O retorno
Seus cabelos vermelhos se destacavam entre a multidão que se concentrava na estação de King Cross naquele fim de tarde. Ao seu lado, uma mulher de cabelos castanhos e volumosos tentava acalmá-lo.
- O trem já vai chegar, Rony. Não sei porque toda essa aflição. Você deveria estar acostumado com isso, já faz sete anos que é sempre a mesma coisa.
- Eu sei – respondeu o ruivo, sem parar de olhar para a direção de onde vinham os trilhos, tentando enxergar o trem que vinha de Hogwarts. – Só que dessa vez é diferente, Mione. Ela não vai precisar voltar ano que vem e poderá ficar mais tempo conosco, como antes dela começar a estudar.
- Mas ela vai ter outros interesses – Hermione fitava o marido, séria. – Provavelmente, vai querer fazer outros cursos e procurar um emprego. Ou você acha que ela vai ficar o tempo todo em casa? – ironizou ela.
- Não me provoque – respondeu, dando um sorriso nervoso. – Claro que eu sei que ela não vai ficar o tempo todo em casa! Não sou idiota! Mas pelo menos poderemos vê-la a noite.
- Ela pode até arrumar um namorado – disse, como se fosse a coisa mais normal do mundo. – Afinal, nunca teve um na escola.
- Como é? – Rony enrubesceu rapidamente, olhando nervoso para a esposa. – Ela é praticamente uma criança. Como você pode pensar nisso?
- Rony – ela sorriu, não acreditando na opinião dele -, nós tínhamos a idade dela quando começamos a namorar. E se bem me lembro, você namorou a Lilá um ano antes.
- E você, o Krum! – Rony disparara a frase, e após tanto anos ela sabia onde aquela conversa ia parar.
- Sr. Ronald Bilius Weasley, você sabe muito bem que nunca tive nada com o Viktor, éramos apenas amigos! E se for para brigarmos, volto agora para casa e o espero lá com as crianças. Não vou ficar dando show por aqui.
Ronald esboçou uma reação, mas a fúria de sua esposa o fez desistir. Limitou-se a baixar os olhos e dizer com uma voz branda:
- Desculpe. É o nervosismo.
- Tudo bem – respondeu Hermione, enquanto enlaçava o seu braço no de Rony. – Eu conheço você, e sei que não faz por mal. É esse seu temperamento que não muda nunca – ela escondeu o sorriso que se formou em seus lábios. Afinal, gostava das demonstrações de ciúme do marido, mesmo depois de tanto tempo, mas não podia deixá-lo saber disso, senão passaria dos limites.
O barulho da chegada do trem fez Rony levantar rapidamente os olhos, e Hermione sentiu o coração do ruivo acelerar, enquanto esticava o pescoço para enxergar melhor.
- Faz tempo que estão aqui? – disse uma voz conhecida atrás deles.
- Que bom! – disse Hermione enquanto corria para abraçar o casal que se aproximava. – Por que demoraram? Achei que teria que levar Alvo e Lílian pra casa.
- Problemas de rotina – respondeu Harry, enquanto Gina abraçava a cunhada e depois o irmão. – Acabei me atrasando no Ministério. Mas pelo visto consegui chegar bem na hora.
- E James? – perguntou Rony. – Não pôde vir?
- Infelizmente não. Ele teve um treino de última hora com o Chuddley Cannons. Eles querem começar bem o campeonato, para repetir o título do ano passado.
- James foi a melhor coisa que podia acontecer ao time – disse o ruivo. - Desde que começou a jogar de artilheiro, o time tem ganhado bastante, mesmo não tendo uma equipe tão forte.
- Esqueceu sua filha, Rony? – Hermione ria do marido. – Só o quadribol pra fazer você esquecer dela.
- Não esqueci nada – ele voltou a procurar a filha na multidão de alunos a descer do trem.
Um sorriso enorme tomou conta dos quatro quando um grupo de adolescentes correu até eles. Duas meninas ruivas, um rapaz de cabelos castanhos e outro de cabelos negros sorriam ao vê-los.
- Pai! – gritou a menina mais velha, se jogando em Rony e abraçando-o com força. – Que saudade! Oi, mãe! – Continuou a menina, soltando-se dele e abraçando Hermione.
Um a um, os adolescentes foram abraçando os pais e tios. Era visível a amizade daqueles jovens. Rose, Alvo, Lílian e Hugo formaram um grupo unido e muito divertido em Hogwarts. Embora Rose e Alvo fossem dois anos mais velhos do que Lílian e Hugo, todos eram da Grifinória, e passavam quase todo o tempo livre juntos. Era um grupo bem diferente, embora se notassem semelhanças nos traços de seus rostos, provavelmente herança genética.
Rose era a mais séria e estudiosa, embora fosse comum vê-la alegre e brincando com o grupo. Ela foi escolhida monitora em seu quarto ano, e monitora chefe no último, o que era motivo de orgulho para seus pais, principalmente para Hermione. Não era alta, e tinha os cabelos revoltosos da mãe, apesar de serem vermelhos como o do pai. Era bonita e muito assediada, como gostava de lembrar seu irmão, mas ela dizia que estava ali para estudar, e por conseqüência não tinha namorado oficial na escola.
Alvo era tímido, bondoso e educado. Era um bom aluno, embora não fosse o melhor do ano. “Estando na classe da Rose, ser o primeiro da classe é impossível!”, dizia ele de modo zombeteiro para os pais. Seus cabelos negros e espalhados eram idênticos aos do pai, assim como seus olhos verdes. Era magro, porém não tanto quanto seu pai era quando tinha a sua idade, e um pouco mais alto também. Mostrava-se corajoso quando necessário, mas preferiu não jogar Quadribol para evitar comparações ao pai, pois isso o incomodava. Despertava o interesse de várias moças na escola, porém não namorou ninguém.
Lílian era uma cópia fiel da mãe. Determinada, bem humorada e explosiva, vê-la explodindo com os outros alunos tornou-se comum, principalmente com os da Sonserina, sendo contida por Alvo, na maioria das vezes. Era a mais baixa do grupo, tinha os cabelos lisos e ruivos como a mãe e herdou os olhos verdes do pai. Jogara pelo time da casa como apanhadora por alguns anos, mas foi dispensada pelas constantes brigas com o resto dos jogadores. Namorou em Hogwarts, contudo nada era sério, como ela própria dizia.
Hugo era o mais Weasley do grupo. Era o orgulho do tio Jorge, e a dor de cabeça permanente de Rony e Hermione. Esperto, brincalhão, inconseqüente e corajoso, era o mais popular do grupo, embora fosse também o que mais passava tempo em detenções e perdia pontos da casa de Grifinória na disputa da taça. Era alto e magro como Rony, mas tinha os mesmos cabelos castanhos da mãe. Não era tímido e de longe o mais namorador do grupo. Ele não levava esses namoros a sério, gerando reclamações de suas ex-namoradas, causando cenas de ciúmes explicitas na maioria das vezes. Jogava como batedor pelo time da Grifinória desde o ano anterior, fazendo Jorge constantemente provocar Rony, dizendo que se Fred não estivesse morto, todos achariam que se tratava de um filho dele e não de Rony.
- Como foi seu ano, minha filha? – perguntou Rony, enquanto caminhavam. – Sua formatura foi boa?
- Ótima, pai – dizia Rose, enquanto acompanhava todos pela estação. – Já estou com saudades de Hogwarts.
- Como assim? – Rony de olhos arregalados perguntou a filha. – Já está pensando em voltar? Mas você acabou de chegar! Não vai ficar um tempo em casa?
- Calma, pai – respondeu Hugo, que acompanhava os dois, abraçado à mãe. – Ela não vai voltar não. Ela tem motivos muito fortes pra ficar por aqui.
- O que você quer dizer com isso, Hugo? – Rony olhou curioso para o filho, que parecia conter um riso.
- O motivo são vocês, pai. Afinal, desde que começaram as minhas aulas, não ficamos mais juntos – respondeu rapidamente Rose, enquanto lançava um olhar fulminante, muito parecido ao que a mãe lançava a Rony quando estava nervosa, ao irmão.
- Certo – respondeu Rony, não muito convencido. – Então vamos pra casa.
Rose olhou com tristeza para o pai. Sabia que suas decisões iriam afastá-lo dela, mas não podia voltar atrás. Amava seus pais, porém não podia abdicar de sua felicidade para não contrariá-los. Precisava seguir a sua vida, e se o caminho que escolhera poderia separá-los, que assim fosse. Contudo, sua esperança era fazê-los entender que nunca seria feliz se não realizasse seus planos.
O grupo se despediu dos Potter e seguiu em direção ao carro estacionado na lateral da estação.
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Os Potter tinham acabado de se despedir dos Weasley, e caminhavam calmamente pela estação de King Cross, para o carro da família, estacionado próximo dali.
Alvo caminhava calado, enquanto Lílian comentava sobre o ano letivo que se encerrara. Esse comportamento era até comum ao rapaz, mas não com aquele olhar preocupado, que foi notado por Harry.
- Algum problema, Alvo? – perguntou Harry, deixando Gina e Lílian caminharem um pouco à frente. – Parece sério.
- Nada pai – respondeu o rapaz, tentando disfarçar a expressão pensativa. – Só tristeza pelo fim da escola. Sabe como eu gostava de lá.
- Sabe que pode me contar qualquer coisa, não é? – Harry não se convencera, e tentava descobrir o que o filho estava passando. – Afinal, além de seu pai, sou seu amigo.
- Eu sei, pai. Não é nada mesmo, só um sentimento de perda por não voltar mais a Hogwarts – Alvo tentou sorrir sinceramente para o pai, que pareceu não se acreditar, porém aceitou a decisão do filho.
Mesmo sorrindo, uma enorme culpa angustiava Alvo. O fato de esconder coisas do pai e da mãe o perturbava muito, mas promessas não podiam ser quebradas, e tinha prometido não contar a ninguém, nem mesmo para Harry e Gina. Além disso, realmente havia um sentimento de perda, não o da escola, mas da companhia da pessoa mais importante em sua vida depois de seus pais. Não poderia vê-la com a mesma freqüência, e isso o deixava muito triste. Queria que o tempo voltasse, e ele pudesse voltar à escola, para conviver com ela todo o tempo.
Harry não tinha sido o único a perceber o silêncio insólito de Alvo. Gina também notara, mas deixara a Harry a missão de conversar com o filho. Lílian também reparou, entretanto não se conformara tão facilmente.
- Alvo anda tão quieto, mãe – disse ela, enquanto caminhava ao lado de Gina.
- Seu irmão é quieto, Lílian – respondeu Gina. – Ele parece muito com seu pai.
- Eu sei, mãe – disse Lílian. – Só que nos últimos dias ele tem ficado mais que o normal. Acho que vou convidá-lo para sair, talvez possamos ir à casa do tio Rony ou da vovó, isso sempre o anima.
- Boa idéia, querida – Gina acariciava os cabelos da filha. – Mas deixe-o descansar hoje. A viagem de Hogwarts para cá é sempre cansativa. Amanhã você faz isso.
Os Potter chegaram ao carro e foram ao Largo Grimmauld em seguida.
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- Esse garoto está demorando demais! – dizia um loiro alto, parado em frente ao trem que vinha de Hogwarts. – Por que ele não pode ser mais rápido? Tem sido assim nos três últimos anos.
- Calma, querido – dizia Astoria, a esposa de Malfoy, enquanto procurava pelo filho. – Olhe lá, ele já está vindo. – Ela apontou na direção de um rapaz alto, de bom porte físico, cabelos quase brancos de tão loiros e um jeito meio esnobe de andar.
Scorpius não era idêntico ao pai, mas o lembrava muito. A estrutura óssea grande o deixava maior do que Malfoy e intimidava as pessoas próximas. Ele era de poucas palavras e tinha o semblante sempre sério, quase carrancudo. Um bom aluno, apesar de se achar superior a qualquer um na escola. Em contrapartida, não chegava a ser prepotente, nem preconceituoso. Preferia a discrição ao ataque pessoal, por achar que só quem não era realmente especial que precisava alardear isso pelos quatro cantos. Scorpius jogava como artilheiro do time de Sonserina desde seu terceiro ano. Ele era muito bom, embora a equipe da Sonserina nos últimos anos tenha sido fraca, chegando a ficar em último no sexto ano de Scorpius em Hogwarts. Ele chegou a jogar contra James enquanto este esteve na escola.
- Pai, mãe – disse Scorpius, se aproximando de Malfoy e apertando a mão dele, e abraçando a mãe em seguida.
- Tudo bem na formatura? – perguntou Malfoy ao filho.
- Tudo, pai – respondeu Scorpius. – Embora eu ache que poderia ser um pouco mais refinada. Foi tudo muito “simples”.
- Não se pode esperar algo diferente de lá, filho – disse, com um sorriso sarcástico nos lábios. – Enquanto uma grifinória como a McGonagall for diretora, vai ser assim.
- Acho que ela não vai ficar muito mais tempo como diretora de Hogwarts – comentou Scorpius. – Mas pelo o que dizem, é bem provável que o Professor Longbottom assuma o cargo.
- O quê? – Malfoy tinha um tom meio surpreso e meio indignado com a notícia. – Aquela ameba do Neville, diretor de Hogwarts? Agora aquela escola vai para o buraco! Ainda bem que você não vai mais estudar lá.
- O professor Longbottom é um ótimo professor, pai – respondeu Scorpius. – Além de não fazer distinção entre os alunos de qualquer casa. Acho que será um ótimo diretor.
- Você não o conheceu como eu, filho – continuou Malfoy. – Na minha época de escola, o Longbottom era um dos piores alunos. Pior até que o Crabble e o Goyle.
- Não posso falar sobre o que não sei – Scorpius parecia não fazer força para concordar com o pai. – Somente sei que hoje ele é um dos melhores professores de Hogwarts, além de demonstrar confiança e muita coragem.
- Como as coisas mudam – Malfoy encarava o filho com uma certa impaciência, não gostava de ser contrariado. – Uma mosca morta agora é herói. Vocês jovens se impressionam muito facilmente.
- Já chega! – Disse Astoria. – Chega de discussões. Vamos já pra casa. Será que vocês não conseguem ficar quinze minutos sem brigarem? Isso já está me cansando!
Pai e filho não trocaram mais nenhuma palavra, enquanto se preparavam para aparatar. Scorpius tinha passado no teste de aparatação naquele ano, então não era necessário pegar transporte trouxa para ir pra casa.
Mas a real preocupação Scorpius era a conversa que em breve teria com seu pai. Ele sabia muito bem qual seria a reação dele, nunca iria aceitar o fato. Acharia indigno de um Malfoy e, principalmente, uma traição.
Contudo, Scorpius estava decidido a colocar um ponto final naquela situação e viver sua vida como achasse melhor. Sabia que embora sua mãe não pensasse da mesma forma, acabaria dando razão a Malfoy, indo contra a vontade do filho. Mas não tinha volta, pois a decisão não afetava só a sua vida, havia outras pessoas envolvidas, e não iria ser ele o covarde que iria dar pra trás e não contar aos pais.
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Rony, Hermione, Rose e Hugo chegaram em casa após enfrentarem um engarrafamento enorme pelo caminho. Rony estava furioso, o trânsito sempre o deixava assim, e Hermione sugeriu que ele relaxasse no quarto enquanto ela preparava o jantar.
Como Rony e Hermione trabalhavam, eles dividiam as tarefas domesticas, mas era comum um ou outro as assumirem quando algum deles não estava bem.
Rony foi para ser quarto, enquanto Hermione foi para a cozinha. Hugo permaneceu na sala e Rose subiu para seu quarto. Rose deitou-se em sua cama, enquanto pensava na melhor maneira de contar aos pais tudo o que estava acontecendo. Mas como podia fazer isso, se nem mesmo ela tinha uma explicação para aquilo? Era a coisa mais absurda que ocorrera em toda a sua vida, e estava desesperada com a situação.
Foi quando escutou batidas na porta, e levantou-se prontamente.
- Pode entrar – disse a garota, enquanto se ajeitava na beira da cama.
Hermione entrou com um sorriso, e disse para a filha:
- Rose, só vim avisar que o jantar estará pronto daqui a alguns minutos, mas se quiser tomar um banho acho que dá tempo.
- Obrigada, mãe, acho que vou aceitar a sua sugestão e tomar um banho – respondeu Rose. – Daqui a pouco, desço.
- Bem, não vim só por isso, querida – disse a mãe, se aproximando da filha. – Senti que algo está acontecendo e parece que você não quer nos contar. É alguma coisa séria, não é? Sei que seu pai é difícil, mas ele a ama, e vai ajudá-la no que for preciso. Sabe que pode contar com a gente.
- Claro – respondeu Rose, reunindo toda a força para não desabar, e contar tudo a mãe. Ela sabia que não poderia ser dessa forma, portanto se conteve. – Não é nada. Acho que é a falta que vou sentir de Hogwarts. A senhora não se sentiu assim quando terminou a escola?
- Claro que sim, filha. Mas foi bem diferente no meu caso – respondeu Hermione. – Voltei para fazer o último ano, mas não era a mesma coisa sem seu pai e seu tio Harry. De qualquer forma, até hoje sinto falta de lá. Foram muitas aventuras e amizades deixadas pra trás mas, principalmente, foi lá onde conheci seu pai, e este é um dos motivos mais fortes pelos quais gosto tanto de Hogwarts. Será que não é disso que sente tanta falta? De alguém que você deixou lá?
- Claro que não, mãe! – respondeu Rose, tentando mostrar firmeza. – Terei muito tempo para isso agora. Lá eu fui pra estudar, para me formar, e conseguir seguir a carreira que escolhi pra mim.
- Medibruxa é uma ótima profissão, querida – a mãe sorriu, orgulhosa. – Tenho certeza de que será uma das melhores. E quanto ao fato de encontrar o amor de sua vida, não se preocupe. Quando encontrá-lo, você vai saber que ele está destinado a você.
Rose abraçou a mãe e levantou-se com a desculpa que iria tomar aquele banho sugerido por ela, para descer para jantar em seguida. Ela foi até o banheiro e começou a encher a banheira com água morna. Despiu-se e colocou um robe. Sentou-se na beirada da banheira e começou a agitar a água com a mão. Tentou não pensar em nada, mas as palavras da mãe não saíam de sua cabeça. Tudo era exatamente como ela havia dito. Ela encontrou o amor de sua vida, mas não contou quem era ele. Sabia que nunca o aceitariam, sendo ele quem era, e chorou baixinho, enquanto deixava a água cair na banheira, para disfarçar seu pranto.
Hermione desceu as escadas e encontrou Hugo deitado no sofá da sala, lendo uma revista que continha todas as novidades da Gemialidades Weasley. Ela se aproximou e levantou a cabeça do filho, colocando-a no seu colo enquanto se sentava no sofá.
- Querido, você sabe o que está acontecendo com a sua irmã?
- Não mãe, não sei de nada – respondeu Hugo, sem tirar os olhos da revista. – Por quê? Você acha que tem alguma coisa errada?
- Acho que ela está preocupada com alguma coisa – Hermione tirou a revista de Hugo, enquanto fechava a cara para ele. – Como acho também que você sabe o que é e não quer me contar.
- Olha, mãe – Hugo se endireitou e encarou Hermione. –, eu não sei de nada, viu! E se soubesse não contaria, pois não sou dedo-duro, nem fofoqueiro. Acho que se quiser saber da vida da Rose, melhor perguntar pra ela.
- Veja como fala, menino! – Hermione lançou um olhar feroz ao filho. – Sou sua mãe, e quero que me respeite!
- Eu te respeito, mãe – disse Hugo. – É que realmente não sei da nada, e não acho certo contar alguma coisa da vida da Rose se ela quer manter segredo.
- Certo – Hermione resolvera não perguntar mais nada, mesmo tendo certeza de que provavelmente ele sabia de algo. Conhecia a lealdade dele para com a irmã, e se fosse algo grave ele certamente contaria a ela. – Mas se souber de alguma coisa importante, você me fala. Sou mãe de vocês e me preocupo muito.
- Tudo bem, mãe – respondeu Hugo, voltando a se deitar no colo dela e pegando a revista que ela havia tirado de suas mãos. – Se for alguma coisa grave, eu te conto.
Hermione permaneceu por uns minutos afagando os cabelos do filho, pensativa, e depois saiu para preparar o jantar, intuindo que algo estava acontecendo com sua filha, apesar de, por algum motivo, ela recear contar o ocorrido a ela e a Rony. Resolveu dar espaço a Rose, para quando se sentisse pronta pudesse revelar o que tanto a afligia.
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Os Potter mal chegaram, e Harry e Gina estavam na cozinha aprontando o jantar. Alvo subira para seu quarto, e passou a fitar o teto, deitado em sua cama. Tentava não se sentir culpado por mentir para o pai, mas não tinha o direito de contar certas coisas. Haviam outras pessoas envolvidas, e isso podia ser desastroso. Além disso, ele tinha seus próprios segredos, e eles já eram suficientemente complexos para também se preocupar com outros.
Escutou batidas na porta, e despertou de seus devaneios, pegando uns livros para disfarçar o fato de ter divagado o tempo todo que esteve no quarto.
- Entre! – disse Alvo, enquanto mirava a porta.
- Mamãe mandou avisar que o jantar já está quase pronto, e você deveria se lavar para descer em seguida – disse Lílian, ao abrir a porta e encarar o irmão.
- Tudo bem, Lílian, desço já – respondeu Alvo.
- Posso perguntar uma coisa? – Lílian se aproximou da cama de Alvo, e tentou olhar nos olhos do irmão.
- Claro – respondeu Alvo. – O que quer saber? – Alvo tentou passar um certo descaso com a curiosidade da irmã.
- Você só está assim por causa da Rose, ou tem mais alguma coisa?
- É só preocupação, Lílian, não tem nada mais – Alvo não desviou o olhar da irmã, tentando passar segurança.
- Tudo bem, então – Lílian fez uma cara de que não acreditara, mas como não podia obrigar o irmão a falar, aceitou suas palavras. – É melhor você descer logo, ou mamãe vem interrogá-lo.
- Pode deixar – respondeu Alvo.
Lílian saiu do quarto do irmão, fechando a porta devagar. Alvo se jogou novamente na cama e voltou a encarar o teto. “Será que está tão evidente assim?”, perguntava-se a si mesmo, afinal escondera aquilo por anos. Tudo havia mudado, mas isso não era motivo para todos ficarem sabendo.
Ele dirigiu-se ao banheiro para lavar as mãos. Não tinha fome, mas se não viesse, sua mãe subiria e o interrogatório seria pior do que o de Lílian e o do seu pai juntos.
Alvo se viu no espelho do banheiro e não pôde deixar de sentir vergonha de si mesmo. Não era digno de ser da Grifinória. Era um covarde. Não conseguira contar seu segredo a ninguém, com medo de que o julgassem. Não iria agüentar o olhar de desaprovação de sua família e o fato de seus tios o odiarem por causa daquilo. Uma lágrima escorreu por seu rosto, enquanto tentava inutilmente segurar seu choro.
- Não vai descer, Alvo? – gritou Gina, do andar de baixo da casa.
- Já vou, mãe – gritou de volta Alvo, enquanto banhava o rosto e as mãos, secando-os em seguida para disfarçar as lágrimas.
Desceu as escadas decidido a se conter, e não contar a ninguém o que se passava com ele.
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- Deseja mais alguma coisa, senhor Malfoy? – perguntava um pequeno elfo doméstico, do qual se via apenas a ponta das orelhas rente à mesa.
- Não, Marted – respondeu Draco Malfoy. – Pode retirar a mesa e se recolher.
A família Malfoy acabara de jantar e Scorpius se levantara da mesa, com a intenção de subir a seu quarto.
- Espere um minuto, Scorpius – disse Draco ao filho. – Quero falar com você no escritório.
Astoria olhou para o filho e seguiu para seu quarto enquanto Scorpius se dirigiu ao escritório junto com Draco.
- O que foi, pai? – perguntou num tom calmo, enquanto se sentava na poltrona em frente à outra em que seu pai havia ocupado.
- Bem, filho, agora que terminou seus estudos temos que definir seu futuro – respondeu Draco. – Acho que podemos deixar algum dos negócios da família sobre seu comando e minha supervisão, é claro, para pegar experiência e poder assumir todos eles no futuro.
- Obrigado, pai, mas não é isso que desejo para minha vida – respondeu Scorpius. – Quero tentar a carreira de inominável, e para isso terei que fazer uma série de cursos preparatórios para poder começar no Ministério.
- Trabalhar no Ministério? – Draco alterara seu tom de voz, demonstrando todo seu desagrado com a idéia do filho. – Ser empregado de alguém? Você está doido?
- Não. – Apenas não quero passar o resto da minha vida atrás de uma mesa de escritório. Quero fazer algo importante para a sociedade bruxa.
- E a sua família? – Draco não aceitava a decisão do filho. – Você não pensa nela? Anos de tradição, e você quer jogar tudo isso fora? Pois saiba que não vou gastar um tostão com isso. Se quer tanto fazer esses cursos, que pague por eles!
- É o que pretendo – Scorpius continuava calmo, não deixando que a ira do pai o descontrolasse. – Vou procurar um lugar para trabalhar, e pagar meus estudos. Nunca pretendi viver sobre suas asas e já sabia que o senhor iria agir dessa maneira.
Aquilo pegara Draco de surpresa. Ele sabia que o filho era orgulhoso e preferiria perder todos os privilégios que ele proporcionava, a fazer algo que não desejava.
- Que assim seja, então – Draco levantou-se com raiva da poltrona. – Vá buscar seu caminho, mas não conte comigo para nada. Está por sua conta agora – ele saiu do escritório, em direção a seu quarto, deixando Scorpius só.
Embora esperasse essa atitude do pai quando revelasse seus planos com relação à carreira que escolhera e isto o deixasse frustrado, esse era o menor dos seus problemas.
O problema que seria revelado nos próximos dias seria muito mais devastador na relação dele com o pai. Sabia que ele não reagiria tão bem, e provavelmente seria expulso de casa.
Mas não havia saída a não ser enfrentar os pais e assumir suas atitudes. Amava sua família, mas escolhera a pessoa com quem iria passar o resto da vida e nada mais importava.
Scorpius olhou para o escritório, onde quadros de seus antepassados estavam pendurados, e pensou que após alguns dias talvez não os veria de novo. E se isto se consolidasse, seu nome seria apagado de vez da história dos Malfoys.
Nota do autor: Essa é a promeira fic que escrevemos juntos. Espero que gostem.
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