Olfato



Gina estava incomodada, sentia a presença de Harry perto de si. Podia sentir o perfume natural do corpo dele e ouvia a respiração suave e pausada que ele tinha. Tinha mais gente por perto, mas tudo o que ela conseguia sentir era Harry.

Ela não sabia porque estava tão sem jeito, eles já tinham se entendido, por que então agora ela voltara a agir como se ainda fossem estranhos um pro outro?

Suspirou alto.

De vez em quando um ou outro ameaçava falar algo, mas ficava tudo só na vontade. Uma barreira invisível separava os dois novamente. Sentia vontade de dizer a ele várias coisas, inclusive que já conseguia dormir novamente. Toda noite quando a irritação da dor no joelho e outras coisas a inquietavam ela lembrava do beijo dos dois, e então sua mente viajava e em poucos minutos dormia.

-Gina, suas coisas já estão arrumadas?

-Já.

Bom, pelo menos eram os últimos minutos de incomodo entre os dois, ela ia voltar para A Toca. Agora que parecia seguro voltar ela preferia estar na sua casa, onde era mais fácil se deslocar. Até ouvira sua mãe oferecendo a casa para Harry, mas ele preferiu ficar em Grimmauld Place.

Almoçou rapidamente e depois foi para casa por Pó de Flu, tivera autorização para usar graças à sua condição.

Adorou estar em casa, até mesmo o ar ali era mais agradável. Incrível.

-Gina, pode ajeitar-se no seu quarto sozinha? –perguntou Rony.

-Claro!

Ela pegou desajeitadamente sua mala e começou a subir as escadas, era interessante como já nem precisava tatear a parede, era como se tivesse um mapa mental do lugar em sua cabeça, já conhecia tudo. Talvez agora que estava mais calam e resignada com tudo aquilo ela já conseguia lembrar de cada detalhe da casa com calma.

Abriu a porta do seu quarto e com muito tempo e paciência começou a ajeitar tudo em seu devido lugar. Primeiro tirou as roupas da mala e as colocou na cama, onde separou os tipos e guardou no guarda-roupa. Então pegou objetos pessoais e foi colocando cada um ao lugar em que pertencia. Pegou sua carteira e procurou sua bolsa para guardá-la.

-Ah Merlim... onde eu deixei a minha bolsa?

Se já era difícil achar um objeto perdido mesmo quando tinha a visão, agora então seria uma beleza. Mas resolveu procurar sozinha, com um pouco de paciência ela a acharia, seu quarto não era grande, portanto não poderia ser tão difícil.

Demorou um pouco, mas ela achou a bolsa no chão, ao lado do criado-mudo. Pegou e sentiu que estava pesada.

-Vamos ver... o que tem aqui dentro?

Virou a bolsa na cama e passou a mãos pelos objetos, de imediato reconheceu o que dava o peso à bolsa. Havia alguns aparelhos e exames do laboratório que ela havia esquecido em sua bolsa. Guardou a carteira e o resto das coisas na bolsa e desceu as escadas, procurando por alguém.

-Gui?

-Estou aqui, Gina. Precisa de alguma coisa?

-Preciso. Quero que você escreva uma carta para o laboratório onde eu trabalhava. Algumas coisas de lá ficaram na minha bolsa, mande alguém vir buscar.

Molly entrou na sala e ouviu o fim da conversa.

-O que ficou com você, filha?

-Alguns objetos, alguns exames, não muita coisa, mas de qualquer jeito...

-E você já terminou de ajeitar o seu quarto.

Ela sorriu satisfeita.

-Já sim, demorei um pouco e fiz algumas confusões, mas agora já está tudo certo.

-Ótimo, então venha me dar uma mão aqui na cozinha.

Óbvio que ela não fez muita coisa, mas precisava manter-se ocupada e além disso seus irmãos também estavam por ali, então ficavam conversando. Os Weasley agiam como se ela não tivesse nada, como se o fato de ela não enxergar fosse uma besteira qualquer. Eles queriam se acostumar o menos possível com a situação, porque tinham certeza que em breve ela estaria bem novamente. Ela não tinha tanta certeza se sua recuperação seria tão rápida quanto eles esperavam, mas aos poucos estava não se deixar levar pelo desânimo.

Toda vez que queria desistir de tudo ela lembrava de Harry e da conversa entre eles naquela madrugada. Ela falou que ele não podia se entregar, e para não parecer hipócrita também não se deixava desanimar.

Ela não sabia, mas a verdade é que ele tinha melhorado muito desde a conversa com ela. Dormia melhor à noite, embora ainda tivesse pesadelos, não tão freqüentes como antes, é claro. Mas é que Gina agora simbolizava uma força enorme para ele, era estranho, mas ele se sentiu perdendo em uma competição. De um lado ele, bem de saúde e péssimo mentalmente e do outro lado ela, mal de saúde e ótima mentalmente. Sentia que ela estava muito melhor que ele, e agora lutava para não perder. Tentava seguir o conselho dela aos poucos, do modo como podia.

E quem assistia à tudo isso sem dar uma única opinião era Rony. Via a auto-estima do melhor amigo melhorar e a confiança em si mesma de Gina retornar aos poucos. Mas estava em dúvida, tinha quase certeza que os dois tinham tido contato um com outro, algo que ninguém tivesse ficado sabendo, mas se isso tinha acontecido, por que eles lhe pareciam tão distantes até agora? Deixava as apostas para Fred e Jorge, mas tinha quase certeza que os dois não reatariam, nem mesmo se os dois voltariam a ser amigos normalmente.

-Rony, me passa a salsicha? –disse ela.

Ele pegou a travessa e colocou nas mãos dela. Gina tirou duas e deixou a bandeja suspensa em sua mão, para que ele a pegasse de volta e colocasse no lugar.

Assim que ela terminou de jantar e ajudar a arrumar a cozinha ela foi se deitar. Ela trocou de roupa e já havia se sentado na cama quando sentiu que havia algo ali. Ah sim, ela não havia pendurado a bolsa. Era só guardá-la, mas ela resolveu ver direito o que havia ali com ela. Tirava os objetos, os tateava e cheirava, para melhor identificar cada coisa. Já tinha separado alguns quando pegou um potinho.

-E o que é isso? –cheirou cuidadosamente- Sangue? Por que eu traria uma amostra de sangue?

Destampou o pote com cuidado e tentou se lembrar de seu último dia no laboratório. Claro, ela havia trazido uma amostra do sangue do Sr. Hoffman, que estava tendo varias reações contra os remédios dados a ele e aos tratamentos que eles executavam. Ela trouxera o sangue para casa porque queria analisá-lo melhor, mas agora, nas atuais circunstancias nem havia como analisar. Cheirou novamente o sangue e sentiu algo errado, não sabia dizer como, mas de algum modo aquele sangue não lhe parecia normal, tinha algo ali que estava dando um odor um pouco mais forte.

-Eu sei que cheiro é esse, mas não consigo lembrar...

Passou algum tempo meditando sobre o assunto, mas definitivamente não conseguia se lembrar. Guardou tudo na bolsa, menos o frasco com o sangue, não deixaria que levassem aquilo antes que ela descobrisse o que havia ali.



Três dias depois dois empregados do laboratório vieram e levaram tudo embora, exceto a amostra de sangue, que ela nem contou que trouxera. Mas isso tudo já fazia uma semana, e ela ainda não havia descoberto o que era aquele cheiro. E não era por falta de tentativa, saiu cheirando tudo na casa e no jardim, para ver se lhe lembrava o cheiro do sangue, mas nada adiantou, na sua casa não havia um cheiro daquele jeito, embora ela tivesse certeza absoluta de conhecer aquilo.

Ela estava sentada no sofá ouvindo Gui ler um livro para ela, quando sua mãe chegou da compra.

-Venha, Gina, estou atrasada para fazer o almoço.

-Já vou.

Calçou suas chinelas e foi para a cozinha, ajudou a mãe a tirar algumas compras da sacola quando então sentiu o cheiro.

-AH!

Sua mãe deixou cair o pote com azeitonas no chão, que por sorte não quebrou.

-O que foi, Gina? Está sentindo alguma coisa?

Ela fez um muxoxo com a mão e começou a procurar de onde vinha quilo. Era uma pequena sacola, onde só tinha temperos. Pegou cada um e cheirou, até que achou.

-Mãe, o que é isso?

Molly olhou.

-Ora, como se você não conhecesse! Salsa-da-noruega, Gina! Tanto barulho por salsa-da-noruega, coisa que você encontra em qualquer mercado?

-Aham, mãe, eu vou lá no meu quarto, daqui a pouco eu venho te ajudar. Até porque nós duas sabemos que eu não faço muita coisa.

Ela saiu em disparada para seu quarto levando em sua mão o pacotinho com salsa-da-noruega, tinha que confirmar se era a mesma coisa. Pegou o frasco e o destampou, cheirou minuciosamente cada um deles e sorriu satisfeita.

-É isso!

Mas em menos de dois minutos de satisfação uma pergunta lhe veio à mente. Ok, era salsa-da-noruega no sangue do Sr. Hoffman, mas o que isso significava? Desceu as escadas e achou sua mãe na cozinha.

-Mãe, o que essa salsa faz?

-Tempera.

Gina revirou os olhos.

-Isso eu sei! O que mais que isso faz?

-Bom, isso... isso faz... ah sei lá, Gina! Para que precisa disso? Eu uso para temperar e pra fazer massas em geral, porque ajuda a dar liga na massa.

-Liga? Ah sim, mas a Sra. tem algum livro sobre isso aqui em casa?

-Para que eu precisaria de um livro sobre temperos? O meu é muito bom do jeito que é, ou a srta. não está satisfeita?

-Nada disso, só quero saber as propriedades desse tempero.

Sua mãe voltou a resmungar algo, mas ela nem ouviu, foi a sala, ver quem estava lá.

-Gui?

-Sentado no sofá, Gina.

Ela achou o sofá e se sentou ao lado dele.

-Vai a Be-blioteca comigo?

-O quer lá?

-Um livro sobre temperos?

-Não gosta dos da mamãe? –perguntou ele rindo.

-Deixe de ser bobo, sabe que não é isso. Me leva lá?

-Claro. Agora?

-Só vou trocar o sapato.

Assim que ela desceu Gui pegou sua moto que ele havia comprado há algum tempo e a levou até o Beco Diagonal.

Era no Beco que ficava a Be-blioteca, lugar no qual Gina entrou bem agitada, se não precisa-se estar de braço dado com Gui para não esbarrar em nada nem em ninguém, ela provavelmente teria ido correndo ao balcão.

-Por favor, eu gostaria de ver algum livro que falasse sobre as propriedades da salsa-da-noruega?

A bibliotecária siu e em alguns minutos voltou com o livro que Gina queria. Gui pegou o livro e os dois foram se sentar numa mesa por perto.

-Bom, vamos ver... –disse ele folheando o livro- Rúcula, sal, salsa-da-noruega, achei!

-Vamos, leia, Gui!

Ele estranhou o tamanho interesse dela sobre o tempero, mas resolveu não perguntar nada.

-A salsa-da-noruega ao contrário do nome é criada na Espanha e não, não é isso que você quer, onde está? Ah, aqui, propriedades. Suas propriedades mágicas são, aceleração da dos batimentos cardíacos, aderência entre substancias, fonte de energia para poções que envolvam plasma e é um ótimo tempero, com sabor e odor forte. Pronto, Gina, é isso.

Ele começou a falar algo que ela não prestou atenção. Só conseguia pensar nas propriedades e no Sr. Hoffman. Tinha acabado de descobrir como os Comensais combinavam feitiços.

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.