Capítulo 4



Danielle teve a nítida impressão de que o chão havia desaparecido sob seus pés, atrapalhada com pensamentos desordenados, que inutilmente procurava compreender.
- Mas você não estava em Paris?
- Se soubesse que eu estaria aqui, com certeza nunca teria vindo... - ele comentou. - Conhece muito pouco os homens, filha de Hassan, apesar de toda sua educação moderna. Honestamente, pensava que eu ia engolir um insulto daqueles? Ser recusado como marido?
Seus dedos fortes agarraram-lhe as mãos com crueldade. Um medo gelado envolveu Danielle, como se fosse abraçada pela morte. Era impossível acreditar que estivesse vivendo aquele pesadelo! Assim que pudesse, telefonaria para os pais e voltaria para a Inglaterra! Mas, Deus do céu!, eles se encontravam nos Estados Unidos, viajando de costa a costa, fechando negócios e cumprindo compromissos sociais!
Pois então pediria ajuda a Jamaile, decidiu, reanimando-se e procurando vencer o medo que criava um abismo entre ela e a realidade.
Jamaile sem dúvida a ajudaria. Ah, se tivesse pedido algum dinheiro a Rassan! Mas ele havia insistido em que não precisaria de nada. De fato, seus anfitriões se sentiriam ofendidos se utilizasse seus próprios recursos. Não tinha pago nem mesmo a passagem de avião, pois dispunha do jato da família.
Os pensamentos giravam em redemoinhos, desafiando-a a detê-los.
E durante todo esse tempo, Jourdan estava ali a pouca distância dela, envolto em sombras, segurando-lhe sem piedade os pulsos.
- Jamais o perdoarei!- ela exclamou, o rosto vermelho de furor. - Não fiz nada para merecer esse tipo de tratamento! Assim como não tive intenção de ofender você com a minha recusa.
- Então a filha de Hassan não tem a coragem que demonstra ter! E muito fácil insultar alguém num momento de exaltação. O difícil é justificar a atitude mais tarde!
- Que justificativa deveria dar? Como poderia aceitar a idéia de um casamento fundamentado num negócio financeiro? - Danielle falava com a franqueza da emoção. - Mesmo antes de saber do acordo entre você e papai, fiquei conhecendo passagens da sua vida que me desagradaram, inspiraram antipatia e desconfiança...
- O que ouviu a meu respeito?
Os olhos de Jourdan se estreitaram, tornaram-se astutos como o de uma pantera prestes a atacar a presa. Danielle permaneceu pensativa, tensa e amedrontada, hesitando em falar. Ele estava pronto para destruir seus frágeis argumentos.
- Quem lhe falou de mim? - Jourdan insistiu, impaciente com o silêncio prolongado de Danielle.
- Uma amiga minha - disse rapidamente, recusando-se a dar maiores explicações. - Phlippe Sancerre também. " Considero-me' uma mulher de sorte, pois apenas ouvi seu nome, entretanto, algumas garotas tiveram de Suportar seu egoísmo, sua possessão e indiferença...
Por um momento, teve a impressão de que ele a esbofetearia. Instintivamente recuou, intimidada pelo olhar selvagem.
- Considere-se uma mulher de sorte, sim, mas porque compreendo que você não passa de uma garota mimada, que mal sabe o que diz. Uma menina que não tem o menor pudor de caluniar pessoas que nem sequer conhece. - Aproximou-se um pouco, o hálito quente nas faces de DanieUe. - Uma criança que ignora aquilo que recusa com palavras desesperadas e disparatadas. Então acha que as mulheres não suportam a minha maneira de amá-las? E por isso foge de mim, apavorada e cheia de aversão? Ora, ora, sua bobinha...veja bem... Há muita coisa mais em que deve pensar...
Aproximando-se, puxou-a contra si. Com uma mão segurou-lhe os ombros e com a outra acariciou-lhe o rosto.
- Você é tão tímida quanto uma gazela no oásis - brincou, gentil.- O que temos aqui? Uma criaturinha frágil e amedrontada. Fi1ha de Hassan... onde está a sua bravura? Sou apenas um homem! Feito de carne e ossos! E meu coração bate igualzinho ao seu. Não consegue ouvi-lo?
Danielle concentrou a atenção na mão que estava pressionada sobre o peito dele. Rezou, com desespero, para que aparecesse alguém para livrá-la daquele pesadelo.
- Não se preocupe - disse ele, lendo-lhe os pensamentos.- Ninguém virá socorrê-la. Esses alojamentos são meus, exclusivamente meus. Pense nisso, filha de Hassan. Se eu quisesse lhe mostrar exatamente o que é o amor, ninguém me impediria neste momento. Não haveria ninguém para escutar seus tímidos lamentos virginais...
- Não sou vir... - Ela não pôde terminar de falar. Ele varreu suas palavras com uma gargalhada.
- Danielle, não minta. .. Se isso fosse verdade, eu não precisaria lhe dizer que um homem acha deliciosamente excitante imaginar o corpo de uma mulher como um pátio perfeitamente intacto e inacessível. Estou surpreso por Sancerre não ter comentado isso com você.
- O que o faz pensar que ele não conversou comigo a respeito?
Danielle desejou ter a coragem de empurrar Jourdan e se livrar dele. Mas sabia que qualquer esforço para escapar seria inútil. O braço que lhe pressionava os quadris era forte como aço!
- Porque ele não lhe teria falado apenas com palavras - Jourdan respondeu, calmo e divertido. - E seus dedos, Danielle, não tremeriam tanto ao tocar meu peito, nem seus ,olhos estariam assim tão arregalados, assustados com o desconhecido e atraente...
Os dedos dele afastaram o traje que cobria os seios. de Danielle e a mão os procurou, ansiosa, tocando-os com sensualidade. Ela engoliu em seco, enrijecendo o corpo. O coração pulsava selvagem, os lábios ressequidos, os pensamentos recusando os fatos, não aceitando que aquele estranho arrogante e orgulhoso pudesse vencê-Ia.
- Danielle, como você é jovem! E como é inexperiente! - Jourdan falava com ardor, enquanto os dedos desfaziam com firmeza os laços do cáftã dela. As palavras de protesto de Danielle desapareceram sob a pressão da boca máscula, e aquele beijo ao mesmo tempo selvagem e gentil estimulou-lhe os sentidos, atirando-a num turbilhão de emoções até então ignoradas.
Dominada pela sensualidade dos dedos dele, Danielle sentiu os seios enrijecidos e ardentes, os lábios abertos entregues à insistência, dos dele, o corpo todo dócil obrigando-a a ceder ao estranho poder que ele exercia sobre seu ser.
Quando os lábios dos dois se separaram, voltou à lucidez e, incoformada, tentou se desvencilhar. Mas ele beijou-lhe o pescoço com avidez.
- Fique calma, filha de Hassan - disse, com uma voz rouca e que se misturavam o desejo e a zombaria -, ou serei obrigado a lhe demonstrar todo o amor que sua inocência recusa e ao mesmo tempo deseja com loucura!
- Solte-me! - ela pediu, arfante, sentindo o coração bater acelerado.
Mas Jourdan a ignorou, continuando a deslizar os lábios pelo pescoço, pelo colo, até parar sobre a pele suave do seio. Assustada, Danielle imobilizou-se. Tremeu ainda mais quando os dedos dele acariciaram-na, os lábios roçando o bico do seio, excitando-o, até que e sentiu-se fraca, dominada por uma poderosa sensação de prazer.
Quando Jourdan se afastou, Danielle ficou estonteada, quase desfalecida. Percebendo que estava cambaleante, os braços dele a seguraram, impedindo-a de cair.
- O que a deixou assim? - ele perguntou lacônico, fechando-lhe o traje. - Que sentiu?
- Não senti nada - ela mentiu. - A não ser que queira leve em conta mjpha náusea.
- Náusea? - Num momento cheio de horror, Danielle temeu que Jourdan jamais a soltasse. Mas imediatamente ele recuou, os cabelos iluminados pela fraca chama dos candelabros, os olhos brilhantes e irônicos.
- Oh, não, minha garotinha, não queira me desafiar desse jeito. Além do mais, já estou cansado para iniciar uma virgem esta noite. No fundo, no fundo, bem que gostaria de tomá-la nos braços e deitá-la numa cama acetinada, desfazer pouco a pouco sua afetação e seu orgulho, que você tão mal utiliza como escudo.
Fez uma pausa e estendeu-lhe a mão.
- Venha... mostre-me que não é a criança que parece ser...admita que gosta quando a toco... admita que não sou desagradável. - Claro, Jourdan, você não é desagradável - Danielle disse com irritação, perdendo a prudência. - Você é degradante, revoltante, desrespeitoso e absolutamente repulsivo!
Não esperou pela reação dele. Deu meia volta, ergueu o traje desceu rapidamente a escadaria.
Quando chegou ao corredor, parou, respirou fundo e prestou atenção para ter certeza de que não estava sendo seguida. Não, não havia nada a não ser o silêncio. Deu alguns passos e finalmente percebeu que de fato tinha tomado o caminho errado.


Zanaide estava esperando por ela no quarto.
- O que aconteceu, para estar chegando agora?
- Bem, Zanaide... me perdi pelos corredores e... sabe, pensei que Jourdan estivesse na França...
- Estava mesmo. Chegou hoje à noite - a moça explicou, intrigada com a palidez de Danielle. - Não vá me dizer que se enganou e subiu a escada que leva aos aposentos do xeque Jourdan?
- Infelizmente, Zanaide, foi o que ocorreu...
O acontecido não sàía de sua cabecinha confusa e chocada. O coração ainda batia com a mesma fúria de nuvens em tempestade, os seios ainda guardando a lembrança daquela mão insistente... Mas não contaria nada a ninguém. Nem mesmo a Zanaide.
- O xeque Jourdan é muito bonito... e muito másculo, também.- Zanaide deu sua opinião - Estar com ele seria um prazer além de toda imaginação feminina... Como ele não segue nossa fé, deve ter apenas uma esposa. A família de Jamaile prefere que o xeque escolha uma entre as filhas, pois é poderoso e rico...
- Ele é. arrogante e dominador! Não quero ouvir nenhuma palavra mais a respeito desse homem!
- Não o acha atraente?
- Acho Jourdan tão atraente quanto uma serpente! - desabafou, enquanto Zanaide a ajudava a tirar a roupa. - E duas vezes mais perigoso!
Depois que Zanaide a deixou sozinha, levada por um impulso desconhecido Danielle saiu da cama e foi até o quarto de vestir.
Diante do espelho, tirou a camisola e examinou o corpo rosado e trêmulo. Levou as mãos aos seios que pareciam não lhe pertencer mais, como se pulsassem descontrolados, despertos pelo toque apaixonndo e selvagem de Jourdan.
Soluçou, quebrando o silêncio. Cerrou as pálpebras para espantar as lembranças do prazer que a havia dominado momentos atrás. Incapaz de observar seu corpo nu, tornou a vestir a camisola. A verdade é que tinha se traído, refletiu, e queria esquecer o calor dos lábios de Jourdan e a vertigem louca de um amor que lhe parecia absolutamente impossível.

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