoiado, assim como Luna apoiara Gina quando ela teve um ataque de pânico em seu primeiro dia na faculdade de artes.
- Você queria ser uma artista?
Ele parecia interessado. Talvez não fizesse tão mal contar um pouco mais.
- Não exatamente. Sempre gostei de trabalhar com roupas. Não que eu gostasse de desenhar, mas gosto de ver como o estilo muda com o passar dos anos. Participei de alguns seminários sobre história do figurino e sobre restauração. - Essa era a parte que ela mais gostava, tanto no museu como na barraca do mercado. A conservação de velhos tecidos. Ela consertava os buracos de traça de um modo que ninguém diria que ali havia um remendo.
Ele então perguntou:
- Nunca pensou em trabalhar nessa área? Quero dizer, além de sua barraca?
- Não há muitos museus especializados em vestuário, e certamente não chovem empregos de curadora de museu em tempo integral.
O caso do julgamento a havia dificultado um bocado para conseguir uma entrevista, que diria um emprego.
- É da barraca que tiro o meu sustento. De qualquer modo, gosto do que faço.
Ela também adorava o espírito comunitário entre os vendedores do mercado, o jeito como a aceitaram desde o início, a forma como ficaram a seu lado, lotando as galerias do tribunal. Eles a ajudaram a encarar o promotor de cabeça erguida.
- Acho divertido trabalhar com tecidos antigos, consertar as peças de época com remendos invisíveis e dar às roupas mais tempo de vida.
Gina Weasley gostava de consertar coisas. E, pelo que deixara escapar antes, Harry podia perceber que essa era uma das razões de ela ter feito amizade com Luna. Reclamando que sua família não a entendia, Luna deve ter parecido muito vulnerável, como se precisasse ser consertada.
Então talvez, apenas talvez, Gina não fosse inteiramente do jeito que ele a havia julgado. Embora fosse estranho que ela não estivesse de fato utilizando seu diploma. Se reunia o conhecimento e as habilidades de uma curadora de museu, porque trabalhava numa barraca de mercado? Por que não projetava as ambições um pouco mais alto? Será que ela era como sua irmã, que ficava à deriva, de um dia a outro, confiando que o futuro se faria por si próprio? Ou alguma coisa a detinha?
Ele terminou o café.
- Vamos conversar sobre o dia de amanhã.
- Amanhã?
- Intoxicação alimentar leva algum tempo para sarar. Presumo que sua amiga não poderá ficar na barraca amanhã.
- Provavelmente não. Mas Daisy e eu ficaremos bem.
Passou pela cabeça dele que também deveria estar trabalhando em algumas causas.
- Por que eu não poderia passar o dia com ela novamente? Não conseguimos fazer o passeio de barco hoje. E aposto que ela adoraria passear nos jardins em Kew. Hoje correu tudo bem, não foi?
- Bem, sim.
- Então me diga a que horas está pensando em sair amanhã. Eu estarei aqui. Não se sinta culpada de deixar Daisy comigo, sou o tio dela. Gosto de passear com ela.
- Ela é minha responsabilidade. - explicou Gina indecisa.
- Você é filha única?
- Não. Sou a mais nova. Por quê?
- Você parece ter problemas em compartilhar. - Ela arregalou os olhos:
- Eu não.
- Então me deixe levar Daisy para passear de barco amanhã. Se Luna der um chilique, vou saber como acalmá-la. Sem abuso de autoridade por ser o irmão mais velho.
Aquele sorriso largo produziu estranhos efeitos em Gina.
- Você sempre faz as coisas do seu jeito?
- Sim. - respondeu Harry tranqüilamente.
Não havia ostentação nem arrogância em seu tom de voz; só segurança.
- Então, a que horas passo aqui amanhã? - continuou ele.
- Quinze para as nove. - Foi inevitável para Gina.
- Então até lá. - E sorriu de novo. - Não esqueça de dar duas voltas na chave, depois que eu sair.
O que ele estava pensando? Que ela era uma criança que não poderia tomar conta de si mesma? Não era à toa que deixava Luna louca da vida. Mas aquele sorriso havia suavizado o comentário. Talvez não fosse uma atitude controladora. Talvez ele, assim como ela, gostasse de cuidar das pessoas.
Talvez.






Agradecimentos especiais:

Thamis No mundo ........: Que bom que gostou da fic, abraços.

Bianca: a Daisy é mesmo uma grande menina, quanto ao Harry, espere pra ver, mas ele disse sim. Beijos.


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