Prólogo
Gravamos também uma homenagem à mais participativa beta (promovida a co-autora) do universo: Lívia, obrigada por tudo, isso aqui também é seu, ok? Seu trabalho, seu tempo, suas piadas, sua família! Nem precisamos dizer que a amamos, certo?
Kelly! Sua curiosa! Essa história também é dedicada a você, especialmente por seu carinho e paciência com a escrita da nossa caçulinha. Você, que leu o esboço dos cinco primeiros capítulos fervorosamente também merece nossa homenagem. Te amamos e esperamos NÃO decepcionar!
Dedicamos toda a história e trabalho a essas três senhoritas.
Esse prólogo, em especial, vai para a mais animada e empolgante leitora do mundo: Anis, Feliz Aniversário, seja muito feliz! Esse é nosso presente com um dia de atraso.
Senhoras e senhores, Triskellion está oficialmente publicada!
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Prólogo
A natureza parecia zombar dela. Uma manhã como aquela deveria ocorrer em dias de férias alegres e repletas de brincadeiras, doces e risos. Nunca em um dia como aquele. Em seus onze anos de vida, nunca vira um inverno tão belo. Estava cheio de neve mesmo um dia antes do início da estação mais fria do ano. Era um daqueles que seus avós e pais diziam prenunciar o início de um ano maravilhoso. Suspirou, sentindo a brisa gelada afagar-lhe o rosto. A natureza só poderia estar zombando de sua tristeza.
A menina desviou a atenção da janela e olhou as pessoas que se encontravam na sala. Clara, sua irmã mais velha, estava sentada no sofá com a cabeça apoiada em uma das mãos e o olhar perdido em algum lugar da lareira apagada. Sua tia Dawn afagava o cabelo longo e loiro de sua outra irmã, Bruna, de forma mecânica e ao mesmo tempo carinhosa, enquanto lágrimas silenciosas desciam pelo rosto da pequena. Achava incrível como Bruna tinha sido a única a herdar o tom de cabelo de sua mãe, aquele louro tão intenso e brilhante que sempre a fascinara.
De repente, o som de uma porta sendo aberta chamou a atenção das meninas para o andar de cima da casa, tirando-as do estado de torpor em que se encontravam. Elas ouviram passos descendo lentamente as escadas e um nervosismo tomou conta de seus corpos fragilizados pela dor.
Dr. Lewis, o curandeiro da família Warren, passou pela porta de carvalho; seu semblante assustadoramente sombrio. Boas notícias não viriam de um rosto marcado pela dor e pela frustração.
O homem levantou o rosto cansado e observou as três meninas postas de pé lado a lado à sua frente. Seria incapaz de levar mais mágoa e tristeza aos olhos inocentes delas. Olhou, então, para a mulher sentada no sofá quando disse:
- Seus pais estão esperando no quarto. Sua mãe quer falar com vocês. – As meninas instintivamente olharam para a tia, que por sua vez acenou com a cabeça em compreensão, como se concedesse a permissão para que subissem.
A ansiedade e o medo brilhavam nos olhos azul-perolados das três meninas enquanto subiam, silenciosa e rapidamente, as escadas e se dirigiam ao quarto dos pais. O caminho pareceu tão torturantemente longo, que os seus olhos voltaram a arder.
Apesar da porta estar entreaberta, elas bateram para anunciar sua presença e entraram apenas quando o pai as convidou.
Thor Warren resolveu sair para deixar as meninas se despedirem da mãe. Não sabia se era por elas ou por ele mesmo que fazia aquilo. Era duro demais ver as pessoas que mais amava sofrendo. E se manter firme, passar-lhes a segurança de que precisavam, estava cada vez mais difícil.
- Estarei lá embaixo com Dr. Lewis e com a tia Dawn – murmurou. – Qualquer coisa é só chamar. – Ele beijou os lábios da esposa suavemente. – Is grá liom thú go deo (1), Mavourneen(2) - (Eu sempre vou te amar, minha querida) sussurrou num tom tão doce e cheio de dor que fez a esposa se emocionar.
- Tá gradh agam ort (3), aghra (4) – (Eu te amo, meu amor) ela murmurou, a voz fraca e sincera, os olhos verde-água brilhando como há muito não brilhavam.
Thor as observou uma outra vez, antes de fechar a porta atrás de si e permitir que as lágrimas escorressem, encostado à parede.
- Oi, mãe – Diana disse, subindo na cama e se abaixando para dar um suave beijo no rosto daquela mulher jovem e bela que a enfermidade enfraquecera e prendera à cama nos últimos meses.
- Olá, meu amor – cumprimentou Maeve com sua voz quase sussurrada, olhando de forma amorosa para a filha mais nova.
- Oi, mamãe – Bruna repetiu o gesto de Diana e sorriu para a mãe.
- Olá, pequenina – respondeu, lembrando à filha do meio o apelido carinhoso que havia lhe dado por ter nascido antes do tempo.
- Olá, mãe – falou Clara, sentando-se ao lado da mãe, afagando-lhe o rosto cansado e beijando sua face pálida.
- Olá, minha mocinha.
A proximidade permitiu que Clara percebesse como a mãe cheirava bem. Adorava aquele cheiro que lembrava uma gostosa mistura de rosas e biscoitos. Seus olhos se encheram de lágrimas com o pensamento de que nunca mais sentiria aquele cheiro.
– Não chore minha querida! Eu estou bem. Não chore! – A mãe tentava acalmar a filha mais velha dizendo palavras doces e afagando os cabelos longos e negros. – Venham aqui... Quero todas aqui pertinho de mim!
As três se aconchegaram melhor à mãe e permaneceram apenas olhando-a, gravando cada detalhe daquele rosto tão cheio de amor que sempre lhes inspirava alegria.
- Quando eu me casei com seu pai, descobri que na nossa família temos muitas tradições que devem ser respeitadas e passadas para as próximas gerações – Maeve começou, a voz um pouco mais forte.
- Nós sabemos a história da família, mamãe. Não acredito que a senhora vai contar a historia dos Warren agora! – interrompeu Diana, nervosa.
- Diana! – repreendeu Clara.
- Clara, não repreenda sua irmã, eu estou aqui para isso. Diana, não fale comigo desse jeito e não mostre a língua para sua irmã!
- Desculpe, mamãe – pediu a caçula. – Eu só não quero que a senhora se canse!
- É importante, meu amor. – Maeve apreciou a preocupação de Diana por alguns instantes e suspirou profundamente. Tinha tanto a ensiná-las...
- Continue, mamãe – disse Bruna, compreensiva.
- Por favor, meninas, não me interrompam – ela pediu. – Como eu ia dizendo, em nossa família existem várias tradições que são passadas de geração para geração, de mãe para filha. Como seu pai não teve irmãs e sua avó Eilan me amava muito, ela me ensinou as tradições para que eu passasse para vocês na hora certa. Devido ao meu estado, seu pai permitiu que eu quebrasse uma dessas tradições. – Ela se mexeu um pouco de forma a ver as três filhas claramente. – Quando eu fiquei grávida e descobri que carregava uma menina, o pai de vocês ficou radiante e encomendou um colar aos duendes. O colar seria um presente para nossa garotinha no dia que ela completasse maioridade, os dezessete anos. A mesma coisa aconteceu nas outras duas vezes em que eu fiquei grávida. Dentro deste baú – ela pegou um pequeno baú de madeira esculpida que estava sobre o criado-mudo e que as meninas não tinham notado até então – há três colares idênticos. As únicas coisas que os diferem são as inscrições feitas nas pedras a meu pedido.
Maeve tocou cuidadosamente o baú com a varinha e ele se abriu, revelando três delicadas e trabalhadas correntes de ouro branco, cada uma com um pingente de safira em forma de gota.
Ela pegou um colar de cada vez e entregou nas mãos de cada uma de suas filhas.
- Olhem as inscrições nos pingentes – ela pediu.
- Estão em gaélico! – Bruna exclamou, entre a surpresa e a emoção.
- Isso mesmo – disse Maeve. – O que está escrito aí?
- O meu quer dizer... – Diana apertou os olhos como se dessa forma conseguisse compreender melhor o que estava escrito. A verdade era que seu gaélico era péssimo. Falava com certa fluência, mas ler e escrever em gaélico... Era seu ponto fraco. Sempre confundia os significados e agora não queria decepcionar a mãe, que a ensinara com tanto zelo.
- Deixe-me ver – retrucou Bruna com impaciência, puxando o pingente das mãos de Diana - Simples. Está escrito “Gráinne” (5).
- Isso mesmo – concordou a mãe, olhando a pequena loira com orgulho. – Amor. Dana, meu anjinho, é para que você nunca se esqueça do poder e da força desse sentimento tão sublime.
- Não vou esquecer, mamãe. Obrigada! – ela abraçou a mãe delicadamente.
- O que está escrito no seu, minha pequena? – Maeve perguntou a Bruna.
- “Críonnacht” (6) – respondeu.
- Sim, Bevin. É para que não se esqueça de que o amor é importante, mas ainda mais importante é a sabedoria com que se guia e se entrega suas emoções. Os sentimentos são frágeis e devem ser tratados com sabedoria e respeito.
- Certo, mamãe. Obrigada.
- Caitlín?
- “Saoire” (7). – Clara lera e relera até ter certeza do que estava escrito em seu pingente. Não pôde evitar de pensar: o que a mãe queria dizer com aquilo?
Por que o dela significava Liberdade? Ela tinha toda a liberdade de ir, vir e se expressar. Claro que com determinados limites, afinal só tinha 16 anos, mas nunca lhe passou pela cabeça reclamar. Clara fitou a mãe de forma questionadora, no que Maeve sorriu docemente, compreendendo mais do que a filha poderia imaginar.
- Liberdade não só com relação aos seus atos, mas também com relação aos seus sentimentos. Os sentimentos devem ser livres. Ah! E, às vezes, eles devem sobrepor às responsabilidades.
- Não entendo, mãe. Não faz sentido pra mim!
- Não se preocupe com isso, minha querida. Com o tempo tudo fará sentido para todas vocês. – Ela apertou os olhos com força por alguns segundos – Agora, por favor, chamem o papai e a tia Dawn.
Estava chovendo. Se lhe perguntassem o que mais se lembrava daquele dia, diria que era o fato de que estava chovendo como nunca vira chover em toda a sua vida. O céu estava cinzento, o vento frio e cortante, além da chuva que batia violentamente no chão. A natureza parecia sofrer junto com ela naquele dia tão triste.
Clara olhou melancolicamente para as gotas de chuva que batiam contra a janela do enorme carro do ministério em que se encontrava juntamente com as irmãs, o pai e a tia. Estavam todos dividindo a mesma dor.
Tentava se conformar repetindo para si mesma que havia sido uma linda cerimônia. Sua mãe teria ficado feliz. Estava repleta de amigos e familiares, todos tristes com a perda, no entanto, lembrando-se dela com carinho. Várias pessoas se prontificaram a fazer qualquer coisa que fosse necessária. Mas de que adiantaria? Nada traria sua mãe de volta. Nada.
Observando o interior do automóvel, viu Diana com o olhar perdido no céu escuro, próxima à janela oposta. A irmã não tinha derramado muitas lágrimas. Apenas no quarto, em casa, quando sentira o aperto da mão da mãe afrouxar e vira seus olhos meigos se fecharem, e no velório, quando deixara uma tulipa branca sobre o túmulo de mármore branco e fizera uma prece. A caçula estava com a cabeça recostada no ombro do pai e parecia sofrer mais ainda que os outros. Tinha que cuidar de Diana. Era muito pequena, e vivia um drama que mesmo os adultos tinham dificuldade em suportar.
Bruna se encontrava com a cabeça recostada no ombro da tia Dawn, de quem ultimamente havia se tornado muito próxima. Diferentemente de Diana, ela chorara o tempo todo e parecia ainda ter lágrimas para derramar. As gotas salgadas escorregavam silenciosas e dolorosas, como se tentasse não incomodar ninguém. Também teria que olhar Bruna. Ela sempre fora a mais frágil de todas, precisava de cuidados.
Tia Dawn, irmã mais nova de sua mãe, já tinha secado todas as lágrimas e parecia forte e determinada outra vez. Havia dito que ficaria para ajudar.
De todas as pessoas presentes no carro, a que mais lhe preocupava era o pai. Sabia que ele nunca mais seria o mesmo homem que costumava ser. Perdera não só sua esposa, mas também sua melhor amiga, sua confidente, seu grande amor. Não era necessário que ninguém dissesse isso a Clara, ela via a forma que o pai olhava para a mãe enquanto ela era viva e mesmo depois que morreu. Desejava que algum dia encontrasse alguém que a olhasse da mesma forma que Thor Warren olhava para Maeve Warren.
Lembrava-se perfeitamente de quando a doença da mãe fora descoberta. O amor deles nunca diminuiu, apenas se intensificou e se fortaleceu. Thor cuidou de sua esposa durante todo o período de convalescença, e quando as coisas pioraram, ele se manteve forte pela esposa e pelas filhas. Mas agora tinha perdido seu alicerce, a pessoa pela qual lutara com tanta gana nos últimos meses, e toda a sua força parecia ter ruído.
Instintivamente, Clara apertou a safira em seu pescoço, lembrando-se do que a mãe lhe dissera e de seu significado. “Liberdade”. Quem dera aquele colar tivesse poder. Assim, ele poderia libertá-la daquela dor.
Tornou a olhar para o céu escuro e se perdeu em lembranças de dias de chuva felizes que passaram: ela, Diana, Bruna e os pais. Eles jamais voltariam.
Dicionário de Gaélico para principiantes:
(1) Eu sempre vou te amar
(2) Meu/minha querido (a)
(3) Eu te amo
(4) Meu amor
(5) Amor
(6) Sabedoria
(7) Liberdade
N/B - Livinha: Ahhh...que Prólogo triste, triste, triste! T.T Mas...como otimista incurável que sou, sei que essa família maravilhosa vai conseguir superar essa dor, e a doce Maeve Warren será lembrada apenas saudosamente. Meninas, o que dizer além de parabéns por essa mostra de talento? Parabéns! Estou orgulhosa de ser Beta de vocês! Beijos a todas!
N/C.: Bem, como todo mundo já deve saber essa fic está sendo escrita em conjunto por mim, Dana e Bevin... E é com muito orgulho que após vários meses de preparação, discussão, risos, reviravoltas... Viemos aqui para postar o prólogo do que promete ser uma linda e emocionante história... Esperamos que vocês se divirtam lendo da mesma forma que nós nos divertimos escrevendo...!!!!!!!!
Mil B-jus
Clara Persephone Warren
N/C.: Olá, caros leitores! Quero que saibam que é um imensurável prazer escrever para cada um de vocês. Como caçula e única pessoa com atitude por aqui venho dizer que esse é só o começo do que se tornou uma história mágica e fascinante e que nenhum de vocês perde por esperar pelo que vai acontecer. De minha parte, e acho que falo por todas, dou total liberdade para que digam o que acharem e desejarem, ok?
Vocês já devem saber algo sobre mim da nossa biografia aqui do e mesmo deste prólogo, que trata de um fato triste da nossa infância, mas a partir do próximo capítulo vocês conhecerão a verdadeira e controversa Diana Warren e as suas adoráveis irmãs. Espero que sorriam, chorem e sintam cada emoção à medida que forem vivendo conosco cada momento. Sei que terão ódio de mim e me adorarão, sei também que quererão a minha morte ao mesmo tempo em que saberão que sem mim não haverá história. Só não se esqueçam de que é disso que a vida é feita, é disso que são feitos os seres humanos. De erros e acertos. Riscos. Nunca se esqueçam de que não há mal irremediável, tampouco felicidade sem dor.
Um grande beijo e nervosíssimos votos de muita diversão,
Diana Maeve Warren
N/C.: Vcs devem ter percebido que eu sou a Bevin, a filha do meio dessa família maravilhosa. Vcs também devem ter reparado que elas nunca deixam nada pra eu falar... Enfim, é maravilhoso escrever com essas mocinhas aí em cima. Faço minhas as palavras delas e espero que todos curtam essa história escrita com tanto carinho.
Beijos a todos
Bruna Eillan Warren
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