CINCO



 


            Último dia de acampamento da semana! As crianças estavam agitadíssimas. A primeira série cantou durante todo o caminho até a piscina do Country Clube, umas músicas absurdas que haviam sido ensinadas por Harry. Parecia que eu estava sendo transportada em uma gaiola de canários.


            Naquela manhã, Steve me encontrou na piscina e quis conversar sobre Gina, mas eu precisava dar atenção a cada um dos meus campistas.


            - Ligue pra mim - falei.


            Vinte minutos depois, um amigo do Steve apareceu, interessado no mesmo assunto. Também falei para ele me ligar, dando-lhe rapidamente o número do meu telefone. Mais tarde, enquanto colocava as crianças no ônibus, duas morenas com biquínis minúsculos e seios proeminentes vieram correndo em minha direção.


            - Helena! - chamou a mais alta.


            - Helen! - gritou a amiga, acenando para mim.


            Não respondi. Estava ocupada vendo três dos meus meninos, arrancando um canteiro de begônias do Country Clube. Corri até eles, mas antes que pudesse salvar as plantinhas as duas garotas entraram na minha frente.


            - Nós ouvimos dizer que você e Harry são muito amigos - disse a mais alta.


            - E queríamos saber se ele tem namorada - continuou a outra.


            Por um instante, pensei que fossem gêmeas, apesar da diferença de altura entre elas. Ambas tinham as unhas das mãos pintadas e umas borboletas azuis desenhadas nas unhas dos pés. Vestiam biquínis amarrados com lacinhos e tinham exatamente o mesmo modo de manter a cabeça erguida.


            - Ele tem uma namorada aqui em Baltimore? – perguntou a mais alta.


            - Ou na Pensilvânia? - ecoou a amiga.


            - Eu não sei... - balancei os ombros. - Franklin, Noelle e Shane, larguem as flores!


            - Ele está a fim de namorar? - perguntou a baixinha.


            - De que tipo de garota ele gosta?- quis saber a outra.


            - Alta?


            - Pequenininha?


            - Não sei - respondi novamente. - Já disse para largarem as begônias!


            - Bem, onde vocês costumam ir à noite? - perguntou a baixinha, passando os dedos pelo laço do biquíni.


            - Não saímos à noite.


            - Pensei que fossem amigos.


            - Trabalhamos juntos. É só. Escutem, preciso ir agora.


            - Nós te ligamos - disse a mais alta. - Eu sou Sarah. Ela é a Sandra. Qual o seu telefone?


            - Eu realmente preciso ir.


            - O Steve tem o seu número? - insistiu.


            - Por favor, escutem. Estou falando pra vocês exatamente o que eu disse às outras. Não sei nada sobre Harry Potter.


            - Bem - falou Sandra - Talvez você pudesse fazer umas perguntas...


            - Mas não tem nada sobre ele que eu queira saber - repliquei, então dei as costas, terminando a conversa e colocando as crianças no ônibus. No caminho, coloquei minha mão ao redor do ombro de uma das minhas exterminadoras de begônias, virando o rostinho dela para mim:


            - Noelle, queridinha, você precisa respirar. Tire as pétalas da flor de dentro do seu nariz.


 


 


            Cheguei ao acampamento com o grupo da primeira série dez minutos depois. A segunda série estava me esperando, cheia de energia. Apostamos corridas, viramos cambalhotas e dançamos no gramado.


             - Certo, agora somos coelhos - gritei,e todos começaram a pular.


            - Agora somos girafas, com longas, longas pernas...


            As crianças se esticavam.


            - Agora somos galinhas. Cisca, cisca, cisca, corre, corre, corre com os pés pequenininhos! Oh-oh, olhem, lá vem a raposa!


            Foi desse modo que atravessamos o monte onde Harry e o seu grupo estavam sentados – um bando de galinhas e uma raposa galopante de cabelos castanhos.


            - Ei! - gritou Terry. - Nós somos as raposas e você é a galinha.


            - Tudo bem.


            Eles me atacaram de todos os lados.


            Estirada na grama, com um monte de raposas risonhas despencando sobre mim, olhei para o profundo azul do céu, então, virei a cabeça para a direita. Eugene e seus colegas da terceira série, a gangue dos rebeldes, estavam espalhados sob as grandes árvores, concentrados nos desenhos. Uma música clássica chegava até nós. Era um instrumento de cordas, como se uma harpa gigante estivesse no meio do bosque. Harry estava ajoelhado, conversando com dois meninos. April, a menininha roliça que usava um zilhão de fivelinhas brilhantes, chegou por trás de mim e me deu um abraço.


            - Oi, fessora - Eugene me cumprimentou docemente.


            Do alto do monte, Harry nos olhou. Olhei de volta. Não sabia se o grande sorriso era para mim ou para as crianças.


            Por um momento, desejei ser uma criança. Queria estar sentada no alto daquele monte, ouvindo a música de Harry, descobrindo maneiras de pintar a paisagem. Mas as minhas raposinhas estavam se contorcendo ao meu redor e eu precisava levá-las para o pátio.


            Naquele dia, Anna, Harry e eu fomos dispensados de monitorar o almoço. Comemos uma pizza na lanchonete, depois cada um se alojou na sua cadeira favorita em um dos cantos do escritório. Anna começou a ler um livro de Tolstói, Harry folheava uma National Geographic e eu dava uma olhada nas páginas de esportes. Entre os resultados dos jogos de futebol, espiava Harry por cima do jornal. Eu tinha um forte pressentimento de que as perguntas das meninas da festa não iriam acabar tão cedo. E caso eu decidisse empurrar Harry para Gina, talvez alguma informação ajudasse.


            - Escute, Harry - comecei - Existem algumas coisas que preciso saber sobre você.


            - É? O quê? - ele fitou os meus olhos e sorriu.


            - O que você prefere: loiras ou ruivas?


            - Perdão?- o sorriso desapareceu dos lábios dele.


            - O que você prefere: garotas com cabelo loiro ou vermelho?


            Anna pôs o livro do lado por um momento.


             - E então? - insisti.


            - As morenas não são uma opção? - ele perguntou.


            - Não - disse - Não havia nenhuma morena na festa ontem à noite.


            Ele me olhou de modo estranho.


            - Ao menos não alguma que, pelo que eu saiba, esteja interessada em você. E então?


            - Não sei - murmurou. - Isso não importa.


            - Ah, vai - eu o desafiei. - Não seja um desses que juram que aparência não é importante. Eu odeio quando os caras falam isso.


            Anna fechou o livro, marcando a página com um guardanapo. Harry olhou para ela e depois para mim.


            - É claro que a aparência importa - falou se defendendo. - Eu seria o primeiro a admitir que sim. Só não sei dizer exatamente qual tipo prefiro. Depende: assim que eu olho, eu sei se me interessa ou não.


            - Baixa ou alta? - perguntei.


            - Meu limite é um metro e oitenta e três.


            - Mesmo? Você sairia com uma garota quatro centímetros mais alta que você?


            - Três - ele corrigiu.


            - Um metro e oitenta e três, registrei mentalmente enquanto dava uma mordida em minha pizza.


            - Certo. Histórico familiar. Pai, mãe, irmãs, irmãos, animais de estimação? E o que eles fazem?


            - Minha mãe é médica e trabalha no hospital de Baltimore - ele disse um pouco incomodado. Comecei a achar que família era um assunto muito delicado.


            - Legal- disse encorajando-o. - Só mais uma pergunta. Bem, talvez duas, primeira pergunta...


            - Sabe, Hermione - ele interrompeu - Esse tipo de coisa normalmente surge aos poucos, conforme duas pessoas vão ficando mais amigas.


            - Como assim? - perguntei.


            - Deixa pra lá - balançou a cabeça.


            - Você deixou alguma namorada na Pensilvânia?


            - Qual é a importância disso? - retrucou, indignado.


            - Tudo bem. Vamos pular para a segunda - disse rapidamente.


            - Você está interessado em alguém?


            - Escute, isso é realmente importante pra você? Senão, por que está me perguntando? - seus olhos escureceram. Ele estava definitivamente irritado.


            Com isso, eu acabei ficando furiosa:


            - Vou falar por que! Porque eu fiquei ontem a noite inteira, e hoje de manhã também, cercada por um punhado de garotas idiotas que queriam saber todos os detalhes sobre a sua vida. O que você acha que estava acontecendo naquela festa? Ou você acha que eu ganhei o concurso de Miss Simpatia? Você realmente acha que todas aquelas pessoas queriam ser minhas amigas? - respirei um pouco. Não tinha percebido o quanto eu estava furiosa até aquele momento. - Tudo que elas queriam saber era sobre você. Você e Gina, Gina e você! - Senti que estava prestes a explodir. - Vocês eram as estrelas!


            Anna permanecia nos assistindo, imóvel. Harry se sentou calmamente. Sabia que ele estava tentando me entender, e eu não queria que isso acontecesse.


            - Deixa pra lá - eu disse, tentando desfazer toda a bagunça. - Você está certo. Eu não deveria ter sido tão intrometida.


            - Talvez- disse ele, após passar um tempo pensando - Você mesma tenha se convencido de que Gina é uma estrela. Eu ouvi o que você conversava com um cara ontem à noite. Só falava dela! Acho que você não devia dar tanta importâcia à Gina.


            Eu me curvei sobre um pedaço de pizza.


            - Mas pensei que aquilo era parte de um plano - ele continuou. - Fiquei te observando e pensei que talvez você estivesse tentando arranjar alguém pra Gina. Pra ela não ficar correndo atrás do Ovos Mexidos.


            - O nome dele é Draco - resmunguei.


            - Você estava querendo que isso acontecesse, assim teria... Draco... só para você. Acertei? - perguntou.


            Se eu abaixasse mais o rosto em direção ao meu pedaço de pizza, ficaria com um pedaço de calabresa grudado no nariz.


            - Está certo. Absolutamente certo... Satisfeito?


            Harry soltou uma gargalhada, que mais parecia uma bufada, e saiu da sala.


 


 


 


            "Oi, Hermione! Sou eu, Gina. Recadinho. Tem certeza de que tudo bem se o Tim vier aqui em casa hoje? (risadinha nervosa.) Provavelmente vamos ficar falando de você o tempo todo. Ligue pra mim.”


            Beep.


            "Olá, Hermione. É o Steve. Sábado de manhã. Queria falar com você sobre a Gina.


            Beep.


            "Hermione. É o Tim. Sábado. Onze horas. Podemos conversar?”


            Beep.


            "Ah, é a Hermione? Aqui quem fala é o Brent Coughlin. Encontrei você na festa do Steve. Poderia me ligar de volta? 555-4639. Mas não diga nada ao Steve que eu liguei, OK?”


            Beep.


            "Oi. Aqui é a Jill. Estava na festa do Steve. Preciso muito falar contigo, Hermione. Me ligue no 555-7654.”


            Beep.


            "Hermione, é o Tim de novo. Onze e meia. Andei pensando. Acho... que nós devíamos ser apenas amigos.”


            Beep.


            "Alô? Esta mensagem é para a Hermione, amiga do Harry. Meu nome é Meredith. Por favor, me ligue no 555-6280. Obrigada.”


            Beep.


            - Não! - eu disse para a secretária eletrônica. - Obrigada. Obrigada a todos vocês - joguei meu bloco de mensagens no chão.


            “Hermione, aqui é o Draco. Eu sei que já está meio em cima da hora, mas queria saber se você sairia comigo hoje à noite?"


            Mas essa mensagem não estava gravada.


            - O que você está resmungando aí? - perguntou Joelle, assim que eu apertei o botão de "apagar" da secretária.


            - Uma maneira milenar de xingar irmãs - respondi.


            Ela abriu um sorriso forçado, então largou uma enorme bolsa de lona sobre a cama.


            - Bem, eu acho que é mais fácil acreditar nisso do que na sua oferta de me levar de carro pro médico.


            - Dá um tempo. Estava tentando ser legal, para variar.


            - Ou você estava evitando alguns telefonemas – observou Joelle, enquanto retirava os livros de dentro da bolsa.


            Minha irmã tinha o hábito de carregar bolsas gigantes cheias de livros desde que éramos pequenas. Só que agora todos os títulos continham a palavra "bebê". Eu sentia falta dos velhos e misteriosos livros sobre sociedades antigas e culturas exóticas, nos quais, quando era criança, eu realmente procurava modos de xingar irmãs mais velhas.


            - Por que você não está nadando na casa da Gina? – perguntou Joelle.


            - Ela está com outra pessoa hoje - falei, enquanto começava a dobrar a roupa lavada.


            - Com seu namorado, Hermione! Ou pelo menos com algum ex-namorado seu.


            Desisti de dobrar, abri várias gavetas e comecei a arremessar as roupas dentro delas.


            - Tim e eu não tínhamos nada a ver.


            - Nem você e nenhum dos outros anteriores – observou Joelle. - Eles todos haviam sido feitos para a Gina.


            - Não, sua grande atrapalhada - falei quando joguei o sutiã roxo no seu rosto. - Olhe para onde o amor levou você.


            Ela piscou e, por um minuto, ficou muda. Depois se levantou e se curvou sobre a escrivaninha, que ficava ao lado da minha. Camas gêmeas, escrivaninhas gêmeas.


            - Só não consigo entender, Hermione. Você é uma lutadora: nos esportes, na escola, em casa. Mas quando falamos da Gina...- ela balançou a cabeça. - Isso me incomoda. Não suporto ver uma pessoa maltratando a outra. Não suporto ver a minha própria irmã sendo usada.


            - Então arranje uma vida própria, Joelle - sugeri, fechando as gavetas com força. - Assim, você não vai perder o seu tempo assistindo a minha.


 


 


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♪ Então é Natal... ♪


Espero que vocês tenham gostado do meu singelo presentinho de Natal!
Adoro essa história, não é demais?! rsrs


Enfim, desejo tudo de bom para todos! Paz, saúde, sucesso, dindin... Essas coisas que sempre são importantes, né?


Provavelmente esse deve ser meu último post do ano! Mas não fiquem chateadas, porque eu não vou viajar em janeiro, então devo aparecer por aqui.


Beijos, tudo de bom gente!


Baccio!


 


Feliz 2010!!!

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