Seguindo em Frente

Seguindo em Frente



Triskellion

Capitulo 1

Seguindo em Frente




Era um jardim de tamanho razoável e fácil de cuidar. Simples, bonito, com flores perenes e da estação. Tinha um caramanchão branco com algumas espreguiçadeiras, sob o qual, nos dias de primavera, Bruna adorava se sentar para sentir a brisa suave, o agradável aroma das flores e ver o jardim amadurecer dia após dia.

Nesse momento, ela se encontrava ajoelhada entre as flores que sua mãe tanto amava. Usava uma calça jeans gasta, um moletom azul já um pouco desbotado pelo sol, um chapéu para proteger o rosto, os longos cabelos loiros presos numa trança solta e luvas grossas de jardinagem. Os braços onde não estavam completamente sujos estavam salpicados de terra. Para ela, manter o jardim era uma forma de sentir a presença da mãe.

Era incrível como o tempo passa rápido. Em poucos dias, faria oito anos que Maeve falecera. A loira nunca se esqueceria daquele dia fatídico em que o mundo pareceu desabar diante de seus olhos e tudo o que ela pôde fazer foi chorar como nunca tinha chorado antes. O tempo passou, a dor da perda diminuiu, mas nunca passou por completo, e Bruna não achava que um dia fosse realmente passar. Esperava apenas conseguir manter o máximo de recordações da mãe em sua mente e em seu coração.

Ainda hoje, com seus vinte e um anos, ela continuava a se pegar pensando em como seria se a mãe ainda estivesse com elas. Como seriam as tardes de domingo com a alegria e a doçura de Maeve Warren. Como Clara seria se não tivesse assumido as responsabilidades da mãe. E Diana, como seria se tivesse a mãe para ensiná-la. Bem, possivelmente Diana seria ainda mais idealizadora. Mas como seriam resolvidas suas discussões? Não poderia sequer imaginar...

Sorriu, lembrando-se de quando a mãe lhe entregara o colar, uma tradição dos Warren. Ela pegou a delicada safira e observou com carinho. Críonnacht (1)... Ela buscara a sabedoria. Era uma pesquisadora, uma cientista e se tornaria uma Inominável em breve. Tinha muito mais conhecimento que muitos funcionários do alto escalão do Ministério e já chegara a conversar com eles sobre os grandes mistérios mágicos e questões legislativas bruxas. Aqueles homens sempre diziam: “Thor, essa menina tem futuro aqui no Ministério”. E Bruna esperava que a mãe sentisse orgulho dela, onde quer que estivesse.

- Bruna! – A voz de Diana a tirou de seus pensamentos, trazendo-a de volta a realidade.

- Oi – falou enquanto enxugava o suor da testa com as costas da mão, se sujando com um pouco de terra sem perceber.

- Chegou um convite para você. É dos Gêmeos Weasley, uma festa de inauguração da nova loja deles – disse ela, estendendo o envelope para a irmã e recuando a mão ao perceber o estado de Bruna. – Acho melhor você lavar as patinhas antes.

- Ah! Diana! – disse num muxoxo. – Não começa a implicar, vai, você sabe que adoro cuidar desse jardim e o quanto me faz bem. Só de estar aqui já me acalma, me ajuda a pensar e... Me lembra a mamãe – disse as últimas palavras com ênfase e um sorriso sincero no rosto. – Se o preço a pagar é me sujar com um pouco de terra... Que seja!

- Desde que você não vá para a inauguração assim... – falou em tom de brincadeira e segurou o riso diante da expressão da irmã, finalmente lhe entregando o convite. – Não está mais aqui quem falou.

- Claro que não vou assim! Aliás, nem sei se vou. Seria muito bom reencontrar os velhos amigos de Hogwarts, rever alguns conhecidos, dançar um pouco... – disse estudando o convite todo colorido, bem ao estilo

- Não! – gritou Diana. - A Clara abriu o dela e está há uns quarenta minutos tentando tirar uma gosma verde do rosto e xingando os gêmeos de todos os nomes possíveis e imagináveis. Parece que eles acharam boa publicidade dar uma amostra grátis de alguns artigos em cada convite. – Um sorriso se formou no rosto de Diana enquanto ela se lembrava do momento em que a irmã mais velha retirou o selo do envelope. - Acho que ela está mais enfurecida porque vai chegar atrasada no Saint Mungus pela primeira vez na vida do que pela brincadeira.

- E ela ainda vai à inauguração? – perguntou Bruna também imaginando a cara da irmã mais velha.

- Disse que vai, mas agora está em duvida se vai para dançar ou para cometer um duplo homicídio – disse sem segurar uma gargalhada. – Acho que os gêmeos finalmente encontraram uma forma de se vingar dela por todas as detenções em Hogwarts. Na época eles não faziam muito por conta da nossa amizade e por medo do Charlie, e seus um metro e oitenta de altura.

- Bem, se você e a Clara vão, eu vou também... Faz tempo que não saímos as três juntas. Acho que não tem problema guardar o convite fechado e entregá-lo desse jeito na entrada da festa, né?

- Decisão inteligente! Eu fiz o mesmo. É claro que foi depois de ver a versão da Clara “Monstro do Lago Ness”. – As duas gargalharam mais forte.

- Vou entrar e me lavar. Já chega de jardinagem por hoje. – Ela tirou as luvas cuidadosamente e recolheu a varinha que usava como regador - Vou aproveitar e ver se a Caitlín (2) quer ajuda com a gosma. – Terminou a frase se levantando e espanando a terra da roupa.
- Boa sorte – desejou Diana fazendo cara de nojo. – Eu vou pra aula.



~*~*~*~*~*~*~




Era sexta-feira e fazia um lindo dia, apesar do inverno londrino. A maioria dos alunos da universidade já havia sido liberada das aulas. Bruna observava o movimento, deitada na grama do campus enquanto sua irmã não saia da última aula do dia.

Estava distraída olhando a paisagem quando percebeu alguém deitando ao seu lado, e quando virou se deparou com sua amiga Daniela a olhando curiosamente. Elas se conheciam da época de Hogwarts, mas só se tornaram amigas realmente após a escola, quando ambas ingressaram na Universidade: Bruna para Pesquisas Avançadas e Daniela para Mistérios da Magia.

- Oi! – disse Dani rindo

- Oi Fad´s! O que é tão engraçado?

- Sua cara de nada tendendo pro infinito. Estava pensando em que ou em quem? – perguntou marota

- Em nada, nem ninguém, estou esperando a Diana sair da aula para irmos juntas para casa.

- Vocês vão à inauguração dos gêmeos, hoje?

- Provavelmente sim. A Clara quer matar a ambos por deixarem-na parecida com o Monstro do Lago Ness – respondeu sorrindo. – Isso porque já faz duas semanas.

- Ela abriu o convite? Tadinha... Já ouvi histórias horríveis sobre esses convites. Por isso o meu está lacrado em cima da lareira esperando.

Daniela mal acabou a frase, elas ouviram o som dos alunos do curso de auror saindo das salas de aula, finalmente dispensados. Levantaram-se, limpando a capa com um aceno da varinha. Bruna consultou o relógio para rumar para o local onde sempre esperava a irmã, a faia que ficava próxima ao lago.

- Nos vemos à noite, então? – perguntou Bruna arrumando o cachecol

- Pode apostar que sim. Lembranças ao senhor Warren.

- Pode deixar. Até

Ainda acenando para a amiga, observou um rapaz sair do prédio Alastor Moody, onde Diana treinava, com minhocas brotando do nariz e das orelhas, e riu. Sempre havia alguém que saía machucado da aula prática de Defesa Relâmpago, mas felizmente quase nunca era a caçula.

Um instante depois de pensar na irmã mais nova, Bruna a viu saindo do prédio acompanhada por Harry e outros colegas que ela desconhecia.

Assim que a localizou, Diana acenou e se despediu dos colegas.

- Muito atrasada? – perguntou assim que se aproximou o suficiente.

- Não – informou Bruna. – No horário.

Elas caminharam juntas pelo campus conversando sobre a decisão do Ministério de fazer uma prova para todos os cursos universitários objetivando testar sua eficiência.

- Sinceramente, acertar oitenta porcento da prova ou ser mandado de volta para o início de curso me parece uma medida bastante rígida – disse a loira.

- A não ser que seja muito fácil ou genérico, como os N.I.E.M.s de Hogwarts – sugeriu Diana, que sorria e acenava para um grupo de pessoas que passavam por ela. – Sorria e Acene, sorria e acene! – sussurrou ela pelo canto da boca.

- Quem são? – perguntou a loira, observando alguns dos indivíduos do grupo.

- São curandeiros. – explicou. – Da turma do Richard.

- Hum... – murmurou a outra. – E aquele moreno, você conhece?

- Neville Longbottom. Do meu ano de Hogwarts, não lembra? Faz licenciatura em Herbologia.

- Não, mas ele é bastante cobiçado, não é?

- É sim. O estilo romântico sempre faz sucesso, mas não é o meu tipo.

- Eu ainda vou descobrir qual é o seu tipo. – Bruna piscou para a irmã mais nova em tom de brincadeira. Entender Diana era quase um hobby para ela.

- Eu também – a morena concordou.

Elas já estavam alcançando o portão da saída quando foram obrigadas a parar, pois dois ruivos idênticos aparataram sem aviso à sua frente.

- Ahá! – exclamou o primeiro, estendendo a mão aberta para o segundo. – Pode me pagar!

- Foi sorte! – reclamou, mas entregou duas moedas para o gêmeo.

- Não, não foi. Aliás, não interessa – respondeu o outro enquanto embolsava o dinheiro recebido. – A aposta foi se conseguiríamos ou não interceptá-las antes de alcançarem o portão de saída.

- Olá para vocês também, Fred, George – cumprimentou Diana ironicamente. – A que devo a honra da aparatação surpresa? Ou devo dizer tentativa de enfartar as amigas?

- Ah, foi mal, Diana – George respondeu.

- Gostaríamos de saber se vocês receberam os nossos convites – completou Fred galante, olhando diretamente para Bruna - Ainda não parecem ter recebido.

- Recebemos sim – disse Bruna, corando. - Seus adoráveis convites chegaram hoje de manhã, mas foi Clara quem abriu primeiro.

- Ah! Nossa querida Clara Warren. Adorável, porém muito responsável e pouco prudente – disse George

- Como ela está? – perguntou Fred.

- Acredito que, como sua mãe, ela também tenha a vã esperança que vocês amadureçam. Ela está bem, embora tenha o rosto tingido de uma coloração verde, além de ter chegado atrasada ao plantão de hoje no hospital – respondeu Diana. – Mas temos que convir, vocês se superaram com esse método de divulgação...

- Que bom que gostaram – disse George. – Era o nosso objetivo.

- Esperamos vocês três hoje à noite – completou Fred. – Não esqueçam que vocês são VIP, ok?

- O que vai ter lá? – perguntou Diana.

- O que todo mundo gosta – sintetizou Fred.

- Em suma: comida de graça, gente bonita, gemialidades e uma pista de dança com iluminação trouxa – explicou George.

- DJ? – insistiu Diana.

- Duende Verde. O melhor da atualidade – respondeu Fred.

- Bem... Nós vamos ver se vai dar pra ir. – Diana consultou o relógio de pulso. – Estamos atrasadíssimas! Até mais tarde.

Bruna observou a irmã piscar e acenar para os dois e rolou os olhos. A loira se despediu rapidamente dos gêmeos e foi atrás de Diana.

- O que foi isso? – disse assim que se emparelharam.

- Um fora – sintetizou a morena.

- Precisava ser tão... Estúpida?

- Eu não fui estúpida, fui clara. – Como ela podia ser tão cínica? Havia sido muito grosseira, sim! – Ok, eu fui.

- E gratuitamente.

- Mas não gratuitamente – discordou. – Se aceitássemos pareceria que estávamos ansiosas pelo convite.

- E qual o problema nisso?

- É o Fred, né? Ele é maneiro – Diana fez uma expressão pensativa. – Acho que rola.

- Quê? – a loira gritou sem perceber.

- De ele ser meu cunhado, irmãzinha!

Bruna respirou profundamente. Por que ela tinha que saber exatamente seus pontos sensíveis? Era um livro tão aberto assim?

- Certo... Então, vê se ajuda.

- Entenda só. – Diana parou e olhou a irmã. – Homem gosta de correr atrás. Eles preferem ganhar o prêmio depois de sofrer e o melhor é que, assim, eles valorizam mais – a morena suspirou. – Até parece que eu sou a mais velha por aqui. Tenho que te explicar tudo!

- Engraçadinha. Eu não tenho filosofias assim – explicou. – Ou se gosta, ou não se gosta.

- Errou! É assim: ou se gosta ou se faz gostar. – Elas acenaram para a professora Minerva, que passava apressada. – Mesmo assim, não acredito que você ainda gosta desse cara.

Fred fora a paixão platônica de Bruna durante metade de sua vida escolar em Hogwarts, mas eles só vieram a se tornar amigos mesmo no último ano quando ela se tornou artilheira do time da Gryffindor. Bruna achou que tinha desencanado depois do 5º ano, mas como sua irmã Clara dizia, imitando a voz da antiga Professora de adivinhação de Hogwarts e em tom de brincadeira, “com a puberdade, a chama oculta do amor nasceu no coração de Bevin (2)”.

- Ele nunca quis nada comigo, não vai ser agora, vai?

- Não tente adivinhar quais são as tramóias do destino, maninha, não tente – filosofou a morena. – Se você foi se apaixonar por um desses tipos sendo a senhorita Politicamente Correta Warren, de que podemos duvidar?

- É... – murmurou a loira vagamente.

- Mas, me explique, como foi que isso aconteceu? Você se apaixonar justo por ele e tal?

- Eu não sei – assumiu. – Eu sei que tem algo nele que me atrai. Talvez tudo se deva ao fato de sermos amigos e de rolar todo um instinto de proteção, um carinho, uma intimidade...

- E por que não o George? Quero dizer, eles são, tipo, iguais!

- Eles não são iguais. Repare melhor e você vai notar. O George é mais equilibrado – explicou. – Ele faz o tipo engraçado inteligente.

- E em dupla com Fred, eles realizam loucuras como fazer as pernas de pobres amigas ficarem azuis?

- Exato. – Em seu quarto ano, Bruna foi “cobaia” deles e acabou com as pernas azuis uma semana inteira.

- Então você foi se apaixonar pelo mais estranho?

- É. O que mais gosta de aparecer, o que tem as idéias mais estapafúrdias.

- Ou seja, o mais improvável.

- Isso aí. – admitiu Bruna em tom de derrota.

- Viu só? O destino é uma coisa surpreendente – Diana declarou em tom aéreo. – E nós podemos dar um empurrãozinho nele.

- O que você pretende fazer? – perguntou Bruna curiosa.

- Oras, vou fazer esse ruivo te notar. Da forma certa, sabe? Já está passando da hora disso acontecer.

- E posso saber como?

- Hoje à noite – respondeu Diana em tom misterioso.

Sabendo que não adiantaria insistir e ainda pensando na noite que viria, Bruna fechou os olhos e aparatou com um único pensamento: daria tudo certo?



~*~*~*~*~*~*~




Toda sexta-feira jantavam com o pai. Apesar de a família ser constituída por apenas quatro pessoas, os jantares em casa eram sempre marcados por muitas conversas e risadas. Thor fazia questão de saber como foi o dia de cada uma e, claro, conversar amenidades para manter um clima tranqüilo.

Apesar da fachada serena, agora que as filhas mais novas estavam na universidade e Clara no Saint Mungus, uma crescente sensação de solidão e velhice vinha tomando conta do patriarca. O tempo consigo mesmo parecia grande demais em comparação ao tempo com as filhas ou o trabalho. Não que as meninas o deixassem sozinho. Era normal que elas tivessem menos tempo em casa, agora que eram oficialmente adultas. Mas nada lhe tirava da mente que Maeve poderia sanar esse vazio cruel. Que o que vinha sofrendo agora era uma conseqüência da perda da esposa e da vida dedicada exclusivamente às filhas do casal.

E havia mais com o que se preocupar. O que aconteceria quando uma delas aparecesse novamente com um namorado? Ou pior: outro noivo? O que ele faria sem a esposa para lhe acalmar e dizer o que fazer? Até agora tudo dera certo porque ele não precisou tomar muitas decisões e nem foram feitas coisas que necessitassem de intervenção ou de uma conversa essencialmente íntima. A não ser com Clara no ano anterior, mas ele tivera a ajuda de Dawn. Bendita Dawn, pensou. A irmã de sua mulher era como um anjo para ele e as meninas.

O fato era que Thor acreditava que esse temível momento de abandono já vinha sendo adiado há tempo demais. Cedo ou tarde, ele ia ter que aceitar perder não só a mulher, mas as três filhas.

Espero que não sejam todas de uma vez só, suspirou.

Absorto em pensamentos, nem percebeu que a mesa estava em silêncio e três pares de olhos azul-perolados estavam analisando-o criticamente.

- Papai? – chamou Clara.

- Paizinho... – falou Bruna ao perceber que o pai não ouvia Clara.

- Papis! – berrou Diana. – O que houve? Você ‘tá bem? – Diana saltou da cadeira para o colo do pai.

Thor se assustou com a atitude da caçulinha e não segurou uma gostosa gargalhada.

- Desculpem-me, meninas – pediu. – Sobre o quê falávamos mesmo?

- A festa de hoje. Os gêmeos Weasley vão inaugurar uma nova filial das Gemialidades e fomos convidadas como very important person O senhor não se importa se formos, certo? – perguntou Diana.

- Claro que não, a ghra (3)... – Ele mirou as três com carinho. – Tomem cuidado.

- Não falem com estranhos – completou Clara.

- Não aceitem bebidas se vocês não viram o garçom abrindo – completou Bruna.

- E voltem pra casa todas juntas – finalizou Diana rindo enquanto voltava a se sentar em sua cadeira.

- Isso – assentiu ele. - E eu achando que vocês não prestavam atenção quando eu fazia as recomendações...

- Sempre prestamos atenção em tudo que você diz – falou Bruna, orgulhosa.

Thor abriu um sorriso genuíno para as três filhas e eles voltaram a conversar sobre a tal festa.

- Caitlín (2), minha filha, como foi o plantão?

- Agitado como sempre. – Clara respondeu – Está tendo um surto de catapora draconiana horrível. Varias crianças estão dando entrada no Saint Mungus contaminadas.

- Nossa, eu me lembro quando eu tive catapora draconiana – disse Diana. – Ficava esperando vocês darem uma brecha na vigilância para eu poder me coçar!

- Dana (4), acho que todos nós nos lembramos de quando você teve catapora draconiana. Cada um ficou traumatizado de uma forma diferente – Bruna replicou olhando para a irmã mais nova – Eu ainda me lembro de todas as exigências que você fazia usando a doença como desculpa.

- E eu ficava prendendo luvas nas mãos dela para ela não poder se coçar, mas ela sempre achava um jeito de arrancá-las – acrescentou Clara.

- Com exceção, é claro, de quando eu as prendia magicamente – lembrou Thor.

- Aí, as luvas ficavam. Eu ainda não consigo entender como você arrancava as luvas... – continuou Clara até ser interrompida por Diana.

- Isso, mavourneen (5) você nunca descobrirá!

- Ah, mas Dana (4) com catapora draconiana não foi tão difícil – opinou Thor. – Meus ouvidos ainda doem de quando os dentes de Caitlín (5) estavam nascendo. Você, sim, sempre teve os pulmões de ferro. Não é de reclamar, mas quando faz...

- Eu não sou a mais terrível. E quando a Bevin (6) ficou jogando quadribol até de madrugada e teve pneumonia? Ela passou duas semanas reclamando que não podia fazer nada! Eu ainda ouço a repetição frenética... – Clara começou a falar imitando a voz da irmã: – “Eu não posso sair, eu não posso dançar...”.

- “Eu não posso jogar. Eu não posso tomar gelado. Eu não posso ficar na janela. Eu não posso brincar no jardim. Eu não posso. Eu não posso...” - continuou Diana, imitando a mesma voz aguda que Clara tinha feito. – Eu também me lembro. Me dava nos nervos. Era passar pela porta do quarto dela para começar a ladainha.

- Eu não falo assim... Minha voz não é tão aguda! – Bruna tentou se defender sem muito êxito, no que todos riram.

- Mas vocês tinham que entender, meninas. Ela era uma criança de doze anos, de férias e entediada. Era de se esperar que ficasse chateada! - defendeu Thor.

- Esse é o maior absurdo que eu já ouvi! – exclamou Diana. – Por causa dessa loira a Caitlín (2) teve um trauma tamanho que se tornou curandeira pediatra!

Eles riram.

- E você se traumatizou com o que, para ser auror? – perguntou Bruna, risonha.

- Com os conselhos e histórias de pessoas más que papai e mamãe contavam. Me senti obrigada a me preparar física e psicologicamente para a vida adulta – declarou ela, num tom bastante parecido com o de Bruna quando falava dos assuntos ministeriais.

- Bevin (6)? – questionou Thor.

- Eu não tive traumas infantis, acho – disse Bruna. – Trabalho para aprender e criar.

- Quem de nós conta pra ela, Caitlín (2)? – perguntou Diana, dirigindo-se à irmã mais velha.

- Pode ser eu – disse Clara, séria. – Bevin (6), querida, desculpe ter que lhe dizer, mas... Quem deixa os presentes pra você no Natal é o papai Thor!

Bruna fez cara de extrema surpresa e levou a mão a boca, iniciando uma dramática interpretação de desilusão infantil que renderia assunto para toda a noite.

Após o jantar, a Mansão Warren estava em polvorosa. Eram três garotas se arrumando uma festa que prometia muito. Apesar de cada um ter sua própria suíte, após o banho todas se concentraram na de Clara para uma “arrumação conjunta”, como gostavam de chamar.

O quarto era amplo, simples, mas bem decorado e muito feminino. Pintado em amarelo claro, possuía uma enorme cama no centro ladeada por duas mesinhas com abajures e um porta-retratos com uma foto bruxa tirada em um natal há muitos anos, mostrando toda a família junto à árvore decorada. Em frente à cama podia ser vista uma pintura feita por sua madrinha Dawn, com uma de suas paisagens preferidas de Paris. Uma ampla janela com uma fina cortina em bege bordada com florzinhas coloridas na ponta, uma penteadeira, onde havia uma caixinha de jóias de mogno, uma estatueta de uma bailarina em porcelana e um porta-retratos com uma foto das irmãs em Hogwarts. Na parede esquerda havia duas portas, uma dava acesso ao banheiro e a outra que dava acesso ao closet. Entre as portas havia uma pequena estante com livros de herbologia, medicina bruxa e outros títulos.

- Diana, você vai usar a aquela bota preta? - perguntou Bruna, ainda de roupão, parada em frente ao closet da irmã mais velha.

- Não, acho que vou com aquele scarpin bege - respondeu Diana olhando paras os vários modelitos que separou em cima da cama.

- Ah, Bruna! Você pegou o vestido vermelho que eu estava procurando! - exclamou Clara largando um vestido verde em cima da cama e correndo até a irmã.

- Ah, relaxa, pode pegar, acho que vou acabar indo com o corpete roxo...

- Hei! Não bagunça a minha seleção! – reclamou Diana.

- Não bagunçar? – perguntou Clara erguendo uma sobrancelha e olhando para a cama totalmente coberta por roupas. – O meu quarto costuma ser organizado quando você não está nele, Dana!

- É um sistema de organização que apenas pessoas com alto Q. I. podem compreender, ok? E você o está ba-gun-çan-do! – disse Diana adquirindo um ar sério.

Bruna e Clara se olharam entre risonhas e surpresas antes de darem as costas para Diana e voltarem a se vestir.

Após quase duas horas entre roupas, sapatos, acessórios, penteados e maquilagem, elas estavam prontas e ligeiramente atrasadas.

Thor estava sentado em sua poltrona preferida, próximo à lareira acesa na sala, lendo um artigo recém lançado sobre magia avançada. Vez ou outra erguia os olhos para as escadas numa tentativa de descobrir o motivo de tanto alvoroço e dos burburinhos e risadas provenientes do quarto da mais velha de suas filhas. Com um sorriso no rosto ouviu os barulhos característicos de saltos no mármore escuro da escada. Mas nada no mundo o prepararia para a cena que se desenrolou em seguida.

As suas três filhas entraram na sala com imensos sorrisos nos rostos jovens e os imensos olhos azuis perolados, exatamente iguais aos seus, brilhando em expectativa.

Clara usava um vestido frente única com grossas alças, possuía um decote quadrado e as costas nuas. Era feito de seda de cor creme, justo na cintura e levemente rodado nas pernas, atingindo o comprimento até a altura dos joelhos. Usava delicados sapatos dourados e os cabelos longos e escuros soltos.

Bruna estava com um corpete verde tomara-que-caia no qual uma fita de cetim trançava em contraste com a pele clara de suas costas. Vestia uma calça jeans simples, um scarpin preto e tinha os cabelos dourados presos num rabo de cavalo, com algumas mechas da franja soltas.

Diana usava um vestido vermelho de alças finas bordado em pedraria de seu busto até a cintura, e que se abria até pouco antes dos joelhos e um scarpin preto. Os cabelos negros estavam presos numa presilha de strass em forma de borboleta e os brincos finos de prata completavam seu visual moderno e casual.

Como se houvessem ensaiado, as três pararam alinhadas em frente ao pai, deram uma voltinha em seu próprio eixo e perguntaram em uníssono:

- Gostou, papai? - perguntaram rindo.

- Estão lindas, as minhas meninas – disse Thor com a voz embargada.

- O que foi, pai? Não está se sentindo bem? - Clara perguntou levemente alarmada enquanto colocava a mão esquerda sobre a testa do pai.

- Não, minha mocinha, não é nada... – respondeu retirando cuidadosamente a mão da filha. – É que vocês estão tão crescidas, tão bonitas... Sua mãe estaria muito orgulhosa em vê-las assim. Mas... - Seus olhos brilharam. - Nada de saudosismos hoje. Vocês estão lindas o suficiente para despertar meus ciúmes. – Ele passou a mão pelos cabelos lisos e curtos. – Bí curamach! (7) – preveniu mais uma vez enquanto se erguia para dar um beijo na testa de cada uma de suas filhas.

- Teremos cuidado, papai – garantiu Clara.

- Pai, tem certeza de que está bem? - perguntou Bruna ainda preocupada e já começando a retorcer as mãos em um gesto nervoso.

- Sim, minha querida! Divirtam-se e amanhã vocês me contam o que a Gemialidades Weasley de novo. Vocês sabem que acabei virando fã da loja, não é? – acrescentou com um sorriso travesso que o rejuvenescia dez anos. – Já são nove e meia, e pelo que me consta a festa começou às nove, talvez vocês devessem ir.

Cada uma das três retribuiu carinhosamente o beijo do pai, pegaram seus casacos e cachecóis e se dirigiram para a frente da casa. Ansiosas, puxaram as varinhas e tocaram o convite murmurando aparatus, no que foram engolfadas pela conhecida sensação de puxão no umbigo



~*~*~*~*~*~*~



Mini Glossário Gaélico:

1) Sabedoria
2) Clara
3) Meu Amor
4) Diana
5) Minha querida
6) Bruna
7) Tomem cuidado


N/B - Liv: Já falei que eu simplesmente AMO o Thor?? Não? Pois eu amo ele!! *-* E vê-lo todo depressivo, solitário, me dá um dó enorme!!!! Adorei o capítulo, meninas! E espero ansiosa pela festa! Afinal, como uma boa organização Weasley em dose dupla, com certeza vai dar o que falar! (E como vai... - vira pro lado e assovia) Estou adorando cada vez mais e maravilhada com a história de vocês! Beijos da beta orgulhosa, amadas!

N/A1 – Cáitlín: Gente, desculpa a demora pelo capitulo, mas aí está ele... Acreditem... Tentamos postar antes, mas alguns inconvenientes e percalços impediram a postagem... Só rezo para que a espera tenha valido a pena e que todos tenham se divertido com esse capitulo que apesar de curtinho irá dar início a uma serie de acontecimentos importantes na fic... Continuem acompanhando a nossa história e até o próximo capitulo...!!!!!

Mil B-jus
Cáitlín Warren

N/A 2 - Bevin: Olá pessoal! Voltamos com mais um capítulo da Saga Warren, espero q estejam curtindo... Desculpem a demora, assumo a culpa, me enrolei no trabalho e atrasei um pouquinho. Infelizmente não poderei responder aos comentários individualmente, mas adorei e salvei todos, obrigada! Muitos Beijos e até a Festa propriamente dita *hehe*

N/A 3 – Dana: Hey! Cá estamos nós de volta. Quem diria, ham? A nova Gemialidades Weasley. Uma festa de inauguração. Muito pode acontecer e, claaaro, teremos os nossos amigos mais famosos na área. O que acharam dessa família? O que esperam? Notei que o prólogo tendeu a trazer lágrimas à tona...

Agora, respostas aos reviews, então aqui vamos nós:

Liv: Obrigaaaada, de novo. Espero que a gente não te chateie (muito) com as discussões e tudo o mais. Amoo. Bj.

Anis: Obrigada por tooodos os desejos de boa sorte. E agradeço também pelo seu ânimo com a fic. Espero que realmente goste! “Gráinne”, "Críonnacht" e "Saoire", não se esqueça. Beijooos!

A.Estrela: Onnh! O que seria de mim sem você, chuchu? E o que será de mim quando você for pro pólo norte? Obrigada pelo seu carinho, tb amo você. Não se esqueça de comentar o que achou desse! Beijoo.

Naty L. Potter: Bem, provavelmente se eu tivesse a audácia de responder o seu comentário à altura as meninas me matariam dizendo que além de tudo eu ocupo espaço demais. Então só vou dizer: obrigadaaaa. Você provou que conseguimos alcançar quase tudo que desejávamos com esse capítulo, mas, em especial, a emoção! Que bom que você aprovou o ritmo - a fic toda estará nesse estilo - e tenho de confessar que também imagino a gente como é na realidade. Mas só às vezes. Nas N/C's prefiro ver outras pessoas. ahuahau! Beijooo!

Kelly: Mérlin, como é bom ter você aqui! Obrigada por tudo e não se esqueça de dizer o que achou. Beijo!

Fadinha Ruiva: Faaaads! E aí? Gostou da sua participação? Espero que tenha gostado, foi só o começo. Apesar de você ser mais amiga da Bruna - buááá - faço questão de te incluir nos meus textos também, tá? Obrigada pelo seu interesse e pela sua emoção com o prólogo! Suas perguntas já foram respondidas no topico do Lumus, certo? Se tiver outras é só gritar. Um beijo!

Cláudio Souza: Então, o que a gente faz quando o Cláudio comenta a nossa fic? Entra em pânico? Se desespera? Siiim! Mas depois de recuperar a sanidade a gente agradece! Que bom que intimamos você a passar por aqui, Cláudio! Acho que as referidas personalidades diferentes já estão sendo bem delineadas, ham? Gostou? Beijooo!

Pessoa sem nome que eu espero que seja a Ana: Oooi! Foi um prazer te encontrar também! E fico muuuito lisonjeada com seus elogios. Que tal a continuação? Obrigada. Um beijo!

That's all. Até mais!
Dana Warren



Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.