Explosões
Capítulo 3: Explosões
Tradicionalmente, no início das férias de verão, Molly e Arthur faziam questão de ver a casa cheia. Os filhos e os netos, ou ao menos os que podiam vir, deixavam-nos mais alegres. Quando eram pequenos, visitavam a Toca com mais freqüência, e ninguém desejava perder aquele confortável costume familiar.
A reunião acontecia no primeiro final de semana após o retorno de Hogwarts. Porém, Rony, Hermione, Harry e Gina conversaram sobre seus filhos, preocupados com o desânimo de Alvo e Rose. Sendo assim, pediram para se encontrarem antes do previsto. Todos concordaram e fizeram o possível para participarem. Contudo, Gui, Fleur, Victoire, Dominique e Louis não conseguiram, assim como outros. Tudo se repetiria no domingo, como o combinado, por isso não houve tanto abalo.
Quando foram surpreendidos pela notícia, os dois desmotivados ficaram mais dispostos de uma hora para a outra. Conservavam o mesmo desejo de se distraírem e, principalmente, se reencontrarem, apesar de não terem passado tanto tempo longe.
Dois dias depois da volta para casa, todos fora à Toca do final da tarde. Os adultos conversavam animadamente, os adolescentes estavam mais resignados, apesar de Hugo e Lílian parecerem entretidos em alguma trama com James, e Rose e Alvo não perderam tempo em se recolherem para o antigo quarto de Rony.
- Foram só dois dias, mas já estava com saudade!
- Eu também, Rose – respondeu, procurando conter um sorriso.
- Alvo, está tão difícil continuar mentindo! Meus pais notaram que aconteceu algo diferente comigo. Vivem dando indiretas de que posso contar com eles. Isso está me matando, tanto que comecei a explodir por qualquer bobagem. Estou ficando pior do que a Lílian quando a provocam.
- Calma – disse, pulando da antiga cama de Harry para a de Rony, a fim de se aproximar dela. – Vocês combinaram de contar no final de semana, não falta muito.
- As horas não passam. Fiquei feliz de vir aqui, pelo menos me divirto e posso conversar com você. Aliás, eu não sei o que seria de nós dois se não fosse a sua ajuda.
- Você é importante pra mim. Não ia deixar que se metesse em encrenca e fingir que não vi.
- Às vezes eu fico pensando se magoei você.
Ele perdeu o ar por um instante. Mal sabia no quê pensar.
- Magoar?
- Claro. Quando descobri que estava apaixonada, não contei nada pra ninguém. No começo do namoro, também resolvi ficar calada. Você sempre perguntava se eu estava bem, porque saía tanto ou demorava a mais nas rondas, e eu mentia. E só de lembrar de como você soube de tudo, imagino se não ficou chateado.
- Já falamos sobre isso. Se soubesse antes, talvez a aconselhasse a largá-lo. Foi melhor, não tinha mais volta, e pelo menos fui eu quem a encontrou naquele dia.
Encará-la era custoso, apesar da pergunta ser em um sentido melhor do que ele esperava. Queria pensar que o auxílio a protegia e intimamente desejava o fracasso da empreitada. Entretanto, se culpava por sentir tantas coisas e expressar apenas sua sincera amizade sem levar em conta, na prática, sua vontade. Rose desatou a falar do quanto Hugo sofria com seu mau humor, as expectativas quanto à medibruxaria e ao namoro, as cartas que escrevia para Scorpius e não enviava, para evitar desconfianças e pressão.
As palavras voavam na mente de Alvo. Ao mencionar o assunto do flagrante, a prima o fez recordar de como os acharam. De verdade, o que sentiu estava longe de ser mágoa.
Flashback
Em seu último ano, ele se permitia aproveitar tudo o que Hogwarts oferecia de bom. Apenas evitava o quadribol, pois a idéia de o compararem mais ao pai o perturbava. A semelhança o servia demais, dispensava outras características para incentivar as pessoas a olhá-lo como se fosse à réplica de Harry. Sentia muito orgulho de ser um Potter, porém queria somente ter seu lugar no mundo, e não estar sempre à sombra de alguém. Além do mais, Gina jogou quadribol profissional por tempo suficiente para não perdoarem o fato e dizer uma infinidade de coisas.
Rose compartilhava do mesmo receio. Hermione foi uma das alunas mais brilhantes de Hogwarts. Ela temia os inevitáveis comentários sobre a semelhança. Porém, ela conseguiu lidar com o problema de uma forma tranqüila após o susto dos primeiros meses na escola. Desta maneira, os primos se entendiam e consolidaram definitivamente a amizade.
Obviamente, arranjaram outros amigos em quem confiavam tanto quanto. Mas depois de alguns anos, Rose foi se fechando um pouco quando o assunto era namoro. Sempre alegava não se interessar por ninguém, e Alvo se contentava com a resposta na maioria das vezes, porque adoravam repetir a ela que estava sozinha por querer, que era assediada, e isso a irritava.
Quando chegaram na reta final, ela parecia mais apreensiva. Com o decorrer dos meses, acabou ficando alegre demais, avoada. E sempre colocava a culpa nos estudos e no sonho de finalmente conseguir ter a profissão que queria. Concentrado em Poções e Herbologia, ele preferiu acreditar que a justificativa era viável.
Em um dos passeios à Hogsmeade, notou que pegou pouco dinheiro. Louco para beber um pouco mais de cerveja amanteigada com seus amigos, ele foi para a Dedosdemel e, no meio de toda a multidão, deu um jeito de voltar à Hogwarts por uma das passagens secretas reveladas no Mapa do Maroto. Ágil, não demorou a chegar no dormitório. No caminho de volta, passou pela sala reservada para monitores da Grifinória. Como o castelo estava sem a balbúrdia habitual das tardes normais, ele ouviu um barulho vindo do lugar.
Temendo que fosse algo sério e não tivesse oportunidade de chamar um professor prontamente, resolveu intervir e checar o que havia acontecido. A porta estava trancada. Porém, quem a trancou não pensou em um feitiço suficientemente forte, pois com um Alorromora, ela se abriu.
Alvo demorou a compreender o que via. Rose Weasley beijava Scorpius Malfoy apaixonadamente, sentados em duas carteiras no fundo da sala. Abraçados. E ela não resistia, não gritava, não lutava. A cena era o pior paradoxo que ele poderia conceber, diante de tudo o que a família dizia dos Malfoys. Não incentivaram a desprezar o filho de Draco, porém tomar cuidado. Seu tio Rony dizia horrores, mas Alvo sabia o quanto ele não queria se controlar neste ponto, e tinha lá as suas razões.
Mas, Rose? Qual o motivo de estar com aquele rapaz? Dentre tantos que a cortejavam ali de maneira sincera e respeitosa, ela amaria quem menos deveria?
Ele se perdeu em pensamentos. As sensações eram inúmeras e tão fortes que praticamente o anestesiaram. Não sentiu quando se apoiou na porta e a fechou com estrépito atrás de si. Tinha a capa da invisibilidade nas vestes, para voltar à loja de doces, porém sentou-se ao lado da sala e se cobriu. O casal saiu aproximadamente uma hora depois, e este foi o tempo para ele se deparar com uma contraversão.
Doía ver a prima beijando Scorpius. E o primeiro julgamento acerca daquele mal estar foi que estava com ciúme. Queria mostrar a ela o erro que cometia, o quanto ele merecia estar no lugar do monitor chefe da Sonserina. Mas imaginou ser impossível. A situação era irremediável. Rose era uma garota de respeito e leal aos seus princípios. Se estava envolvida com Malfoy, certamente o amava.
E todo o amor se converteu em frustração e uma dor estranha para Alvo. Ele precisava agir, mas não sabia como. De repente, ele sentiu algo pesado cair em seu colo.
Rose tropeçara nele ao tentar ir para a Sala Comunal. Scorpius estava longe, rumando para a direção oposta com pressa, pois não queria que dessem por sua falta no dormitório. Mentiu que iria estudar.
Minutos se arrastavam e os primos se olhavam demoradamente. A queda foi dolorida para Alvo, mas ele não se importava. Apenas queria respostas. Dela e de si.
- Eu o amo. Nada foi planejado.
Ele não retrucou. Continuava a fitá-la.
- Desculpe-me por não ter confiado em você. Tive medo da sua reação.
O silêncio trouxe a solução imediata.
- Você vai contar aos meus pais?
- Você ainda não confia em mim, então não adianta responder. A resposta está pronta na sua cabeça.
- Sabe o quanto isso vai abalar toda a família, Alvo! Você entende a minha agonia? Não podia contar a ninguém! Eu não sabia se ia conseguir compreender, se ia aceitar ou me dizer para fugir de tudo o que sentia. É tão confuso ainda pra mim, nem sabia como ia explicar para quem quer que seja...
- Eu não vou contar, Rose.
Ele tentou se desvencilhar dela. Contudo, foi envolvido em um terno e desajeitado abraço.
- Confio em você. Sempre! É meu melhor amigo, Alvo. Você pode contar se assim a sua consciência mandar, mas saiba que eu nunca quis magoar você escondendo tudo isso. Só peço que me perdoe, por favor...
Ao se separarem, as lágrimas dela o convenceram.
- Pode contar comigo. Eu não entendo como você consegue gostar de Malfoy deste jeito, mas o que não tem remédio...
- Obrigada, Alvo! Prometo que não vou esconder mais nada de você.
A partir daquele momento, ele se dividia entre o arrependimento e a vontade de estar perto dela. Jamais a olhava como a uma namorada. Era apenas sua melhor amiga. O episódio roubou este posto dela e a transformou em seu amor não correspondido. Se era ilusão ou não a nova condição, ele não conseguia discernir. Apenas sentia, e isso o fustigava a ponto de cessar os esforços para formar uma lógica em torno do assunto.
Fim do flashback
- Alvo, você está me ouvindo?
- Estou! – respondeu, alarmado pelo rápido despertar de seu devaneio.
- Então responda minha pergunta!
- Tudo bem, eu não pres...
Batidas na porta fizeram-se ouvir. Eles não se atreveram a continuar a conversa brindada pela imensa viagem feita por Alvo e o desabafo infrutífero de Rose.
- O pessoal está jogando quadribol lá fora. Vocês não querem ver?
- Daqui a pouco nós vamos, tia.
- Por falar nisto, eu acho melhor vocês conversarem na sala. A vovó já começou a fazer o jantar.
- Pode deixar, mãe.
Hermione lançou um olhar significativo a Rose. Explicara que não se importava deles conversarem a sós, mas depois de uma certa idade, evitar comentários maldosos não seria uma má idéia. Como Rony dizia, um pouco de cuidado nunca era demais.
Eles voltaram a conversar com a saída de Hermione. Rose percebeu a falta de atenção de Alvo, porém ficou tão aliviada em desabafar que relevou a atitude dele, perguntando sobre se devia falar com os pais antes de voltarem à Toca no domingo, ou depois. Desta maneira, o amigo pensou ter disfarçado ao menos um pouco a distração e encaminhou o diálogo por mais um tempo.
Desceram para ver o jogo, pois adoravam ser meros espectadores, apesar da influência familiar e o gosto os impedirem de serem leigos em quadribol.
Ao chegarem ao espaço entre as árvores, onde os outros membros da família jogavam, Alvo e Rose puderam notar que algo não ia acabar bem.
- O que está acontecendo? – Alvo perguntou a Percy, que estava sentado embaixo de uma árvore.
- O time do Hugo está dando uma surra no time da Lílian – respondeu Percy. – O jogo está 120 a 40, e ela não está gostando nada.
Alvo fitou o rosto da irmã. E pôde perceber o que Percy disse. Lílian estava com aquele olhar costumeiro de quando perdia no quadribol, e acabava brigando com todo mundo. Embora os times estivessem nivelados, o de Lílian parecia levar o jogo menos a sério. Ele era formado por Jorge, Teddy, James e Harry, e era prejudicado pelo excesso de brincadeiras, enquanto o time de Hugo, constituído por Gina, Rony, Fred e Carlinhos, tinham mais concentração, embora brincassem também.
- Isso! – gritou Hugo, após Gina marcar ponto novamente para seu time. – Acho que o outro time está fraco demais, pai. Quem sabe não é melhor pararmos enquanto ainda não está tão feio?
- Caramba, Teddy! – berrava Lílian, extremamente vermelha. – Está aí só fazendo número? Vê se presta atenção e pega essa bola. Que droga de goleiro que temos!
- Eu te disse que nunca fui goleiro! – retrucou Teddy. – Quem mandou só escolher artilheiros pro seu time?
- Pelo visto você perdeu o jeito, Lílian – ironizou Hugo, rindo. – Ainda bem que te tiraram do time antes que você o afundasse.
- Quer calar essa boca enorme, seu idiota? – gritou Lílian em resposta. – Nem sei por que você está na escola. Afinal, não quer saber de nada mesmo. É bem provável que viva à custa dos seus pais o resto da vida!
Na hora as risadas cessaram. Harry, detendo a bola com que estavam jogando nas mãos, parou no ar, deixando-a cair.
- Como você diz uma coisa dessas ao seu primo por causa de um simples jogo de quadribol? – Harry se virou e chamou a atenção da filha num tom severo, como poucas vezes se viu. – O jogo acabou, e vamos já pra casa, pois precisamos ter uma conversa muito séria! – ele desceu e desmontou da vassoura, sendo seguido por todos os demais jogadores.
- Calma, Harry – tentou argumentar Rony, enquanto se aproximava do amigo, com todos que estavam assistindo ao jogo. – Sabemos que a Lílian é explosiva, ela não disse por mal. Hugo nem levou a sério, não é, filho? – e se virou, tentando achar o filho.
Hugo já tinha desmontado da vassoura e caminhava de cabeça baixa, com a vassoura arrastando no chão, em direção à Toca. Rony o encontrou, olhou para o amigo e correu, tentando alcançá-lo.
- Viu o que você fez? – Harry parecia indignado com a atitude da filha. – Conseguiu acabar com o jantar que sua avó Molly preparou. Viu a forma com que seu primo saiu daqui?
- Por que ele me provocou? – Lílian se sentiu mal por Hugo, mas seu temperamento prevalecia sobre a razão. – Se eu ainda estivesse no time, não teria que passar por isso. Você bem que podia ter falado com o Professor Longbottom. Ele conseguiria facilmente que me mantivessem no time. Todos lá sabem que sou a melhor artilheira da Grifinória.
- Não adianta ser boa em alguma coisa se você magoa e desuni o time – Harry permanecia alterado. – Será que eu poderia conversar a sós com a minha filha? – ele fez sinal para os membros da família Weasley que ainda se encontravam lá. – Inclusive você Gina, preciso resolver logo essa situação!
Entendendo o recado, todos se viraram e seguiram em direção à Toca. Gina também o fez, mas antes chegou ao marido e sussurrou “Calma” em seu ouvido, antes de lhe beijar o rosto e seguir com James.
- O que acha que está fazendo? – foi a primeira frase que Harry dirigiu à filha, quando todos estavam um pouco afastados. – Não foi essa a educação que eu e sua mãe lhe demos. Magoando sua família desse jeito. Hugo não tem culpa que seu gênio te tirou do time.
- Você não entende, não é? Jogar quadribol é tudo que desejo pra minha vida, e nem você, nem a mamãe nunca me apoiaram.
- Como não? Quando você entrou pro time, compramos a melhor vassoura que existia. Além de mandarmos cartas dizendo como estávamos contentes de você estar lá.
- Mas não fizeram nada quando eu fui expulsa! Vocês sabiam o quanto isso era importante pra mim.
- Se era tão importante, você devia aprender a se controlar, para poder ficar nele.
- Sempre isso. Nas vezes em que James foi proibido de jogar, vocês ficaram do lado dele!
- O quê? Você acha que gostávamos do que ele aprontava na escola? Se ele voltava para o time era porque as coisas que aprontava não eram suficientemente grandes para expulsá-lo.
- Mas nunca o recriminaram por isso!
- Acho que ele nunca mostrou as cartas que mandávamos pra ele quando recebíamos as notícias do que estava aprontando. Devia dizer a vocês que achávamos tudo engraçado, não é?
- Mas, pai...
- Nada de mais! Vamos agora para a Toca, e você vai pedir desculpas ao seu primo. Além disso, está proibida de jogar quadribol até que aprenda a controlar seus nervos.
- Isso não!
- Isso sim. Lembro-me de que a coisa que mais senti na escola foi quando me proibiram de jogar. Então, se é tão importante, controle-se!
Harry deu por encerrada a conversa, e fez sinal para que Lílian fosse para a Toca fazer o que ele tinha mandado.
Harry e Lílian começaram o caminho de volta no mesmo momento em que Rony alcançou Hugo, que ao invés de entrar, foi para o jardim dos fundos da casa e sentou-se em um toco de árvore.
- Tudo bem? – perguntou Rony. – Posso me sentar?
Hugo deu de ombros e abriu espaço para o pai.
- Não deixe o que a Lílian disse afetar você – continuou Rony. – Sabemos que você não é nada do que ela disse, sua prima é muito esquentada.
- Eu sei – respondeu Hugo, quase sussurrando. – Mas ela não pode ir dizendo o que quiser pras pessoas. Isso às vezes enche.
- Mas você nunca se importou com as explosões de sua prima – Rony coçou a cabeça, cacoete adquirido quando ficava nervoso por conversar assuntos delicados com os filhos. – Foi aquilo que ela disse que te incomodou tanto?
- Foi. Eu sei que muita gente pensa aquilo. Inclusive mamãe.
- Sua mãe não pensa nada daquilo, só se preocupa com você.
- Sei – Hugo não se convenceu com os argumentos do pai, pois a pressão da mãe não o ajudava em nada no que dizia respeito a escolher a profissão a seguir. – Tudo bem pai, eu já vou entrar. Sei que a mamãe só quer meu bem.
- Tudo bem, então – Rony, que mesmo depois de tanto tempo e dos esforços de Hermione não apreendera a notar as sutilezas quando os filhos estavam apenas querendo se livrar da conversa, entrou, deixando Hugo sozinho no jardim.
Ele estava a poucos passos da porta da Toca quando Hermione saiu, procurando os dois.
- Gina me contou o que houve. Onde está Hugo? Preciso falar com ele. Ele precisa saber que não penso nada daquilo que a Lílian disse, e apenas me preocupo com ele.
- Está tudo bem, Hermione. Já falei com ele, e está tudo resolvido.
- Já falou com ele? Tem certeza de que está tudo resolvido? Ele sabe que não o estou pressionando, apenas quero que seja feliz?
- Sempre a desconfiança. Confie em mim, já falei com ele – disse Rony, confiante.
- Então tudo bem – Hermione não tinha plena certeza de que Rony tivesse resolvido a situação, mas como havia ocorrido problemas demais naquela reunião familiar, decidiu falar com o filho mais tarde. Ela abraçou o marido e entrou na Toca, indo ao encontro do resto da família, que se encontrava na cozinha.
Enquanto isso, Hugo se perdia em seus pensamentos, sentado no mesmo lugar em que havia conversado com o pai.
“Quem meu pai pensa que engana com aquele papo?” era a frase dominante em sua mente. “Sei que minha mãe me ama, mas se quisesse realmente ajudar me deixaria escolher o que quero fazer da minha vida sem pressão”.
- Hugo? – a voz de Lílian chamou a atenção do garoto, que encarava o chão até o momento. – Posso falar com você?
Hugo se virou e viu a prima vindo sozinha a seu encontro. Tinha o ar triste, arrependida do que dissera ao primo durante o jogo.
- O que quer? Não cansou de me xingar ainda? – Hugo fechou a cara, e voltou a encarar o chão.
- Não. Apenas vim pedir desculpas. Não tinha o direito de falar aquelas coisas pra você. Você sempre foi o meu melhor amigo. Ainda mais sabendo o quanto isso incomoda você. Sou uma estúpida mesmo.
- É mesmo! – completou o primo. – Sempre estive do seu lado em tudo que acontece na escola, e é assim que você me agradece? Eu não devia te apoiar tanto.
- Eu sei – Lílian parecia realmente arrependida, e assim como o primo, começou a encarar o chão do jardim. – Eu simplesmente não consigo me controlar. Não sei de onde vem isso.
- Até parece que você não conhece a sua mãe – Hugo não resistiu a fazer uma piada, e acabou sorrindo para ela. – Dizem que você é só um pouquinho pior.
Lílian sorriu e abraçou Hugo de forma inesperada.
- Você me desculpa? Não sei o que faria se ficasse brigado comigo. Você é a única pessoa com quem consigo conversar.
- Tudo bem – Hugo acabou relevando todos os insultos da prima e a abraçou em retribuição. – Você se aproveita porque sabe que gosto muito de você. Mas por favor, nunca mais fale comigo daquele jeito, me chateia demais.
- Pode deixar – disse Lílian, enquanto terminava de abraçar o primo e o encarava. – Mas vamos fazer o seguinte, quando começar a extrapolar você me lembra da promessa que eu fiz. Sabe como sou esquecida – Lílian riu alto da própria ironia. – Agora vamos, papai ainda quer que eu me desculpe com o resto da família pela cena – disse, puxando Hugo para dentro da Toca, onde todos os aguardavam para o jantar.
- Eu não perderia essa por nada – Hugo riu mais alto ainda, e Lílian, mesmo não gostando da piada, sorriu para o primo.
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